Em entrevista à agência Lusa, em Novembro de 2008, Arturo Pérez-Reverte escritor espanhol, defendeu a existência da Ibéria como país único, sem fronteiras que separem Espanha e Portugal. Entende ser «um absurdo» que os dois países vivam «tão desconhecidos um do outro». Afirma haver «uma Ibéria indiscutível que está entre os Pirenéus e o estreito de Gibraltar, com comida, raça, costumes, história em comum e as fronteiras são completamente artificiais", Para ele, o maior erro histórico de Filipe II, no século XVI, foi não ter escolhido Lisboa como capital do império. “Teria sido mais justo haver uma Ibéria, e a história do mundo teria sido diferente". Acrescentou que a Ibéria não existe de jure, mas "qualquer espanhol que venha a Portugal se sente em casa e qualquer português que vá a Espanha sente o mesmo". (..)"É uma realidade incontestável" que precisa de um empurrão social e não político para ser concretizada”(…)”. O mundo de hoje "é um lugar de grandes mudanças sociais". O " Ocidente pacífico, sereno, poderoso, com alguma coerência cultural e social do século XX não poderá continuar. O Ocidente como o entendemos está na sua etapa final"-
Numa entrevista dada ao Diário de Notícias em 2007, José Saramago defendera também a integração de Portugal em Espanha: «Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos» Não seria uma integração cultural,.acrescentou: «A Catalunha tem a sua própria cultura, que é ao mesmo tempo comum ao resto de Espanha, tal como a dos bascos e a galega, nós não nos converteríamos em espanhóis.» Porém, quando o jornalista pergunta se Portugal seria mais uma província de Espanha, Saramago respondeu: «Seria isso. Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla-La Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente (Espanha) teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria.» E os portugueses aceitariam a integração? - quis saber o jornalista: «Acho que sim, desde que isso fosse explicado».
Comparar Portugal com a Andaluzia e com Castilla-La Mancha, territórios que têm a sua cultura própria, formas dialectais de se exprimir em castelhano, mas que nunca tiveram autonomia política, é absurdo. Os casos da Galiza, da Catalunha e do País Basco são diferentes, pois são nações submetidas e aculturadas. Coisa que nós, os Portugueses que amam o seu país, não queremos que nos aconteça. E este amor não é flor de retórica, requebro de sentimento fadista ou saudosismo de descobrimentos, de esplendores passados – é o genuíno orgulho de pertencer a um povo que desde há séculos está desfasado das vanguardas culturais da Europa, mas que, com todas as imperfeições que acompanham a sua história de nove séculos, tem logrado manter o seu território, a sua língua, os seus valores culturais e a sua independência. Somos um dos estados mais antigos do mundo - o estatuto autonómico de Castilla-La Mancha? Nem a brincar.
Ficou-nos, aos europeus do século XIX, talvez relacionada com a matriz do Romantismo, a ânsia dos grandes impérios, das grandes óperas, dos grandes amores, dos magnicídios e dos suicídios espectaculares. A unificação da Itália, a da Alemanha, sob a hegemonia prussiana, a cavalgada do Império Russo na conquista das nações circundantes, são exemplos dessa ânsia de grandeza que as elites contrapunham ao populismo das ideias igualitárias do socialismo nascente, para essas elites, redutoras da grandeza histórica a que julgavam ter direito. Il gattopardo, a grande obra de Lampedusa, dá-nos um magistral fresco desse contraste de mentalidades – o ruralismo áspero da Sicília sendo afogado pela refinada cultura aristocrática ou a ela se sobrepondo, enquanto em pano de fundo a gesta unificadora de Garibaldi corria ao som das óperas de Verdi. Os intelectuais portugueses e catalães não ficaram imunes a essa tentação de grandeza, vendo os últimos na unificação peninsular uma forma de serem autónomos sem grande esforço ou sacrifício.
Os que defendem a integração de Portugal num Estado estrangeiro, isto é, que desapareça enquanto entidade nacional, não explicam como é que essa tal Espanha aumentada ou Ibéria, seria governada – por uma monarquia? Por uma República? Sou republicano convicto, penso que a maioria dos portugueses o é também. Parece-me ridículo, no século XXI, haver quem se considere e seja considerado «ungido por Deus» e com o direito de estar à frente de uma Nação. Que seus filhos e netos, mesmo que sejam atrasados mentais, tenham o mesmo direito. Quando os vejo nas revistas «do coração» ao lado de play-boys, de jogadores de futebol e suas namoradas, numa palavra, do chamado jet set, dá-me vontade de rir e espanto-me por Saramago ter podido levar a sério coisa tão risível.
