Quarta-feira, 29 de Junho de 2011

Uma cavalgada “Wagneriana” para o abismo - texto de Satyajit Das

 

 

 

 

 enviado e introdução por Julio Marques Mota

 

 

Uma cavalgada “Wagneriana” para o abismo

 

Introdução

 

É a primeira vez que apresentamos um texto de Satyajit Das no Estrolabio. Grande especialista em produtos derivados, autor de diversas obras no campo dos mercados financeiros, apresenta-nos aqui o que nos parece ser uma extraordinária desmontagem do que foi o neoliberalismo na Europa ao longo das últimas décadas: uma Europa que não só perdeu muitas das suas indústrias, que exangue é incapaz de criar postos de trabalho para os seus cidadãos, uma Europa das civilizações que agora as ignora, uma Europa das culturas que deixa agora as Universidades em ruínas, uma Europa que a reboque do que aumenta foi vive agora obcecada pelas políticas de austeridade em tempo de crise, assente numa profunda crise política a gerar uma não menos profunda describilidade no sistema democrático quando governo a governo, todos eles, negam hoje o que afirmaram ontem, afirmam como programa de amanhã o contrário daquele com que se apresentam ao eleitorado ontem, uma Europa sem nenhum dirigente à altura da grave crise que se atravessa, uma Europa prisioneira dos mercados de capitais, uma Europa que incapaz de regular os CDS, mesmo depois da crise, vive agora assustada com o que eles podem financeiramente representar, uma Europa que da indústria fez um deserto em nome da concorrência com quem a não respeita, uma Europa cravada de dívidas onde se pode perguntar se desta forma é por incompetência ou por maldade dos nossos políticos a cavalgada para o abismo a que estamos a assistir.                                                                                                                       

 

E com isso ninguém está preso, ninguém irá preso. São os mercados, dir-se-á. Dessa cavalgada para o abismo, é dela que nos fala o presente texto.

 

Coimbra, 27 de Junho de 2011.

 

Júlio Marques Mota

CV de Satyajit Das
Satyajit Das é um especialista internacional na área de produtos derivados e na gestão de risco. Tem sido consultor de grandes empresas e instituições na Europa, América do Norte, Ásia e Austrália. Trabalhou com o Commonwealth Bank of Australia, Citicorp Investment Bank and Merrill

 

Lynch Capital Markets Australia. É autor, entre outras, das seguintes obras:

 

Traders, Guns & Money: Knowns and Unknowns in the Dazzling World of Derivatives (2006);
 Extreme Money: The Masters of the Universe and the Cult of Risk (data prevista de edição, Agosto de 2011.)



Uma cavalgada "Wagneriana" para a situação de incumprimento na Europa
 

Satyajit Das

 

No livro A importância de se chamar Ernesto de Oscar Wilde, Lady Bracknell numa memorável observação diz que: "perder um dos pais... pode ser considerado como uma infelicidade, mas que perder os dois pode ser tomado como uma falta de cuidado". A zona euro tem necessidade de resgatar três dos seus membros (Grécia, Irlanda e Portugal) com outros três (Espanha, Bélgica e Itália) cada vez mais a serem vistos com diferentes possibilidades de serem atacados devido a uma incompetência institucionalizada.

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 20:00

editado por Carlos Loures às 22:06
link | favorito

A propósito do apelo de Mikis Theodorakis - António Gomes Marques

 

 

«Foi o Mário Vieira de Carvalho que me fez chegar este texto, uma iniciativa de Mikis Theodorakis, texto este que não nos diz nada de novo em relação ao que, graças ao labor do Júlio Marques Mota, no «estrolabio» se tem dito há já muito tempo, nomeadamente dando a conhecer os textos dos «Economistas Aterrados». É por isso menos importante? Evidentemente que não, não só por ter sido um grande vulto da música contemporânea, M. Theodorakis, a ter tomado a iniciativa de se dirigir à consciência dos europeus, com muito maior audição do que um simples cidadão europeu, mas também por nunca serem demasiadas as chamadas de atenção para a verdadeira razão da crise com que os mercados financeiros e os políticos seus serventuários estão a destruir a democracia e a levar a Europa e o euro à ruína. Não são os trabalhadores os responsáveis, mas são os trabalhadores quem a crise vai pagar. Agora a Grécia, a Irlanda e Portugal, com as baterias já apontadas a Espanha; depois serão a Itália, a França, ..., por fim a Alemanha, talvez o país mais merecedor de vir a sofrer a crise pela cegueira com que está a conduzir-se.

 

Se a Europa no pós-guerra (e a América, claro) tivesse tido o comportamento que a Alemanha está agora a ter, como estaria hoje este país? Será que ainda existiria?

 

É evidente que sem os erros cometidos pelos políticos gregos (as duas famílias que a têm governado), pelos políticos irlandeses, pelos políticos portugueses desde Cavaco Silva 1.º Ministro, não teria sido tão fácil aos mercados financeiros, com a acção constante das agências de rating, e à banca levarem-nos a tal estado de penúria, o que nos leva a também ter de assumir a nossa quota de responsabilidade por não termos sido capazes de impedir a acção de tais políticos, pois fomos nós que os elegemos. Esquecemo-nos que a política é um exercício de cidadania que a todos responsabiliza.

 

E agora? Resta-nos tomar consciência de que o futuro de nós depende e partir para a acção, acção essa que tem de ser dos europeus, como no texto se defende, e não do povo trabalhador isolado, deste ou daquele país.»

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 11:00

editado por Augusta Clara em 28/06/2011 às 23:17
link | favorito
Terça-feira, 28 de Junho de 2011

Apelo de cidadãos gregos aos cidadãos da Europa - por iniciativa de Mikis Theodorakis

Introdução de Julio Marques Mota

Texto 1. Grécia

Texto 2 - Merril Lynch

Mandaram-me   um manifesto de cidadãos gregos. Li-o, traduziu-o, e este texto, este manifesto é, do meu ponto de vista, bem  confirmado por um outro texto, um texto  sobre a riqueza mundial, produzido por Merril Lynch e Capgemini Consulting.  Vale a pena ler os dois   documentos, um do povo grego a declarar alto e bom som que não está   disponível para se deixar roubar no que um povo tem de mais fundamental, a sua dignidade como nação e  a dignidade de cada um como cidadão , e o outro texto , frio, a falar de números, a falar  da  evolução da  riqueza em tempo de crise, e podemos admitir sem esforço que um texto é o contraponto do outro,  

 

Na semana passada ao querer escrever sobre o trabalho na economia global,   num dos textos em vez de falarmos do trabalho na China, o que seria normal, era o tema, falámos da dinâmica do   consumo dos bens de luxo neste país. A  razão era simples: num país onde muita gente trabalha sessenta a setenta horas por semana por salários quase que de fome tería que haver muitos milionários, teria que haver uma boa dinâmica no consumo destes bens. Foi o que mostrámos.

Neste momento  face   à Grécia e face  à extorsão a que estte povo está a ser dramaticamente sujeito, o texto de Merryl Lynch e  Capgemini Consulting pode ser visto como o seu contraponto, como a imagem ao espelho e invertida.

 

Traduções feita na urgência é certo e com o  pedido de desculpa  por eventuais enganos com o sentimento havido na tradução.

Amanhã num texto de grande rigor analítico  procuraremos mostrar a validade de muitas das afirmações no manifesto contidas, e com o qual se pretenderá  mostrar a dimensão da tragédia que se está abater sob a Europa sem que nenhum político por isso responsável esteja preso, venha a ser preso. A liberdade dos mercados, dir-se-á, mas o drama é que a liberdade destes não é a liberdade dos cidadãos, antes pelo contrário é a sua confiscação. E é essa usurpação   que com a nossa passividade estamos já todos a pagar.

 

E boa leitura.

 

Júlio Marques Mota

Coimbra, 27 de Junho de 2011.

