Segunda-feira, 4 de Julho de 2011

4 de Julho e o "Quase" de se ser anti-americano - Augusta Clara

 

Ser contra o império americano e todos os malefícios que tem espalhado pelo mundo, não implica ser completamente contra tudo o que diz respeito à América, aos Estados Unidos da América. Há um “Quase”, no quase-completamente contra, que é preciso respeitar, e esse quase são os grandes vultos da sua cultura - nas artes, incluindo o cinema, na ciência e na literatura. Relativamente a esta última, George Steiner, brilhante figura de pensador da actualidade, afirmou, em entrevista recente à revista  “LER”, serem as literaturas americanas, quer a da América do Norte, quer a da América do Sul, as mais florescentes dos nossos dias, tendo mesmo ultrapassado a literatura europeia.

 

Daí que o "Jardim" tivesse decidido assinalar a data de 4 de Julho com um poema da bela obra “Folhas de Erva” (Leaves of Grass) de Walt Whitman  a fazer-nos lembrar que, se a cultura nunca nos salvou da barbárie, sem ela o mundo seria bem pior.

 

 

 

Walt Whitman  Do Oceano Que Avança, A Multidão

 

 

 

Do oceano que avança, a multidão, uma gota veio docemente até mim,

Murmurando: Amo-te, morrerei brevemente,

Fiz uma longa viagem apenas para te olhar, para te tocar,

Pois não podia morrer sem te haver olhado uma vez,

Pois receava perder-te a seguir.

 

 

Agora que nos encontrámos, nos olhámos, estamos tranquilos,

Regressa em paz para o oceano, meu amor,

Também faço parte desse oceano, meu amor, não estamos assim tão se­parados,

Olha para o grande globo, a coesão de tudo, como é perfeito!

Mas quanto a mim e a ti, ao mar irresistível que deve separar-nos,

Quanto a uma hora que nos leve em direcções opostas, nada há-de po­der levar-nos assim para sempre;

Não estejas impaciente — por um instante — e fica a saber que saúdo o ar, o oceano, a terra,

Todos os dias ao pôr-do-sol, por ti, meu amor.

 

(in Walt Whitman, Folhas de Erva (Leaves of Grass), Vol. I, Relógio d'Água) 

 

 

E quem não se lembra da cena do filme "Esplendor na Relva", de Elia Kazan, em que Natalie Wood (Deanie) lê e discute uma parte do poema de William Wordsworth "Ode: Intimations of Immortality" na aula de inglês?

 

 

publicado por Augusta Clara às 17:00
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Domingo, 10 de Abril de 2011

Consulta sobre a independência da Catalunha - Barcelona decide

 

“Está de acordo em que a Nação Catalã seja um Estado de Direito independente, democrático e social, integrado na União Europeia?”


Esta é a pergunta à qual os habitantes de Barcelona foram convidados a responder.


Barcelona Decideix é uma iniciativa de cidadania – convocada, organizada e financiada por cidadãos catalães – com vista à organização na cidade de Barcelona dum referendo sobre a independência da Catalunha, no dia 10 de Abril de 2011, culminando uma série de consultas similares organizadas em diferentes municípios e iniciadas com o referendo à população de Arenys de Munt, em Setembro de 2009.


Na consulta de Arenys de Munts votaram cerca de 40% dos habitantes com direito a participar, dos quais mais de 96% a favor da independência da Catalunha. Embora não vinculativo, o referendo foi importante. Por um lado, porque a lei espanhola não reconhece o direito à autodeterminação da Catalunha e, por outro lado, porque foi a primeira vez que milhares de catalães puderam depositar em urna o seu voto e assim exprimirem livremente a sua opinião sobre a independência do seu país.


Após o referendo de Arenys de Munts, constituiram-se em muitas outras localidades plataformas cívicas com vista à organização de consultas similares.

 

Desde então, realizaram-se referendos em mais de 500 municípios, envolvendo mais de 3 milhões de cidadãos e uma participação de 20% (cerca de 620 mil eleitores).  A favor da independência votaram 93% (mais de 570 mil votos), contra 5% e em branco 2%.