Estamos na União Europeia, com decisões importantes para as nossas vidas a serem tomadas, não nos nossos pseudo-centros de poder, nas instâncias comunitárias, em Bruxelas ou em Estrasburgo. Perdemos a moeda nacional e somos obrigados a falar inglês, a língua franca dos nossos dias. Pouca independência nos resta e mesmo essa há gente que a quer hipotecar, banqueiros, empresários. Numa entrevista que aqui reproduzimos há dias, o líder político catalão Josep – Lluís Carod – Rovira dizia que Espanha lidava mal com a independência de Portugal. O que parece ser verdade. Porém, o estado espanhol cometeria um grave erro se quisesse integrar Portugal. Não lhe bastam já os problemas que tem com a Catalunha, o País Basco e a Galiza? Aliás se Portugal tivesse governantes sérios, Espanha enfrentaria um quarto problema – o da restituição de Olivença. Uma diplomacia que não fosse cobarde, exigiria essa devolução pelo menos com a pertinácia com que os governos espanhóis exigem ao Reino Unido a devolução de Gibraltar. Apesar de tudo, com menos razão do que nós.
Nota: Num comentário de valioso conteúdo histórico ao texto antecedente, o meu querido amigo António Sales admite a solução ibérica, embora a relegue para uma próxima encarnação. Nâo creio que essa integração das nações ibéricas se venha a verificar. Neste momento, Espanha começa a revelar-se um estado inviável. Russos e sérvios, por exemplo, ao imporem o seu idioma, os seus valores e interesses ás outras nações que faziam parte dos «seus» impérios, tornaram essas federações impossíveis com os contornos trágicos de que a implosão da Jugoslávia se revestiu e com o dramatismo que a resistência tchetchena assume.
Espanha com a morte do ditador e a democratização que se seguiu poderia ter retomado o processo de federação que a II República encetara e que foi em 1936 brutalmente interrompido. Isso tê-la-ia viabilizado. Mas não, os governos democráticos, do PSOE ou do PP, têm mantido a concepção arcaica, passadista de uma Espanha “una y grande”. Aboliram o fascismo, mas comem-lhe os sobejos. A Catalunha dá sinais de querer dizer Adèu Espanya. A sua eventual saída, poderá, num efeito de dominó, fazer ruir o edifício que, há cinco séculos, foi a utopia de Isabel de Castela e de Fernando de Aragão.
A ideia de uma Península Ibérica unida politicamente não é nova. Não falando nos episódios históricos remotos em que ora Portugal, ora Castela, se tentavam mutuamente devorar, através de artimanhas, como a política de casamentos entre descendentes das linhas dinásticas ou de acções militares, episódios que tiveram o seu auge quando, entre 1580 e 1640, três reis de Castela e Aragão juntaram à sua coroa dual a de Portugal, reportando-nos a tempos mais recentes, o ideal do Iberismo tem feito correr tinta e dado que falar. Vejamos.
Personalidades como Antero de Quental, Ana de Castro Osório, Latino Coelho, Sampaio Bruno, Teófilo Braga, entre os portugueses, manifestaram, de uma maneira ou de outra, a sua simpatia por essa união. Do lado castelhano, refere-se quase sempre o mesmo nome – Miguel de Unamuno, o grande escritor e pensador nascido no País Basco, mas indubitavelmente um homem da cultura castelhana, reitor da Universidade de Salamanca no conturbado ano de 1936 em que a Espanha iria mergulhar na maior tragédia da sua história.
O pioneiro desta ideia na sua versão contemporânea, tanto quanto julgo saber, foi um andaluz de Utrera – José Marchena y Ruíz de Cueto (1768-1821) – que no seu Aviso al pueblo español (1792), propôs uma federação ibérica e republicana. Outro pioneiro, foi o catalão Joan Prim i Prats (1814-1870), militar e político que propôs um modelo federal para Portugal e Espanha. Morto num atentado o general Prim i Prats, foi a sua concepção de organização do Estado adoptada na Primeira República, proclamada em 1873 (sem a componente portuguesa, claro).
