Terça-feira, 11 de Janeiro de 2011

Pequenas memórias da Guerra da Guiné (8) - por Adão Cruz

(Continuação)

A tal história (2)

Dizia o “rádio” enviado pelo comandante da companhia ao Estado-Maior de Bissau, mais ou menos isto, e que era pura verdade: “Companhia com muitos homens incapacitados. Médico desta considera Companhia inoperacional”. Foi ida e volta. De imediato foi recebido pelo capitão um novo rádio que secamente, e em tom que se adivinhava ameaçador dizia, textualmente: “Diga clínico que se exige último esforço”. O capitão olhou-me fixamente nos olhos e eu percebi que ele estava cheio de pena de mim, pela enorme responsabilidade que me obrigara a assumir. Bebemos mais um copo, respiramos fundo, e um sorriso fugaz uniu os nossos rostos, facilitando a decisão.

 

-Escreva, disse eu, “impossível qualquer esforço”.

Ao romper do dia, o meu amigo e Chefe de posto, Olívio Faria, da Administração Civil, veio dizer-me que tinha um telefonema do alferes Pinho. O alferes Pinho era um alferes da nossa Companhia, que, por acaso, se encontrava nesse dia em Bissau. (Apenas um aparte: anos mais tarde este amigo Pinho foi um dos dirigentes do Sindicato dos professores da Zona Sul. Já faleceu.). Dizia ele no telefonema, com voz de circunstância:

 

- Põe-te a pau porque eu soube que vai sair um helicóptero com gente da saúde, para fazer uma inspecção à Companhia de Bigene. Não sei bem o que se passa mas a coisa parece séria.

Comuniquei ao capitão e dirigi-me então às casernas onde mandei reunir todos os soldados. Com voz grave e tão serena quanto pude, disse-lhes:

 

- Recebemos um “rádio” para repetir a saída desta noite, mas eu mandei dizer, o que é verdade, que vocês não estavam em condições de sair, considerando a Companhia inoperacional. Ao início da manhã virá cá uma inspecção do Serviço de Saúde de Bissau, para vos examinar um a um. Os que estiverem doentes queixam-se, contando e mostrando todas as mazelas, especialmente as das pernas, especialmente aquelas que mais vos impedem de caminhar, desde as micoses às feridas e aos problemas ósseos e musculares. Os que estiverem sãos dizem que estão sãos. Não admito aldrabices.

Pouco depois do romper do sol o helicóptero poisou na pista.

Ao centro da fotografia a enfermaria, onde os soldados foram examinados um por um. Atrás, a pista onde poisou o helicóptero.

(continua)

publicado por Carlos Loures às 19:00

editado por Luis Moreira às 12:30
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