1-Dá notícia da criação, por um grupo de cidadãos oliventinos, da associação “Além Guadiana” para promover a cultura portuguesa, a qual não se pronuncia sobre a questão política mas avança propostas para recuperar a herança cultural portuguesa: propõe o ensino do português nas escolas, difunde menus bilingues nos restaurantes e organiza festivais culturais como Lusofonias, dedicados ao mundo português e cuja 1ª edição teve lugar em 12 de Junho. A associação propôs em Maio que se acrescentasse aos nomes castelhanos das ruas o antigo nome português, o que já aconteceu em 73 sítios. O objectivo é assegurar as duas culturas.
2-Resume a história das vicissitudes políticas de Olivença, desde 1297, em que se tornou portuguesa (tratado de Alcanices) e as constantes passagens devidas a acções bélicas fronteiriças. No congresso de Viena de 1815 as potências europeias acolheram as reivindicações portuguesas sobre Olivença e arredores. E não obstante a Espanha tenha assinado este tratado dois anos depois, o território oliventino – actualmente composto por Olivença, Táliga, São Francisco de Olivença, San Rafael de Olivença, Vila Real, São Domingos de Gusmão, São Bento da Contenda e São Jorge de Alor – continua a fazer parte da província espanhola de Estremadura.
3-Em 2007 passou na Net um vídeo de 4 minutos em que dois homens atravessavam a cidade e colocavam uma bandeira portuguesa no castelo.O autarca de Olivença diz que o episódio nada tem a ver com os movimentos que consideram ilegal a ocupação espanhola, parecer confirmado pelo prof. Carlos Luna. Com larga informação, narra-se a polémica à volta da reconstrução da Ponte da Ajuda, construída no séc. XVI por D. Manuel e semi-destruída em 1709, a seguir à guerra de secessão espanhola. Em 1990 os dois primeiros-ministros, Felipe González e Aníbal Cavaco Silva, estabeleceram um acordo para a sua restauração. A seguir, os autarcas de Elvas e de Olivença decidiram construir uma nova ponte para veículos, restaurando a antiga para peões. A nova ponte, de iniciativa municipal, subsidiada com fundos comunitários e pelo PIDDAC, foi inaugurada de forma não oficial em 11/11/2000, sem a presença de autoridades portuguesas porque comparecer em território ocupado seria como reconhecer a ocupação. Em 2008 o Grupo de Amigos de Olivença (GAO) tentou anular em tribunal a decisão de reconstruir a velha ponte por entidades espanholas, sem a aprovação do IPPAR. Já foram destinadas verbas no orçamento espanhol para 2007, 2008 e 2009, que deixaram de figurar no de 2010. Em 2007, o autarca de Elvas, Rondão Almeida, prometeu ao seu colega de Olivença que tudo faria para que a reconstrução fosse uma realidade.
4-A questão de Olivença interessou também a CIA, a qual, no relatório e mapa de 2003 não representava a cidade no território espanhol. A Espanha protestou e, nos anos seguintes,o mapa foi alterado, como se pode ver ainda hoje na página web da CIA.
5-O que pensam os portugueses da situação? Se é verdade que Portugal não aceita que Olivença seja espanhola, também não faz nada para que seja portuguesa. Para o prof. Carlos Luna, membro do GAO e líder do Comité Olivença Portuguesa, uma boa solução poderia ser semelhante à que o governo de Madrid propõe sobre Gibraltar. O Comité Olivença Portuguesa defende a formação de um governo local transitório (espanhol e português) que governaria o tempo necessário para esclarecer os oliventinos sobre o seu passado, escolhendo, a seguir, a que país querem pertencer.
6-O actual primeiro-ministro José Sócrates interveio sobre a questão de Olivença à margem do XXIII vértice ibérico de Braga (2008), definindo a presença de portugueses que reivindicavam a soberania sobre a cidade e zonas circunstantes – aos quais foi permitido exibir a faixa “Olivença é terra portuguesa” só a cinco quilómetros de distância – uma demonstração de folclore, afirmando que, de qualquer modo, a situação não faz parte da agenda dos colóquios ibéricos.
7-Esta disputa geopolítica é para os portugueses uma questão de dignidade nacional, enquanto para a Espanha vale o princípio pelo qual “o que cedo está cedido” e não se volta atrás.
