Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2011
A Agenda Cultural informa sobre este lançamento de um livro da maior importância:

publicado por João Machado às 08:00
editado por Luis Moreira às 15:26
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Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010
Lançamento do livro "Um País Silencioso: Uma história das Linhas de Torres Vedras", de Carlos Guardado da Silva e Daniel Silvestre da Silva. Edifício Paços do Concelho de Torres Vedras
Para mais informação sobre esta obra, clique aqui: http://www.edi-colibri.pt/colibri/Detalhes.aspx?ItemID=1392
Terça-feira, 27 de Julho de 2010
Este é um espaço novo onde teremos os colaboradores do Estrolabio a apresentar uma ideia, um livro, um quadro, uma canção – de sua autoria ou não. José Brandão, o nosso historiador que nos apresentou a série dos «Suicídios famosos em Portugal» e agora nos está a oferecer «República nos livros de ontem nos livros de hoje», vem falar sobre a sua última obra - «Os Homens do Rei». Ouçamo-lo então;Este livro é a História de Portugal contada com o propósito de trazer para primeiro plano do conhecimento público algumas das muitas figuras que protagonizaram episódios marcantes ao serviço de um rei.
Contam-se casos e vidas de súbditos que se notabilizaram pelos feitos que os colocam no nosso memorial histórico e onde estão nomes da mais diversa condição que surpreendem ao aparecerem juntos, como acontece no presente volume.
Os Homens do Rei são um encontro com figuras da História que estiveram presentes de forma elevada na vida dos reis portugueses. São personagens com feitos e factos capazes de despertar as atenções protectoras ou os interesses mais exigentes das majestades reinantes e que, em alguns casos, chegam mesmo a ocupar funções que deixam ofuscado o respectivo patrono real.
Os Homens do Rei aqui apresentados revelam as grandezas e fraquezas de um mundo tutelado por sucessivas dinastias onde nem sempre prevalece o primado da competência e o da honradez de carácter.
Se por um lado homem do rei pode significar um factor de competência na educação e na formação de alguém visado, por outro, pode traduzir as fragilidades e os podres de um Poder que se estilhaça e se dissolve às mãos de aproveitadores de ocasião.
O Egas Moniz de D. Afonso Henriques não é o Marquês de Pombal de D. José. Nem João Franco de D. Carlos é Fernão Lopes de D. Duarte. São homens do rei em tempos diferentes e com fins que em nada se comparam. Mas porque não visa meras comparações de feitos e obras, este trabalho quer divulgar um conjunto de personagens que de algum modo estiveram ligadas à vida de monarcas portugueses. Escolhidos pelo bem ou pelo mal que representam, eles são os homens que o rei quer e precisa para os seus intentos, nem sempre bons, nem sempre maus.
Permanentemente abertos a ter a seu lado aqueles de que resulta um bom partido ou um bom investimento, os nossos Soberanos não regateiam preços nem denotam dificuldades em granjear ou aceitar como seus homens alguns dos mais estranhos e imprevisíveis apoiantes ou apoiados. Entre os de irrepreensível porte e os de infame alinho, tantos são os que estão ao dispor da escolha possível.
Num cenário que vai do pioneiro D. Afonso Henriques ao derradeiro D. Manuel II alinham-se cerca de uma centena de figurantes provindos dos mais diversos campos do saber e da mais distinta cultura da época.
São os Homens do Rei que servem de tema a uma abordagem ainda pouco aprofundada e menos ainda divulgada. Ao longo das páginas que se seguem podem ser avaliadas figuras da nossa História que nos fazem crer num passado de Portugal feito à sombra de muita gente hoje quase anónima.
Quem recorda nos tempos que correm o arcebispo de Braga D. João Peculiar, do reinado de D. Afonso Henriques, ou mesmo o bispo de Viseu D. António Alves Martins, do reinado de D. Pedro V?
Quem recorda actualmente o Chanceler Julião Pais, do reinado de D. Sancho I, ou mesmo o deputado Manuel Fernandes Tomás, do reinado de D. João VI?
Ao exibir a presente relação de Homens do Rei procura-se trazer à ribalta da escrita memórias de vidas excelsas que se desdobram pelas dinastias que comandaram os destinos de Portugal.
