Quinta-feira, 7 de Julho de 2011

7 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

 

Começámos com palavras de Caetano Veloso num concerto em Santiago de Compostela, em 21 de Julho de 2008 na Praça Quintana dos Mortos. Confirmando a afirmação do grande cantautor brasileiro, Elias Torres, Professor Titular da Universidade de Santiago de Compostela e presidente da Associação Internacional de Lusitanistas, numa entrevista ao Portal Galego da Língua – http://www.pglingua.org/ – usava como metáfora uma situação de um conto de Álvaro Cunqueiro: «a Galiza está sentada sobre um tesouro e nom o sabe».

 

Esse tesouro a que o Professor se refere é, obviamente. a língua galego-portuguesa, um idioma falado por cerca de 240 milhões de pessoas, ultrapassando línguas de grande prestígio, como o francês, o alemão e o italiano. A nossa língua comum é a terceira mais falada nos continentes africano e europeu e, segundo projecções baseadas na evolução demográfica dos oito Estados e nove nações (com a Galiza) que têm o idioma como língua oficial, deverão totalizar 350 milhões de habitantes em 2050. Como Elias Torres salienta e podereis escutar no vídeo abaixo, a Galiza, não tendo contenciosos históricos nem com Portugal nem com nenhum dos outros países integrantes do espaço lusófono, poderá constituir um «magnífico ponto de encontro». Ademais, acrescentamos nós, a Galiza é o berço do idioma, embora tenha sido no Sul, em Portugal, que ele se tornou autónomo da matriz neolatina e, furtando-se à aculturação castelhana, se transformou na língua universal que hoje é - com Fernão Lopes, com Gil Vicente, Camões, António Vieira...

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00
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Quarta-feira, 20 de Abril de 2011

"Little Galiza", por Carlos Loures

 

 

 

 

 


 

 

 

No século XIX e no princípio do XX nem todas as casas de Lisboa tinham água corrente. Trabalho penoso que os portugueses não o queriam fazer, o dos “aguadeiros”; os galegos aproveitaram para criar aquilo a que chamaríamos hoje um «nicho de mercado». Aquilino Ribeiro em Lápides Partidas (1945), refere um galego, do Porriño, que escreve à mulher: «A terra é boa, a xente é tola, a auga é deles e nòs vendemoslla». Aliás, na literatura portuguesa da primeira metade do século XX, os galegos eram parte integrante da paisagem humana, principalmente em Lisboa. Eduardo Noronha, em Memórias de um galego, tem uma personagem que diz «Os portugueses vão para o Brasil, nós vamos para Portugal, é mais perto, melhor caminho e ganha-se mais dinheiro». Entre muitos outros, Fernando Assis Pacheco pertencente a uma família oriunda da Galiza e José Saramago, escreveram sobre galegos. Uma lista de referências literárias a tão simpática gente, não cabe nas características deste texto por demasiado extensa e já existe um bom trabalho, o de Rodrigues Vaz, Os Galegos nas Letras Portuguesas, (Pangeia Editora, Lisboa, 2008)

 

Nasci em plena Baixa de Lisboa e, desde que me lembro, sempre encontrei galegos por perto. E as minhas primeiras recordações remontam a um tempo em que as feridas da Guerra Civil de Espanha ainda sangravam naqueles anos quarenta e, portanto, ainda havia imigração galega, pese embora a pobreza que grassava aqui por Portugal. A presença desses imigrantes era notória. Na minha rua, a dos Douradores, quase todos os restaurantes eram de galegos. Aniversário, dia festivo ou por qualquer extravagância naqueles tempos de economia apertada, lá íamos, eu e os meus pais, até à Antiga Casa Pessoa, ao Bessa, ao Guimarães. Por vezes saíamos da nossa rua e íamos até ao João do Grão. Éramos amavelmente atendidos por empregados com a característica pronúncia. Nunca considerámos os galegos como estrangeiros. Faziam parte da cidade, lisboetas como todos os outros. Mas ali, a Baixa, sobretudo as ruas mais modestas – Madalena, Fanqueiros, Douradores, Correeiros, Sapateiros… - concentravam comércios (tascos restaurantes – em casas de andares superiores, em quartos e partes de casa alugados viviam famílias galegas. Era uma pequena Galiza, a «little Galiza», como diriam os norte-americanos.