Recuperamos este documento publicado pelo Grupo dos Amigos de Olivença, pois nele se reúnem duas causas que nos são caras - a questão de Olivença e a da língua e cultura galego-portuguesa:
Os problemas ibéricos são três, no que respeita a problemas internos: A remodelação do estado espanhol, reavendo-se Gibraltar. A integração do estado português, pela reintegração de Albuquerque e Olivença, e a anexação da Galiza. A Aliança Ibérica, como defesa do comum solo espiritual, invadido culturalmente pela França, e dividido territorialmente pela política da Inglaterra.»
Do mesmo modo que do lado de cá do Rio Minho vai despertando a consciência nacional sobre o problema fronteiriço de Olivença, também do lado de lá se vão ouvindo algumas vozes em defesa dos direitos portugueses sobre os 750 Km² que a Espanha mantém ilegalmente ocupados. As duas margens do território Galaico-Português, acidentalmente separadas pela história, pelo menos até ao momento, começam a estar irmanadas num ideal comum - a reincorporação de Olivença nas fronteiras do Estado Português, a que se junta um outro ideal desejado por um crescente número de galegos: a reintegração da Galiza num Estado Lusófono, processo ansiado, por uns, numa perspectiva essencialmente cultural e linguística e idealizado, por outros, na plenitude da sua dimensão política e territorial.
É claro, o apoio expresso pelos nacionalistas galegos à restituição de Olivença a Portugal. Do «Manifesto Nacionalista Galaico-Português», datado de 2005, transcrevemos do artigo 3º:
«Não somos contra a Espanha ou contra Castela, embora seja a elas que reivindicamos a nossa identidade e o respeito que lhe devem, incluindo, sendo caso disso, a devolução de Olivença, conforme estipulam os convénios internacionais. De resto, achamos necessário que as nações da Península, dentro do respeito mútuo, superem velhas desconfianças e visem antes a ideia de um maior conhecimento e de uma colaboração interpeninsular.»
No final do passado mês de Setembro, pondo em paralelo a situação da Galiza e de Olivença, Ângelo Brea, Secretário das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, afirmou, no âmbito do II Congresso Internacional da Literatura Lusófona, realizado em Santiago de Compostela, esta frase lapidar:
«A Galiza é uma imensa Olivença perdida para o Castelhano, quando quer ser lusófona.» Bieito Seivane Tápia, um dos mais acérrimos defensores do reintegracionismo galego, ousou defender os direitos portugueses sobre Olivença, fazendo publicar, a 4 de Maio do ano passado, no periódico de Ourense, La Región, um artigo redigido na sua língua materna, mas com a ortografia em Português. Não só desafiou as autoridades castelhanas que recorrem a todos os métodos para eliminar os opositores ao pretenso estado unitário espanhol, como expressou a sua determinação na defesa da língua galaico-portuguesa, alvo da mais bárbara repressão perpetrada pela Junta da Galiza a soldo das autoridades de Madrid no sentido de sujeitar a escrita do galego às normas ortográficas castelhanas, com vista a extirpar, no futuro, a identidade do verdadeiro povo irmão de Além-Minho.
Como preito de homenagem, transcrevemos aqui o seu texto, escrito em Galego tal qual se fala, mas com a ortografia portuguesa, conforme defendem, hoje, os reintegracionistas, que têm entre as suas aspirações a sujeição do Galego ao nosso famigerado Acordo Ortográfico e a inclusão da Galiza na Comunidade de Estados de Língua Portuguesa, à qual deve pertencer, de pleno direito, o Território de Olivença:
«É de justiça histórica lembrar algumha vez o caso de Olivença, a notável vila do Alentejo, hoje inclusa administrativamente na provincia de Badajoz.
Foi conquistada aos mouros por don Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal; e já no Tratado de Alcanizes, assinado entre Portugal e Espanha no ano 1297, era reconhecida a soberania portuguesa sobre essa cidade.
Porém, um mal dia de 1801, os exércitos espanhóis açulados polas pressões francesas atacarom Portugal: foi umha curta guerra conhecida como Guerra das Laranjas. Apesar de que nela mais umha vez Portugal preservou a sua integridade territorial, houvo umha excepçom: a entranhável vila alentejana de Olivença, que passou à posse espanhola.