Na Catalunha, a ideia colheu mais adeptos, destacando-se o grande poeta e filósofo Joan Maragall, o lusófilo Ignasi Ribera i Rovira, Francesc Pi i Margall , presidente da Primeira República Espanhola, em 1873. Mais recentemente ainda, portugueses como Miguel Torga, Fernando Lopes-Graça, António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, José Saramago, entre outros, têm manifestado a sua simpatia por essa união que, olhando para o mapa da Europa, faz sentido. Falamos de uma união política, para concretização da qual seria necessário articular instrumentos constitucionais, limar arestas culturais, varrer preconceitos e desconfianças mútuos.
Teófilo Braga chegou a planificar as bases de uma Federação Ibérica, dentro da qual a Espanha teria de aceitar condições sine qua non: passar a ser uma República, dividir-se em estados autónomos aos quais Portugal se juntaria. Lisboa seria a capital dessa Federação Ibérica. Ana de Castro Osório via a união a três – «Catalunha, Castela, Portugal…Quem pudesse dar-lhes a autonomia que ambicionam os catalães e sem a qual hão-de estar sempre vexados e com razão!» Esta ideia das três entidades – Portugal, Castela e Catalunha, esquecendo a Galiza e o País Basco, enformava quase todas as teses iberistas do princípio do século XX, incluindo as de Unamuno, Ribera i Rovira, Maragall, Antero e Teófilo Braga. A ideia prevalecente era a de uma Federação de estados autónomos em quase todos os aspectos, com centros de decisão comuns – a política externa, por exemplo. E a tinta começou a correr.
Em 1906, Joan Maragall, em artigo publicado no Diario de Barcelona, defendia o ideal do federalismo ibérico. Mais perto de nós, em 1963, o escritor catalão Agustì Calvet i Pasqual, que assinava os trabalhos jornalísticos como Gaziel, escrevia no La Vanguardia, também de Barcelona, que «Poucas vezes a insensatez humana terá estabelecido uma divisão mais falsa» (do que a das fronteiras peninsulares) «Nem a geografia, nem a etnografia nem a economia justificam esta brutal mutilação de um território único».
Reunião, em Coimbra, do Círculo de Cultura Íbero-Americano - da esquerda para a direita: Egito Gonçalves, Carlos Loures, Eduardo Guerra Carneiro e António Cabral. Fèlix Cucurull esteve na reunião de Sábado, partindo para Lisboa ao fim do dia. A foto foi tirada no Domingo de manhã.
Nestes mesmos anos 60 do século passado em que Gaziel publicava o seu texto, um grupo de jovens ibéricos criou um Círculo de Cultura Íbero-Americano, com objectivos confessadamente culturais e inconfessadamente políticos. Fiz parte desse grupo. Éramos meia dúzia de portugueses, gente de Lisboa, do Porto e de Vila Real, alguns catalães e maiorquinos, um escritor castelhano de Ciudad Real, um ou outro sul-americano. Elemento comum: todos vivíamos sob ditaduras e o ansiarmos pela Democracia fazia-nos aceitar uma solução em que o ideal democrático estivesse envolvido. Fizemos reuniões, publicámos livros, estávamos a preparar um boletim multilingue, quando a PIDE acabou com a festa, prendendo um de nós, o que centralizava os contactos.
Em Barcelona, houve também pelo menos uma prisão, a de um escritor catalão que a nós estava ligado. Não digo nomes, pois não sei se os outros elementos do grupo querem, ou quereriam (alguns já não são vivos), que se saiba que foram iberistas. Eu assumo que o fui. Na época, as federações pareciam funcionar bem – Jugoslávia, Checoslováquia, União Soviética… - e se era bom para eles, com culturas, línguas e até com religiões diferentes, também não podia ser mau para nós. No entanto, a guerra que dilacerou a Jugoslávia e restaurou a independência das seis nações que a constituíam, demonstra-nos que as nacionalidades são como os cursos de água que, durante as inundações, recuperam os leitos ocupados pelo cimento, usurpados pela ganância dos construtores civis. Podem ser submetidas pela força militar ou pela artimanha diplomática mas, mais tarde ou mais cedo, o sentimento patriótico explode no peito daqueles cuja independência foi suprimida. Depois desta sumária descrição do que tem sido o Iberismo e da confissão de que já fui um iberista convicto, vem a parte dramática deste texto e que se refere a um iberismo mais recente.