 

Estes referendos, completamente organizados por voluntários, embora juridicamente não vinculativos, pretendem constituir um primeiro passo na pretensão de realização dum referendo nacional para toda a Catalunha e que conte com o apoio oficial do Parlamento catalão.


Como capital da Catalunha, pela sua dimensão e projecção, Barcelona terá uma importância significativa neste processo. E vota a 10 de Abril de 2011. Barcelona decide.

 

Barcelona Decideix é um movimento de cidadãos e associações cívicas, democrático e apartidário, constituído com vista à organização da consulta de 10 de Abril e que se compromete em realizar o referendo de forma rigorosa, neutral e com respeito por todas as opções. (ver diptíco em catalão , em castelhano , em inglês)

 

Barcelona Decideix


Podem votar todos os residentes de Barcelona, maiores de 16 anos. A votação tem lugar a 10 de Abril, mas para facilitar a participação foi possível o voto antecipado.


Votem “Sim”, votem “Não” ou votem em Branco, Barcelona Decideix apela à participação de todos.

 

Don't Vote (No votis) - Catalan with English subs from Belisarius on Vimeo.

 

 

O Parlamento da Catalunha aprova moção a favor da consulta popular


Em 23 de Março de 2011, o Parlamento catalão aprovou uma moção que, apresentada pelo grupo Solidariedade Catalã para a Independência (SI) e que obteve os votos favoráveis de Convergência e União (CiU), da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e da Iniciativa pela Catalunha-Verdes (ICV-EuiA),

 

considera “o direito de autodeterminação dos povos como um direito irrenunciável do povo catalão”, o Parlamento “como sede de soberania do povo da Catalunha” e defende o direito da sociedade catalã a expressar-se livremente através de consultas aos cidadãos a quem agradece a participação.

publicado por Pedro Godinho às 00:01
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Quinta-feira, 17 de Março de 2011

1861-2011: 150° aniversário da unidade da Itália, por Sílvio Castro

 

 

 

                Nos dois dias, 17 de março de 1861 e 17 de março de 2011, podemos ver duas Itálias que se parecem como se confrontassem sempre diante de um espelho: quase de maneira unânime, naturalmente mais agora que no momento histórico da fundação, os italianos amam e afirmam o sentido da Itália unida, porém, então como agora, igualmente muitos não querem saber de festejar o 17 de março.

 

               Como quase tudo que se refira a expressão de opinião, a questão se repete hoje, assim como possivelmente continuará a repetir-se no futuro, mesmo quando chegar o bi-centenário de 2061.

 

                Depois de muitas discursões, o atual governo italiano decidiu finalmente que o 17 de março de 2011 é um dia feriado. Isso para que a gente possa comemorar dignamente o evento unitário. E por isso mesmo, as instituições oficiais deverão dar ênfase à Festa. Tudo certamente acontecerá desta maneira, ainda que os adepto do partido da “Lega Nord”, em particular aqueles da Lega da região do Vêneto, afirmam que será festa, mas sem festejamentos por parte dos líderes leguistas. Para eles, Garibaldi não deve ser recordado, porque não sabem ou já esqueceram que também Garibaldi era um federalista, ainda que de tipo de federalismo diverso daquele dos seguidores do movimento de direita guiado por Humberto Bossi, o sustentáculo sempre oscilante, mas indispensável, do governo Belusconi.

 

 

 

 

publicado por João Machado às 15:00
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Quinta-feira, 12 de Agosto de 2010

Catalunha independente !



Hoje, nesta semana dedicada à Catalunha e da sua eventual separação do estado espanhol, apresentamos dois pequenos vídeos. O primeiro com uma canção que "argumenta" a favor da plausibilidade de um estado indepenedente, exaltando os valores históricos e culturais da nação catalã. O segundo, com uma interpretação estilizada do hino nacional, "Els segadors", vai no mesmo sentido.

publicado por Carlos Loures às 09:00
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Terça-feira, 10 de Agosto de 2010

Catalunha independente - como reagiria a União Europeia?