Devotados do rei porque por ele escolhidos, ou devotados ao rei porque a ele escolheram, estes Homens do Rei são, em geral, modelos de uma dedicação extrema que coexiste entre a estima sincera e a cumplicidade criminosa.
O absolutismo do Visconde de Santarém e o liberalismo de Mouzinho da Silveira não podem expressar o mesmo objectivo da dedicação.
A ferocidade bárbara de Geraldo, o Sem Pavor contra os Mouros no Alentejo e a pregação missionária de Padre António Vieira junto dos Índios no Brasil não são expressão de igual préstimo. Igualmente, quer o suicídio do romancista Camilo Castelo Branco, quer o suicídio do sertanejo Silva Porto, se ocorrem no mesmo espaço temporal, não são, porém, consequência duma mesma razão. Camilo abraça a morte por amor físico e afectivo. Porto elege a morte por amor pátrio e contemplativo. Estão ligados a um rei do seu tempo e por isso são Homens do Rei.
Um exemplo -o homem de confiança de diverso reis - de D, Afonso VI, de D, Pedro II e de D. João Vo Marquês das Minas (1644-1728)Descendente duma velha família a muitos títulos ilustre, D. António Luís de Sousa, foi como general do Exército português da Quádrupla Aliança na Guerra da Sucessão de Espanha (1704-1711) um dos seus grandes chefes militares, que especialmente se distinguiu pelo espírito combativo e capacidade manobradora em difíceis situações estratégicas.
Nascido em 1644, era o primogénito e herdeiro de D. Francisco de Sousa, 3.º conde do Prado, depois 1.º marquês das Minas, e de sua mulher, D. Filipa, filha dos condes da Torre.
Começava-lhe o primogénito aos 13 anos a brilhante carreira militar durante a Guerra da Restauração, tendo estado já na defesa de Elvas em 1658 e 1659. Em 1661, com 17 anos, era capitão das guardas do seu exército.
Em 1663, já mestre-de-campo dum terço de infantaria em operações, que seu pai comandava como governador das Armas do Minho, comportou-se de modo a merecer o rápido acesso a general de batalha, depois de ter derrotado em 1665 um corpo de tropas espanholas numa frustrada tentativa de assalto à praça-forte de Valença do Minho.
Até ao termo da guerra e às pazes de 1668 se manteve na defesa dessa fronteira do Norte, em cujo governo das Armas sucedeu, no ano seguinte, a seu pai; e em 1674, tendo-lhe herdado também o título de marquês das Minas, o príncipe-regente D. Pedro promovia-o a mestre-de-campo-general.
Assim, aos 30 anos prosseguia uma ascensional carreira militar e política. De 1684 a 1687, foi por D. Pedro II nomeado governador e capitão-general do Brasil, donde voltou ao Reino em 1668 para participar no Conselho de Guerra e, desde 1698, presidente da Junta do Tabaco, depois do que era chamado em 1703 ao serviço efectivo do Exército como governador das Armas do Reino.
Nessa crítica situação inicial, começava o marquês das Minas, general da Beira, a afirmar-se, aos 60 anos, um verdadeiro cabo-de-guerra. Descendo de Almeida com o seu pequeno exército, sucessivamente recuperava, na Beira Baixa e no Alto Alentejo, todas as posições dos bourbónicos, rechaçando-os para além-fronteiras, o que lhe valeu de D. Pedro II a graça régia de lhe confiar o comando supremo das tropas aliadas em Portugal, substituindo o velho conde das Galveias, herói da Restauração, primeiramente escolhido por favoritismos da corte, mas desconhecedor das novas técnicas de guerra.
A entrada triunfante do marquês das Minas em Madrid aos 28 de Junho de 1706, embora signifique um feito militar glorioso, não indemnizou o país dos sacrifícios a que nos sujeitou o célebre tratado de Methuen celebrado três anos antes com a Inglaterra no intuito de a termos por nossa aliada.
Mas, a 26 de Abril de 1707 aconteceu a famosa batalha, que, sobretudo pelas cargas finais da cavalaria francesa, redundou em total desbarato do exército anglo-português, destroçado, em debandada, com inúmeras perdas de vidas, de prisioneiros e feridos. E mesmo em plena derrota o veterano marquês, de 63 anos, à testa da sua tropa, vencida, estropiada, soube ainda operar em perfeita ordem uma magistral retirada estratégica até Barcelona, onde embarcou para Lisboa numa esquadra anglo deixando simbolicamente na Catalunha um contingente português.