Nestes casos, talvez seja melhor falarmos de iberismo integracionista.
(Continua)
Aquest espai està dedicat a tots els amics d'Estrolabio i, de manera molt especial, als qui segueixen el nostre bloc des de les terres de parla catalana. Aquí parlarem de cultura lusòfona i de cultura catalana, i de les qüestions i els problemes que ens afecten als uns i els altres.
En un article precedent, en què vaig proposar alguna reflexió arran de la lectura del poema "Península" de Carlos Loures, vaig reproduir el poema "Assaig de càntic en el temple" del poeta català Salvador Espriu. Prenent aquella referència com a preàmbul, vull afegir ara alguns apunts sobre la figura i l'obra d'aquest singular i extraordinari poeta i home de lletres, que, com tots els intel·lectuals de la seva generació, com tots els catalans de l'exili exterior i de l'exili interior, com tots els ciutadans espanyols humiliats i sotmesos al jou del franquisme, va haver de fer cara als anys foscos d'una Catalunya i d'una Espanya oprimides, segrestades i massacrades brutalment. Una situació que em sembla paral·lela, en molts aspectes, a la de Portugal en la mateixa època.
Salvador Espriu, nascut l'any 1913, es llicencià en dret per la Universitat Autònoma de Catalunya el 1935, poc abans de l'esclat de la Guerra d'Espanya, un esdeveniment sagnant que va sembrar les terres d'Espanya d'un munt de cadàvers damunt els quals es va edificar el règim franquista, que es va perpetuar, més enllà de totes les previsions, durant prop de quaranta anys, fins a la mort del dictador. Quan això ocorregué, l'any 1975, Salvador Espriu era ja un poeta consagrat, que havia construït la seva obra tenaçment en un context de prohibició de la llengua i de repressió cultural, en l'entorn de migradesa cultural i social que el règim imposava arreu.
Des de la marginació de la pròpia cultura, des d'un país desfet, sorgeix la seva veu amb una extraordinària intensitat poètica. Espriu, des del silenci imposat i des de les ruïnes d'una societat i d'uns somnis desfets, aixeca un monument extraordinari a la llengua catalana i a la pròpia cultura. De la negació del dret a l'existència del poble català, s'aixeca un cant que és, alhora que una obra d'una solidesa inqüestionable, una afirmació d'identitat col·lectiva. Espriu, posat en escena per l'Agrupació Dramàtica de Barcelona i pel director Ricard Salvat –que concep un espectacle teatral antològic titulat "Ronda de Mort a Sinera"–, musicat i cantat per Raimon, publicat tardanament aprofitant les esquerdes d'un règim que s'enrocava en la repressió però que havia de rentar-se la cara amb alguna aparença de llibertat i de progrés, va esdevenir un poeta de culte, sentit probablement per una gran majoria dels catalans com el poeta nacional de Catalunya.
La solidesa de l'obra d'Espriu no sorgeix del no res, sinó de la voluntat de resistència i d'autoafirmació, d'una banda, i, d'una altra, d'una mirada profunda i penetrant a la pròpia cultura. En aquesta mirada, allò que primerament sorprèn és l'abast, l'extensió de la mirada. Perquè en l'obra d'Espriu es construeix una mitologia de les essències de la cultura catalana, però no pas amb la visió del folklorista i de l'entomòleg, sinó amb la penetració del filòsof i l'essencialitat ètica del místic.
Així doncs, mentre que Catalunya és, per als romàntics creadors de la mitologia nacionalista, un món a cavall dels Pirineus, essencialment europeu i hispànic –no pas espanyol– en un extrem peninsular, entre la muntanya i el mar, amb un cert substrat germànic en l'inconscient –un tret característic a moltes de les reconstruccions nacionalistes romàntiques– , i per als postmodernistes i els noucentistes és una concreció mediterrània del món clàssic, en la visió espriuana Catalunya és una síntesi de mediterraneïtat en la qual no només hi ha els components germànics i europeus, que constitueixen els referents que podríem considerar medievalistes, i els components clàssics grecoromans, sinó també els components de la mitologia egípcia i de la mística jueva.
