António Gomes Marques
Há cerca de três anos, o Armando Caldas convidou-me a assistir a mais um espectáculo, por si dirigido, do «Intervalo – Grupo de Teatro», a que chamou «Uma Noite de Cabaret», a partir de textos de Ionesco e de Karl Valentin. Foi uma reconstituição de um espectáculo de «cabaret», também chamado de café-concerto ou café-teatro, espectáculo este que nos motiva a falarmos destes autores, enquadrando-os na História do Teatro, da qual, inquestionavelmente, fazem parte.
Por volta de 1900, Romain Rolland iniciou uma série de artigos na «Revue d’Art Dramatique», artigos que o autor viria a reunir em volume em 1903, a que deu o título de «Le Théâtre du peuple», livro esse que o autor definiu como «um documento histórico que reflecte as ideias artísticas e as esperanças de uma geração» e nos quais procurou «… destacar dois factos: - Em primeiro lugar, a súbita importância que o povo tomou na arte (ou melhor, a importância dada ao povo; porque o povo, como de costume, não fala e todos falam por ele). – Em segundo lugar, a extraordinária diversidade de opiniões que se abrigam sob a designação geral de arte popular.» R. Rolland conta ainda, na Introdução àquele livro: «Graças ao (…) inteligente promotor, Adrien Bernheim, realizaram-se, nos bairros populares de Paris, representações clássicas pelos actores dos grandes teatros subvencionados. Acto contínuo, Bernheim e os seus amigos exclamaram: “O teatro do Povo está fundado!” - Eis uma bela invenção! Baptiza-se o teatro burguês de teatro popular, e é quanto basta! Desta sorte, nada mudará, e numa sociedade que eternamente se transforma, apenas a arte permanecerá imóvel, condenada eternamente a um ideal caduco, a um teatro cujo pensamento, estilo e desempenho já nada têm de vivo!» (V. Luís Francisco Rebello: Teatro Moderno – caminhos e figuras, 2.ª edição, 1964).
A denúncia de R. Rolland não levou à existência de um teatro para o povo, apesar do seu empenho. Ora, nessa época, havia os cabarets ou café-concertos e outros lugares como tabernas, cervejarias e botequins, em que o essencial dos seus programas começou por ser constituído por canções, onde alguns actores de variedades passaram a ir também cantar ou representar pequenos textos de comédia e alguns mágicos a apresentar também os seus números, lugares estes que se tornam muito populares e, naturalmente, locais de frequência para as classes mais desfavorecidas, transformando-se numa moda e, consequentemente, começam muitos destes locais a atrair a burguesia e os homens de negócios, expulsando, naturalmente, os mais humildes. Os que resistem tornam-se, pelo contrário, locais de resistência, mesmo na Alemanha nazi, onde acabam por se distinguir Karl Valentin e Marlene Dietrich, entre outros, e onde o Cabaret berlinense se tinha transformado num fenómeno artístico, social e político.
Karl Valentin, nome artístico de Valentin Ludwig Fey, nasceu em 4 de Junho de 1882 nos subúrbios de Munique. Iniciou-se no mundo do trabalho como marceneiro. Cerca de três anos após a morte do pai, vendeu em 1906 a carpintaria que havia herdado e organizou uma digressão, com o pseudónimo de Charles Fey, com uma orquestra de vinte instrumentos, a que chama «orquestra viva», accionados unicamente por ele graças a um mecanismo que inventou, mas sem qualquer sucesso. Começa por se tornar conhecido como cantor popular nas cervejarias de Munique, instaladas em caves. Insiste em números cómicos, acabando por encontrar um público e o sucesso com o seu primeiro monólogo, O Aquário, em 1907.
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