Reinava já em Portugal o moço rei D. João V, que teria de arcar então no Reino com as consequências da derrota dos aliados.
D. João V tinha já premiado o valor militar do velho marquês das Minas em Espanha elevando-o a dignitário do paço, com o cargo de estribeiro-mor da rainha D. Maria Ana. Respeitado na corte, estimado do rei, morria aos 84 anos, no seu palácio de Lisboa, em 1728.
Domingo, 11 de Julho de 2010
História Contemporânea de Portugal
(I República) 2 Volumes
João Medina (direcção)Lisboa, 1985Esses são os heróis. Sempre o foram, através dos tempos, sê-lo-ão, pelos tempos fora, porque, sempre que o canastro corre perigo, o instinto animal do amor ao pêlo faz herói de um poltrão... E assim, Machado Santos não é um herói…
Machado Santos, é claro, podia ter sido, naturalmente, mercê do acaso que pela Rotunda o tivesse feito passar, ou dos acontecimentos que na sua onda imprevista para a Rotunda o tivessem arrolado, um autêntico e veracíssimo herói, tal como a lenda o haloiza e a admiração popular o consagra, se, todo o seu passado e o próprio e decisivo facto de ele estar na Rotunda em vez de ter estado, por exemplo, em Algés ou em S. Paulo, de ter estado na Porta das Armas de Infantaria 16, em vez de estar em Alenquer ou de ter ficado, simplesmente, na cama, se, ter-se mantido a pé firme na Rotunda e de lá não ter abalado…
Sexta-feira, 25 de Junho de 2010
Carlos Eduardo da Cruz
Luna, nasceu em 1956 em Lisboa, de forma perfeitamente acidental, como faz questão de salientar Oriundo de uma família de Estremoz, é nessa cidade alentejana onde vive e ensina. Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é Professor de História, há 32 anos. No período que se seguiu à Revolução de Abril militou no MES. Ao longo da sua vida, tem-se batido por causas que considera justas, desde a liberdade para a Birmânia até aos Direitos do Povo Curdo ou a independência do Sara Ocidental, desde a ecologia até ao desenvolvimento sustentado de Portugal... e entre essas causas privilegia a da restituição de Olivença a Portugal. É de sua autoria o livro "Nos Caminhos de Olivença". Assumindo-se como um regionalista alentejano, visita quase semanalmente Olivença, onde tem muitos amigos e alguns não-amigos., acrescenta. Continua a estudar o território usurpado, apoiando iniciativas que visem a recuperação das antigas História e Língua.
A sua opinião sobre a questão de Olivença é de que esta tem muitas semelhanças com o diferendo que o estado espanhol mantém com o Reino Unido acerca de Gibraltar. Porém enquanto os espanhóis aproveitam todas as oportunidades para debater a questão de Gibraltar, "o Estado Português não fala em Olivença, é quase uma posição clandestina". É, por isso, uma luta difícil. Mas lutar por uma causa que considerou sempre justa é uma questão de princípio.
Segunda-feira, 21 de Junho de 2010
Carlos Leça da Veiga(continuação)Fosse o atraso material do país duma dimensão despropositada e houvesse legítimas acusações de ordem vária impossíveis de calarem-se, a verdade é que, mau grado tanto de desfavorável, não parece correcto, muito menos justo, ser-se tão verrinoso, como aconteceu, na avaliação do estado do país.
A decadência e o desencanto com a parca evolução material do país, passaram a ser e mantiveram-se como a tónica maioritária e mais fundamental do pensamento político e cultural português o que, em grande medida, haveria de ajudar a consubstanciar a formação da resposta nacional mais comum, por desígnio, a de querer copiar, à viva força, sem as bases mais fundamentais, quanto progresso material a Europa Central já tinha conseguido.
Nos dias de hoje, a triste realidade – a imposta pelos grupos sociais dominantes – por mau agoiro, continua a dizer que a busca das respostas mais necessárias prossegue, como sempre, centrada na apologia franca e entusiástica, embora um tanto possidónia, das virtudes atribuídas aos desenvolvimentos materiais e culturais estrangeiros, de sobremaneira os centro-europeus, uma particularidade indesejável mas que, lamente-se, pela mão do oportunismo político, ganhou influência decisiva, porém malsã, no dirigismo político nacional português posterior ao 25 de Abril. O próprio universalismo português – uma velha genuinidade mundial, virtuosíssima e incomparável – passou a ser entendido, na sua essência actuante como resumido à ligação submissa aos interesses da Europa, os continentais, em especial. Os saloios estão no poder!