En la seva poesia, com en el seu teatre i en la seva obra narrativa, llargament elaborada i destil·lada, hi trobem el llegat d'ascetisme d'arrel cristiana de les danses de la mort, la dimensió universal de la culpa i el sentit mesiànic de la mística jueva, la dimensió tràgica dels herois dels mites i del gran teatre grec, i la concepció cíclica del temps de la mitologia egípcia. I totes aquestes influències se'ns fan presents a través de símbols concrets, en els quals l'erudició –com passa en els grans poetes– es converteix en expressió diàfana i suggestiva, capaç de captivar els lectors o el públic per la força de les imatges verbals i plàstiques que suggereix malgrat la dificultat d'accedir al seu sentit pregon:
...la ratlla es torna just un punt,
i dins, colgat, el temps difunt.
Setmana Santa, XXVI
Així, aquesta simbologia, amb imatges plàstiques i metàfores que remeten a la tradició cultural mediterrània, apareix en la poesia espriuana amb formes molt diverses, però amb una notable constància, cosa que dóna a la seva producció una enorme coherència i un caràcter unitari que convida a fer-ne una lectura global: el vol del falcó, la barca del temps, el pas de les hores, la Mort, el vell orb, el Laberint... I de manera semblant podríem parlar dels seus personatges, tant els que esdevenen protagonistes de les seves obres dramàtiques (Antígona, Esther, Fedra...), com els que apareixen en la seva obra poètica o en la seva narrativa (el Minotaure, Ariadna, l'endeví Tirèsies...).
L'expressió poètica de Salvador Espriu és sempre fruit d'un treball meticulós i pulcre de destil·lació del vers, que selecciona acuradament els mots i els ritmes per aconseguir la síntesi formal més harmònica amb la matèria poètica i la intenció del vers. Per exemple, en els versos següents, amb els quals comença el "Llibre de Sinera" (que ens parlen de la remor d'uns cops d'aixada que són l'única presència perceptible en un paisatge desolat, la distribució dels accents en el vers, els peus rítmics, reprodueix els ecos solitaris, somorts, però persistents, de l'aixada:
Remor de cops d'aixada, no la sents?
Rera les altes tanques de paret.
Sense repòs, però molt lentament,
enllà de la cleda contínua del temps.
Per remarcar la solitària presència d'aquests cops persistents i somorts, el poeta demana silenci al lector, preguntant-li "no la sents?". De manera semblant, quan en els quatre versos que tanquen aquesta mateixa obra vol que el lector descobreixi la paraula essencial que ha presidit el seu cant i el convida a descobrir-la en construcció acròstica:
M'alço vell tronc damunt la vella mar,
ombrejo i guardo el pas del meu camí,
reposa en mi la llum i encalmo ja la nit,
torno la dura veu en nu roquer del cant.
Obligat a construir des de l'exili interior la seva obra, i com a component intrínsec de la síntesi cultural i emocional en què recrea el seu món simbòlic, Espriu construeix uns espais mítics de referència: el jardi dels cinc arbres, Sinera, Sepharad... Cadascun d'aquests espais és el referent de vivències o dimensions existencials i intel·lectuals del món poètic de Salvador Espriu.
El jardi dels cinc arbres és un espai poètic construït a partir del pati de la casa familiar a la població catalana d'Arenys de Mar, i el poeta s'hi refereix quan parla dels seus "vells morts", com a "casa dels morts que només jo conec"; és un espai de vivència íntima.
Sinera, en canvi, és un espai de dimensió col·lectiva identificat amb el paisatge físic, humà i emotiu de l'Arenys (Sinera és un nom creat a partir de la inversió d'Arenys) de la infantesa; és un espai per a la dimensió íntima de la Catalunya col·lectiva.
Sepharad, que remet a la tradició sefardita, és la península Ibèrica, la pell de brau que dóna títol a un dels reculls poètics d'Espriu ("La pell de brau", traduït al portuguès per Manuel de Seabra i publicat amb el títol "A pele de touro" [Dom Quixote, Lisboa, 1975]); Sepharad és un espai cívic, de trobada, d'intercanvi i reconeixement, de llibertat i convivència, en la mateixa mesura que és l'espai de la lluita fratricida, de l'opressió i la sang. Espriu descriu així Sepharad en el primer poema de "La pell de brau", amb imatges que permeten paral·lelismes amb la imagologia picassiana:
El brau, en l'arena de Sepharad,
envestia l'estesa pell
i en fa, enlairant-la, bandera.
Contra el vent, aquesta pell
de toro, del brau cobert de sang,
és ja parrac espesseït per l'or
del sol, per sempre lliurat al martiri
del temps, oració nostra
i blasfèmia nostra.