 

 

Por iniciativa de Mikis Theodorakis, um apelo de cidadãos gregos aos cidadãos da Europa

Nós  cumprimentamos  as dezenas de milhares, ou mesmo as centenas de milhares  dos nossos concidadãos, jovens na sua maior parte, que se reuniram nas praças de todas as grandes cidades para manifestar a sua indignação por ocasião da comemoração do memorando (acordo-quadro assinado  entre o governo grego, a UE, o FMI e o BCE, em Maio de 2010 e renovado desde aí  regularmente), pedindo a partida do governo da Vergonha e de todo o  pessoal político que geriu o património público, destruindo, pilhando e dominando a Grécia. O lugar de todos estes  indivíduos não é no Parlamento, é na prisão.

Nós  cumprimentamos  as primeiras Assembleias gerais que se desenrolam nos centros das nossas cidades e a democracia imediata que se esforça  por  descobrir o movimento inédito da nossa juventude. Cumprimentamos os trabalhadores da função pública que empreenderam manifestações, greves e ocupações para defender um Estado que, mais do o desmantelamento previsto pelo FMI, tem desesperadamente necessidade de uma melhoria e de uma reforma radicais. Pelas suas mobilizações, os trabalhadores do Hellenic Postbank, da empresa pública nacional de electricidade e da sociedade pública de lotaria e das  apostas desportivas que defendem o património do povo grego que os bancos estrangeiros se propõem   pilhar, através do seu representante que é o governo fantoche em Atenas.                                                                                                     

 

O pacifismo exemplar destas manifestações demonstrou que quando a polícia e os agentes provocadores  não recebem a ordem de intervir, o sangue não corre pelas praças.  Nós apelamos a que  os polícias gregos  não sejam  os instrumentos das forças escuras que tentarão certamente, a um momento dado, reprimir pelo  sangue os jovens e os trabalhadores. O seu lugar, o seu dever e o seu interesse é o de estarem  ao lado do povo grego, dos protestos e das  reivindicações pacíficas deste, aos lados da Grécia e não das forças escuras que ditam a sua política ao governo actual.

Um  ano depois do  voto sobre o memorando, tudo parece  mostrar  o seu malogro. Depois desta experiência, não se pode mais permitir ter  a mais pequena ilusão. A via que o governo tomou e continua a tomar , sob a tutela dos bancos e das instâncias estrangeiras, Goldman Sachs e dos seus empregados europeus, levam  a Grécia à catástrofe. É imperativo que tudo sito cesse e  imediatamente,  é imperativo que partam imediatamente.

 

Dia após dia, as suas práticas revelam a sua perigosidade para o país. É espantoso que o Procurador-geral  ainda não tenha intervindo  contra o Ministro da Economia e das Finanças, depois das  recentes declarações proferidas por  este último sobre a eminente  falência e sobre a ausência de recursos orçamentais. Porque é que não interveio depois das declarações do Presidente da Federação dos Patrões da Indústria e do Comissário europeu grego Mari Damanaki sobre uma saída do euro? Porque não interveio contra o terrorismo de massa com o qual um governo em falência total, sob o diktat da Tróica [UE - FMI - BCE], tenta  uma vez mais  extorquir  o povo grego?                                                                                      

 

Pelo seu catastrofismo, pelas  suas alusões trágicas e por tudo o  que inventam e discutem aos gritos  para assustar os Gregos, tiveram êxito em  humilhar o país face ao  mundo inteiro e a levá-lo  realmente à beira da falência. Se um dirigente de empresa se exprimisse  da mesma maneira que o faz  o Primeiro ministro e os seus ministros quando falam da Grécia, estes estariam rapidamente nas barras dos tribunais comportamentos altamente gravosos.

Nós  dirigimo-nos também aos povos europeus. O nosso combate não é somente o da Grécia, o nossos combate aspira a uma Europa livre, independente e democrática. Não acreditem nas mentiras dos  vossos governos quando pretendem que o vosso dinheiro serve para ajudar a Grécia. Não  acreditem nas  mentiras grosseiras e nos absurdos de jornais comprometidos que querem convencer-vos de que o único problema é devido supostamente à  preguiça dos Gregos enquanto que, de acordo com os dados do Instituto estatístico europeu, estes trabalham mais do que nos outros países  Europeus!

Os trabalhadores não são os  responsáveis pela  crise; o capitalismo financeiro e os políticos por eles dominados  são os que a  provocaram  e que a agora a exploram . Os seus programas “de salvamento da Grécia” apenas ajudam os bancos estrangeiros, precisamente aqueles que, através dos políticos e dos governos que estão ao seu serviço,  impuseram o modelo político que levou à  crise actual.

Não  há outra solução que não seja uma reestruturação radical da dívida, na Grécia, mas também em toda a Europa. É  indispensável   que os bancos e os detentores de capitais responsáveis  pela crise actual não desembolsam um cêntimo para reparar os prejuízos que provocaram. Não é necessário que os banqueiros constituem a única profissão protegida do planeta!
 
Não  há outra solução que  não seja a de  substituir o actual modelo económico europeu, concebido para gerar dívidas, e retornar a  uma política de estimulo da procura  e o desenvolvimento,  de voltar a um proteccionismo dotado de um controlo drástico sobre a Finança. Se os Estados não se impõem aos mercados, estes absorvê-los-ão  ao mesmo tempo que absorverão a democracia e todos os acervos da civilização europeia. A democracia nasceu em Atenas quando Solon anulou as dívidas dos pobres para com os ricos.                                                                             

 

Não é necessário impedir  hoje  os bancos de estarem a destruir a democracia europeia, a  extorquirem  somas gigantescas que são elas-próprias geradas sob a forma de dívidas . Como   se pode  propor que venha a ser  um antigo colaborador de Goldman Sachs a dirigir o Banco Central Europeu? De que  espécie de governos, de qual espécie de políticos, se dispõe hoje na Europa?

Nós  não vos pedimos que apoiem  o nosso combate por solidariedade, nem porque o nosso território foi o berço de  Platão e de Aristóteles , de Péricles  e de  Protágoras, dos conceitos de democracia, de liberdade e de Europa. Não vos pedimos  um tratamento de favor porque sofremos, como países, uma das piores catástrofes europeias nos anos 1940 e lutamos de maneira exemplar de modo a  que o fascismo não se instalasse  sobre o continente.

 

Nós  pedimos-vos que o façam  no vosso próprio interesse. Se autorizam  hoje o sacrifício das sociedades grega, irlandesa, portuguesa e espanhola  sobre o altar da dívida e dos bancos, será cedo a vossa vez.  Não poderão prosperar  no meio das ruínas das sociedades europeias. Demorámos do nosso lado, mas despertámos. Construamos  juntos uma Europa nova; uma Europa democrática, próspera, pacífica, digna da sua história, das suas lutas e do seu espírito.                                                                                                                                                                         

 

Resistam  ao totalitarismo dos mercados que ameaça desmantelar  a Europa transformando-a  em Terceiro Mundo, que coloca  os povos europeus uns contra os outros, que destrói o nosso continente suscitando o regresso do fascismo. »

 

O número de pessoas afortunadas e a sua riqueza ultrapassaram os níveis de antes de crise   na maior parte das regiões do mundo . Pela primeira vez, a Ásia-Pacífico alcança o segundo lugar à  frente da Europa e  atrás  da América do Norte  em termos de número de  pessoas afortunadas e de património   A França conta 396 200 milionários 
 
Paris, 22 de Junho de 2011 -

 

O  número de pessoas milionárias   e o seu património aumentou  em 2010,  ultrapassando os níveis antes de crise de 2007 em quase todas as  regiões do mundo, de acordo com a 15º  edição do World Wealth Report  publicado hoje por Merrill Lynch Global Wealth Management  e  Capgemini.                                                                                                                                                                                          

 

Em 2010, esta população aumentou de 8,3% (contra 17,1% em 2009) para estabelecer-se agora em  10,9 milhões de pessoas e o seu património aumentou-se de 9,7% (contra 18,9% em 2009) o que levou a que se tenha atingido  42  700 mil milhões de dólares. Os mais ricos de entre eles   viram  o seu número progredir de 10,2% para  atingir 103.000 pessoas e o seu património cresceu de 11,5% em 2010.
 