A Liberdade reconquistada com o 25 de Abril não tem sido bem aproveitada e, muito menos, bem direccionada. Veja-se como a própria História nacional, com a imensa multiplicidade dos seus ensinamentos, continua sem receber um trato político à altura mais merecida.
Que foi feito da tríade estratégica da Democratização, Descolonização e Desenvolvimento?
Em nome da Democracia quanta perversão política e, desgraça a nossa, uma subserviência máxima às vontades dominadoras dos interesses políticos e económicos dos estados centrais europeus, por exacto – é bom apontá-los – as do germânico e do franco, a aproveitarem a ausência, em crescendo, da intervenção ianque, hoje em dia, mais virada para o Pacifico, conforme com as suas exigências estratégicas.
Nos dias que correm, o queixume antigo pelo atraso material português que só via resposta favorável na subserviência ao que pela Europa era feito, agora, mesmo sem ter deixado de fazer sentir-se com o negativismo tradicional nem, tão pouco, receber uma resposta diferente, por mero oportunismo político, tem-se mostrado menos quebrantado e por precaução, hipocrisia e vileza política aparece exposto numa versão que, para além dum tanto possidónia, é apresentada – um péssimo disfarce – não como um desejo de copiar os centroeuropeus nem, tão-pouco, estar a aceitar uma qualquer subserviência às suas intenções políticas mas sim – imagine-se o descaramento – como expressão duma necessária convergência política, económica, cultural e social dos estados europeus. Porquê? Para quê?
Perguntas, uma e outra, que, com toda a clareza, não têm resposta válida que não deixe de ser a aceitação da estratégia das potências continentais centro-europeias desejosas de aumentar o número dos seus súbditos/consumidores.
Como é repetido à exaustão, trata-se – dizem – duma saudável contribuição nacional para a construção dum estado europeu, afinal um anseio político jamais reclamado pela população portuguesa, enfim, uma matéria em que, tão-somente, por conveniências políticas consertadas no segredo dos deuses, a nossa nação eleitora nunca foi ouvida nem achada.
Não deve ser assim. Há responsabilidades históricas carregadas de muito significado estratégico que não devem abandonar-se, antes sim, preservar-se senão mesmo dilatar-se.
Tem de reconstruir-se, em força, o pensamento universalista português que, mau grado muitos desaguisados históricos, nunca claudicou tanto quanto os seus adversários e os seus maus interpretes sempre desejaram ou tentaram. Há um mundo bem conhecido dos portugueses que, de facto, é muito mais promissor que a decadente Europa.
Embora frutos do passado – e não há futuro sem passado – na história portuguesa, há momentos importantíssimos cujo significado não pode desprezar-se, pelo contrário, devem ser colocados, com o destaque mais devido, numa linha de pensamento promotora duma intervenção política internacional, independente e universalista que, nessa, Portugal deve ter forte empenho por, para isso, hoje em dia, fruto da descolonização – ao invés de quanto é propagandeado – ter razões de peso com feição ímpar e muito promissora.
Havia, e têm de manter-se vivos, alguns exemplos excelentes e muito significativos da História do país que, só por si, permitiam e permitem, apesar de tudo, não ser necessário brindar-se o país com epítetos tão gravosos como quantos foram e têm sido ouvidos. Tinha de haver – tem de haver – outra atitude já que, como sentenciou De La Rochefoucauld, nos anos sessenta do século XVII, a alternativa era dever pensar-se que “Nunca somos tão infelizes como supomos, nem tão felizes como havíamos esperado”. Por cá, com bom senso e uma justa noção das medidas, era e é, o que bem podia dizer-se e devia repetir-se.