Até hoje, em contra de todo e qualquer direito internacional e das próprias (e repetidas) promessas dos governos espanhóis (já formuladas no Congresso de Viena de 1815), Olivença nom foi devolta a Portugal. E se ainda ali nom se perdeu a nossa língua e cultura comúns, tem sido mercê dos esforços generosos de minorias que, agrupadas em associações culturais, tenhem conseguido pressionar até fazer que nas escolas de Olivença o nosso idioma se estude, ainda que seja só como segunda língua.
É bom lembrar isto embora seja só para reflectir sobre a pouca coerência dos sucessivos governos espanhóis que, umha e outra vez, reivindicam os seus direitos sobre Gibraltar utilizando os mesmos argumentos que preferem ignorar quando é a cidade de Olivença e os legítimos direitos de Portugal os que estám em causa.»
O facto de existirem galegos a defender os direitos portugueses sobre Olivença, deve merecer a reflexão dos portugueses de Aquém-Minho que, nas últimas décadas, tão frouxos se têm mostrado na defesa dos seus interesses e na afirmação dos seus direitos. Se a Galiza se assemelha a uma grande Olivença ainda irredenta para a galaico-portugalidade, a minagem de todas as nossas estruturas, por interesses e maquiavélicos planos castelhanos, deve deixar-nos bem alerta para a crescente oliventização de todo o nosso país. E, então, talvez Olivença tenha sido apenas um primeiro passo de um projecto mais vasto de uma península onde só há lugar para os fatídicos desígnios dos pérfidos poderes de Madrid e onde Portugal seja apenas ténue lembrança de uma «ilógica realidade histórica» que acidentalmente existiu durante mais de oito séculos.
Chamo-me Carlos Eduardo da Cruz Luna e nasci em 16 de Março de 1956. Sou Professor de História no Ensino Secundário, há mais de trinta anos e quase sempre em Estremoz. Sou licenciado em História. A minha família é de Estremoz, e só acidentalmente nasci em Lisboa. Sempre fui um entusiasta de grandes causas... grandes... pelo menos na minha perspectiva. Sou um pouco sonhador, mas sigo o princípio do Poeta Aleixo: "Que importa perder a vida / na luta contra a traição,/ se a razão, mesmo vencida,/não deixa de ser razão". Sou casado e sem razões de queixa, tenho dois filhos (uma e um).
Em 1970, tinha eu 14 anos, quando comecei a duvidar do regime em que se vivia em Portugal. Contribuí com alguma actividade anti-salazarista/marcelista para incomodar o "regime". Corri alguns riscos de prisão, claro. O 25 de Abril apanhou-me com 18 anos e uma vontade imensa de mudar o Mundo. Militei no M.E.S.. licenciei-me História, leccionando já. Continuo a querer mudar o Mundo, e tenho uma perspectiva de esquerda sobre a maioria dos problemas do mesmo Mundo.
Tenho escrito sobre muitas coisas, normalmente batendo-me por causas que considero justas, desde a liberdade para a Birmânia até aos Direitos do Povo Curdo ou a independência do Sara Ocidental, desde a ecologia até ao desenvolvimento sustentado de Portugal... e que não seja feito contra ninguém. Não gosto do pessimismo em que vivemos, não porque ele por vezes não tenha razão para existir, mas porque acredito que só NÓS, Portugueses, nos podemos mudar a nós próprios. Daí que, embora goste da Literatura de Saramago, considero um disparate as suas idéias sobre a integração de Portugal em Espanha ( ou em qualquer outro País ), embora não seja contra a ideia de a Humanidade se federar TODA e de até surgirem uniões de Países, equilibradas, de que Portugal poderá fazer parte.
Escrevi um livro ("Nos Caminhos de Olivença"), em que, para além da documentação que habitualmente acompanha livros sobre este tema, juntei uma descrição completa (com fotografias) da Região, que percorri, aldeia a aldeia, "monte"(herdade) a "monte". Só consegui fazer edições pequenas, "de autor". Sou regionalista alentejano. Vou quase semanalmente a Olivença, onde tenho muitos amigos ( e alguns não-amigos). Procuro continuar a estudar a região, e apoiar iniciativas visando a recuperação das antigas História e Língua.
Escrevo sobre tudo e mais alguma coisa. Domino bem o inglês, o francês, o castelhano (com limitações), o alemão (com muitas limitações), o italiano (ainda com mais limitações). Percebo algo de catalão. Mas... o que domino melhor é o português, em especial a variante alentejana. Enfim, vou muito a congressos e colóquios, como interveniente. Até faço poesia, (às vezes). Adoro animais...