Alhora víctima, botxí,
odi, amor, lament i rialla,
sota la closa eternitat del cel.
La pell de brau, I
Aquesta pell de brau, estesa als quatre vents, encara està banyada en sang:
El sol no pot assecar,
pell de brau,
la sang que tots hem vessat,
la que vessarem demà,
pell de brau.
Ibídem, II
I és alhora la pell tibant d'un tambor que retruny al compàs del galop dels cavalls de la por:
La pell fa
de tambor
percudit
per les mans
de la por,
pel galop
del cavall
que no pot
conquerir
l'últim guany
del repòs.
Ibídem, III
Però, malgrat l'herència de sang, Sepharad, terra d'exili, és també terra de promissió, l'espai que ens cal guanyar i habilitar per al retrobament i la convivència:
Ara dèiem tarda,
després direm matí,
però ens perdem sempre
en la mateixa nit.
Diversos són els homes
diverses les raons,
ens va vivint el somni
d'un únic amor
i ens madura de pressa
per a la mort.
Ibídem, XXIX
Hem dit que aquest és, malgrat tot, l'espai de convivència, del diàleg. I la riquesa del diàleg està, precisament en la diversitat:
Diversos són els homes i diverses les parles,
i han convingut molts noms a un sol amor.
La vella i fràgil plata esdevé tarda
parada en la claror damunt els camps.
La terra, amb paranys de mil fines orelles,
ha captivat els ocells de les cançons de l'aire.
Sí, comprèn-la i fes-la teva, també,
des de les oliveres,
l'alta i senzilla veritat de la presa veu del vent:
"Diverses són les parles i diversos els homes,
i convindran molts noms a un sol amor."
Ibídem, XXX
Darrerament, vint-i-cinc anys després de la mort del poeta, s'ha dit, des d'una lectura política de la conjuntura actual de les relacions de Catalunya amb Espanya, que el projecte espriuà ha fracassat. Així, doncs, la victòria caldrà concedir-la als qui neguen la possibilitat del diàleg i l'entesa en la diversitat? Personalment, crec que no. Parlar del fracàs del projecte espriuà és una manera de desviar l'atenció per no dir que el que ha fracassat és el projecte polític del postfranquisme. L'ideal espriuà no és un programa d'acció política, sinó una exigència ètica i cultural. I és una exigència social, alhora individual i col·lectiva. La base del diàleg és el pacte, i no existeix el pacte si no és fet entre iguals, un prerequisit que mai no ha estat efectiu entre els diferent pobles d'aquesta Sepharad.
En la llei i en el pacte
que sempre guardaràs,
en la duresa del diàleg
amb els qui et són iguals,
edifica el lent temple
del teu treball,
alça la nova casa
en el solar
que designes amb el nom
de llibertat.
íbídem, XLVII
Josep A. Vidal
Aquest espai, dedicat a tots els amics d'Estrolabio i, de manera molt especial, als que segueixen el nostre bloc des de les terres de parla catalana. Aquí parlarem de cultura lusòfona i de cultura catalana, i de les qüestions i els problemes que ens afecten als uns i als altres.
Recordo, dels temps d'infant, una extravagant lliçó de geografia d'Europa, en què un amic de la família –no pas un mestre– mostrant-me el mapa del continent girat de manera que l'extrem occidental quedés al capdamunt, m'hi feia veure una figura humana vestida amb faldilles amples o una llarga túnica que s'obria en ventall als seus peus.
-És una reina –em deia–. Fixa't en el vestit, com s'eixampla...
I m'assenyalava la hipotètica cintura de la figura entre l'extrem més interior del mar Adriàtic i la península de Jutlàndia, des d'on resseguia el perfil amb el dit fins a l'eixamplament de la Gran Plana Europea, per les costes fredes de l'Àrtic, baixava per la serralada dels Urals, fins al mar d'Azov, i des d'aquí fins a Grècia. Després, resseguia el litoral mediterrani fins a la península Itàlica.
-Mira –em deia–, porta el braç aixecat i a la mà... Saps què hi porta, a la mà?...
I esperava la meva resposta, mentre jo me'l mirava embadalit i encara desconcertat, intentant de compondre aquella figura que m'assenyalava i que apareixia als meus ulls cada vegada més nítida.