Era possível, como é, dever insistir-se numa visão da História portuguesa em que, para além de todas as acusações possíveis de assacar aos seus maus acontecimentos e, por igual, aos percalços infelizes do seu caminhar, em sua contradita, levasse em conta, como continua a não fazer-se, alguns dos seus méritos notabilíssimos e, também, muito importante, muitas das suas potencialidades próprias, com destaque para as que, necessariamente, advêm da descolonização, um episódio notabilíssimo da História mundial – repete-se, mundial – que, mau grado a sua grandeza e significados imensos, prossegue sujeito às acusações mais inconsequentes, provocatórias e torpes mas, também – e pior que tudo o mais – sem dar, como devia, os frutos internacionais mais vantajosos.
Recordem-se os aspectos muito positivos, imensamente frutuosos, com que a História portuguesa ajudou, de sobremaneira, à evolução progressista da Humanidade e disso destaque-se o seu pioneirismo prodigioso no fenómeno actualíssimo da globalização; enalteça-se a saga heróica dos descobrimentos e do seu armamento científico tão original quanto inovador; defenda-se que, de facto, o começo da Era Moderna foi a obra portuguesa alcançada com a passagem arrojadíssima do Cabo Bojador e não a queda de Constantinopla; assinale-se o mérito da autonomia do movimento independentista do sebastianismo popular seiscentista; exalte-se a continuidade afoita dos vinte e oito anos da guerra difícil mas vitoriosa contra o revanchismo castelhano; rememorem-se as notabilíssimas recuperações territoriais brasileiras e angolanas cometidas após a Restauração; recordem-se as consequências imensamente benéficas para toda a Europa, conseguidas pela vitória portuguesa, em 1717, na Primeira Batalha do Cabo de Matapan; valorize-se o sentido construtivo e progressista do reformismo regalista de Pombal; saúde-se a manobra inteligente do recuo, para o Brasil, da Corte do Rei João VI; vitorie-se a iniciativa popular de combate ao invasor francês e a contribuição militar nacional para expulsá-lo, persegui-lo e derrotá-lo; reavive-se o significado político da arrancada constitucional do vintismo quando em plena dominação europeia da reaccionária Santa Aliança; louve-se a iniciativa independentista do Brasil, politicamente muito bem preparada e consubstanciada na criação do único estado americano com origem e vivência directa numa super estrutura política europeia; comemore-se o sucesso científico novecentista das expedições arrojadas, esclarecedoras e inovadoras aos interiores africanos; aplauda-se o vigor da resposta da população portuguesa, ao arrepio daquela do aparelho do estado, a quando do ultimato da “pérfida Albion”; glorifique-se – não há outro termo – o sacrifício digníssimo, senão heróico, da saga dos mais anónimos, abandonados que foram nos terrenos da Flandres; homenageie-se a audácia da primeira travessia aérea do Atlântico conforme instrumentação científica de invento nacional; celebre-se a saga mantida de milhões de emigrantes espalhados pelo mundo fora ou, até – há muitos que não gostam de ouvir – reavive-se com vigor a resposta democrática, decisiva e inesquecível que a população portuguesa soube e quis dar à vitória militar do 25 de Abril.
Deve, ou não, revisitar-se a História nacional para melhor reencontrar-se um rumo político mais acertado?
O universalismo português deverá deixar-se enlear nas malhas duma política europeia ao serviço exclusivo dos interesses das potências continentais, as centro-europeias de sobremaneira?
Quem sempre apostou na tese europeísta não acertou. Bem podem dizer o contrário que os resultados estão à vista. Será que desta vez, por conveniências estranhas, a objectividade – aquela dos números e das percentagens – funciona ao contrário?
Será justo que o país esteja entregue nas mãos da hipocrisia política?
Enquanto que a população portuguesa está a ver-se confrontada com uma crise política, económica, cultural e social de gravidade extrema e que nada de bom augura, as direcções políticas das forças partidárias, depois de terem entregue Portugal ao expansionismo centro-europeu, numa ânsia de salvação, enredam-se num discursar sem sentido com que julgam conseguir desculpar-se do mal já feito.
Agora, como convêm aos interesses económicos dos possidentes portugueses, o atraso nacional, autentico como poucas vezes – a tal decadência – está a ser apresentado – um mau disfarce – como coisa já muito mitigada – nada do que foi no passado – tudo graças à salvação conseguida pela ligação orgânica à Europa, uma aliança que, como reafirmam, foi de grande genialidade política e utilidade inquestionável.