Esta semana, estamos a dedicar este espaço à Catalunha. Espaço que normalmente ocupamos com questões peninsulares - a restituição de Olivença, território roubado pelo estado espanhol a Portugal, a reabilitação da língua e da cultura galegas, e com o que se prende com a história e a cultura catalãs. Ontem ouvimos Josep Lluís Carod-Rovira, dirigente da ERC, responder a perguntas sobre uma eventual independência da Catalunha.

No mesmo sentido está construído este trabalho da TV3 - ""Adéu, Espanya?". Compara a realidade da Groenlândia, da Escócia e do Quebeque com a da Catalunha, deixando no ar a pergunta - " a independência/secessão é democrática?" e outras questões - seriam economicamente viáveis estes novos estados? Como reagiria a União Europeia?



publicado por Carlos Loures às 09:00
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Segunda-feira, 9 de Agosto de 2010

Josep-Lluís Carod-Rovira

Josep-Lluís Carod-Rovira (1952) é um político catalão, líder do partido ERC (Esquerra Republicana de Catalunya), filho de um aragonês e de uma catalã.
Licenciou-se em Filologia Catalã na Universidade de Barcelona. Ainda estudante, iniciou aa sua actividade política e, por consequência, foi preso pela polícia política em 1973. A prisão acentuou a sua decisão de enveredar pela luta política  no estilo «catalão», baseada no diálogo, no respeito pela diferença, no civismo.Em 1978, foi um dos signatários de um manifesto contra a Constituição espanhola, alegando que «os catalães não são espanhóis». A  par da luta política, foi professor e técnico de planificação linguística da Generalitat de Catalunya. Foi também docente universitário.

Em 1987 aderiu à ERC, sendo no ano seguinte eleito deputado ao Parlamento catalão. Em 1996, Carod foi eleito secretário-geral do partido. A sua direcção tem colhido numerosos êxitos, deixando a ERC de ser uma pequena organização para se transformar num partido de referência da esquerda independentista da Catalunha.



Este vídeo gravado em Outubro de 2007 num programa da TVE -'Tengo una pregunta para usted' - põe Josep-Lluís Carod-Rovira perante 15 cidadãos que o questionam sobre os mais diverso e candentes temas relacionados com a eventual independẽncia da Catalunha. Não sendo uma novidade, elucida-nos sobre diversos aspectos. Antes de mais, a boa preparação política de Carod que, sem hesitações, responde com elegância e firmeza à perguntas. Porém, o que mais surpreende é a falta de esclarecimento dos cidadãos espanhóis em geral sobre o problema das nacionalidades de que o seu estado é continente. Diríamos mesmo que, em 2007, os espanhóis não estavam mais elucidados do que os portugueses sobre o magno problema dos eventuais separatismos. Transparece igualmente a atávica arrogãncia cídeo astelhana, visível na expressão usada pela senhora que diz «não saber, nem querer aprender catalão».

Vamos ver o vídeo e comentá-lo, depois.




publicado por Carlos Loures às 09:15
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Sexta-feira, 18 de Junho de 2010

A independência da Galiza e a restituição de Olivença (resposta de Carlos Loures a Carlos Leça da Veiga)

Carlos Leça da Veiga, querido amigo:

Hoje tentarei não escrever muito – a última coisa que quero é dar-te cabo da cabeça.

Antes de mais, no que se refere a Olivença, acordo total – território roubado deve ser restituído. A opinião maioritária dos oliventinos é a que for e têm todo o direito de escolher a nacionalidade que preferirem. Mas nasceram em Portugal. Isso não é discutível nem depende dos resultados de eventuais consultas.

No que se refere à Galiza e às outras nações peninsulares oprimidas, que fique bem claro que compartilho o teu desejo de as ver a todas livres de ocupações e de aculturações – a Galiza, o País Basco e a Catalunha (ou os Países Catalães). Penso é que a independência de cada povo tem de ser obra desse povo e que isso obriga, muitas vezes a sacrifícios inauditos. Quando os amigos catalães nos dizem que lhes devemos a independência (por ter sido, em 1640, a Guerra dels Segadors que desviou tropas castelhanas e que desguarnecendo a Portugal, nos permitiu libertar-nos), lembro-lhes que a Guerra da Restauração durou 28 anos. Todos os varões em condições de pegar em armas foram mobilizados, desde crianças com 16 anos até velhos com 70; o bronze dos sinos das igrejas fundido para fabricar canhões. Uma débil economia, canalizada quase inteiramente para o esforço de guerra… Não foi, como dizemos hoje, «pêra doce».