Assim de repente, eis o que vos posso dizer sobre a minha pessoa.
“José Joaquim da Guerra, clerigo presbítero do habitto de São Pedro actual sede em esta parochial igreja de nossa senhora da Assumpção da aldeia de Talega termo da vila de Olivença bispado de Elvas…”. De esta manera comienza el texto de un manuscrito de Táliga, entonces portuguesa, escrito por el cura párroco de esta localidad en el año 1758 y perteneciente a las “Memórias Parroquiais”, con copia microfilmada en los archivos de la Torre do Tombo de Lisboa, que en la actualidad es posible conocer gracias a su digitalización en la página web de la Direcção-Geral de Archivos.
El manuscrito, de 10 páginas y redactado en lengua portuguesa, fue uno de los documentos recibidos en dicho año por la Secretaria de Estado dos Negócios do Reino desde las parroquias del territorio continental portugués, después de que su representante, Sebastião José de Carvalho e Melo, en carta remitida con fecha 18 de enero, les solicitara información sobre aspectos geográficos, demográficos, históricos, económicos y administrativos. Las respuestas fueron tratadas por el padre Luís Cardoso en la Casa de Nossa Senhora das Necessidades, en Lisboa, hasta quedar plasmadas en el Dicionário Geográfico de Portugal, compuesto por un total de 44 volúmenes. En esta colección encontramos páginas preciosas, correspondientes a la historia de Táliga. A pesar de sus cinco siglos de pasado portugués, son muy escasas las referencias documentales de estas características. Incendios, guerras y el cambio de nacionalidad en 1801 han motivado la pérdida de la mayor parte de documentos, y la mayoría de los existentes se encuentran en Portugal. Esta escasez documental acrecienta el valor de manuscritos históricos que nos revelan aspectos interesantes y a veces inéditos de Táliga, que desde la Edad Media era una aldea dependiente de Olivenza hasta su constitución como municipio con ayuntamiento propio, a mediados del siglo XIX.
Comienza el párroco José Joaquim da Guerra con una descripción geográfica: “Talega é uma aldeia assim chamada, termo da vila de Olivença desta destante três leguas; bispado de Elvas desta destante sete leguas, tudo provincia de Alentejo”, mientras que “…de Lixboa capital deste reino trinta e duas legoas”, indicando su ubicación en un alto, en la zona de poniente de la llamada “Serra Morena”, por cuyos vértices discurría la frontera entre Portugal y España “…em distancia de um tiro de artilharia” y citando las poblaciones castellanas con las que confinaba: “…Alconchel vila assim chamada e reino de Castela”, “villa de Barcarrota distancia a esta aldeia de duas legoas; e para a Villa de Figueira de Vargas dista uma legua a aldeia ditta, todo reino de Castella Bispado de Badajoz”.
En aquellos años Táliga era la aldea más populosa de Olivenza. Aunque los datos demográficos a menudo no eran precisos y siempre es conveniente relativizarlos, el documento nos cita un total de “…104 vizinhos”, lo que correspondería a una población aproximada entre 400 y 500 habitantes.
Son referidas también algunas de las propiedades más importantes del entorno, comenzando por la Coitada, en aquellos tiempos más extensa que en la actualidad, que los moradores de Táliga siembran y en cuyo “montado” (dehesa) pastan sus ganados. José Joaquim da Guerra cita además algunas de las trece heredades de Táliga, entonces pertenecientes a importantes familias nobiliarias portuguesas: “Mompolim de quem e senhorio o excellentissimo senhor Conde de Obidos”, “… Alparragena de que é senhorio dom João da Gama”, “… outro lugar chamado Referta” y otras como las de “Valdemoreno” y “Valdecoelho”, alabando las cualidades de sus “… excelentes pastos se fazem dignos de memoria”.
En este documento es extensamente descrita la iglesia de “Nossa Senhora da Assumpção…suficiente para a povoação de tuda a freguesia” haciendo mención de elementos ya desaparecidos como sus retablos, tanto el principal, “Tem esta igreja altar major… em cujo altar esta collocado o santissimo sacramento”, como otros dos retablos menores, uno de ellos con un Cristo Crucificado al que “esta aldeia tem uma grande devoção” y otro altar con “uma imagem de Santo Antonio”, que contaba con hermandad.