 

Na escola primária tive diversos colegas galegos ou galegos de segunda geração e no Ateneu, onde estudei, também os meus dois melhores amigos eram, em graus diferentes, descendentes de galegos. O José González, filho de galegos, ambos do Porriño e que terão vindo já adultos e casados. O José já aqui nasceu. Gente bem colocada, com uma excelente alfaiataria. O Jaime Camecelha, que, mais do que um amigo, foi para mim como um irmão, (faleceu em 2003) era descendente bastante mais remoto de uma família galega vinda, salvo erro, de Pontevedra para Portugal há muito tempo, talvez nos anos negros do século XIX. Era neto de Alfredo Camecelha, o primeiro atleta a ganhar uma prova para o Benfica (depois transferiu-se para o Sporting). Num torneio realizado em 1909, lançou o peso e fez também parte da equipa de luta de tracção nesse mesmo torneio. Ainda o conheci, na casa onde o Jaime vivia com os pais e irmãos, numa festa de aniversário por meados dos anos 50, tocando viola e cantando. Nascido em 1880, teria cerca de 75 anos, conservando uma grande jovialidade. Já nascera em Lisboa. Seu pai, sim, era um imigrante, nascido no Porriño. Penso escrever uma pequena biografia deste atleta. No grupo do café Gelo, havia um poeta galego de 2ª geração – o José Carlos González que colaborou no nº 2 da revista “Pirâmide”, de que já aqui falei. Era um bom poeta, com uma linguagem surrealista ou surrealizante.

 

 

publicado por João Machado às 21:00
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Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2011

Sempre Galiza! O galego na TV portuguesa

coordenação Pedro Godinho

 

 

Trazemos aqui hoje um dos episódios do programa da televisão pública portuguesa (RTP1) sobre a língua portuguesa - Cuidado com a língua - sobre a relação entre o português e o galego. Apresentando um português padrão, de Lisboa, quando refere exemplos de diferenças o programa esquece-se de dizer que, nalgumas, essa diferença não existe em regiões do Norte de Portugal, sobretudo no Minho - sul da raia galega.

 

Televisão portuguesa que deveria ser a primeira interessada em responder positivamente ao anseio de muitos galegos que a querem ver do outro lado da raia. Não se compreende a subserviência das entidades portuguesas que para não indisporem Espanha, a Castelhana não prosseguem os laços históricos e culturais com a Galiza, que os deseja.

 



publicado por Pedro Godinho às 09:00
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Sexta-feira, 4 de Fevereiro de 2011

Sempre Galiza! – Um conto triste, de Daniel Castelão

coordenação de Pedro Godinho

 

 

 

Castelão havia de ser aqui convocado. Até porque foi a Daniel Castelão que fomos buscar a inspiração para o nome desta secção “Sempre Galiza!”, descaradamente copiado da sua importante obra Sempre em Galiza em que liga literatura, política e galeguismo.


Um homem de pensamento livre e nome marcante do nacionalismo galego, bateu-se pelas suas ideias e conheceu o exílio. Castelão é um dos “bons e generosos”:

 

Artista - desenho, caricatura, pintura – e escritor. É um dos seus contos, do livro Cousas (1926), que aqui transcrevemos hoje. Voltaremos a Castelão.

 

 

Vou contarvos un conto triste

 

Vou contarvos un conto triste.


A pouco de casar, doña Micaela comenzou a facer camisirías; mais a súa ilusión abateuse de súpeto e con bágoas nos ollos meteu nun frasco de augardente o froito merado dos seus amores.


Doña Micaela escribeu nun papeliño: “Adolfo, 12 de maio de 1887″. Pegou o papeliño no frasco e, dispois de bicalo tristemente, gardouno no armario das sabáns de liño.


Non vos riades, porque o conto é triste.


Aínda non decorreran catro meses e doña Micaela comenzou a traballar novamente nas camisirías. A boa fidalga regalábase cavilando no herdeiro que xa estaba en camiño do mundo, e por segunda vez doña Micaela ollou murchas as súas ilusións de nai, e con fonda tristura meteu en augardente o novo froito dos seus amores.


Doña Micaela escribeu: “Rosa, 7 de xaneiro de 1888″. Pegou o papeliño no frasco e moi amargurada gardouno no armario das sabáns de liño.


Non vos riades, porque o conto é triste.


A probe señora chorou tres veces máis e meteu en outros tantos frascos de augardente un “Pedro”, un “Ramón” e unha “Alicia”.

 


 

Non vos riades.