“Após fortes flutuações nos últimos anos, o número de milionários s e o seu património ultrapassaram  os níveis de antes de crise quase por toda a parte no mundo” declarou  Gilles Dardo, Presidente da actividade Gestão Privada França e  Europa Continental de Merrill Lynch Global  Wealth Management. “Em 2010, as suas taxas de crescimento estabilizaram-se depois de  terem  conhecido uma  crescimento expresso por  dois dígitos,  em 2009, ano de correcção no seguimento da crise. »

 

Na França, o número de milionários  aumentou de 3,4% o que leva a que se passe  de 383.100 pessoas em 2009 para 396.200 em 2010.
Os milionários  continuam a estar  fortemente concentrados nos Estados Unidos, no Japão e na Alemanha, estes  três países só por si reúnem ainda 53% desta população no mundo.

 

Os Estados Unidos contam sempre  com o  maior número de milionários , cerca de 3,1 milhões, que corresponde a 28,6% das pessoas afortunadas no mundo. 
 

“Se o crescimento do número de milionários  dos países emergentes continua a ser superior ao do  dos países desenvolvidos, a parte relativa dos três principais países  (Estados Unidos, Japão, Alemanha) diminuirá progressivamente” explica Laurence Chrétien, pelo  World Wealth Report  em   França e  da  Capgemini Consulting.

 

Pela primeira vez, o número e o património dos milionários s da região da Ásia-Pacífico excedem os da Europa 

 

Em 2010, a região da Ásia-Pacífico registou a taxa de crescimento mais elevada em termos de número de milionários  e da dimensão do seu património. Enquanto que esta região já tinha ultrapassado  a Europa em termos de património em 2009, ultrapassa-a  igualmente em 2010  em termos do número das  grandes fortunas. Esta população aumentou de 9,7% para se estabelecer em  3,3 milhões de pessoas, passando à frente da a Europa que apresenta uma taxa de crescimento de 6,3%  e conta 3,1 milhões de pessoas afortunadas. Paralelamente, o património dos milionários da região da  Ásia-Pacífico aumentou de 12,1% representando   assim 10.800 mil milhões de dólares e excedendo   os 10.200 mil milhões de dólares de património dos milionários  europeus ( em aumento de 7,2% em 2010). A região da Ásia-Pacífico é hoje   a  segunda maior  região atrás da América  do Norte em termos do números de  pessoas afortunadas e do seu património. 

 

“Outro elemento novo na região Da Ásia-Pacífico: a Índia juntou-se pela  primeira vez à classificação dos doze primeiros países em termos  de  número de milionários   ” precisa  Laurence  Chrétien.

 

Procurando ao mesmo tempo melhorar a rentabilidade dos seus investimentos em 2010, os milionários assumiram riscos calculados 

 

Num contexto de retoma relativamente estável mas desigual, os mercados de acções das matérias  primas, bem como do imobiliário  (em especial na região de Ásia-Pacífico), progrediram  de maneira significativa em 2010. 

 

No fim de 2010, 33% do total dos investimentos das pessoas afortunadas tem a ver com   acções, em aumento em relação ao ano precedente (29%). Em contrapartida, a proporção dos seus  investimentos monetários diminuíram, passando de 17% em 2009 para 14% em 2010 e a parte  investida  no   mercado obrigacionista passou de 31% para 29%.

 

Entre os investimentos alternativos, numerosas pessoas afortunadas optaram por pelas matérias-primas que representam cerca de 22% do total deste tipo de investimentos em 2010, contra 16%  2009. 

 

Os milionários  da região da  Ásia-Pacífico (com exclusão do Japão), continuaram a procurar  os seus rendimentos adicionais  no mercado do imobiliário . Os investimentos sobre este mercado têm  representado cerca de 31%  da sua carteira de títulos no final d e2010, contra 28 por cento no ano anterior  e situam-se acima dos 19 por cento da média  mundial.

Além disso, as pessoas afortunadas desejosas de fazer  render  o seu património puderam encontrar  oportunidades investindo nos mercados emergentes. Assim, durante os 11 primeiros meses  do ano 2010, investiram somas recorde nos mercados bolsistas e nos fundos obrigacionistas  dos  países emergentes. No fim do ano, quando muitos dos destes valores tinha atingido os seus níveis  antes de crise, os investidores revenderam-nos  para realizarem assim os seus   proveitos, os seus lucros. . 

 

“ Os investidores, tendo reencontrado o seu "gosto do risco', levaram a que os mercados financeiros mundiais e as  principais classes de activos registassem bons resultados durante o ano” declara Gilles Dard.  “  A inversão de tendência a favor das acções em 2010 nas pessoas afortunadas reflecte a procura  de rendimentos e a vontade de compensar ainda mais as perdas ligadas à crise. Temos  igualmente notado que continuam a favorecer as classes de activos específicas, como as acções e as matérias primas, apoiando-se sobre oportunidades do mercado ou sobre colocações pelas quais  têm manifestado desde há  muito tempo a sua preferência. »

 

Em 2012, os milionários  deveriam aumentar mais os seus investimentos nas matérias primas e nas acções , reduzindo ao mesmo tempo a parte do sector imobiliário e as aplicações monetárias. O destino geográfico dos seus investimentos é contudo menos certo. Dependerá da capacidade dos países emergentes de atingir novos picos de crescimento e do ritmo da retoma económica no mundo, enquanto que  os governos reduzem as suas políticas de retoma económica..

 

 

publicado por Luis Moreira às 20:00

editado por João Machado às 22:32
link | favorito
Segunda-feira, 20 de Junho de 2011

Grécia: Eles estão em vias de despedaçar o sector público e de servir em bocados os direitos políticos e sociais da população - Jean-Jacques Chavigné

"Eles", são os oligarcas da União Europeia (os comissários europeus, os membros do Conselho de governadores do Banco Central Europeu, os chefes de Estado e de governos dos Estados membros da União), os dirigentes do FMI e o governo do primeiro-ministro socialista grego, George Papandreu.

Para alcançarem seus fins, os "homens de negro" da UE e do FMI não foram mesquinhos. Começaram por recusar o desbloqueamento de uma fatia de 12 mil milhões correspondentes a uma parte dos 110 mil milhões de crédito concedido à Grécia em Maio de 2010 . Em seguida acenaram com a promessa de um novo empréstimo, reembolsável em três anos, de um montante de 30 mil milhões de euros (20 mil milhões pela UE e 10 mil milhões pelo FMI). Em contrapartida, exigiram que a Grécia acelerasse a privatização dos seus serviços públicos e pusesse em acção um novo "plano de austeridade" a acrescentar-se aos quatro anteriores. O governo grego tendo aceite os seus diktats, eles (por enquanto pelo menos) decidiram desbloquear a fatia de 12 mil milhões do empréstimo já acordado em 2010 e conceder à Grécia um novo empréstimo de 30 mil milhões de euros em 2012.

O drama que hoje se desenrola na Grécia já começou a desenrolar-se na Islândia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e arrisca-se muito, se se deixarem livres as mãos dos dirigentes da UE e do FMI, a desenrolar-se amanhã na Itália, Bélgica, França...

Este drama tem como pano de fundo uma tripla negação.

Uma negação humana, em primeiro lugar

– Privatizar

Sem a menor preocupação com as dezenas de milhares de despedimentos que resultarão, sem a menor preocupação por calcar aos pés os direitos de acesso igualitário a estes serviços para milhões de gregos, os serviços públicos gregos são vendidos em leilão. É preciso fazer isso rapidamente tranquilizando a UE e do FMI, ou seja, para "tranquilizar os mercados financeiros", na realidade para oferecer o sector público grego às multinacionais americanas e europeias a preços de saldo. Estão em jogo somas enormes. Cinquenta mil milhões daqui até 2015: isso equivale (na proporção dos PIB respectivos) a 450 mil milhões de euros em França!

