Quarta-feira, 18 de Maio de 2011

A televisão que temos (a televisão é para estúpidos?) – I, por Carlos Loures

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Konrad Lorenz o grande naturalista austríaco (1903-1989), prémio Nobel para a Medicina em 1973, criou o conceito do imprinting, que em castelhano se traduziu por «impronta», mas que entre nós se tem preferido deixar em inglês, já que uma tradução literal – estampagem, cunhagem, gravação - podia dar lugar a uma distorção do conceito científico. O que é o imprinting? Estudando o comportamento dos gansos recém-saídos da casca, Lorenz verificou que eles aprendem a seguir a mãe, mesmo que seja uma falsa mãe, um ser humano, outro animal ou mesmo um objecto, copiando-lhe o comportamento.

 

Num tempo de agressividades e de fundamentalismos, seria útil compreender os mecanismos desse comportamento que, à primeira vista, é irracional e autodestrutivo. Volto ao tema inicial. Saído da casca, o meu primeiro emprego «a sério» foi na RTP. Por isso, talvez, à luz do conceito etológico do Lorenz, me tenha ficado dos longínquos dois anos em que lá trabalhei o hábito de preferir o canal de serviço público aos outros dois que surgiram muito posteriormente. Vejo diariamente os serviços informativos da RTP, o «Jornal da Tarde» emitido do Porto e o «Telejornal». Imprinting? Talvez.

 

Vou abordar pormenores. As coisas transcendentes ficam para depois. Entre o que se tem e o que se idealiza é preciso criar degraus. Se deixamos um abismo intransponível entre realidade e sonho, nem as asas da imaginação de quem lê o consegue por vezes transpor. E as pernas da realidade muito menos. Mutatis mutandis, entre o canal de serviço público que temos e o que gostávamos de ter, a diferença é abismal. Por isso, vou referir alguns dos modestos degraus que poderiam conduzir a RTP ao patamar satisfatório que merecíamos ter num serviço público de televisão. Se o soubéssemos exigir.

 

No que se refere ao «Jornal da Tarde», lamento os critérios de um alinhamento que privilegia notícias regionais sem grande relevância, deixando para o fim acontecimentos mais importantes da actualidade nacional ou internacional. Não seria preferível a RTP ter mais dois ou três canais regionais onde se desse uma informação local completa e minuciosa (como o da Madeira e o dos Açores e como acontece com a descentralizada TVE? Embora se compreenda perfeitamente a necessidade de dar, num palco com audiência nacional, protagonismo à região Norte, esse desiderato resulta muitas vezes em mau jornalismo – o que diríamos de um jornal que trouxesse na primeira página um vulgar acidente de viação ocorrido na cidade onde o periódico se edite e nas páginas interiores a notícia de um terramoto na China, ou de um descarrilamento na Índia, com centenas de mortos? Deficiência, essa comum a todos os serviços informativos da RTP, é uma exagerada extensão, incluindo peças temáticas, com maior ou menor interesse, mas que não têm a ver com o tipo de informação que se espera. Os serviços da RAI, por exemplo, são modelares, pois em meia hora dizem tudo o que de importante se passou no mundo e no país. Na RTP (e nos outros canais generalistas) existe a ideia de que um serviço informativo é «uma espécie de magazine».

 

Dá-se demasiada importância ao futebol. Não é invulgar os serviços abrirem com um flash de um jogo o que me leva logo a pensar: «hoje não aconteceu nada de importante». E às vezes nem é verdade. Outra coisa que não percebo é a razão por que se gasta tanto dinheiro em tele-tontice, pagando a «cantores populares» que nos despejam em cima, doses maciças de analfabetismo de pornografia primária, servidos sob uma suposta forma musical. Lixo, que serve para preencher programas como a Praça da Alegria, Portugal no Coração, e quejandos, verdadeiros hinos à imbecilidade (salvo uma ou outra entrevista que teria interesse se os apresentadores fossem capazes de as fazer).

 

Registo também o tique anedótico dos jovens profissionais que, depois de termos escutado uma personalidade discorrer sobre qualquer assunto da sua área de actividade, nos «explicam», como se estivessem a fazer uma tradução do chinês, .as mais das vezes em linguagem confusa e demorada, aquilo que, por vezes, a pessoa disse de forma escorreita e ágil. Como fazem todos os mesmo, penso que será lição (mal) aprendida nos cursos de jornalismo onde lhes devem ter dito para encerrar cada entrevista com uma breve síntese do que o entrevistado disse. Coisa de que a maioria não é capaz.

publicado por João Machado às 21:00
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