A boa fidalga decatouse de que non aloumiñaría endexamais un fillo verdadeiro e cos seus grandes azos maternals adicou a vida enteira ó coidado garimoso dos frascos de augardente. Triste vida!


Non; non vos riades, porque o caso é triste.


Cando unha fanada ilusión cumplía anos doña Micaela remudáballe o augardente. Tódolos días bicaba os frascos e arrombaba os laciños de seda que cinguían as vincas dos frascos de “Rosa” e de “Alicia”.


A boa fidalga chegou a vella e tiña criadas de tanto ben que andaban coas chaves dos armarios e gobernaban a casa.


Un día chegou diante de doña Micaela unha das criadas. Viña tan cortada que non podía falar; mais a probe muller tirou consigo no chan e pouco a pouco foi confesando antre saloucos:


- Perdón, miña ama! A¡, qué desgracia, señora! 0 señorito “Adolfo” caeume das mans e rompeuse.


E no intre doña Micaela esmoreceuse para sempre.

publicado por Pedro Godinho às 09:00
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Sexta-feira, 28 de Janeiro de 2011

Um galego Galego

coordenação de Pedro Godinho

 

Ricardo Carvalho Calero é um nome forte na literatura, língua, cultura e política galegas.Foi também um combatente. Por isso, sofreu na ditadura franquista.. A clareza e frontalidade das suas opiniões tornam-as incómodas para muitos, acomodados com uma submissão ao castelhanismo. Talvez por isso, a relutância oficialista em reconhecer-lhe institucionalmente o devido valor nas letras galegas.


 

 

 

O reintegracionismo filho político do galeguismo


"Algumas pessoas desinformadas tendem a apresentar-me como um inovador, como um revolucionário polo que se refere ao conceito da nossa língua, mas as minhas opiniões, expressadas naturalmente conforme aos meus próprios parâmetros pessoais, são sem embargo aquelas opiniões, aqueles critérios que tradicionalmente se professam dentro do galeguismo. Uma doutrina revolucionária é, por exemplo, a de que o Galego é uma língua que deve ser considerada absolutamente independente dentro das Línguas da Românica. Isso sim pode ser considerado inovador, ainda que com um tipo de revolução completamente contrário à realidade da experiência histórica [...] eu realmente não creio que se me pode considerar um dos pais do reintegracionismo. Mais bem sou um dos filhos, por que o reintegracionismo nasce cientificamente com o Romanismo, e politicamente com o Galeguismo."


em “O português na Galiza”, em Letras galegas, AGAL, 1984 (texto de 1983)

 

 

Um galego que seja galego


"De nada nos serviria que todo o mundo falase e escrevese en galego se ese galego [...] era realmente un castellano agalegado [...] Non abonda con que se fale galego, é que é preciso que ese galego sexa galego, é dizer, que non sexa un produto que con nome de galego nos apresente un dialecto do castellano. Asi que esta é a significazón que ten o esforzo que están realizando muitos intelectuais galegos en pro dunha reintegrazón do noso idioma no seu sistema próprio [...] apesar do decreto de unificazón ditado para impoñer unha normativa oficial, existe un sector importante do país [...] que insisten na necesidade de ter en conta o galego histórico, e que non cren que se poda normativizar e normalizar a nosa língua sobre a base da realidade dialectal dos tempos modernos, que é consecuéncia dun proceso de degradazón do noso idioma, producido por circunstáncias históricas de sobra coñecidas."


em Conversas em Compostela com Carvalho Calero,1986

 

 

Nom sei se matei

do livro Futuro Condicional

 

Nom sei

se matei.

Estivem

na trincheira.

Nom vim

o meu

inimigo.

Disparei.

Nom sei

se matei.

Fum ferido.

Mas

nom

sei

se

matei.

Toupa cega,

nom tenho outro olho

que o olho

do meu fusil.

Se quadra o tem visto

o meu

inimigo?

Olhadas de fogo

cruzam-se entre

os dous:

eu

e o meu inimigo.

Fum ferido.

Eu

nom

sei

se

matei.

 

 

Saudade dumha voz

do livro Pretérito Imperfecto

 

Assi,

assi cantava ela.

Polo meu coraçom

passa tam fugitivo o seu cantar,

que a lembrança

nom o pode apreixar.

Assi cantava ela,

com aquela voz que era monlho de flores

molhado na água morna da tristeza.

Que cabelos, que vam, que beiços tinha?