Trinta empresas nas quais o Estado detém a totalidade ou uma parte do capital deverão ser entregues ao sector privado: OTE (número um das Telecoms); Trainose (a companhia nacional dos caminhos de ferro); os portos do Pireu (Atenas) e de Salónica; o grupo gasista DEPA; as licenças de telefonia móvel; a sociedade das águas de Atenas e de Salónica; o aeroporto internacional de Atenas; a sociedade de auto-estradas Egnatia Odos; o Correio helénico; os portos regionais; DEI Electricidade da Grécia; os aeroportos regionais, as participações do Estado nos bancos gregos; o Banco postal; o Banco agrícola ATE; a Caixa de Depósitos e Consignações...

Ao abandonar estas empresas, o Estado grego abandona igualmente aquilo que, a cada ano, elas proporcionavam às finanças públicas. É uma política de vista curta que contribuirá rapidamente para afundar seu orçamento ao diminuir as suas receitas.

Já em 2010, a recusa em diminuir as despesas com armamento no orçamento da defesa grega (o 2º orçamento do mundo em proporção do PIB) para não prejudicar os mercadores de canhões, de aviões de guerra, de mísseis, de helicópteros, de submarinos... havia mostrado que "o imperativo da diminuição do défice" grego devia inclinar-se diante dos interesses superiores, os das multinacionais do armamento, sobretudo americanas, francesas, britânicas e alemãs.

Hoje, a indecente liquidação do sector público grego põe à plena luz o objectivo real da Troika (UE, BCE, FMI): satisfazer a voracidade das multinacionais americanas e europeias entregando-lhes as empresas do sector público grego. O governo grego acaba de anunciar a cessão de 10% da OTE à alemã Deutsche Telekom. Ele havia, anteriormente, anunciou o prolongamento do prazo de concessão do aeroporto de Atenas ao grupo alemão Hotchief. Uma primeira "carteira" de terrenos e propriedades será proposta, a partir deste mês, aos investidores internacionais para concessões a longo prazo, privando assim a Grécia das receitas ligadas ao turismo.

A venda e o produto da venda de todos estes activos públicos deveriam ser colocadas sob a responsabilidade de um fundo de privatização gerido por "peritos" estranhos à Grécia a fim de dar aos detentores da dívida pública todas as garantias possíveis. Para o FMI e a UE, a Grécia não é mais um Estado soberano. Os cidadãos estão privados dos seus direitos políticos.

– Um 5º plano de austeridade

O governo grego tenta igualmente, sob a pressão da Troika, impor um 5º plano de austeridade ao povo grego. Pouco importa, mais uma vez, o custo humano deste plano.

publicado por Augusta Clara às 16:00
link | favorito
Sexta-feira, 17 de Junho de 2011

A baixa da notação grega será o toque de finados para a zona euro? - Georges Ugeux

A baixa da notação grega é o toque de finados para a zona euro?

 

É difícil não considerar as obrigações soberanas gregas como estando na categoria de podres “junks” com rendimentos de 25% para maturidades a dois anos e 15% para dez anos. Nenhum país europeu atingiu uma tal deriva: CCC são três níveis abaixo da solvabilidade.

 

Esta notação representa  definitivamente o toque de finados da dívida grega : ela não vale mais do que apenas uma fracção do seu valor nominal e a ausência de solução a longo prazo para o país não permite mesmo mais uma nota de esperança. A este nível a Standard and Poor' s anuncia perspectivas negativas. Claramente, isto significa que a situação se pode ainda degradar mais. A razão: o risco, agora inegável, de uma reestruturação da dívida grega, inclusive os impactos negativos nos detentores de obrigações. Isto significa, uma falência virtual dos bancos gregos e um impacto severo nos bancos europeus dos quais 3% dos fundos próprios estão investidos em obrigações gregas.

 

O contexto europeu não ajuda. Este quadro dá uma ideia da situação dos países europeus. Trata-se do custo de uma cobertura de seguro contra uma situação de não pagamento ( Credit Default Swaps). Os outros países estão largamente abaixo de 1%. Aquilo quer dizer que o detentor de uma obrigação de 1.000.000 € está pronto a pagar anualmente 161,000 € para cobrir o risco de não reembolso pela parte da Grécia.

 

Grèce

16.1%

Portugal

7.0%

Irlande

6.9%

Espagne

2.5%

Italie

1.6%

Belgique

1.5%

 

 

Esta notação é o toque de finados da gestão da zona euro: mais ninguém acredita hoje que as tentativas desesperadas de evitar uma reestruturação serão frutuosas. O Parlamento alemão votou a semana passada uma moção que prevê que uma reestruturação implicará reduções de valores para o sector privado. Há um ano, ter-se-ia ter podido evitar esta carnificina. Mas desde as indecisões a medidas erradas ou falsas medidas, diremos, reencontramo-nos agora numa situação já claramente irreversível. Só os actos permitirão voltar a dar esperança. E aqui trata-se de dezenas de milhares de milhões de euros que terão sido deduzidos na conta dos contribuintes europeus.

 

Esta notação não é o toque de finados para a zona euro. Disse-se demasiado frequentemente que o Euro ia desaparecer ou que a Grécia ia sair da zona euro. A única esperança de salvar a Grécia é mantê-la na zona euro. O regresso ao dracma mergulharia o país numa falência virtual. Além disso para os membros da zona euro, não há outra escolha que não seja a opção de apoiar a Grécia que enfraquece o Euro sem o destruir. O custo da saída da Grécia para as nossas economias calcula-se em centenas de milhares de milhões.

 

Entre dois males, devemos escolher o mal menor. A agência Standard & Poor’s diminui a nota da Grécia porque há uma grande probabilidade de reestruturação da dívida. Os bancos conseguem ganhos suficientes para absorver uma tal reestruturação. Os bancos gregos deverão ter que ser ou inevitavelmente nacionalizados ou inevitavelmente recapitalizados pelo Governo.

A injecção de capitais a fundos perdidos para evitar uma situação de incumprimento vai ser taxada sobre os contribuintes europeus e não faz mais do que apenas adiar o problema. O plano previsto para a Grécia está agora morto e bem morto.

 

Tomemos, com coragem, o problema com muita garra mesmo. O tempo das poções mágicas já passou Chegou agora o tempo das grandes e urgenbtes cirurgias. Quanto mais cedo aceitarmos a realidade e reestruturarmos a dívida grega menor será o sofrimento a que seremos sujeitos .

 

publicado por Augusta Clara às 12:00
link | favorito
Sexta-feira, 10 de Junho de 2011

A crise na Grécia aprofunda-se e com ela a crise da Europa também

enviado por Júlio Marques Mota



Cresce a pressão sobre o Primeiro Ministro grego para a remodelação de seu gabinete

 

Kathimerini reports.

O  ministro da Educação, junta a sua  voz   à daqueles que desejam que haja  mudanças.
O primeiro-ministro George Papandreou, esteve sob forte pressão na quarta-feira   para a remodelação do seu gabinete, numa tentativa para dar novo impulso ao seu governo, que está sob fortes críticas da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, dos deputados dissidentes do PASOK e dos  protestos dos eleitores.
O Ministro da Educação, Anna Diamantopoulou, um dos membros de maior destaque do Gabinete, admitiu que o governo perdeu o seu rumo e que precisavam de ser feitas mudanças  nos principais cargos . "O governo já perdeu tempo suficiente", disse à TV Mega. "Quem está relutante deve levantar-se  e sair."

Diamantopoulou pareceu concordar com aqueles que têm argumentado que Papandreou tem de convidar  pessoas que venham de meios externos aos círculos políticos  para ajudar a governar o país. Ela convidou o primeiro-ministro a convidar   "toda a sociedade" para ajudar a "salvar o país".