-No... –responia jo, mirant-me l'illa de Sicília, que em semblava realment enganxada a l'extrem del que fins aleshores havia estat per a mi no pas un braç, sinó una bota.
-Porta un ceptre... I saps per què? –I, sense esperar la meva resposta, hi afegia:- Perquè és una reina. Mira...
I n'assenyalava aleshores el bust, certament estrafet, entre el golf de Gènova i el golf del Lleó. Però la migradesa d'aquell bust monàrquic ja no era obstacle per a la meva fantasia, que havia entrat plenament en el joc imaginatiu que em proposaven.
-Això és el cap –em deia–. Mira la barbeta –i assenyalava el tros de costa des del cap de la Nau fins al cap de Palos–, la boca –el cap de Gata, a Almeria–, el nas –Gibraltar– i els ulls –el golf de Cadis.
Aleshores em va mirar, preparat per donar l'últim cop d'efecte al meu enlluernament, i va dir:
-I al cap, no veus què hi porta? –I assenyalava el rectangle de Portugal fins a l'extrem gallec de Fisterra–. Es la corona!
Mai més no em van tornar a repetir aquesta lliçó singular, però l'he recordada sovint en mirar-me el mapa d'Europa. Perquè vaig aprendre que de vegades és bo de mirar d'una manera inèdita les coses que estem habituats a veure des d'una sola perspectiva. He tornat a recordar aquesta història recentment, tot llegint "Península", un poema de l'amic Carlos Loures:
"No extremo de um cansado continente,
um rosto de mulher emerge do oceano..."
Potser Carlos Loures va tenir en la seva infantesa la experiència d'una lliçó semblant a la meva? No ho sé... Però, la seva mirada al continent, i a la anciana península que el culmina per l'occident meridional, abocada a l'Atlàntic, petonejada per l'oreig càlid del continent africà, ens retorna a la realitat, ben diferent del quasi conte de fades d'aquell meu descobriment infantil del continent europeu. Els pobles ibèrics –desfeu-vos, siusplau, de l'esquema reduccionista i mistificador dels Estats constituïts (és de pobles, que us parlo)– no han après mai a veure's com a cap coronat del continent. Potser sí que els poderosos, d'un temps o un altre, han somiat grandeses, potser sí que s'han cregut en algun moment que el món es podia partir en dos en funció dels seus interessos de domini exclusius, i potser sí que en algun moment de la seva història, els poderosos, van dir orgullosos que als seus dominis mai no es ponia el sol...
Però, els pobles ibèrics, els qui hem poblat aquestes terres antigues, assedegades, fetes de pedra i pols, excessives de muntanyes i excessives de planes, pobres d'aigua, on cada tros de terra conreat parla de lluita esforçada contra un paisatge indòmit..., els pobles ibèrics –repeteixo– no ens hem sentit mai el cap coronat del continent. Al contrari, hem alimentat el sentiment de la marginalitat. I la història ens hi ha ajudat.
Tancats i aïllats, amorrats a la terra, ancorats en el passat, i oprimits per poders absoluts, retrògrads, obscurantistes... ens hem avesat a mirar cap al nord amb una barreja d'enveja i esperança. En la història recent, oprimits pel jou del feixisme, miràvem amb un dolorós estoïcisme, llargament après, cap a les terres d'Europa... Bé, no pas de tot Europa, sinó cap al Nord i, especialment, cap al cor del continent, cap a la centralitat que ens mancava. El Nord era el progrés, la cultura, la civilitat... Era sobretot la llibertat.
Potser la mirada esperançada cap al Nord ens ha desacostumat de mirar amb amor real cap a aquest extrem del continent on vivim i, avui, quan sabem que la nostra llibertat –salvant les distàncies que calgui– és homologable a la dels altres països d'Europa, i fins i tot envejable per a bona part dels pobles europeus orientals, ens adonem que hem desaprès de conèixer-nos, d'estimar-nos, de valorar-nos nosaltres mateixos i entre nosaltres. I ignorem més del que cal allò que de nosaltres mateixos hauríem de conèixer. I fins i tot m'atreviria a dir que menystenim allò que podríem tenir en comú, allò que hauríem de compartir i d'estimar com a patrimoni comú, perquè és el que ens pot fer forts, segurs i cultes. Cal, però –com diu el poeta català Salvador Espriu en el seu Assaig de càntic en el temple –, que ens descobrim a nosaltres mateixos estimant, "amb un desesperat dolor", la nostra "pobra, bruta, trista, dissortada" pàtria.