Voltando à pacífica Galiza, recorro à história do escoteiro que obrigou a velhinha a atravessar a estrada, pois ao fim da jornada tinha de ter praticado uma boa acção. Por isso, digo que os galegos é que têm de decidir se querem ou não ser independentes. Podemos ter a nossa opinião e emiti-la, não podemos decidir por eles nem devemos qualificar como alienação a posição dos que, querendo uma autonomia cultural, preferem ficar integrados no estado espanhol. Há argumentos, nomeadamente de natureza económica. Podemos discordar, mas isso não nos dá o direito de os julgar. Por aquilo que sei das três nações oprimidas de que falei, há galegos, bascos e catalães que anseiam pela independência e outros a quem a autonomia concedida por Madrid satisfaz. Não se trata do nosso desejo, nem de cumprir as nossas utopias. Trata-se da vontade de milhões de pessoas e do direito que têm de decidir do seu destino colectivo. Não os podemos ajudar a atravessar a estrada se não o quiserem fazer.

Onde discordo frontalmente de ti é na questão andaluza. A Andaluzia não tem mais razões para ser independente do que o Algarve (tem menos, porque o Algarve, como sabes, foi mesmo depois das Ordenações Manuelinas, um reino autónomo) A reivindicação da independência da Andaluzia cheira-me mesmo a manobra de Madrid. Por inconsistente, põe em cheque as reivindicações de independência das verdadeiras nações subjugadas. Permite aos centralistas ridicularizar anseios de libertação fundados na existência de culturas tão respeitáveis como a castelhana e que durante séculos têm sido castelhanizadas, com o desprezo que os ocupantes sempre demonstram relativamente aos que subjugam.

Por outro lado, como disse na carta anterior, um crime não se resolve com outro crime – desmembrar totalmente o estado espanhol, seria criminoso. Repito-te, Espanha existe, há milhões de pessoas que se consideram espanholas. Foi uma utopia há quinhentos anos, hoje é uma realidade. Pretender contrariar essa realidade é levar a nossa utopia longe demais.

Não podemos querer remediar tudo o que actualmente resulta de injustiças do passado. Remediando o passado, se isso fosse possível, não restaria nenhuma nação com os limites territoriais que hoje existem. A construção dos estados é sempre uma obra de violência. O argumento do que existia antes, nem sempre colhe.

Imagina tu que há fundamentalistas islâmicos que entendem que a sua pátria ancestral é a Península Ibérica, particularmente o Al-Andalus. Como só chegaram no século VIII, pergunto: e os que já cá estavam ? Se pudessem, faziam-nos aquilo que os judeus fizeram aos palestinianos – em nome da História, daquilo que diz um livro, enxotaram das suas terras os seus legítimos donos. Não tem sentido – nem na Palestina nem no Al-Andalus.

Indo por este caminho, nunca mais paramos. Por isso, para mim, a Andaluzia é uma região de Espanha. Isto até obter novos dados. Por exemplo - a maioria dos andaluzes, o que pensará? Ou não te interessa saber?

Olha, para mim, esse é o dado fundamental.

Recebe um forte abraço do

Carlos Loures
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Sexta-feira, 21 de Maio de 2010

Colónias nunca mais. Pela Independência da Galiza.

Carlos Leça da Veiga



A Galiza, por força do direito democrático, tem de ser um Estado independente com representação própria na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Contentar-se em reivindicar a sua língua – a portuguesa – embora uma atitude muito meritória e que nunca deve ser descurada, não parece ser um gesto político suficiente.