Fontes disseram que os ministros estão a tomar como um dado que vai haver uma remodelação ministerial. Na verdade, alguns estão mesmo a aconselhar o primeiro-ministro para que a  realize  antes do plano orçamental de médio prazo, que vai introduzir novas medidas de austeridade, vir a ser apresentado no  Parlamento.
Um dos ministros, cuja posição pode estar sob ameaça é Giorgos Papaconstantinou. O ministro das Finanças esteve  sob  ataque dos deputados do  PASOK na terça-feira e a sua impopularidade dentro do partido que está no poder é crescente e poderá levar Papandreou a substituílo .

"Eu estou a afirmar  que é absolutamente claro que não vamos aceitar qualquer alteração no imposto sobre combustível de aquecimento doméstico   sem que haja um mecanismo de redistribuição de rendimento", disse o deputado do PASOK Paris KOUKOULOPOULOS à rádio Athina 984 na quarta-feira. "Nós não vamos aceitar que todas as privatizações”.

O dirigente do Popular Orthodox Rally (LAOS), Giorgos Karatzaferis lançou,  um ataque frontal a  Papaconstantinou no Parlamento, referindo-se a ele como "um rapaz da faculdade sem nenhma realização  social  ou profissional que se veja  e que não tem qualquer experiência de mercado."

O deputado  Filippos Sachinidis, também foi criticado  na quarta-feira, quando este  informou os deputados sobre  se o governo está a cumprir ou não as  suas metas quanto ao orçamento.

Disponível em : ekathimerini.com , Wednesday June 8, 2011 (23:15

Notícias breve da crise na Europa, da crise sobre a Grécia, sobre a nossa crise, afinal

A situação económica e política na Grécia está fortemente a degradar-se   e admite-se  que a proposta de Wolfgang Schäuble, não venha a ser aceite.
 
• George Papandreou, está sob pressão para deixar caír o seu ministro das Finanças, ministro da  da linha dura, George Papaconstantinou como um rebuçado oferecido  aos seus críticos internos do partido;

• A produção industrial grega  tem estado a  cair mais de 10 por cento anualmente   e o desemprego  atingiu   16,2%;

• A Troika no  relatório prevê uma recessão para este ano, seguida depois  por uma recuperação em 2012;

• diz-se  que não haverá mais nenhuma entrega de liquidez no âmbito do empréstimo concedido até que as medidas de austeridade sejam  adoptadas;

• o governo grego  iniciou  o programa de privatização com a venda de uma participação de 10% da empresa pública dos teelefones;
 
• A França ea Comissão Europeia rejeitam o  plano Schäuble: dizem que este  plano  representa uma  reestruturação da dívida;

• Mario Draghi alerta para uma desestabilização do sector financeiro;

• Olli Rehn, apoia uma iniciativa do tipo da de  Viena;
• Schäuble diz aos membros do Parlamento  que a Grécia precisa de  90 mil milhões de euros;
• alguns bancos europeus dizem que apoiam o plano de Schäuble;
• Werner Musler diz que o plano é irrelevante, uma vez que a posição da Alemanha não será aceite  ;

• Xavier Vidal-Folch, diz que a proposta Schäuble pode equivaler a uma reestruturação da dívida;
• Harvinder Sian diz que teria repercussões significativas sobre os outros países periféricos; • Os bancos alemães reduzem  os seus riscos para a Grécia;
• o  défice comercial francês dispara ;
• a incerteza jurídica sobre Christine Lagarde é , entretanto, provável que continue a verificar-se. 

publicado por Luis Moreira às 20:00
link | favorito
Domingo, 17 de Abril de 2011

A Grécia terá ela meios para reembolsar a sua dívida? - por Marie de Vergès,

 

Nota de introdução por Júlio Marques Mota

 

 

A crise está para ficar, está para durar e tanto mais será assim quanto se continuar a querer geri-la no quadro das práticas que a criaram. Procurar soluções neste quadro é impossível. A recente cimeira mostra-o à evidência, mas desta falaremos mais tarde. Por agora e nestes próximos dias iremos olhar para a situação actual dos países ditos periféricos, onde a Troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia, FMI) já está instalada no quadro da pressuposta resolução da crise, a Irlanda e Grécia.

 

 Depois de com os trabalhos de Sterdyniak e dos Economistas Aterrados, publicados na íntegra pelo Estrolábio, termos percebido o quadro em que se movimentam as Instituições Europeias, o seu quadro de análise e o conjunto de instrumentos de política económica de que se serve e que só servem para piorar a situação, depois de termos percebido com estes mesmos textos quais deverão ser os caminhos a percorrer, olhemos então para as consequências da aplicação dos remédios que a Comissão Barroso tem vindo a aplicar. A Irlanda, a Grécia, aos nossos olhos, portanto.

 

Uma pergunta vos deixo, aos visitantes de Estrolábio, na sequência  da leitura destes textos: da crise seremos nós apenas os agentes portadores, ou seremos nós os seus actores e os seus autores, por interpostos agentes, as Instituições Europeias, ao permitir que os instrumentos de política por aquelas utilizados sejam afinal os que têm conduzido à situação presente? Se assim é, outra consciência em política se exige. Que esta se ganhe, então.

 

A Grécia terá ela meios para reembolsar a sua dívida?

 

Decididamente, nada está feito. Apesar dos esforços do governo de Georges Papandréou para colocar o país sobre os carris, investidores, analistas e economistas altamente colocados continuam a duvidar da capacidade de reembolso da Grécia muitíssimo endividada. “Não haverá forma de escapar a uma reestruturação" da dívida, assim afirmou Otmar Issing, o antigo economista‑chefe do Banco Central Europeu (BCE), numa entrevista, segunda-feira 21 de Março, à revista alemã Der Spiegel.

 

A afirmação não é passível de contestação, na mesma altura em que os dirigentes europeus acabam de melhorar as condições da ajuda financeira concedida em Maio de 2010 a Atenas. A 11 de Março, aceitaram reduzir a taxa de juro exigida e prolongar a duração dos empréstimos realizados a fim de dar mais tempo ao país para restaurar a sua credibilidade. Uma lufada de oxigénio bem-vinda mas que, de acordo com numerosos especialistas, não dispensará o país de uma re-negociação com os seus credores. O sentimento dos operadores financeiros é extremamente pessimista: de acordo com um inquérito do banco Barclays Capital feito junto de um milhar de investidores, são cerca de 70% deles que acreditam no cenário de uma reestruturação de dívida na zona euro nos três próximos anos.

 

À beira da insolvência? A análise é rapidamente feita: a austeridade a que se está a obrigar Atenas, de acordo com as recomendações dos Europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), incide negativamente sobre o crescimento. E muito fortemente. As baixas de salários e os aumentos dos impostos afectam o poder de compra das famílias. A Grécia não pode mesmo contar com a arma da desvalorização para estimular as suas exportações.

 

O produto interno bruto (PIB) diminuiu 4,5% em 2010. Deverá ainda diminuir 3% em 2011 enquanto a taxa de desemprego atinge os cerca de 15%. Sempre no capítulo das más notícias, o governo tem dificuldade em melhorar as receitas de impostos. Resultado, o défice aumenta e a dívida pula. Aproxima-se dos 150% do PIB, um nível recorde na zona euro!