No olvida José da Guerra la hermosa y “antiquísima… hermida de Nossa Senhora dos Santos, a qual é milagrosa”, situada a un cuarto de legua en La Coitada, en tierras pertenecientes al pueblo. Se hace mención al altar en el que se encontraba la patrona de Táliga y también cita la existencia de edificaciones próximas, donde residían hermanos. Es una pena que esta ermita, referencia fundamental en la historia de Táliga, se encuentre desgraciadamente en la más absoluta de las ruinas.
Sobre los servicios de esta aldea, cita al llamado “Juiz de Fora de Olivença” (Juez de Fuera). El Juiz de Fora era un magistrado designado por el rey de Portugal para actuar en municipios donde se consideraba necesaria la intervención de un juez imparcial, que normalmente venía de fuera. Lo habitual es que estas figuras tuviesen también un papel político, presidiendo las “Câmaras” (Ayuntamientos). La Táliga de 1758 no contaba con Feria “nem consta della em tempo antigo”, mientras que para el correo “…se vale do de Olivença”.
Tres años después, el párroco Da Guerra recuerda en este manuscrito “…o terremotto de sinquenta e sinco annos”, aquel terrible seísmo que el mismo día de los Santos Difuntos de 1755 asoló Lisboa, una de las más populosas y florecientes capitales europeas de la época, en un triple efecto devastador originado por el propio temblor, el posterior tsunami que inundó la zona baja de la ciudad y los incendios que originaron las velas de quienes oraban por sus muertos. En medio de toda aquella desolación, el primer ministro de Portugal, el Marqués de Pombal, tras aquella célebre frase “enterrar aos mortos e cuidar dos vivos”, se pone manos a la obra en la reconstrucción y solicita a todas las parroquias del reino un informe para conocer los daños producidos en la nación. Los correspondientes a Táliga quedarían reflejados en otro manuscrito, elaborado por el párroco João de Spinha Cordeiro, quedando claro que dicho terremoto apenas tuvo consecuencias destacables en la localidad: “Às 9 para 10 horas da manham viera com grande estrondo o Dito terremoto, e que duraria ao sinco minutos da parte do norte…”, “Que não se aroinou caza alguma desta freguezia…”, “Que não morreu pessoa alguma”, “Não consta que a terra abrio bocas; somente que em hum sitio chamado Val de Gameiros nesta coitada junto a esta Aldeya com o abalo do Terremoto, rebentou agoa… e que huma herdade desta freguesia chamada Vila Velha rebentou em hum Baixo agoa, que hainda corre e não ha memoria nos homens que ouvesse em tempo tal agoa…”.
A mediados del siglo XVIII ya era antigua la Fuente Vieja, “… chamada fonte velha de deliciosa agoa com abundancia pois della gasta tuda esta povoação”, que ha nutrido con el líquido elemento a muchas generaciones de taligueños. El documento habla asimismo de otras infraestructuras hidráulicas, como “… uma presa de pedra a qual faz munta utilidade a tuda a gente desta povoação”, y que se encontraba en el arroyo de Villavieja. Aunque en este arroyo existen restos de varias represas de pequeño tamaño, probablemente se trate de una presa ubicada en las inmediaciones del Puente Viejo, a la entrada de Táliga, y de la cual aún se conservan los cimientos. Ésta y otras represas más pequeñas situadas aguas abajo debieron formar una sucesión de pequeñas charcas desde las que se regaban las fértiles huertas de la vega.
Teniendo en cuenta la ubicación de Táliga junto a una leve depresión en la que confluyen varios arroyos, no olvidó el cura párroco citar, entre otros, el “… ribeyro chamado bonico o qual tem da parte do nascente, a sua corrente e munto moderada em tudo tempo”, o el “…ribeyro de Soprabollos”, indicando que “…estes ribeyros se juntão em uma ribeyra chamada de Talega… munto próxima a esta aldeia”, antes de cortar la “Serra Morena” en un estrecho que, al igual que hoy, se conocía como las “Gargantas”.
