Uma canção de “Os Deolinda” teve a virtude de tocar muitos jovens que nela se viram retratados. Começa assim – “Sou da geração sem remuneração/ nem me incomoda esta condição…/ que parva que eu sou…”. A geração “casinha dos pais” (como diz a letra) caiu em si e adoptou a passagem; “ eu – já – não – posso – mais – Que – esta – situação – dura – há – tempo – de – mais!” Prometem manifestar-se a 12 de Março, tendo hoje (22 Fev.) nas “redes sociais” já 20 mil promessas de comparência.
A discussão que tem havido é mais parva que o mundo parvo, uns a dizer que à juventude não lhes falta nada, e outros, que têm direito a tudo, dado e de mão beijada.
Desenganemo-nos, nem a vida é um mar de rosas como pensam (ou pensavam) alguns jovens iludidos, nem convém à sociedade ter uma juventude mansa ou amansada por só conhecer a precariedade laboral. Nem os jovens podem afirmar que são a primeira geração que passa por dificuldades, nem a geração instalada os pode acusar de terem crescido na abundância e com vida fácil.
Se há parvos, são os pais e avós que convenceram os mais novos de que bastava um canudo para vingar na vida, e são também parvos os que esperam que o emprego digno com salário digno vá ter com eles, ou que seja uma obrigação do Estado conceder-lho. A verdade é que há cursos que têm saída imediata no mercado de trabalho e há canudos que nada garantem por não terem qualidade, ou por os candidatos serem muitos mais que os empregos existentes. No curto prazo, não se irão criar empresas para absorver todos os licenciados, e os empregos do Estado estão superlotados. O mais avisado é aceitar trabalhar fora das áreas que estudaram até aparecer uma oportunidade, se algum dia aparecer. O que tenho observado ao longo dos anos, é muita gente ter sucesso e realizar-se profissionalmente em actividades distantes dos cursos que tiraram. Eu tive várias profissões, a minha filha está satisfeita com a profissão que escolheu, que pouco tem a ver com a sua licenciatura, e o meu filho após vários empregos e profissões, faz carreira numa grande empresa. São opções de vida, aceitar começar por baixo, ou esperar com lamúrias que apareça um emprego compatível com os cursos que se tiraram, e logo conciliável em “dignidade” e em “salário”. No fundo é uma questão de necessidade, pois todos os jovens já sabem que há cursos que o mercado de trabalho considera habilitações e outros que não reconhece. É a triagem normal perante o facilitismo educativo e a privatização do ensino sem normas, que permitiu títulos académicos a cursos que não servem para nada, ou só servem para alimentar uns professores e umas escolas.
Outras situações são a remuneração justa de quem trabalha, a precariedade do emprego, os falsos recibos verdes e as empresas de trabalho temporário, mas nessas as “gerações á rasca” são todas, e contra isso não têm sido os jovens, com o seu alheamento político, quem mais tem feito por combater as injustiças. Há quem ande a culpar os governos e nem se digne votar, quando as coisas se resolvem onde está o poder de decisão. É preciso que a juventude faça parte da política e da vida pública activa, que leve os seus problemas para o interior dos partidos, que se faça ouvir para lá das queixas, actuando. Se as medidas da governação actual são prejudiciais, repare-se na alternativa, O PSD propôs hoje contratos a termo não escritos, a generalização da precariedade nos empregos. De mal a pior é a perspectiva para a geração à rasca, se nada fizerem, se tudo consentirem.
“Os Deolinda” serviram pelo menos para lançar uma discussão entre os jovens sobre o seu futuro, espera-se que a sua insatisfação tenha para além da solidariedade na Net, uma presença física nas manifestações, seria uma novidade em relação ao passado.
“ O futuro não se aceita passivamente”.
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