A poder verificar-se algum atraso nacional, é dito à população, nada mais é que uma coisa diminuta que só fica a dever-se às consequências duma crise “financeira” internacional que, conforme repetido, irá resolver-se! Não fora assim como, doutro modo, conseguiriam explicar o que têm feito nos últimos trinta anos de governações, coisa que, com toda a objectividade, feitas bem as contas, prima por um dilapidar generalizado de todos os patrimónios públicos nacionais e pelo enriquecimento desmesurado duns tantos privados. Há uma evidência de injustiça social que, sem sucesso, tem sido tentada esconder, à custa dos derrames abundantes e bem badalados, tanto do alcatrão como do betão.
Na História portuguesa já terá havido uma tão acentuada rendição aos interesses estrangeiros?
Na Europa, disso não deve duvidar-se, já está em marcha a opressão dum IV Reich.
Sábado, 19 de Junho de 2010
Uma História nacional inspiradora mas sempre desprezada “
A ignorância da nossa História tem proporcionado erros monumentais aos nossos políticos e a muitos portugueses”, Embaixador Luís Gaspar da Silva.A conquista duma Democracia do ser, do ter e do saber, deverá constituir o melhor e o maior objectivo a que a organização social humana deve e tem de guindar-se. Embora os benefícios políticos, culturais e sociais proporcionados directa e imediatamente pela Democracia sejam, de facto, o fim mais desejado pela generalidade dos Homens e das Mulheres, à Democracia, por igual, deve pedir-se que aceite esforçar-se, quanto possível, para produzir as reparações mais necessárias, nos estragos inegáveis que, ao longo da História, as prepotências dos mais variados absolutismos conseguiram criar e quantas vezes consagrar inclusive, tal a ignomínia do seu ferrete, terem deixado um rasto negativo susceptível de, muitos anos passados, continuarem a ter presença e força para condicionar o futuro, até no pior sentido.
O 25 de Abril, tenha-se consciência disso, obrou dum modo muito positivo no sentido de corrigir particularidades políticas nacionais que, há demasiado tempo, já não podiam conferir à população portuguesa um qualquer motivo de satisfação, uma qualquer réstia de orgulho e, muito menos, um qualquer prestígio internacional.
A História de Portugal, no decurso dos seus oito séculos, para além de quanto imensamente ímpar, inovador e positivo deve e tem de assacar-se-lhe, a seu par – isso não pode negar-se – produziu estragos insofismáveis que, mau grado os seus imensos inconvenientes e não menores repercussões negativas, apesar de tudo, não bastam e não servem para manchar, como seria injusto, o longo e notabilíssimo percurso histórico deste já velho país onde, curiosidade digna do maior realce – mas nada e nunca invocada – só há, como deve ser, e ao arrepio da generalidade dos casos, uma única Nacionalidade cuja expressão falada, obra sua, num crescendo continuo, prossegue a estender-se e a enriquecer-se por todo o mundo.
A realidade dessa constatação obriga a reconhecer-se a Portugal uma particularidade que, coisa inquestionável, é mais uma singularidade nacional com importância estratégica extrema, porém, salta à vista, muito pouco valorizada.
No conjunto dos factos históricos dos portugueses há muitas realidades dignas do maior destaque que, sem que possa dizer-se terem sido esquecidas, há quem insista em querer fazê-lo. De facto, não figuram, como merecem, nos lugares destacados em que devem estar e, com cuja recordação e bom exemplo, possivelmente, muitos comportamentos cívicos, a viverem-se nos nossos dias, podiam e deviam beneficiar. Porque será que não estão nos lugares que merecem?
Será por quantas dessas realidades históricas terem sido feitas, sobretudo, com o concurso destacado dos mais anónimos?
Será pelo receio duma imbecil conotação reaccionária?
Será por os seus obreiros inquestionáveis não representarem, ou servirem, os interesses dos mais poderosos?
Será porque os poderosos, muitas vezes, estiveram do lado errado?
Será, inclusive, por haver conveniências alienígenas a quem desagrade ver sublinhar-se qualquer contratempo ou revés que, no passado histórico, aqui tenham sentido e sofrido ou será, tão-somente, por causar-lhes desgosto ter de evidenciar-se-lhes um menor protagonismo na História do Mundo, se é que, nalgumas circunstâncias, com genuinidade assegurada, algum dele, com significado universal, possam ter tido?
