Quinta-feira, 4 de Novembro de 2010
Fernando Moreira de Sá
Ele foi o Presidente da República. Ele foi o Primeiro-ministro. Logo, logo o Presidente da Comissão Europeia. A Banca. Os principais “fazedores de opinião”. Todo o cão e gato a quem colocaram um microfone na frente. Directores de jornais. Responsáveis de televisões. Blogues e bloggers. Confesso que foram tantos e tantas que já nem sei se o meu Presidente (estou a falar do FCP) não terá, igualmente, dito o mesmo que a multidão ululante:
“Se o orçamento não é aprovado, estamos tramados, os mercados não nos perdoariam tamanha desfaçatez. Os juros da dívida seriam um “upa, upa”. O caos”.
O PSD fez a vontade, a contragosto, aos seus mais ilustres, aos corporativos, às corporações, à Banca, ao cão e ao gato. Finalmente, o OE2011 foi aprovado. Resultado:
1. Os juros da dívida não param de subir
2. O risco da dívida volta a superar os 400 pontos
Em suma, uns enganadores, é o que é…
Sexta-feira, 15 de Outubro de 2010
António Gomes Marques
Vamos lendo a imprensa e, muitas vezes, são as notícias que menos espaços ocupam que mais importantes são para a vida dos cidadãos que pagam impostos e para aqueles que, pelos baixos rendimentos que auferem, destes estão isentos.
Vejam a notícia seguinte:
Lisboa, 14 Out. (Lusa) - O líder da bancada social democrata na Assembleia Municipal de Lisboa manifestou hoje alguma "desconfiança" quanto ao novo mapa das freguesias proposto no estudo encomendo pela câmara, alegando que o PSD sai "largamente prejudicado".
"O estudo encomendado pela autarquia tem alguns problemas que têm de ser corrigidos. Mas o mais grave é que esta divisão que é sugerida nos deixou de pé atrás relativamente à boa fé deste projecto", afirmou António Prôa.
"Feitas as contas, transpondo os resultados eleitorais de 2009 para a nova divisão, tanto quanto é possível fazer, já que há casos difíceis de medir, o PS sai largamente beneficiado e o PSD largamente prejudicado", acrescentou.
Perguntarão os nossos leitores: A que propósito vem isto?
De facto, sabendo-se que sou militante do PS, poderá alguém entender que estou a atacar um outro partido, quando o que pretendo é chamar a atenção para os políticos que temos. A preocupação não é fazer uma boa divisão administrativa de Lisboa, que dela está bem carenciada; a preocupação dos representantes do PSD, neste caso, foi verificar que a proposta os viria a prejudicar, ou seja, se aprovada a divisão proposta o PSD pensa que as próximas eleições autárquicas lhe retirariam a hipótese de ganhar uma grande parte das freguesias da capital. Não importa fazer uma boa divisão, para o PSD uma boa divisão administrativa de Lisboa será aquela que lhe proporcione o maior número de freguesias sob o seu domínio.
Claro que a posição que para o PSD é válida para Lisboa também será válida para o resto do país.
Perguntarão agora os nossos leitores: E se fosse o PS a estar na posição do PSD, não assumiria a mesma posição?
Como calcularão, gostaria muito de poder afirmar que o partido de que sou militante tomaria a posição que melhor servisse Lisboa, mas, infelizmente, não me atrevo a tanto. Em todo o caso, acrescento que António Costa me merece confiança, direi mesmo que, de entre os políticos no activo, me parece ser aquele que melhor serviria Portugal como Primeiro-Ministro, e não é apenas por amizade que o digo.
Outros pensarão diferente de mim e se encontrarem alguém que melhor desempenho possa ter naquele lugar, ficarei muito grato a bem de Portugal e dos Portugueses (mas não «A Bem da Nação»). Substituir Sócrates é uma prioridade que não é de agora, mas colocar no seu lugar um qualquer Passos Coelho seria uma decisão que muito cara sairia a todos os portugueses.
Terça-feira, 7 de Setembro de 2010
Carlos LouresTodos já ouviram falar desta patologia que, basicamente, consiste na disfunção psicológica que leva um sequestrado a identificar-se com o sequestrador. A designação deriva de um facto ocorrido em Estocolmo no ano de 1973 – durante um assalto a um banco, os reféns, sequestrados durante seis dias, mostraram-se, depois de libertos, solidários com os assaltantes mesmo durante o processo judicial. A solidariedade da vítima para com o seu captor nasce com pequenos gestos de urbanidade do sequestrador para com o sequestrado e cimenta-se durante o processo de libertação por parte das autoridades policiais, em que o sequestrado se identifica com o assaltante no receio de ser vitimado durante a luta.
Uma visão lúcida da realidade é difícil e as pequenas atenções dos bandidos transformam-se, na memória da vítima, em rasgos de bondade. Por outro lado, os sequestrados têm tendência em ser dóceis com os captores, procurando uma fuga a represálias. Uma estratégia de sobrevivência, digamos que dá lugar a uma bela amizade.
A evolução da síndrome é subconsciente, a vítima não tem consciência da progressão do trauma. Por outro lado, esta não afecta todas as vítimas em cativeiro, alguns defendem-se desenvolvendo um ódio, porventura exagerado (mas saudável), aos captores. A síndrome, de espectro abrangente, tipifica também o afecto que muitas mulheres vítimas de violência nutrem pelos maridos agressores.
Em grupos alargados, lugares e transportes públicos, ouve-se, desde que os governos são eleitos democraticamente em Portugal, protestos contra a forma como somos governados. Ninguém parece apoiar o partido que está no poder – fervem as anedotas, os boatos, as acusações… Foi sempre para mim um mistério como é que situações de descontentamento generalizado dão lugar a vitórias, por vezes rotundas, dos partidos que estão por detrás dos governos tão duramente criticados. Outro aspecto interessante da chamada psicologia de massas é, pessoas que votam em partidos de direita e que às vezes até se mostram saudosas da ditadura, quando os seus interesses pessoais são de alguma maneira afectados, invocarem «as conquistas de Abril».
Mas esta é uma questão anedótica e marginal. O mistério que gostava de ver esclarecido é como é que partidos que já se viu como governam continuarem a ter a maioria dos votos dos eleitores. Então surge uma explicação – a síndrome de Estocolmo – reféns do neo-liberalismo, nós os eleitores, cativos do círculo vicioso, ciclo e circo fantasioso, que faz alternar um dos dois partidos no poder – ganhámos afecto aos captores, somos seduzidos pelos pequenos gestos amáveis que travestem a violência de impostos e de medidas lesivas do nosso bem-estar.
Quando faço a pergunta directamente a votantes no PS ou no PSD, as pessoas encolhem os ombros e respondem - «é que os outros não dão garantias de poder governar». Talvez seja verdade. PCP e Bloco de Esquerda talvez até nem fossem capazes de governar e permanecer fiéis aos seus princípios. Talvez se «pragmatizassem». Porém, os dois compadres do bloco central deram já amplas garantias de não conseguirem governar na acepção nobre do termo. Porque «governar-se», perdoe-se-me o chulismo, eles conseguem sempre.
Sofremos colectivamente da síndrome de Estocolmo.
Só essa explicação pode justificar que continuemos a eleger e a confiar em quem faz de nós e dos nossos votos passadeira para satisfazer ambições pessoais, enriquecer o currículo e beneficiar interesses dos grandes empresários, ponte para negociatas obscuras…
Não, não somos nem masoquistas nem tão estúpidos como parecemos; estamos é afectados pela síndrome de Estocolmo.
Isto explica tudo, não acham?.