La riqueza agroganadera del lugar se refleja por su alusión a los “Montados” (dehesas), así como las “courellas” (suertes de tierra) existentes en torno a Táliga, con “searas de trigo”, así como “…varias hortas, olivais, tudo…”. Asimismo hace referencias a la fauna cinegética indicando que “Na tal serra crião-se coelhos e algumas perdices”, y a los frutos silvestres, en especial “…uma chamada erva silva brava em munta abundancia”, hierba silvestre que no he conseguido identificar, y a la cual José da Guerra atribuye grandes virtudes.
Estos son sólo algunos de los datos que nos provee el manuscrito. Obligado por la necesidad de síntesis y teniendo en cuenta la abigarrada caligrafía de varias de sus páginas, que dificulta su lectura, queda para otra ocasión el análisis más detallado y posterior publicación de otros aspectos de este documento, que finaliza con la rúbrica del párroco en “Talega, 28 de março de mil settecentos e cinquenta e oito annos”, hace ya dos siglos y medio.
Táliga debe sentirse orgullosa de su peculiar historia, que hunde sus raíces en la Edad Media, formando parte de Portugal durante medio milenio y de España durante dos siglos. Sin duda muy pocas localidades en la península Ibérica pueden presumir de un pasado tan singular. Desde estas páginas animo a los taligueños a que investiguen y divulguen aspectos etnográficos, sociales, históricos, etc. de Táliga, cuyo conocimiento contribuye a fortalecer la identidad cultural del pueblo.
Com Olivença na lembrança Sinto eu que é preciso Uma história de esperança Contar com muito siso
I Nesta Terra Alentejana Há uma parte separada, Uma urbe abandonada Para além do Guadiana. Nunca foi Castelhana, Só queria segurança E ter boa vizinhança. É um caso de conflito Pois este poema é dito COM OLIVENÇA NA LEMBRANÇA.
II Todos se lembram dela E está no nosso coração. Recorda-se com indignação Embora tendo cautela, Por isso digo a Castela Nesta fala de improviso, Nem que seja como aviso, Pois a Espanha é finória, Que lembrar a sua História SINTO EU QUE É PRECISO!
III É preciso não esquecer Que Olivença, Terra Lusa Por Espanha está reclusa, Para Portugal a perder; Ora está bem de ver, Para haver confiança Sem desejo de vingança, Algo se tem que mudar. Só assim se vai tornar UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA...
IV Espanha forte e orgulhosa Na cidade das oliveiras Não tem mostrado maneiras E mantém, desdenhosa, Uma situação mentirosa! Permita, sem fazer juízo Cada um ser conciso, Sem esconder a verdade O que se passou na cidade CONTAR COM MUITO SISO!!!
Noite de fados em Olivença/ na velha Rua dos Saboeiros;/ novos tempos têm nascença/ e surgem de entre nevoeiros//
É Portugal que marca presença!/ São os gritos dos marinheiros/ que, numa lusa Renascença/ se ouvem entre seus herdeiros!//
É o apelo de navegantes,/ oliventinos de nascimento,/ de todo o mundo viajantes...//
Soaram guitarras, com talento,/ que recordaram, por instantes,/ essa herança, sem constrangimento...///
(em homenagem à notícia da recuperação dos velhos nomes portugueses das ruas de Olivença)
(POESIA EM DÉCIMA. Para quem não sabe: estilo de poesia alentejana em que há um mote, e um desenvolvimento em estâncias de dez versos em que o último vai reproduzindo cada um dos versos do mote, pela sua ordem) EM OLIVENÇA HOUVE FADOS DÉCIMAS
Mote
Em Olivença houve fados/ na Rua dos Saboeiros;/ sentimos-nos recompensados/ entre tantos companheiros//
1 Dia vinte e dois de Julho/ do ano de dois mil e dez,/ entre cervejas e cafés/ lá findou todo o barulho./ E foi então, com orgulho/ que se escutaram os brados/ de músicas e dedilhados,/ porque nessa noite notável/ naquela artéria venerável/ EM OLIVENÇA HOUVE FADOS!//
2 Foram logo quatro fadistas/ que, com todos os seus dotes,/ desenvolveram os seus motes/ mostrando ser bons artistas./ Com expressões intimistas/ lá cantaram, altaneiros,/ de rostos sempre faceiros/ para quem os estava ouvindo/ em momentoas de gozo infindo/ NA RUA DOS SABOEIROS.//
3 Muito brilhou o Jorge Goes/ e também o João Ficalho;/ a Marlene foi o borralho/ com o calor dos seus bemóis/ que soaram como crisóis./ A Soraia fez agrados/ com seus belos trinados./ Depois de a todos ouvir/ com os corações a sorrir/ SENTIMOS-NOS RECOMPENSADOS.//
4 O Fado em casa se ouvia/ naquela noite tão morna;/ e da Pecorinha (*) à Corna (*)/ muita gente compreendia/ que uma nova era se abria./ Amanhãs mais verdadeiros,/ de mais indivíduos inteiros,/ no seu futuro mais crentes,/ oliventinos contentes/ ENTRE TANTOS COMPANHEIROS!
