Enviado por Julio marques Mota (continuação)
Geração à rasca, geração de parva considerada ou geração em precariedade absoluta? PARTE III
Os jovens começam mal
Louis Chauvel
Nas sociedades envelhecidas, a surdez face aos problemas sociais das próximas gerações, as gerações futuras, pode tornar-se um verdadeiro problema. Mas trata-se mais de um sintoma do que da causa profunda do mal, e isto não tem nada de novo. O que é, porém, novo, tem a ver com a dimensão da recusa em procurar perceber este fenómeno como problema e que se está a ampliar.
A minha experiência, doze anos depois da primeira edição de Destino das gerações, permite-me estabelecer a seguinte confirmação: desde 1998, não temos feito rigorosamente nada enquanto que o sabíamos. De cada vez que há um período de atenuação, este dá-nos a ilusão de situação normalizada mas, realmente, a situação tem-se é degradado . Trata-se, em 2010, de afinar o diagnóstico, de apresentar o prognóstico, reservado, e de emitir algumas recomendações.
Mas quais são os sintomas deste mal-estar colectivo? Os mais visíveis têm a ver com as dificuldades da própria juventude. Sabemo-lo, desde há trinta e cinco anos, desde que há desemprego de massa em grande extensão, que a juventude tem servido de variável de ajustamento.
Desemprego a níveis recordes, baixa dos salários e dos níveis de vida, aumento da precarização, desenvolvimento de bolsas de trabalho quase que gratuito (estágios, free-lancers, pagamento à peça, exoneração de encargos, etc.), a nova pobreza da juventude, um estado de saúde problemático e fraco recurso aos cuidados de saúde, ausência de horizonte visível .
Numa década, não progredimos mesmo nada - isto, na melhor das hipóteses. Observamos uma tripla desqualificação. Uma desqualificação escolar, primeiramente, a juventude sendo agora de classe média do ponto de vista dos diplomas, está abaixo da classe operária do ponto de vista dos rendimentos. Para além do valor dos diplomas, a desqualificação é também intergeracional , com uma multiplicação esperada das trajectórias sociais descendentes relativamente aos seus pais. A profecia de 1998 realizou-se.
É também sistémica, dado que, com a queda das novas gerações, são os seus direitos sociais futuros que são postos em causa: o seu desenvolvimento humano hoje, a sua capacidade a criar e formar os seus filhos amanhã, e as suas reformas depois de amanhã. Trata-se por conseguinte de uma regressão do sistema social na sua totalidade, e não simplesmente de uma regressão de indivíduos isolados.
Para além do mais, uma frustração geral atinge toda a gente face à acumulação das promessas não cumpridas: a do regresso ao pleno emprego graças à partida para a reforma dos primeiros-nascidos na geração do baby-boom (relatório Teulade de 1999), de melhores empregos pelo crescimento escolar, num contexto onde o trabalho por si só não permite seguir a possibilidade de habitar, de viver numa casa.
Júlio Marques Mota
Ao Flávio
Aos Flávios deste e dos outros países
Voltamos uma vez mais a um tema que nos parece que merece continuar a ser tratado, face ao império de silêncio e de mistificação, que do nosso ponto de vista, impera na sociedade portuguesa, que é o problema do emprego da faixa etária mais jovem da sociedade portuguesa, a juventude, seja ela de formação universitária ou não.
A juventude actual aparece aos olhos de muita gente como sendo politicamente descaracterizada e portanto sugestionável para oportunismos políticos de vária ordem, emocionalmente imatura, culturalmente inculta, hoje com largas franjas sem emprego ou não empregáveis sequer, sem hábitos e disciplina de trabalho. Muito deste quadro, no nosso ponto de vista deve-se à partida, quanto à juventude de formação não universitária, aos múltiplos esquemas de formação sem qualidade que se geraram e que serviram para esconder alguns pontos percentuais na taxa de desemprego, múltiplos esquemas que se devem à incompetência dos diversos governos que os criaram e mantiveram, incompetência em encarar os problemas específicos que esta faixa etária tem. Quanto à juventude de formação universitária, deve-se sobretudo ou ainda ao império da simplificação que passou a reinar, desde o ensino secundário ao superior.