É do esqueço. Somente

a sua voz morta fica

no cadaleito do meu peito, acesa.

Perdêrom-se-me os olhos, e o cabelo, e o vam.

Ficou-me só a sua voz,

o eco da sua voz,

sem verba, sem contido.

O seu cantar que cantar era?

Polo meu coraçom

pasa como umha maina bris de outono

remexendo coas asas a arboreda.

Como canta essa bris,

assi cantava ela,

assi era a sua voz.

Aquela voz que era feixe de estrelas

esparegidas polo céu da dor.

 

 

Conhecermos Carvalho Calero


Versão digital do caderno publicado pela Fundaçom Artábria, reproduzindo textos, biografia e bibliografia de Carvalho Calero.

 

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publicado por Pedro Godinho às 09:00
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Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010

Sempre Galiza! - coordenação Pedro Godinho: Síntese do reintegracionismo contemporâneo (4), por Carlos Durão



Síntese do reintegracionismo contemporâneo (4)

por Carlos Durão


(continuação)

Quanto mais nos achegamos aos nossos dias, mais numerosos são os testemunhos, e mais forte é o movimento, prematuramente rejeitado pelos pessoeiros do oficialismo. De facto, o “lusismo” fora já descartado por Carlos Casares por fins dos anos 70 no jornal La Voz de Galicia como “felizmente já superado”, considerando “peregrina” a proposta de R. Lapa (vide infra); mas anos depois também considerava “extravagante” a ortografia oficialista (1999, 902: 25); e Darío Xohán Cabana escrevia pelas mesmas datas, no semanário A Nosa Terra, que isso era uma “enfermidade infantil” do nacionalismo. (E o que anos mais tarde seria presidente da RAG, X.L. Méndez Ferrín, acusou os reintegracionistas de traidores à pátria, e de estarem em contra do idioma, o mesmo que a pior reação espanholista.)

Para designar este conceito empregaram-se os termos seguintes: “grafia renovada”, “reintegrar”, “língua franca galaicoportuguesa”, "unificação”, “novo idioma", unificação ortográfica”, “reabilitação literária”, “língua galaico-portuguesa”, “reintegração”, “recuperação literária”, “integração”, “integracionismo”, “integracionista”, “incorporado”, “mesma língua”, “reincorporação”, “ortografia comum”, “língua portuguesa”, “integração linguística galego-portuguesa”, “restaurar”, “ortografia unificada”, “rectificação”, “devolução”, “resgate”, “unificação ortográfica galego-portuguesa”, “galaico-português”, “galaicoportuguês”, "galego ou português", “regeneração”, “regeneracionismo”, “reintegração galego-portuguesa”, “recuperação”, “galego etimológico-reintegrado”, “reingresso”, “reinserção”, “lusistas-reintegracionistas”, “reintegracionismo/lusismo”, “luso-reintegracionismo”, “lusoreintegracionismo”, “restituição”, “revitalização”, “recuperação do idioma”, “recuperacionista”, “reintegrante”.

Também se empregaram para este campo semântico os termos “galego-português”, “galegoportuguês”, “língua galécio-portuguesa”, “português galego”, “português da Galiza”, “portugalaico”, “língua galaico-portuguesa”, “lusofonia”, “galaicofonia”, “portugalego”, “porto-galego” e “galeguia” (“lusismo” e “lusista” foram amiúde empregados com sentido pejorativo pelos isolacionistas para tentar desacreditar este crescente movimento diante da opinião pública).

Foi M. Rodrigues Lapa o primeiro que usou o termo “portugalego”, como abreviatura de português galego: “galego-português ou portugalego” (1977); “fala galega, mas língua literária portuguesa da Galiza sob o nome de portugalego” (1979: 127). Posteriormente empregaram-no R. Carvalho Calero: “galego-português, portugalego, galuso, galego ou português” (1983.1984: 16); A. Gil Hernández: “galego (português ou portugalego)” (1988, 14: 197), e Joaquim Reis: “galego-português [...] Ou portugalego, que é o mesmo” (1997, 785: 27). R. Lapa também  empregou “Portugaliza” por vez primeira: "Para designar isso mesmo, em termos menos sublimados, nós criámos uma palavra composta que vem a dar no mesmo: Portugaliza.  Isto é, a união de dois países irmãos, estreitamente ligados, mas em perfeita liberdade" (1982.1985: 37) (anteriormente empregara o termo “Portugalicia” pelo menos uma agência de viagens entre Londres e Galiza e Portugal).

