Quarta-feira, 23 de Junho de 2010

Outra Constituição, outra Democracia, uma Terceira República – 37

Carlos Leça da Veiga

(Continuação)

Ao sair-se do fascismo cinquentenário e da prática colonialista secular só havia que procurar-se uma presença internacional não alinhada com vista a uma inserção mundial em todos os azimutes, muito em particular junto àqueles países com que, mundo fora, de há muito a esta parte já tínhamos contactado – o velho e bem sucedido universalismo dos portugueses – e que, nos últimos anos, alguns deles – a História está a confirmá-lo – são, no mundo, os novos potentados económicos que, estes sim, logo após o 25 de Abril, deviam, com devem, merecer aos portugueses as relações bilaterais mais constantes, intimas, reforçadas e amistosas. Sem que devam abrir-se excepções para os relacionamentos amistosos com o exterior não é possível esquecer, por todas as razões, a totalidade dos Países da Lusofonia com os quais é obrigatório manterem-se laços muito estreitos, senão mesmo franca e claramente preferenciais. A lusofonia é uma arma estratégica de importância capital para uma afirmação internacional autónoma e forte.

A opção geoestratégica portuguesa, uma vez terminado o seu império ultramarino, como era, e é, da sua conveniência deve retomar a prática política internacional do seu bem sucedido universalismo de antanho e fazê-lo não só por uma questão de fidelidade histórica mas, também, para poder colher benefícios dos consequentes relacionamentos bilaterais sobretudo com cada qual daqueles grandes potentados económicos que se, hoje em dia, já estão colocados muito para além duma simples emergência, muito em breve, alcançarão preponderância significativa, senão decisiva, na vida internacional.


Se, por força e na consequência das Descobertas, esse universalismo português foi praticado séculos atrás – antes mesmo que o fosse tentado ou conseguido por qualquer outro Estado do mundo – então, após o 25 de Abril e, por maior razão, depois da Descolonização podia e devia ter sido retomado já que, mercê das consequências felizes destes factos históricos, Portugal passou a dispor de condições políticas para poder alcançar uma afirmação internacional muito positiva e inequívoca. Ao contrário do que tem acontecido será bom não esquecerem-se mas, sim, reavivarem-se as excelentes, notáveis e inequívocas visibilidade e projecção políticas internacionais que, em 1975, foram obtidas por Portugal e que, todo o mundo, viu confirmadas na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, quando aí discursou o então Presidente da República, Marechal Costa Gomes.

Logo após o 25 de Abril, graças à concretização da determinação portuguesa de descolonizar e de fazê-lo – assim teve de acontecer – sem perspectivar quaisquer formas de neocolonialismo, então, a identificação, o prestígio mundial, o reconhecimento manifesto inclusive o aplauso internacional obtidos por Portugal, sabe-se e confirma-se, estiveram em alta. Depois, tudo tem vindo a perder-se e não são os ”happenings“ pseudo-políticos, nacionais ou internacionais, umas meras fachadas da produção político-partidária portuguesa, quem consegue disfarçar tão indesejável retrocesso.

Ano após ano, identificação, reconhecimento ou aplauso têm-se perdido e, por infelicidade, bom grado as potencialidades políticas de Portugal, só resta uma presença internacional meramente consentida e, é bom não esquecer, descaradamente explorada.

Portugal, uma vez liberto da ditadura salazarista e com o país regressado à sua dimensão territorial europeia tem condições e deve definir, com autonomia total a sua estratégia política mais fundamental. Tem de caminhar-se no sentido da defesa intransigente tanto da Independência Nacional – um bem estratégico mais que fundamental – como, também, da procura duma grande abrangência mundial – o universalismo – e nunca, ao contrário do que tem estado a fazer-se, a exibir-se esta Pátria com oito séculos de História como um instrumento dócil, servil e subsidiado por qualquer congregação política de natureza multilateral (UE ou OTAN) forjada com objectivos estratégicos políticos, económicos, culturais e sociais próprios dos interesses expansionistas de potências com finalidades estratégicas nada identificáveis com as da História da população portuguesa, sobretudo, as daquela mais recente e, muito menos – disso pode estar-se certo – com quantas digam respeito ao futuro nacional.

Como se já não bastasse que a governação portuguesa aceite a dependência político-militar da OTAN que a própria Constituição da República indica como coisa indesejável, os portugueses foram obrigados a sujeitar-se – sem serem consultados – às exigências das potências continentais centro-europeias imaginadas, a si mesmas – onde vai a imaginação – como sendo, hoje em dia, as possíveis continuadoras dum passado de dominação mundial que, por bem, já terminou e terminou de vez com o final da Segunda Guerra Mundial e com a eclosão feliz, em todo o mundo, das Libertações Nacionais que, como assim, ditaram uma natural e consequente reorganização da vida mundial.

Com o fim das vantagens económicas resultantes da dominação e exploração colonial engendrada, mantida e reforçada pelas potências europeias o que restará para a Europa como fonte de receita própria, com valor económico significativo?

Se, no mundo, há, ainda, quem possa precisar de adquirir o que quer que seja de produção europeia – uma circunstância já muito pouco líquida – dentro de muitíssimos poucos anos quem continuará a precisá-lo?

Então como é que os grandes possidentes europeus pensam conseguir resolver a crise económica sem, desde logo, abalarem a sua actual estrutura sociopolítica e, também, abandonarem os seus sonhos de importância mundial? Hitler, no fim da carreira esperava ter uma arma nova para dar-lhe a vitória; agora, em Bruxelas, estar-se-á à espera algum produto novo cuja venda venha salvar o mundo velho?

(Continua)
publicado por Carlos Loures às 21:00
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