Na nossa opinião o quadro traçado que acabámos de esquematizar e que tomamos como real, deve-se não aos erros de trajectos singulares dos nossos jovens, como quis insinuar o professor Ferreira Machado, Director da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, mas sim a um sistema social que fez da precariedade e da desigualdade a sua força motriz, com os efeitos que hoje estão bem à vista. Como já o escrevemos neste blog o director da Universidade Nova falou claro, mas não quer isto dizer que tenha falado bem. Muito longe disto. Segundo ele, o problema do desemprego é um problema cuja solução está nas mãos de cada um que o tem e não nas dos outros, que o não têm. Claro falou, mas se falou bem ou mal, isso é toda uma outra história. É evidente que desta forma alinha com aqueles que chamam de geração parva, de geração rasca aos jovens de hoje e só lhe faltou dizer que é duplamente parva ou duplamente rasca, porque também há cursos e escolas onde o problema da empregabilidade não se põe e portanto o erro estará, na sua opinião, também em não terem eles essas escolas, esses cursos, escolhido, daí a expressão duplamente parva.
Mas a precariedade é hoje um dado estrutural do sistema, do modelo neoliberal, talvez o motor mais potente que o alimenta e que lhe impôs a direcção e os resultados a que socialmente hoje chegámos, a nível nacional, a nível europeu, a nível mundial, a crise, a desigualdade social, a precariedade que se sente em todos os poros da sociedade. Temo-lo mostrado nos artigos já publicados sobre o tema, continuamos a mostrá-lo hoje, com os dois artigos de Louis Chauvel, e com uma descida ao inferno do mundo do trabalho de France Telecom, quarto operador mundial, onde se mostra à evidência que na lógica do modelo neoliberal que o senhor professor Ferreira Machado parece bem defender, a precariedade atinge toda a sociedade, seja esta encarada a nível nacional, atinge igualmente todas as profissões onde houver um custo a minimizar, onde houver um lucro a maximizar, todas as profissões, qualquer que seja o país, a região, fale-se da região Europa ou Ásia, ou mesmo a nível mundial.
s de expor.
Gráfico 1. Taxa de desemprego dos 15 aos 24 anos, 2009, em %
Gráfico 2. Parte do desemprego na população dos 15-24 anos, 2009, em %
Gráfico 3. Taxa de emprego dos 15-24 anos, 2009, em %
Gráfico 4. Parte do emprego temporário no emprego assalariado dos 15-24 anos, 2009, em %
Os gráficos não deixam dúvidas, a precariedade é um dado comum a todos os países considerados, a confirmar que um problema existe e não é o do trajecto certo ou errado de jovens singulares, um problema existe e este é exactamente o modelo que esta realidade produz e que dela se alimenta. Estamos assim com esta realidade, longe, muito longe mesmo do óptimo social com que o modelo neoliberal é vendido. Esta é a situação a que a sua aplicação nos conduziu, longe portanto do modelo de referência que nas Universidades portuguesas tanto se acarinha. Isto, conjuntamente com o silêncio que nesta situação de crise se instala quanto à crise da economia real, são um belo exemplo do que é o cinismo intelectual dos neoliberais. A terminar este texto, detenhamo-nos, embora um pouco longamente, sobre um texto de um homem do sistema, ex-comissário europeu, Mário Monti, a propósito do mercado único, do grande mercado europeu. Num recente relatório enviado à Comissão Europeia, afirma:
Algumas mudanças ocorreram muito para além da Europa:
— A globalização e a emergência de novas potências económicas;
— A revolução tecnológica, acelerada em particular pelas Tecnologias de Informação e de Comunicação;
— A importância crescente do sector dos serviços na economia;
— A consciencialização crescente sobre os desafios das alterações climáticas e ambientais.
Além de ter de dar resposta a estas mudanças globais, o Mercado Único Europeu teve de enfrentar uma série de transformações profundas, respeitantes especificamente à Europa:
— O colapso do bloco Soviético, antes uma ameaça que foi uma peça chave da integração;
— O alargamento de 10 para 27 Estados Membro;
— Muito maior diversidade económica, relacionada também com o alargamento;
— Introdução de uma moeda única, actualmente partilhada por 16 Estados Membro;
— Aumento das migrações e da diversidade cultural;
— Rejeição aberta de uma maior (ou mesmo da existente) integração europeia, em resultado de referendos em vários Estados- membros;
— Clarificação explícita dos limites da aceitação, por um Estado-membro, de uma maior integração europeia no futuro (acordão de
Julho de 2009, do Tribunal Constitucional da Alemanha);
— Tratado de Lisboa: “A União… fará esforços para… o desenvolvimento sustentável [e para] uma economia social de mercado
competitiva” (artigo 3.º, Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia).
Cada uma destas mudanças, independentemente do seu efeito conjugado, tem importantes implicações institucionais, económicas e políticas na natureza e no funcionamento do Mercado Único. Não foi ainda realizada qualquer reanálise sistemática das políticas relativas ao Mercado Único à luz de todas estas mudanças.
CONTINUA...
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