Também Rodrigues Lapa empregou o termo “galeguia”: “Perante esta evidência, demonstrada a galeguia (que bonito nome!) do português de todos os quadrantes, perguntamos se é justa a opinião daqueles que se empenham em descobrir diferenças no génio dos dois povos irmãos” (1981, 74: 500). Posteriormente foi empregado pelo escritor brasileiro Luiz Ruffato para designar a lusofonia: “no meu caso, compreendi perfeitamente o galego -mas essa felicidade, que chamei de galeguia (galegria), dá um tom de suavidade muito particular” (2005, 83/84: 241), no VIII Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, Compostela, 2005 (21 julho), e numas Jornadas organizadas pela fundação Via Galego, em 2007; e ainda: “sabemos que a língua com que nos expressamos, antes de ser portuguesa, é galega - a Galiza é o berço do que se convencionou denominar, por injunções históricas, de língua portuguesa. Então, na época, propus que ao invés de levantarmos a bandeira da lusofonia, passássemos a falar em galeguia - que devolve o sentido original da raiz da nossa língua, relativiza o peso do passado colonial e reincorpora, com os devidos créditos, a Galiza a este universo comum” (2007, 89/90: 214).

Foi, com efeito, o professor Manuel Rodrigues Lapa, que se considerava galego de Anadia, um vulto fulcral na orientação do reintegracionismo. Cedo demonstrou o seu interesse, apaixonado até, pelos problemas do galego, sempre livre de qualquer “imperialismo linguístico” de que foi injusta e miseravelmente acusado pelo oficialismo galego: por exemplo por X. Alonso Montero, embora este aconselhasse ao crítico literário: “Non te esquezas do duro traballo que é darlle orde literario a un idioma que se presentaba sin elo. Non te esquezas que no papel non se pode poñer o lenguaxe tal como o ouvimos na boca do pobo. Haberá que pensalo e vivilo con mentalidade elevada, con mentalidade culta” (1951: 71). Mas para Alonso Montero o galego nasceu no século XIX (1958/1959). Para X.L. Méndez Ferrín o galego nasceu com o Pe Sarmiento (2006).

Já nos anos 30 escrevia Lapa: “Para esta indispensável aproximação é necessário em primeiro lugar reformar a ortografia galega no sentido da nossa ortografia oficial, sempre que isso seja possível, que quase sempre o é” (1932.1979: 20); “O acordo filológico entre as duas regiões seria coisa facílima, não precisando sequer da intervenção oficial: bastava um entendimento entre o Centro de Estudos Filológicos e o Seminário de Estudos Galegos” (1935, 425: 261-262); “Afinal, parece que estamos todos de acordo: fala brasileira, mas língua portuguesa do Brasil, com as singularidades próprias de cada uma, mas sem quebra da unidade fundamental [...] Com efeito, aquilo que atrás dissemos sobre o caso brasileiro, poderíamos repeti-lo quase nos mesmos termos a respeito do galego: fala galega, mas língua literária portuguesa da Galiza sob o nome de portugalego, isto é, com as peculiaridades próprias de cada uma, sem prejuízo da unidade fundamental [...] O português literário, sem garantia de propriedade, é privilégio de três países, Galiza, Portugal e Brasil, a que se juntaram agora mais cinco nações africanas emancipadas” (1979: 125/127/128); “não nos esqueçamos de que uma língua falada não é nunca língua de todo o povo; é de uma região, de uma profissão, de uma classe; só a língua escrita é uma língua geral, -no espaço e no tempo” (1979: 126); “Sempre considerei a Galiza, essa terra maravilhosa, desgraçada e incompreendida, como sendo a minha própria terra; e historicamente e geograficamente assim é, pois estou dentro dos limites da velha Galécia, que chegava pelo sul ao rio Mondego” (1979).