Penso novament en aquella singular lliçó de geografia d'Europa de la meva experiència infantil i en el que em va ensenyar: Val la pena l'esforç d'obrir la nostra mirada a una perspectiva diferent o inèdita.
Josep A. Vidal
Allà als confins remots d'un cansat continent
el rostre d'una dona sorgeix de l'oceà,
perfil d'esfinx que esguarda l'occident.
Un oreig africà li petoneja el coll
i té els cabells nevats de pedra i fam.
Serenament espera. Vull dir,
amb la serenitat que ha après durant mil·lennis,
va consumint la seva pell d'escorça, vinya i blat,
es va podrint, amb amarga tristesa, la seva carn d'ametlla,
d'oliveres, i els llavis de taronja,
i les dents minerals, i els seus ulls d'aigua i por.
Guarda un secret, guarda un secret amor,
la pregona esperança engendrada
al seu ventre de silenci i dolor.
Malgrat que mil presons li capolin el cos,
encara que el seu rostre torturat
sigui un crit dreçat a l'occident,
la lluminosa Ibéria, l'estimada,
amb la serenitat que ha après durant mil·lennis,
va consumint la vida tot plantant cara al temps.
Espera, espera sempre la llibertat.
Aquí, al capdavall del continent,
hi ha un rostre que el temps va esgarrinxant,
que adreça al Sol, tristament, un somriure
i espera.
Espera.
Carlos Loures ("O cárcere e o prado luminoso")
Traducció: Josep A. Vidal
Oh, que cansat estic de la meva
covarda, vella, tan salvatge terra,
i com m'agradaria d'allunyar-me'n,
nord enllà,
on diuen que la gent és neta
i noble, culta, rica, lliure,
desvetllada i feliç!
Aleshores, a la congregació, els germans dirien
desaprovant: "Com l'ocell que deixa el niu,
així l'home que se'n va del seu indret",
mentre jo, ja ben lluny, em riuria
de la llei i de l'antiga saviesa
d'aquest meu àrid poble.
Però no he de seguir mai el meu somni
i em quedaré aquí fins a la mort.
Car sóc també molt covard i salvatge
i estimo a més amb un
desesperat dolor
aquesta meva pobra,
bruta, trista, dissortada pàtria.
Salvador Espriu ("El caminant i el mur", 1951-1953)
Aquest espai, dedicat a tots els amics d'Estrolabio i, de manera molt especial, als que segueixen el nostre bloc des de les terres de parla catalana. Aquí parlarem de cultura lusòfona i de cultura catalana, i de les qüestions i els problemes que ens afecten als uns i als altres.
El professor de literatura catalana de la Universitat Autònoma de Barcelona, Víctor Martínez-Gil, en un article titulat "Portugal i el Minotaure en una possible 'imagologia' catalana" (http://iberistas.com/foro/l-iberisme-en-la-cultura-catalana-t2316.html) fa un repàs a la trajectòria de l'iberisme a Catalunya, tot fent atenció especialment a les relacions seculars entre Catalunya i Portugal. "Les relacions entre Catalunya i Portugal –diu Martínez-Gil– són fruit de l'existència d'un marc hispànic comú que ha determinat tant els seus contactes efectius com el paper que cada societat juga en l'imaginari de l'altra. A diferència de Castella, però, Catalunya i Portugal han entès tradicionalment la Península com un àmbit cultural i polític dins del qual conviuen corones, regnes, nacions i cultures diferents. El sentiment de 'connexió espiritual hispànica', com el qualifica Ferran Soldevila, ha estat significatiu per a tots dos països, però no pas motiu de dissolució, ni exigència absoluta de lligams, ni fre als diferents desplegaments culturals, polítics, territorials i econòmics de cada poble."
. Ligações
. A Mesa pola Normalización Lingüística
. Biblioteca do IES Xoán Montes
. encyclo
. cnrtl dictionnaires modernes
. Le Monde
. sullarte
. Jornal de Letras, Artes e Ideias
. Ricardo Carvalho Calero - Página web comemorações do centenário
. Portal de cultura contemporânea africana
. rae
. treccani
. unesco
. Resistir
. BLOGUES
. Aventar
. DÁ FALA
. hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
. ProfBlog
. Sararau