 

Para o centro Bruegel, um instituto de investigação de grande influência na Europa, o país “roça claramente a insolvência". Assim, de acordo com os cálculos deste think tank, para que Atenas chegue a trazer a dívida pública para a barra dos 60% do PIB daqui até 2035, ser-lhe -ia necessário alcançar anualmente um excedente primário - sem o serviço da dívida - de 6% do PIB. “É uma tarefa de Hércules, indica André Sapir, professor na Universidade Livre de Bruxelas e investigador em Bruegel. O único caso no conjunto dos países da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico) com tais excedentes, é a Noruega, mas é graças aos seus rendimentos do petróleo. “

A Grécia conta voltar aos mercados a partir de 2012. Mas a sua dívida continua a negociar-se sempre a taxas proibitivas. “No mercado dos CDS (títulos de seguro com os quais é suposto proteger-se contra o risco de incumprimento de um emitente), a Grécia é julgada de mais risco que o Iraque!“, ironiza Jean-François Robin, estratega no Banco Natixis. De acordo com este analista, esta avaliação é insensata. Mas, sublinha, que se os investidores exageram ou não, o certo é que “se as taxas permanecem onde estão, isto não é sustentável".

 

As razões para esperar. Acontece que a Grécia, o FMI e as Instâncias Europeias afastam a opção de uma reestruturação e alegam que o quadro está longe de ser muito negro: o governo efectua as suas reformas a um ritmo impressionante. Conseguiu reduzir o seu défice orçamental de 6 pontos de percentagem num ano, fazendo-o descer de 15,4% do PIB em 2009 para 9,4% em 2010. Para aumentar as suas receitas, Atenas além disso decidiu realizar um plano de privatizações de 50 mil milhões de euros. O objectivo é ambicioso. Se for atingido, do que duvidam certos peritos - o governo poderia dispensar-se de impor novos aumentos de impostos que correm o risco de enfraquecer ainda mais o crescimento económico.

 

Para toda a gente, é urgente esperar. As razões são bem compreendidas. Porque se a Grécia reconhecesse que não pode reembolsar as suas dívidas, isto constituiria um perigoso precedente: “Não se tem nenhum outro exemplo na história recente da Europa Ocidental, sublinha Jean-Michel Six, chefe economista na Europa de Standard & Poor’s. Não se conhecem, portanto, antecipadamente quais as consequências. Estas tanto poderiam ser relativamente benignas como extremamente graves", refere.

 

O perigo é o de um contágio aos outros países vulneráveis da zona euro. Os investidores, inquietos que um mesmo cenário se repita com a dívida irlandesa ou portuguesa, prefeririam largá-la. O sector bancário seria sujeito a uma muito dura prova, nomeadamente os estabelecimentos bancários alemães e franceses, muito expostos. "Muitos dizem “não agora” por medo de provocar a faísca de uma crise sistémica na zona euro", explica André Sapir.

Para uma reestruturação negociada. Os economistas do centro Bruegel julgam inevitável que Atenas venha a passar por uma redução de 30% da sua dívida negociável, calculada em 290 mil milhões de euros. Mas preconizam então que antecipadamente o sector bancário europeu seja saneado financeiramente e capitalizado.

 

Seja como for, a Grécia não procederia a uma declaração de incumprimento unilateral que tomasse os seus mutuantes de fundos desprevenidos. Os peritos crêem antes no cenário de uma reestruturação negociada, que lhes permita obter uma dilatação dos prazos de pagamento e uma baixa das taxas de juro. A Europa parece estar a preparar o terreno. Primeiro, por ter aceite um reescalonamento dos seus próprios créditos concedidos a Atenas, depois, porque esta decisão está ligada  com a de ter diminuido a taxa de juro. E, sobretudo, ao poder vir a reflectir-se sobre o mecanismo de resolução das crises após 2013, data em que expira o actual Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FESF).

 

É este um dos desafios da cimeira que reúne os dirigentes da zona euro a 24 e 25 de Março em Bruxelas. No futuro, a assistência financeira da Europa será condicional. Implicará uma participação dos investidores privados a partir do momento em que o país em dificuldade será considerado insolvente. Ninguém duvida que esta situação se colocará primeiramente para a Grécia se esta não recuperar a sua sustentabilidade daqui até 2013.

 

Marie de Vergès,  La Grèce a-t-elle les moyens de rembourser sa dette ?, Le Monde,

24 de Março de 2011.

 

 



[1] Tradução de Júlio Marques Mota, revisão de António Gomes Marques.

publicado por Carlos Loures às 20:00

editado por Luis Moreira em 16/04/2011 às 21:55
link | favorito
Sexta-feira, 1 de Abril de 2011

Atenas, greves sucessivas, privatizações e impasse orçamental - Alain Salles, Le Monde


Nota de Introdução - por Julio Marques Mota

No quadro da União Europeia, é este o modelo, todos somos concorrentes uns com os outros, países que concorrem com os seus sistemas fiscais, o mínimo fiscal possível como se diz, em termos de imposição fiscal, mas o mínimo fiscal possível significa o Estado mínimo possível. Fez-se a mesma coisa, em termos de concorrência, quando se “criou” a crise financeira. Inventou-se uma sigla, PIIGS, a soar como porcos em inglês. Face à sigla, os italianos diziam que havia um I a mais, o de Itália, os Irlandeses diriam que havia um I a mais, o da Irlanda, Portugal dizia que não era a Grécia, a Espanha dizia que não era Portugal, a Bélgica dizia que nesta sigla não havia nenhum B e a França terá dito que não era a Bélgica.             

 

Questionar o modelo, o que todos deviam ter feito, pois era manifesto que o Pacto de Estabilidade não foi feito para a situação de profunda crise que se estava a atravessar, isso não, isso nunca; questionar a arquitectura da União Europeia, isso não: questionar as agências de rating isso também não, são uma componente da arquitectura, pede-se-lhes, e só agora ,que quanto a uma descida de rating  nos avisem dos ratings três dias antes e pede-se também que só os publicitem depois do fecho dos mercados; questionar os mercados financeiros, isso não, porque são o sistema cardiovascular de uma sociedade; questionar os hedge funds, esses fundos altamente especulativos, isso não, porque são eles que nos fazem a “revelação” dos preços, e não os seus custos de produção; questionar os bónus isso também não porque é contra a excelência desses mercados e dos seus agentes, mas alguém que me diga que excelência é então a de Blankfein quando ganha 68 milhões de dólares de bónus num ano. Uma só explicação possível e ele deu-a: faz o trabalho de Deus. De Deus ou dos homens, alguém se terá enganado pelo caminho, porque o mundo é este. O congressista americano, Phil Angelides, e com ele Shakespeare, esclareceu bem a questão quando afirmou na resposta a Blankfein “Mr. Blankfein, quero dizer o seguinte: Tendo assumido um lugar no conselho de administração da California Earthquake Authority, os actos de Deus, esses, estão sempre isentos. Estes, os da crise,  foram actos de homens e mulheres”. E nesse sentido, parafraseando Júlio César de Shakespeare, lembrou-lhe e lembrou-nos também: “A falha não está nas estrelas, mas em nós.” Mas isto é na América de Obama, onde se pretende, ainda de acordo com o mesmo senador: “O meu eu pai cresceu na Grande Depressão. Como tantos da sua geração, ele foi moldado pelo sacrifício - endurecido por dificuldades económicas e de guerra - tendo tomado consciência da imprudência financeira que fez a sua vida muito mais difícil do que precisava ser.

 

A sua geração aprendeu as lições do desastre financeiro para que o país pudesse evitá-lo por décadas. Vamos aprender as lições do nosso tempo. Sejamos hoje diligentes e atentos, para que o nosso sistema financeiro e económico possa recomeçar na íntegra, e enriquecer e sustentar os norte-americanos de amanhã.”