(continua)     
publicado por estrolabio às 10:00
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Quarta-feira, 10 de Novembro de 2010

Sempre Galiza! - coordenação Pedro Godinho: Síntese do reintegracionismo contemporâneo (3), por Carlos Durão

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (3)
(continuação)

A partir dos anos 50

Mas e é preciso aguardarmos aos anos 50 para vermos renascer esta tradição esmagada, desta vez por mão do poeta Ernesto Guerra da Cal, exilado em Nova Iorque, a quem justamente podemos considerar o iniciador do reintegracionismo contemporâneo, com os seus seminais poemários Lua de Além-Mar e Rio de Sonho e Tempo (1959/1963). Guerra da Cal já antes participara “como galego” em reuniões preparatórias a respeito do Acordo ortográfico de 1945, no Rio de Janeiro, como testemunha Rodrigues Lapa: “Pensa ele [Guerra da Cal], e muito bem, que devíamos fazer uma reunião entre portugueses, brasileiros e galegos, para lançar as bases de uma reforma ortográfica” (1958); e também no Congresso Internacional de Estudos Portugueses e Brasileiros, na Bahia, em agosto de 1959; e no I Simpósio Lusobrasileiro sobre a Língua Portuguesa Contemporânea na Universidade de Coimbra em 1967.

Na edição de Galaxia de Lua de Além-Mar, diz o autor (cit. pela ed. definitiva): “Consideramos, pois, iniludível a nossa reintegração no perímetro e nas correntes universais do ‘mundo que o português criou’ aquém e além-mar. O verdadeiro meridiano espiritual da Galiza passa por Lisboa e pelo Rio de Janeiro - e quanto antes reconheçamos esta verdade, antes se abrirão à nossa antiga voz recuperada as possibilidades de ecoar fora dos restritos confins comarcais nos que nos estamos fechando, cegos às vastas perspectivas que temos diante dos olhos”. Curiosamente esta nota do autor, por lapso aparece simplesmente na edição de Galaxia como “Nota”, o que a tornava atribuível aos editores, que ficariam assim como “lusistas” avant la lettre, embora no “Índice” esteja consignada como “Nota do autor”; é importante sinalar isto porque Ramón Piñeiro tinha a certeza, segundo Da Cal, “de que a Censura não deixaria passar uma tão radical declaração de “lusismo”. Mas, para surpresa dele - e minha - a ‘Nota’ e o livro passaram” (p. 44 da ed. da AGAL).

Reitera a sua posição em publicações posteriores: no “Antelóquio indispensável” do seu Futuro imemorial (1985.1986, II: 9-11): “Eu, sem pejo nenhum, afirmo aqui o meu orgulho de ter sido o primeiro escritor galego, desde o Ressurgimento, a levar a vias de facto essa tão repetidamente desejada aproximação da nossa língua escrita ao português [...] Em 1959 fui de facto “iniciador dessa reintegração” no meu poemário Lua de Alén-Mar, com o que abri fogo nessa batalha [...] Esse apelo não caiu em saco roto. Nele teve princípio a corrente “reintegracionista” contemporânea - na que hoje enfileira o melhor e mais capacitado da nossa mocidade. /[...] os que neste momento detêm o poder autonómico - clientes e agentes do Estado Central [...] Esse é o bando da “Xunta de Galicia” [sic], que, de colaboração com algumas entidades “isolacionistas” esclerosadas, engenhou e “oficializou”, de maneira maleficamente subreptícia, umas aberrantes Normas cujo evidente propósito é condenar o galego ao languidescimento como dialecto - do espanhol [...] /eu tenho a convicção de que a única defesa do galego contra a política linguicida dos “espanholizantes” descansa na progressiva adopção do padrão luso-brasileiro que os “reintegracionistas” perfilham”.

Galaxia publicou ainda sem objeção o segundo poemário dacaliano, “onde o lusismo gráfico era mais sistemático e acentuado” (p. 44 ed. AGAL), mas posteriormente a revista Grial publicou o seu artigo “As cantigas de Pero Meogo” (1975, 49: 378-383) com grafia castelhana deturpada (em partes mista e anárquica), e quando Del Riego incluiu na sua Antologia de Poesia Galega poemas dacalianos em grafia “dialectal” (44 AGAL) sem consultar o seu autor, arrefeceu de vez a sua relação com aquela Editora. Em todo o caso, aquela ‘Nota’ “representava uma insurgência doutrinal: [...] A reintegração nesse âmbito cultural” (44 AGAL). “É um facto que a língua irmã contém, no seu nível rústico, quase todo o galego. Há que fazer - e isso é tão fácil! - que o galego contenha, no seu nível culto, o português” (p. 50 ed. AGAL). A sua atitude fica assim resumida: “A Galiza é um país semiconquistado e eu não posso conviver com uma Galiza mediatizada pelo Estado central. Estou aqui numa Galiza livre, onde falo a minha língua, estou rodeado de pessoas que falam a minha língua e só tenho que ouvir de quando em vez um turista falando castelhano. Mas se for à Galiza, tenho que estar a ouvir os galegos a preferirem, muitos deles, serem espanhóis de quarta classe do que galegos de primeira” (1983).