Compreende-se que um Cidadão Galego, obrigado à prepotência castelhana, para não ficar sujeito à injustiça das sanções penais, não queira reclamar, em público, o direito à Independência da sua Nacionalidade. Esta atitude, porém, não deve ser a de qualquer português.

A estes, quanto mais não seja por coerência histórica e, também, para reafirmação dos Direitos Humanos compete estar ao lado de todas as Nacionalidades onde quer que elas tenham uma vontade manifesta de Independência e na Galiza, bem sabido, há um importante e significativo movimento em prol da reconquista da sua Independência Nacional. Não será a acção da polícia castelhana que irá destruí-lo.

Se Portugal é um Estado que, como deve ser, só comporta uma Nacionalidade que razão haverá para que os outros Estados – sem respeito pela Democracia – obriguem várias nacionalidades a uma sujeição?

Aos portugueses compete considerar que se Portugal – e muitíssimo bem – teve de deixar de ter colónias porquê, então, o reino de Castela não está obrigado ao mesmo procedimento? E quem diz Castela tem, por igual, de dizer muitos outros Estados, dentre dos quais há vários europeus.

O direito dinástico em vigor no estado espanhol e que vem dos chamados Reis Católicos merece tanta consideração como quanta, hoje em dia, mereceria o Tratado de Tordesilhas. Castela e Aragão, em associação, nos idos do século XV começaram a ocupar indevidamente todos os Estados da periferia da Península Hispânica com excepção de Portugal já que para tanto, à época – depois foi outra conversa – não tiveram forças. Assim o colonialismo castelhano, à semelhança do de vários outros casos na Europa iniciou-se pela submissão de várias Nacionalidades da sua envolvente territorial próxima e só depois é que se abalançou às ocupações fora da Europa.

Colónias tanto as pode haver na Europa como pelo mundo fora e para ser-se colonizado não é preciso ter uma pele de cor diferente. O tempo das colónias já acabou e as que sobrevivem – que na Europa não são poucas – fazem-no à sombra da perversão do Direito Internacional, com o favor dos interesses inconfessáveis dos potentados económicos e, também, com a ajuda da repressão pela força armada. Quantas destas situações continuam a sobreviver na imensidão da Europa?

Na perspectiva política que defendo para a intervenção internacional de Portugal – uma intervenção democrática – os Galegos, os Andaluzes, os Asturianos, os Bascos e os Catalães, como exemplos mais frisantes dentro do estado espanhol, devem ganhar o estatuto legitimo de Estados Independentes e, como assim, viverem lado a lado, em fraternidade com os Castelhanos e, naturalmente, com os Portugueses. Nada de federalismos.

Aos portugueses não compete, bem pelo contrário, aceitar que o seu País tenha de defender e considerar ajustada a existência dum conglomerado de Nacionalidades forçada a qualquer autoridade, no caso vertente, a castelhana.

Depois do 25 de Abril, com a excepção honrosa duma pequena organização – a OUT – a chamada esquerda que com muito acerto soube demonstrar um grande empenho na descolonização portuguesa nunca foi capaz de reclamar, nos areópagos nacionais e internacionais, contra a existência, na própria Europa, de Estados que, como fruto aberrante das suas designadas Unificações, Reunificações ou Conquistas possam
continuar a manter muitas anexações e colonizações. Só Portugal é que era colonialista?

Mas que raio de esquerda! Não podia ofender nem Leste nem Oeste que, a cada qual, o que não faltava era ter colónias. Qualquer projecto de unidade europeia só terá exequibilidade democrática se cada Nacionalidade estiver traduzida por uma declarada Independência Nacional com representação própria e autónoma na ONU.

Lisboa, 21 de Maio de 2009
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Segunda-feira, 10 de Maio de 2010

Sobre as consultas populares pela independência na Catalunha

Josep Anton Vidal

Desde que em 13 de Setembro de 2009, a localidade catalã de Arenys de Munt convocou os seus pouco mais de 6000 cidadãos maiores de 16 anos para uma consulta popular a fim de se pronunciarem sobre a independência da Catalunha, que ascendem já a 458 os municípios catalães nos quais se verificou igual consulta, o que representa un volume de votantes convocados de quase meio milhão de cidadãos. Nos dias e meses seguintes, houve consultas noutros municípios e cidades. Na cidade de Barcelona a consulta está prevista para o dia 10 de Abril de 2011.