Da América para a Europa, aqui, mudamos de continente mas parece que estamos a mudar de mundo também e de século igualmente, para o século XX, para o período da sua grande crise, a de 1929. Aqui, há os países que estão em profunda crise, há os que completamente o não estão como a Alemanha, há outros que parecem também não estar, mas que só o não estão em termos dos ratings, não em termos das economias reais, porque nesse plano a crise é-lhes já bem dura, também. Para estes últimos, desde que se conserve o que as agências de rating nos (lhes) oferecem, os AAA, o famoso triplo A, a crise parece esfumar-se, porque ela é apenas financeira e financeiramente a nossa cotação é a máxima! É assim que nos vendem a crise. É, por exemplo, a situação da França, cuja Ministra do Ensino Superior, hoje um ensino low-cost por toda a França, como em Portugal de resto, vai até Pequim, apresentar dados do ensino superior para subir no índice de Xangai, e conseguir que alguns estrangeiros mais venham estudar para o seu país! Mas de lá para cá, a diferença é exclusivamente, na história do triplo A, os AAA tão desejados. O resto? O resto, no reino de Sócrates ou de quem agora, em Portugal, o venha a substituir, no de Sarkosy, no de Berlusconi, ou de um outro qualquer, é tudo igual. Por exemplo, em França, em Setembro de 2011, este país, em nome dos seus três A terá suprimido 67.000 postos de trabalho no ensino desde 2007! Em nome desses mesmos três A, crianças há que vão possivelmente deixar de ter escola pré-primária. Que o digam, por exemplo, os habitantes de Vic-sur-Aisne, com mais alunos, com menos escolas.                                                                                                                                 

 

Vão fechando, lá como cá. Lá como cá, já há pais a afirmar que não querem que os seus filhos, bem pequenos, carreguem já o pesado fardo de serem as variáveis de ajustamento contabilístico do actual sistema. Crianças de quatro anos, do lado de cá, no presente e quase com a garantia de perderem o futuro que para eles os pais sonharam, e face a eles e a nós o que nos diz a Europa na sua cimeira? Mais do mesmo e transcrevo do documento oficial do Conselho Europeu, apenas:

Cada país será responsável pelas medidas políticas específicas pelas quais opte para fomentar o emprego, devendo todavia ser prestada especial atenção às seguintes reformas:

• reformas do mercado de trabalho para promover a "flexigurança", reduzir o trabalho não declarado e aumentar a participação no mercado de trabalho;
• aprendizagem ao longo da vida;
• reformas fiscais, como a redução dos impostos sobre o trabalho para tornar o trabalho compensador, mantendo simultaneamente as receitas fiscais globais, e tomando medidas destinadas a facilitar a participação das segundas fontes de rendimento dos agregados familiares na força de trabalho.

Sem comentários, mas voltemos à América, retomemos o senador Phil Angelides:

“Tenho esperança que, juntos, possamos reconstruir e manter um sistema de capital, que nos ajude a criar empresas de valor, que coloquem os americanos a trabalhar para que eles possam sustentar as suas famílias e realizar os seus sonhos, e que crie a fundação de uma nova era de prosperidade amplamente partilhada..”

Do lá de lá do Atlântico está-se a trabalhar contra um sistema financeiro que à crise a todos nós levou, está-se a trabalhar pela reconffiguração do sistema produtivo para empregos garaantir,  está-se a trabalhar pela satisfação dos sonhos dos americanos que a América com o seu esforço constroem. De lá de cá, Atenas hoje e aqui a mostrar o que as Instituições, todas elas, andam por cá a fazer. Hoje Atenas, amanhã Dublin e depois de amanhã? Quem sabe?

 

Coimbra, 30 de Março de 2011.
Júlio Marques Mota

TEXTO SOBRE ATENAS

Atenas, greves sucessivas, privatizações e impasse orçamental

Alain Salles, Le Monde

 

"Supressão da dívida", reclama uma bandeirola estendida a 22 de Março aquando de uma nova manifestação nas ruas de Atenas. Como certos especialistas, os manifestantes preconizam uma reestruturação da dívida. Preconizam mesmo uma reestruturação radical.

 

“Não somos responsáveis pelo que fizeram os governos precedentes, explica Gregori Iatrakos, um empregado da Câmara Municipal de Atenas. Se a União Europeia encontra dinheiro para reforçar a posição dos bancos, pode também encontrar dinheiro para os trabalhadores.”

 

Os Atenienses manifestam-se regularmente. Na terça-feira, 22 de Março, a alguns dias da cimeira europeia de Bruxelas que deve finalizar o acordo dos países da zona euro que abre a porta a uma redução da taxa de juro e uma dilatação dos prazos de reembolso para a Grécia, a manifestação era um pouco modesta.

 

Mas desde a instauração, em Maio de 2010, do plano de austeridade inspirado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia (UE) em contrapartida do seu empréstimo de 110 mil milhões de euros, o país já teve uma dezena de greves gerais. A última há menos de um mês. Cada semana é como que marcada por movimentos sociais, desde os transportes públicos aos advogados passando pelos jornalistas ou pelos farmacêuticos.

 

Os manifestantes berram, o governo passa, sem que mude a sua política. Sob o constrangimento dos seus parceiros, o governo acaba de lançar um programa de privatizações do qual espera obter cerca de 50 mil milhões de euros. Do nunca visto na Grécia. O memorando assinado pelo governo grego e pela Troika - UE, FMI, Banco Central Europeu - originalmente previa cerca de 3,5 mil milhões de euros, mas foi aumentado em razão do agravamento da situação financeira do país.

 

Recessão

 

O governo chegou a reduzir o seu défice em 2010, mas a dívida continuou a pesar cada vez mais. Pior ainda, o défice recomeçou a aumentar nos dois primeiros meses do ano, devido à falta de crescimento económico: a Grécia conhecerá em 2011 o seu terceiro ano consecutivo de recessão. Além disso, o governo permanece aquém dos seus objectivos quanto às suas receitas fiscais, num país onde a fraude é um desporto nacional.
“Poderemos ter os primeiros rendimentos das privatizações no Verão", explicou na terçafeira o Ministro das Finanças, Georges Papaconstantinou. A primeira fase do plano de privatização prevê a obtenção de 15 mil milhões de euros nos três próximos anos.

 

Um Comité interministerial encarregado de estabelecer a lista das empresas a privatizar e as propriedades de Estado a pôr em concessão terá a sua primeira reunião na quartafeira, dia 23 de Março. Uma das suas primeiras tarefas vai ser a de estabelecer a lista destas propriedades do Estado, num país onde não existe seq    uer registo cadastral. A Lotaria nacional, a Companhia do Gás e a muito endividada companhia dos caminhosdeferro estará entre os primeiros activos a privatizar.

 

O governo continua a excluir qualquer reestruturação da sua dívida. “Poderia provocar o desmoronamento dos bancos gregos e produziria uma avalanche de ataques especulativos sobre um grande número de países europeus", explicava o Primeiro-ministro grego, Georges Papandréou, no Le Monde de 11 de Março, insistindo particularmente nos riscos incorridos pelos fundos de pensões gregos.

 

Alain Salles, “A Athènes, grèves à répétition, privatisations et impasse budgetaire”, Le Monde, 23 de Março de 2011.

publicado por Luis Moreira às 20:00
link | favorito
Quarta-feira, 30 de Março de 2011

A Grécia terá ela meios para reembolsar a sua dívida? (2) - Marie de Vergès

Júlio Marques Mota  Nota de introdução

 

 

A crise está para ficar, está para durar e tanto mais será assim quanto se continuar a querer geri-la no quadro das práticas que a criaram. Procurar soluções neste quadro é impossível. A recente cimeira mostra-o à evidência, mas desta falaremos mais tarde. Por agora e nestes próximos dias iremos olhar para a situação actual dos países ditos periféricos, onde a Troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia, FMI) já está instalada no quadro da pressuposta resolução da crise, a Irlanda e Grécia.

 

 Depois de com os trabalhos de Sterdyniak e dos Economistas Aterrados, publicados na íntegra pelo Estrolábio, termos percebido o quadro em que se movimentam as Instituições Europeias, o seu quadro de análise e o conjunto de instrumentos de política económica de que se serve e que só servem para piorar a situação, depois de termos percebido com estes mesmos textos quais deverão ser os caminhos a percorrer, olhemos então para as consequências da aplicação dos remédios que a Comissão Barroso tem vindo a aplicar. A Irlanda, a Grécia, aos nossos olhos, portanto.