(*) Bairro de Olivença
DUAS "DÉCIMAS":
1-A CIDADE DA BELEZA
MOTE
Olivença é uma cidade Onde abunda a beleza Com política de verdade Deveria ser Portuguesa I
Ao longo da sua História Do Alentejo foi parte. Isso vê-se na sua Arte Onde se guarda a memória. Em cada canto é notória A sua Portugalidade. E não é por vaidade, A todos dá uma lição; Que não haja confusão:
OLIVENÇAÉ UMA CIDADE. II Em cada rua escondida, Na velha malha urbana Parede ou nicho se ufana De lusa ser nascida. Mesmo que perseguida A sua original pureza, Uma coisa é uma certeza E há que ter em atenção: Olivença é povoação
ONDE ABUNDA A BELEZA! III Muitos vão ao engano E não vêem claramente Que está sempre presente O seu estilo alentejano Em todo o casario raiano. Não é apenas saudade! É não ver a realidade, E há que vê-la de frente. Tudo seria diferente
COM POLÍTICA DE VERDADE! IV Esconde-se na mentira O que se deveria saber: Há quem queira esconder (do Minho até Tavira) E perdoar a quem tira. Espanha, não é Nobreza Mas um sinal de Avareza Manter assim a ofensa: Esta terra de Olivença
Vamos apresentar uma série de depoimentos sobre a aquestão de Olivença. O texto do Grupo dos Amigos de Olivença que acompanha o vídeo, diz:
«Olivença é uma questão incómoda. Incómoda para o poder instituído, incómoda para os grupos económicos que têm actividades comerciais com Espanha, incómoda para alguns jornalistas esquecidos dos seus deveres deontológicos, incómoda para toda uma sociedade que já vê como longínquas a ideia e prática da honra.
Apesar do silêncio político e mediático a que muitos a têm submetido, apesar do aparente alheamento que as autoridades nacionais lhe concedem, a «Questão de Olivença» apresenta-se cada vez mais como actual e como um escolho irredutível nas relações Luso-Espanholas.
Foi nessa base que o historiador Prof. António Ventura, e Gonçalo Feio, Presidente do Grupo dos Amigos de Olivença, abordaram o tema no programa da RTP Pontos nos Is.»
A origem de Olivença está ligada à reconquista cristã da região fronteira a Elvas pelos Templários idos do Reino de Portugal, cerca do ano de 1230. Nesse território a Ordem criou a comenda de Oliventia, erigindo um templo a Santa Maria e levantando um castelo. No final do século, pelo Tratado de Alcanices, assinado em 1297 entre o Rei D. Dinis e Fernando IV de Castela, Olivença seria formalmente incorporada em Portugal, pera sempre, juntamente com Campo Maior, Ouguela e os territórios de Riba-Côa, em escambo com Aroche e Aracena.
De imediato, D. Dinis elevou a antiga povoação à categoria de vila, outorgando-lhe foral em 1298, determinou a reconstrução da fortificação templária e impulsionou o seu povoamento.
Os seus sucessores reforçaram sucessivamente a posição estratégica de Olivença, concedendo privilégios e regalias aos moradores e realizando importantes obras defensivas. Em 1488 D. João II levantou a impressionante torre de menagem de 40 m de altura.
Em 1509 D. Manuel iniciou a construção de uma soberba ponte fortificada sobre o Guadiana, a Ponte da Ajuda, com 19 arcos e tabuleiro de 450 metros de extensão. Do reinado de D. Manuel, que deu foral novo em 1510, datam também outras notáveis construções como a Igreja da Madalena (por muitos considerada como o expoente, depois do Mosteiro dos Jerónimos, do manuelino), a Santa Casa da Misericórdia ou o portal das Casas Consistoriais.