A pergunta que se submete à consulta dos cidadãos é esta: "Está de acordo em que a nação catalã se constitua num Estado de direito, independente, democrático e social, integrado na União Europeia?"

Não pretendo estabelecer juízos de valor sobre os resultados, que, com cerca de 20% de participação, dão aproximadamente 93% favoráveis ao SIM, mas simplesmente situar o arranque súbito deste processo de "transição" para a independência, que vai ganhando corpo ao mesmo ritmo com que ganha terreno la opinião, cada vez mais ampla e firme, de que Espanha, na sua definição actual, não tem nem a capacidade, nem a mentalidade, nem a convicção democrática, nem o conhecimento da sua própria realidade, necessários para avançar no sentido de outra definição política onde caiba uma pluralidade que até ao momento demonstrou, historicamente, não entender e que sempre, nos momentos decisivos, de um modo ou de outro, acabou por negar e combater.

O esforço histórico de Espanha, desde a pretendida integração dos diversos reinos hispânicos, não foi nunca o de descobrir, integrar e construir a sua própria realidade, mas sim principalmente o de a negar. A negação da própria identidade leva a perseguir quimeras e a impor coisas absurdas.

A Transição espanhola iniciada em 1975, após a morte do ditador, foi uma oportunidade histórica na qual se jogaram as cartas num contexto de grandes dificuldades. Fez-se muito, mas nem tudo se fez bem. Em questões de grande importância, preferiu-se subscrever uma hipoteca a longo prazo em vez de pagar a pronto o preço que havia a pagar.

As diversas forças políticas comprometidas na elaboração de uma constituição democrática, num contexto de violência e de pressões políticas e de confrontos entre forças, mentalidades e convicções irreconciliáveis, tiveram que aceitar um acumular de ambiguidades no texto constitucional, de modo que cada um nele encontrasse alguma coisa do que queria encontrar. Mas isso significava que as questões essenciais ficassem adiadas para debates posteriores e que, de cada vez que eram colocadas, remetidas para o texto constitucional, este ofereceria leituras de tal modo poliédricas, que seria inevitável que ficassem apanhadas na teia conjuntural do momento em que fossem discutidas.

O Estado das autonomias promoveu uma série de entidades regionais entre as quais incluiu as nações históricas, a que, pela ambiguidade de que falámos, preferiu designar por "nacionalidades", um termo equívoco, um eufemismo, que, dadas as circunstâncias do momento, podia calar as vozes dos nacionalistas, que viam nessa ambiguidade uma aproximação às suas aspirações identitárias e políticas, e que permitia aos espanholistas afirmar que en este Estado no cabe más nación que Espanha. Ao mesmo tempo, as diferentes autonomias imporiam a necessidade de uma homogeneização que actuaria como travão aos anseios autonomistas de los distintos, entidades nacionais entre as quais a Catalunha. E para deixar tudo “atado y bien atado” –e utilizo aquí como analogia irónica palavras do ditador - confiava ao Exército a função de garantir a unidade de la nação espanhola - função que continua a exercer actualmente, dado que o texto constitucional não há foi modificado.

Não houve, pois, no conjunto do Estado, uma autêntica convicção autonomista. Houve, isso sim, uma estratégia autonomista que, com o tempo, foi criando algumas raízes e propiciando algumas conversões surpreendentes ao autonomismo. Inclusivamente de pessoas do regime franquista, entre as quais um ministro de Franco, Manuel Fraga Iribarne ocupou durante anos a presidência da Xunta de Galicia. E foram muitos os que se "recolocaram" no novo quadro democrático, em sectores financeiros e económicos, nas instituições sociais e culturais, em organismos internacionais, nos partidos e na política. Mas, o oportunismo e as convicções não são a mesma coisa, embora se confundam (e com isto não pretendo negar alguma convicção democrática a pessoas que antes tinham flirtado com a ditadura). Vou adiantar um dado como exemplo: ainda hoje, enquanto que na Catalunha um político renunciaria sempre a ser ministro do Estado espanhol se tivesse oportunidade de ser Presidente da Catalunha, os presidentes das outras comunidades autónomas renunciam à Presidência da sua Comunidade se têm a oportunidade de ser ministros do Estado espanhol.