 

Uma pergunta vos deixo, aos visitantes de Estrolábio, na sequência  da leitura destes textos: da crise seremos nós apenas os agentes portadores, ou seremos nós os seus actores e os seus autores, por interpostos agentes, as Instituições Europeias, ao permitir que os instrumentos de política por aquelas utilizados sejam afinal os que têm conduzido à situação presente? Se assim é, outra consciência em política se exige. Que esta se ganhe, então.

 

 

 

 Marie de Vergès  A Grécia terá ela meios para reembolsar a sua dívida? [1]

 

 

Decididamente, nada está feito. Apesar dos esforços do governo de Georges Papandréou para colocar o país sobre os carris, investidores, analistas e economistas altamente colocados continuam a duvidar da capacidade de reembolso da Grécia muitíssimo endividada. “Não haverá forma de escapar a uma reestruturação" da dívida, assim afirmou Otmar Issing, o antigo economista‑chefe do Banco Central Europeu (BCE), numa entrevista, segunda-feira 21 de Março, à revista alemã Der Spiegel.

 

A afirmação não é passível de contestação, na mesma altura em que os dirigentes europeus acabam de melhorar as condições da ajuda financeira concedida em Maio de 2010 a Atenas. A 11 de Março, aceitaram reduzir a taxa de juro exigida e prolongar a duração dos empréstimos realizados a fim de dar mais tempo ao país para restaurar a sua credibilidade. Uma lufada de oxigénio bem-vinda mas que, de acordo com numerosos especialistas, não dispensará o país de uma re-negociação com os seus credores. O sentimento dos operadores financeiros é extremamente pessimista: de acordo com um inquérito do banco Barclays Capital feito junto de um milhar de investidores, são cerca de 70% deles que acreditam no cenário de uma reestruturação de dívida na zona euro nos três próximos anos.

 

À beira da insolvência? A análise é rapidamente feita: a austeridade a que se está a obrigar Atenas, de acordo com as recomendações dos Europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), incide negativamente sobre o crescimento. E muito fortemente. As baixas de salários e os aumentos dos impostos afectam o poder de compra das famílias. A Grécia não pode mesmo contar com a arma da desvalorização para estimular as suas exportações.

 

O produto interno bruto (PIB) diminuiu 4,5% em 2010. Deverá ainda diminuir 3% em 2011 enquanto a taxa de desemprego atinge os cerca de 15%. Sempre no capítulo das más notícias, o governo tem dificuldade em melhorar as receitas de impostos. Resultado, o défice aumenta e a dívida pula. Aproxima-se dos 150% do PIB, um nível recorde na zona euro!

 

Para o centro Bruegel, um instituto de investigação de grande influência na Europa, o país “roça claramente a insolvência". Assim, de acordo com os cálculos deste think tank, para que Atenas chegue a trazer a dívida pública para a barra dos 60% do PIB daqui até 2035, ser-lhe -ia necessário alcançar anualmente um excedente primário - sem o serviço da dívida - de 6% do PIB. “É uma tarefa de Hércules, indica André Sapir, professor na Universidade Livre de Bruxelas e investigador em Bruegel. O único caso no conjunto dos países da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico) com tais excedentes, é a Noruega, mas é graças aos seus rendimentos do petróleo. “

 

A Grécia conta voltar aos mercados a partir de 2012. Mas a sua dívida continua a negociar-se sempre a taxas proibitivas. “No mercado dos CDS (títulos de seguro com os quais é suposto proteger-se contra o risco de incumprimento de um emitente), a Grécia é julgada de mais risco que o Iraque!“, ironiza Jean-François Robin, estratega no Banco Natixis. De acordo com este analista, esta avaliação é insensata. Mas, sublinha, que se os investidores exageram ou não, o certo é que “se as taxas permanecem onde estão, isto não é sustentável".

 

As razões para esperar. Acontece que a Grécia, o FMI e as Instâncias Europeias afastam a opção de uma reestruturação e alegam que o quadro está longe de ser muito negro: o governo efectua as suas reformas a um ritmo impressionante. Conseguiu reduzir o seu défice orçamental de 6 pontos de percentagem num ano, fazendo-o descer de 15,4% do PIB em 2009 para 9,4% em 2010. Para aumentar as suas receitas, Atenas além disso decidiu realizar um plano de privatizações de 50 mil milhões de euros. O objectivo é ambicioso. Se for atingido, do que duvidam certos peritos - o governo poderia dispensar-se de impor novos aumentos de impostos que correm o risco de enfraquecer ainda mais o crescimento económico.

 

Para toda a gente, é urgente esperar. As razões são bem compreendidas. Porque se a Grécia reconhecesse que não pode reembolsar as suas dívidas, isto constituiria um perigoso precedente: “Não se tem nenhum outro exemplo na história recente da Europa Ocidental, sublinha Jean-Michel Six, chefe economista na Europa de Standard & Poor’s. Não se conhecem, portanto, antecipadamente quais as consequências. Estas tanto poderiam ser relativamente benignas como extremamente graves", refere.

 

O perigo é o de um contágio aos outros países vulneráveis da zona euro. Os investidores, inquietos que um mesmo cenário se repita com a dívida irlandesa ou portuguesa, prefeririam largá-la. O sector bancário seria sujeito a uma muito dura prova, nomeadamente os estabelecimentos bancários alemães e franceses, muito expostos. "Muitos dizem “não agora” por medo de provocar a faísca de uma crise sistémica na zona euro", explica André Sapir.

 

Para uma reestruturação negociada. Os economistas do centro Bruegel julgam inevitável que Atenas venha a passar por uma redução de 30% da sua dívida negociável, calculada em 290 mil milhões de euros. Mas preconizam então que antecipadamente o sector bancário europeu seja saneado financeiramente e capitalizado

 

Seja como for, a Grécia não procederia a uma declaração de incumprimento unilateral que tomasse os seus mutuantes de fundos desprevenidos. Os peritos crêem antes no cenário de uma reestruturação negociada, que lhes permita obter uma dilatação dos prazos de pagamento e uma baixa das taxas de juro. A Europa parece estar a preparar o terreno. Primeiro, por ter aceite um reescalonamento dos seus próprios créditos concedidos a Atenas, depois, porque esta decisão está ligada  com a de ter diminuido a taxa de juro. E, sobretudo, ao poder vir a reflectir-se sobre o mecanismo de resolução das crises após 2013, data em que expira o actual Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FESF).

 

É este um dos desafios da cimeira que reúne os dirigentes da zona euro a 24 e 25 de Março em Bruxelas. No futuro, a assistência financeira da Europa será condicional. Implicará uma participação dos investidores privados a partir do momento em que o país em dificuldade será considerado insolvente. Ninguém duvida que esta situação se colocará primeiramente para a Grécia se esta não recuperar a sua sustentabilidade daqui até 2013.

 

Marie de Vergès,  La Grèce a-t-elle les moyens de rembourser sa dette ?, Le Monde, 24 de Março de 2011.

 

 



[1] Tradução de Júlio Marques Mota, revisão de António Gomes Marques.

publicado por Augusta Clara às 20:00

editado por Luis Moreira em 02/04/2011 às 02:02
link | favorito

.Páginas

Página inicial
Editorial

.Carta aberta de Júlio Marques Mota aos líderes parlamentares

Carta aberta

.Dia de Lisboa - 24 horas inteiramente dedicadas à cidade de Lisboa

Dia de Lisboa

.Contacte-nos

estrolabio(at)gmail.com

.últ. comentários

Transcrevi este artigo n'A Viagem dos Argonautas, ...
Sou natural duma aldeia muito perto de sta Maria d...
tudo treta...nem cristovao,nem europeu nenhum desc...
Boa tarde Marcos CruzQuantos números foram editado...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Eles são um conjunto sofisticado e irrestrito de h...
Esse grupo de gurus cibernéticos ajudou minha famí...

.Livros


sugestão: revista arqa #84/85

.arquivos

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

.links