Domingo, 22 de Maio de 2011

Reflexão sobre a serena paisagem da ganância, por António Sales

 

 

 




Todos os dias deparamos com situações que conferem às relações sociais um carácter materializado por interesses desprovidos do mínimo de pudor e de carácter. Desde a criminalidade quotidiana em que bandidos vão para casa apesar de vítimas irem para o hospital, aos crimes de colarinho branco em que políticos, empresários, gente bem sucedida, chafurdam em negócios nas off-shores metendo milhões de euros ao bolso com ar tranquilo; os voluntários que ajudam nos mais diversos trabalhos sem pedir nada em troca até que alguém lhes dê um pontapé no cu. A sociedade actual elevou à mais alta potência a mentira, a ingratidão e a hipocrisia, desenvolvendo uma substancial quantidade de anti-corpos cuja missão é anular indivíduos tornando-os seres passivos de umbigo farto.


O sujeito idealista, generoso, pronto a sacrificar prazeres e afirmar a sua personalidade contra hierarquias estabelecidas está reduzido a pó de caca (mesmo dentro dos partidos políticos) se não respeitar normas de elogio e concordância que estabelecem o coro da glória venal. Discordar é blasfémia, recorrer à inteligência do eu (sem maiúscula) é ousadia, mostrar lucidez é vaidade, possuir capacidade de realização acima dos chefes é descaramento. A montanha é mais fácil de subir montado nas costas dos outros do que no esforço de si próprio.


Esta forma pouco recomendável de fazer carreira abençoando os amigos, acolhendo os compadres e pagando os favores leva à “moralização” de um Estado leproso que tudo contamina em nome de uma economia global assente no magnífico milagre do liberalismo das leis do mercado livre. O dinheiro, o poder económico, a do poder político, o cinismo, a majestosa importância da riqueza são factores provocatórios e desumanizantes da sociedade. Tal estado de coisas desperta a intolerância, o egoísmo, o culto individualista no pior sentido do termo.


Orgulho e arrogância colocam as suas máscaras. Escondem-se ambições e hegemonias antigas sob novas aparências. O réptil continua réptil, o imbecil continua imbecil, o oportunista continua oportunista. A mesquinhez humana – mais antiga do que a prostituição – conquista o estatuto da razão que a justifica na malha dos interesses instalados.


publicado por João Machado às 21:00
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Segunda-feira, 15 de Novembro de 2010

Lucros indevidos : é tarde senhores Bispos

Luis Moreira


Todas os dias há empresas que fecham. Todos os dias há gente com filhos que fica sem trabalho. Todos os dias os bancos e as empresas do regime anunciam lucros fabulosos.Como é que empresas que estão em investigação pela polícia e que já anuíram em pagar os impostos que sonegaram na esperança de não os pagarem, continuam a fazer negócios com o mesmo Estado que tentaram enganar?

Como é isto possível? Como é que as autoridades deste país permitem que estas empresas explorem desta forma os cidadãos, abusando das normas, leis, regulamentos que são da responsabilidade do Governo, deste e de todos os outros antes deste?

Como é que o capital accionista e os gestores das empresas absorvem uma cada vez maior fatia do rendimento gerado, sem que as autoridades ponham cobro a esta ganância, quando é certo que foi esta ganância que colocou a economia nesta situação?

A que título é que este governo ( e todos antes deste) injectam o dinheiro dos contribuintes para salvar empresas falidas de modo fraudulento e, agora, ainda por cima, são os cidadãos que pagam a crise e estes lucros cada vez maiores? A que título a banca não paga impostos? A que título as mais-valias do negócio de "interesse nacional" da PT não pagam impostos? A que título é que os gestores das empresas públicas, nossas, muito nossas, continuam a ganhar rios de dinheiro, num país pobre e na falência?

A que título é que gente amiga dos políticos e ex-políticos ganham pensões milionárias e continuam a ocupar lugares auferindo vencimentos vergonhosos tudo pago com o dinheiro dos contribuintes? Porque continuamos a pagar os combustíveis mais caros da UE? E a água mais cara? E a energia mais cara?

Os sindicatos apressam-se a controlar o rebanho dirigindo-o para o redil, não vá as pessoas pensarem que têm direito à indignação e tomarem de uma vez por todas as rédeas da sua vida nas próprias mãos. Os que têm as mordomias descem a avenida, consolados com a carreira assegurada e o vencimento para sempre, reinvindicando não se sabe o quê, neste país de gente desesperada.

Basta, é preciso dizer basta, é preciso irmos para a rua e dizer a plenos pulmões que estamos na nossa terra.Não são os senhores Bispos a pregar a caridadezinha ,tarde e a más horas, que mudam o quer que seja. Basta de mentiras e de vergonhas. Basta de compadrios, de amiguismos e de partidarismos. Basta de injustiça e de ganância.

Depois disto tudo há o quê a perder?
publicado por Luis Moreira às 13:30
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