Assim, embora se tenham gerado novas dinâmicas sociais, políiticas e económicas e tenha entrado num novo contexto internacional, a Espanha foi arrastando um mal não resolvido, nem debatido. Por um lado, os males não resolvidos foram-se enquistando até se tornarem crónicos; por outro, a febre própria de um organismo doente, gerou estados de alerta permanente, de preocupação e depressão, do cansaço de arrastar os mesmos problemas e de tropeçar repetidamente nas mesmas pedras. E a reacção mais generalizada, entre políticos de direita e de esquerda e entre a população de qualquer cor política, é que se deve acabar com as pedras. É como aquele que, em sua casa, tropeça sempre na cadeira que está a meio do corredor e, em vez de a mudar de lugar, a atira ao fogo. «Morto o cão, acabou-se a raiva», diz um provérbio.

Por isso, não já a apologia nacionalista, mas a simples afirmação de coisas tão naturais como las diferenças linguísticas, a singularidade da história de cada povo, la simples afirmação da própria identidade nacional faz saltar faíscas antinacionalistas que se exprimem através de uma argumentação radicalmente espanholista, excluidora e radicalizada. A afirmação nacionalista das chamadas nacionalidades históricas provoca uma irritação desmesurada. "Não podemos permitir que a ENDESA vá parar fora do território nacional", gritava a presidenta da Comunidade de Madrid perante a possibilidade de que fosse por diante uma OPA hostil lançada contra a referida companhia por capital catalão (embora tenham acabado por considerar perfeito que fosse parar a mãos do capital italiano). "Os documentos são nossos por direito de conquista" gritava o novelista castelhano Gonzalo Torrente Ballester perante a multidão congregada em Salamanca para impedir um acto de justiça tão simples como que os documentos roubados de pistola em punho pelo regime franquista a instituições e particulares e armazenados no arquivo da cidade castelhana fossem devolvidos aos seus legítimos proprietários.

Hoje, o Estatuto da Catalunha, aprovado pelo Parlamento catalão, discutido e recortado nas Cortes Espanholas e aprovado finalmente por este organismo, passado o trâmite da sua discussão no Senado espanhol, submetido a referendo do povo da Catalunha e aprovado, publicado e sancionado pelo Rei, encontra-se desde há quatro anos no Tribunal Constitucional, de onde sairá provavelmente transformado numa paródia de si mesmo, apesar de já ter nascido sendo uma paródia das legítimas aspirações da Catalunha. A unidade da língua encontra-se ameaçada por aqueles que fomentam o secesionismo linguístico, sem que o Estado, que de modo algum aceitaria – e, naturalmente, com razão - que alguém argumentasse que a língua que se fala na Andaluzia, Castela e Extremadura sejam idiomas diferentes, permite e fomenta a consideração de idiomas distintos, de facto, para a língua que se fala na Catalunha e na Comunidade Valenciana. Põe-se obstáculos ao desenvolvimento das infra-estruturas (obriga-se a passar por Madrid para fazer voos internacionais, atrasou-se até ao sufoco a ligação de alta velocidade com a Europa, negou-se durante anos la publicação das balanças fiscais e se ha afogado a economia da Catalunha...). Qualquer tentativa de análise da realidade é vista como um rol de agravos, "el cuento permanente de la lágrima".

Não pretendo deter-me na enumeração dos problemas. Apenas desejo sublinhar que, sejam quais forem, com maior ou menor razão é impossível o debate, o diálogo objectivo, corajoso, com capacidade para enfrentar os problemas. Esgrime-se contra a racionalidade a sacralização da Constituição, embora a sua revisão seja necessária para a saúde democrática do país. Contra qualquer reivindicação de autonomia opõe-se um nacionalismo espanhol tão orgulhoso e altivo como disparatado por alheio à realidade. E, seguindo a estratégia de se apoderar exclusivamente de uma argumentação com e fim de a negar ao adversário, a exaltação de espanholismo reveste-se com os argumentos da universalidade face aos egoísmos e à falta de objectivos dos particularismos.