Também de 1959 datam os testemunhos de Valentim Paz-Andrade, quem falava em “reabilitação literária” e em ”língua galaico-portuguesa”.  Com efeito, em Galicia como tarea (1959) diz: “dada la identidad estructural que conservan el portugués y el gallego, recíprocamente inteligibles. Se trata de una lengua con la cual pueden entenderse millones y millones de personas, aunque lo hablen con distinto acento o escriban de forma diferente cierto número de vocablos” (capítulo 2, apartado 3, “Área de expansión exterior”, p. 139); “no puede parecer razonable cualquier tendencia que reduzca el problema a la rehabilitación literaria de una lengua retardada en su forma escrita, haciendo caso omiso, o poco menos, de la evolución que experimentó durante siglos de uso múltiple y pleno, fuera del área de origen” (cap. 13, p. 146). Volta ao tema em O porvir da lingua galega (que inclui o seu artigo “A evolución trans-continental da lingua galaico-portuguesa”) (1968, 8: 101): “¿O galego ha de seguir mantendo unha liña autónoma na sua evolución como idioma, ou ha de pender a mais estreita similaridade co-a lingua falada, e sobre todo escrita, de Portugal e-o Brasil? Os termos da custión non deben ser tomados no senso de que o galego, pra marchar en maior irmandade formal co portugués, teña que deixar de ser o que é.” (p. 131) E mais tarde em La marginación de Galicia (1970): “la identidad con la lengua de Portugal había de arrancar forzosamente de los orígenes./ Ni aún bajo el período de mayor depresión social y cultural de Galicia resultó oscurecida la idea de tal unidad primigenia. Las pocas figuras que descollaron sobre el nivel de su época no dejaron de proclamar ‘que el idioma gallego y el lusitano son uno mismo’” (cap. 8, “La expansión transcontinental del idioma”, p. 101); “La circunstancia de que la evolución morfológica entre la rama gallega y la lusitana no haya sido sincrónica representa menos de lo que parece” (p. 103). Também em Cen chaves de sombra (1979), e em A galecidade na obra de Guimarães Rosa (1978, II: 219-233): “unha lingua que aínda se fala hoxe no grande sertao, como se fala na Galiza” (p. 104).

Para Álvaro Cunqueiro trata-se também da “unificação ortográfica” (1969/1970 ), utilizando a expressão “em pé de igualdade” (jornal El Progreso, Lugo, 1961); e declara: “Tenemos que ponernos en forma para un «parlamento total» de la lengua gallega, para un pie de igualdad con los otros de nuestra misma matriz lingüística, en Portugal y en el Brasil./ Nosotros tenemos que ir, inevitablemente, con los portugueses y los brasileños hacia una unificación ortográfica” (1969). Também em ‘A recuperación literaria do galego’ (1973).

(continua)
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Terça-feira, 9 de Novembro de 2010

Sempre Galiza! - coordenação de Pedro Godinho: Síntese do reintegracionismo contemporâneo (2), por Carlos Durão


Síntese do reintegracionismo contemporâneo (2)


(continuação)


Nos anos 20, Vicente Risco (1921, 7: 11) falava em “reintegração” para a cultura galego-portuguesa, afirmando na revista NÓS que “galego e portugués son dous dialectos d’unha mesma lingua” e que “o galego e o portugués son duas formas do mesmo idioma” (1922, 160: 1).  Na sua Teoria do nacionalismo galego diz: “o galego e o português são duas formas dialectais do mesmo idioma” (1966: 22; 1981: 60).  E anos depois, quando Guerra da Cal publicou na editora Galaxia o seu primeiro poemário inaugural do moderno reintegracionismo, aprovava a grafia renovada dacaliana (1960).