Será pela infantilidade política de não vislumbrarem nos factos o imediatismo bem condimentado da luta de classes?
Há cerca de dois séculos, para um número sucessivamente crescente e muito significativo de portugueses do escol intelectual do país, começou a intensificar-se a repetição duma queixa que haveria de resultar socialmente muito influente e, por igual, não menos alienante cuja, até hoje, lamente-se, o tempo eternizou. Era a decadência portuguesa que, apontada desde a segunda metade do século XVIII, no mais essencial, por regra, passou a culpar os males com que Portugal tinha de confrontar-se e que, daí em diante, passou a ser a resposta que melhor explicava todos eles. O atraso material do país era – e tem sido – a evidência política considerada como o aspecto nacional mais negativo e, por igual, a circunstância que nunca deixou de receber a critica mais contumaz e mais constante, sempre, que o estado do país era, e é, sujeito a qualquer apreciação critica, face aquele crescimento material visto no exterior, de sobremaneira, no ocidente europeu.
Com efeito, nos últimos quase duzentos anos, os discursos sobre a decadência nacional e, por igual, aqueles outros sobre o desencanto com o viver pátrio, uns e outros, sem muito terem de esforçar-se – um desacerto lamentável – acabaram por conseguir ganhar foros duma explicação bastante e, também, duma desculpa suficiente para responder a quase todos os acontecimentos nacionais considerados menos felizes mas, também, a seu par, para explicar as suas circunstâncias determinantes e consequentes. Se, esse discursar, estivera bem expresso na acuidade, na oportunidade e na utilidade comprovada da prosa dos estrangeirados, anos após, sem um critério bem apurado, com muita ligeireza, passaram a constituir a panóplia absoluta e mais em voga, dos queixumes nacionais.
Infelizmente, para dar-se-lhes uma resposta necessária – irrecusavelmente necessária – insistiu-se, mas mal – exceptue-se o caso feliz do Setembrismo – em pedir, sucessivamente, no Vintismo, no Cartismo, na Regeneração, na Primeira República e na de agora – a Segunda* – uma qualquer acção política, económica, cultural e social desde que sujeita a um rigoroso mimetismo alienígena, no caso, substancialmente, o eurocentrista. O próprio salazarismo, para satisfação da sua sanha antidemocrática, entre o muito mal que fez, imitou, nos limites do possível, as ideias factícias do mussolinismo e, um tanto – tanto quanto conseguiu – algumas daquelas do hitlerianismo.
Na verdade, quem sempre por cá mandou e manda – não sejamos ingénuos – para assegurar-se duma mais fácil perseveração, senão mesmo dilatação, dos interesses da classe social dominante – afinal os mesmos do chamado escol intelectual produtor do discurso nacional decadentista – uns ou outros, com o seu mando abusivo foram quem, entre nós, mais vozeou em prol da salvação nacional desde que – hoje em dia como nunca – à custa da importação de quanto o eurocentrismo tem produzido, tudo sem bem ajuizar sobre quaisquer dos seus inconvenientes, designadamente, aqueles de natureza expansionista, com destaque, para os económicos.
A subserviência, mantida frente aos poderes expansionistas dimanados pela Europa, agora como sempre, só têm servido para protecção social dos possidentes portugueses e, afinal – ao contrário de quanto proposto – tem sido o comportamento político que mais tem favorecido o atraso material e a tal decadência nacional. Não é possível, com sucesso, importarem-se modelos de desenvolvimento para os quais o lastro indelével da História nacional não tenha deixado caminho aberto.
(Continua)
Sexta-feira, 18 de Junho de 2010
José Brandão, o nosso colaborador, autor da série
História de Suicídios Famosos em Portugal e da que estamos diariamente a editar -
República nos livros de ontem nos livros de hoje, ambas com tanto êxito, lançou um novo livro
Os Homens do Rei Os reis portugueses, ao longo de vários séculos, seguraram nas mãos o destino de Portugal. Mas nunca o fizeram sozinhos. À sua sombra sempre estiveram homens poderosos e influentes com uma palavra a dizer. Os Homens do Rei fala-nos de todas essas figuras históricas. Militares, religiosos ou pensadores, esses homens deixaram a sua marca em Portugal e, por vezes, no mundo.
Um livro a não perder:Os Homens do Rei __________________________________