Não existe uma via clara de diálogo porque não se soube construir a convivência na base do respeito cívico, político e democrático.

Por isso, as consultas realizadas na Catalunha, sem ser vinculativas nem terem mais transcendência do que a expressão de um sentimento, são um sintoma. Um sintoma de uma situação que não é boa. E se há que trata-la, haverá que reconstruir sobre bases mais firmes e honestamente respeitosas as pontes do diálogo.

Permitam-me que, à maneira antiga, ilustre o que disse com uma fábula:

Era uma vez duas ilhas vizinhas. A bondade do clima e os ventos favoráveis, aliados a uma natureza diversa, povoaram-nas com todo o tipo de plantas e árvores de fruto: num lugar maçãs, noutro cerejas, noutro pêssegos, laranjas... E cada tipo de fruta tinha um aroma e um sabor característicos.

Um belo dia, na ilha, alguém disse: "Unamo-nos todos. Se cada um contribuir com o seu sabor e o seu odor, a riqueza o encanto da nossa ilha se multiplicará".

E todos estiveram de acordo, e a partir daquele dia, as maçãs, as cerejas, as laranjas... tomaram o nome comum de "fruta". Não obstante, alguns objectaram: "Conhecemos o gosto e o aroma das cerejas, das peras, dos limões... Mas, que gosto e que aroma terá a 'fruta'?"

E alguém respondeu: "Nenhum em concreto e todos. Cada fruta terá o seu gosto e o seu aroma. E os de todas e cada uma das frutas os sentiremos como próprios."

Nisto concordaram e assim foi.

Na ilha B, as maçãs disseram: "Que bom é ser maçã! Vimos de uma linhagem antiga. Já no Paraíso nos foi confiada a chave do bem e do mal. Todos deveriam conhecer e proclamar a nossa grandeza".

E espalharam-se pela ilha, até que chegou uma altura em que puderam dizer aos seus vizinhos: "Em todos os lugares da ilha há maçãs. Esta terra é a nossa terra e a nossa unidade é inquebrantável e sagrada. Desde agora e por acima de tudo, seremos todos a mesma coisa: "fruta", e estaremos orgulhosos disso perante o mundo."

Mas aqueles que os escutavam disseram: "E que gosto e aroma serão os da fruta?" E as maçãs, orgulhosas da sua linhagem, disseram: "Dado que há maçãs em toda a ilha, o nosso gosto e o nosso sabor comuns serão os das maçãs. Cada uma de nós poderá conservar os próprios da sua espécie; mas, se queremos que o mundo conheça a excelência da "fruta", temos que estar unidas. Por sorte para todos, as maçãs têm uma vastíssima história e um prestígio extraordinário que nos acredita perante o mundo."

Algumas frutas levantaram objecções, mas as maçãs disseram: "Não é tempo de egoísmos nem de particularismos. É a hora da generosidade, porque o destino nos chama à grandeza. Não podemos esquecer que antes de mais, somos frutas."
Ainda houve uma que se atreveu a dizer: "Mas, nós, para sermos fruta temos que nos transformar em maçãs... E vós, o que tendes de fazer para ser fruta?"

Y las maçãs exclamaram unanimemente: "Basta de mesquinhices. Não se pode viver instalado no agravo permanente, sempre con o «cuento de la lágrima»... Quando chegarás a compreender que somos cidadãos do mundo e que a nosso alcance tem de ser universal?"

As maçãs aplaudiram este discurso exaltante e convincente. E muitas outras frutas se juntaram aos aplausos con la fé dos convertidos.

E desde aquele dia, na ilha B, todo foi de mal a pior.*


*Esta fábula foi transmitida radiofonicamente no programa de opinião La Nit, de COMradio, na sua emissão de 27 de Abril.
publicado por Carlos Loures às 08:34
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