Seguindo-se ao esplendor do século XVI português, dá-se a união dinástica filipina, entre 1580 e 1640. A pertença de Olivença a Portugal não é questionada. No dia 4 de Dezembro de 1640, chegada a notícia da Restauração em Lisboa, a praça aclama com júbilo D. João IV e é envolvida totalmente na guerra que se segue (1640/1668), período em que se inicia o levantamento das suas fortificações abaluartadas, cuja construção se dilataria durante a centúria seguinte. No decurso do conflito, Olivença foi ocupada em 1657 pelo Duque de San Germán e, na circunstância, a totalidade da população abandonou a vila e refugiou-se junto de Elvas, só regressando a suas casas quando foi assinada a paz (1668) e as tropas castelhanas abandonaram a praça e o concelho.
O século XVIII inicia-se com um novo conflito bélico - a Guerra de Sucessão de Espanha -, em cujo transcurso foi destruída a Ponte da Ajuda (1709). A posição de Olivença tornou-se assim especialmente vulnerável.
Em 20 de Janeiro de 1801, Espanha, cínica e manhosamente concertada com a França Napoleónica, sem qualquer pretexto ou motivo válido, declara guerra a Portugal e, em 20 de Maio, invade o nosso território, ocupando grande parte do Alto-Alentejo, na torpe e aleivosa «Guerra das Laranjas». Comandadas pelo «Generalíssimo» Manuel Godoy, favorito da rainha, as tropas espanholas cercam e tomam Olivença.
Portugal, vencido às exigências de Napoleão e de Carlos IV, entregou a Espanha, «em qualidade de conquista», a «Praça de Olivença, seu território e povos desde o Guadiana», assinando em 6 de Junho o «Tratado de Badajoz», iníqua conclusão de um latrocínio. «Cedeu-se» Olivença, terra entranhadamente portuguesa que participara na formação e consolidação do Reino, no florescimento da cultura nacional, nas glórias e misérias dos Descobrimentos, na tragédia de Alcácer-Quibir, na Restauração!...
Findas as Guerras Napoleónicas, reuniu-se, com a participação de Portugal e Espanha, o Congresso de Viena, concluído em 9 de Junho de 1815 com a assinatura da Acta Final pelos plenipotenciários, entre eles Metternich, Talleyrand e D. Pedro de Sousa Holstein, futuro Duque de Palmela.
O Congresso retirou, formalmente, qualquer força jurídica a anteriores tratados que contradissessem a «Nova Carta Europeia». Foi o caso do «Tratado de Badajoz». E consagrou, solenemente, a ilegitimidade da retenção de Olivença por Espanha, reconhecendo os direitos de Portugal. Na Acta Final, apoio jurídico da nova ordem europeia, prescrevia o seu art.º 105.º:
«Les Puissances, reconnaissant la justice des réclamations formées par S. A. R. le prince régent de Portugal e du Brésil, sur la ville d’Olivenza et les autres territoires cédés à Espagne par le traité de Badajoz de 1801, et envisageant la restitution de ces objets, comme une des mesures propres à assurer entre les deux royaumes de la péninsule, cette bonne harmonie complète et stable dont la conservation dans toutes les parties de l’Europe a été le but constant de leurs arrangements, s’engagent formellement à employer dans les voies de conciliation leurs efforts les plus efficaces, afin que la rétrocession desdits territoires en faveur du Portugal soi effectuée ; et les puissances reconnaissent, autant qu’il dépend de chacune d’elles, que cet arrangement doit avoir lieu au plus tôt».
Espanha assinou o tratado, em 7 de Maio de 1807 e assim reconheceu os direitos de Portugal. Volvidos 185 anos, o Estado vizinho não deu, porém, provas do carácter honrado, altivo e nobre que diz ser seu, jamais nos devolvendo Olivença.
Mas em terras oliventinas, sofridos dois séculos de brutal, persistente e insidiosa repressão castelhanizante (hoje, falar-se-ia de genocídio e crimes contra a Humanidade...), tudo o que estrutura e molda uma comunidade, a sua História, cultura, tradições, língua, permaneceu e permanece pleno de portugalidade!
Separados do povo a que pertencem, da sua cultura, da sua língua, alienados da Pátria que é a sua, em austeros e silenciosos duzentos anos, os oliventinos preservam o espírito português e demonstram, pelo sentir da maior parte, não renunciar às suas raízes.