Também nos anos 20, Antão Vilar Ponte (1971: 211) referia-se à “unificação”: “Galiza considera o portugués como o galego nazonalizado e modernizado”; “¿O es que todavia hay quien piensa [...] que nuestro idioma vernáculo y el idioma de Portugal no son uno y lo mismo [...]? [...] su unificación es tan fácil, si no más, que la realizada por flamencos y holandeses con el idioma común” (1971: 345-346); “una lengua eufónica, dulce, rica, hermana gemela, por no decir madre [da portuguesa]” (1971: 143); “no hay palabra netamente portuguesa que no sea netamente gallega y viceversa” (1971: 152); “sintiéndonos allí [em Lisboa e no Porto], por lo que a la expresión idiomática respecta y aun por lo que hace relación a ciertos usos y costumbres, casi igual que en nuestra tierra, y desde luego más connacionales, a causa de afinidades de raza, de los portugueses que de los madrileños y andaluces. Observando entonces cómo el gallego, transformado al influjo de evoluciones pertinentes de un antiguo nacionalismo, afluía lo mismo a los labios de la aristocracia que de la mesocracia y del pueblo” (1916: 38); “Se ao longo da Historia de Portugal estivese perdida sua independenza, nen a máis pequena sombra do “ser” galego eisistiría hoxe. Mentras eisista Portugal con caraiterísticas propias, haberá razón na Galiza pra loitar pola reivindicazón da ialma nazonal” (1971: 218); e confia na vitória final: “Las minorías conscientes cuando operan con tenacidad sobre cosas vivas, consubstanciales con el progreso, casi siempre alcanzan victoria” (1971: 107-108).

As Irmandades da Fala históricas (de 1916) sustinham: “todos estamos obligados a trabajar para que, en un próximo futuro, se llegue a una unificación lo más completa posible en la ortografía gallega por parte de nuestros escritores, hasta conseguir incluso identificarla con la portuguesa en la mayoría de los casos, toda vez que se trata, al fin y al cabo, de una misma lengua” (1933.1970 : 8), e: “no existe término netamente portugués que no sea gallego, y viceversa” (ibid., p. 5; foi importantíssimo o teimudo labor das IF por recuperar o nome patrimonial da nossa Terra, Galiza); similar orientação tinham os membros da Geração Nós (1920), e do Seminário de Estudos Galegos (1923): este edita Algunhas normas pra a unificazón do idioma galego (1933.1970) (em cuja parte expositiva afirma que “o galego e o português são originariamente a mesma língua”) e Engádega ás normas pra a unificazón do idioma galego (1936).

A orientação editorial de A Nosa Terra nos anos anteriores à ditadura de Primo de Rivera insiste na defesa da unidade da língua e na necessidade urgente de unificar e “reintegrar” (por exemplo em 31 maio 1922, p. 2, no 164, editorial; e antes em textos com ortografia etimológica de A. Vilar Ponte, p.ex. em “Discursos a nazón galega”, ANT, no 76, 25 dezembro 1918, p. 1, com o emprego correto de g e j); como mais tarde a da revista NÓS: “Nós, que de cote se ten preocupado pol-a colaboración espiritual de portugueses e galegos, non pode por menos de acoller con entusiasmo as iniciativas do Dr. Rodríguez Lapa, mesmo na ideia qu’apunta d’un acordo luso-galaico pr’a reforma ortográfica, para nós tan indispensábele” (1933, 115: 134) (a revista Nós, ano 17, n.º 135, pp. 46-50, 1935, recolhe a palestra do poeta brasileiro Guilherme de Almeida, “Galizza, Pátria da Canção”, na que emprega o vocábulo reintegração, ao lado de reconhecimento e repatriação). E ainda na contemporânea têm cabimento as denominações reincorporação/ recuperação/ reintegração/ galego etimológico-reintegrado (“Normas deontológicas e de redação e estilo” de ANT, março 1981, e fólio 30 do Livro de Atas da Junta Universal de Acionistas de Promoções Culturais Galegas, 28 abril 1982; vide J.L. Fontenla, 1986: 66).

Por aquelas mesmas datas Rafael Dieste falava de “língua franca galaicoportuguesa”: “Existe entre o galego e mais o português tão estreita afinidade que quanto mais português é o português e mais galego é o galego, mais vêm a se assemelharem” (1926: 34). Evaristo Correa Calderón mencionava a "unificação” e o “novo idioma": “Esta unificación con el portugués facilitaría la expansión de la cultura galaica” (1929: 237); “El gallego de hoy es la misma lengua de los clásicos portugueses” (236); e ainda se refere a “esa patria espiritual formada por Portugal y Galicia, en la cual se habla la misma lengua” (234). Para Roberto Blanco Torres precisa-se uma “unificação ortográfica”: “Hay dos corrientes en las normas ortográficas de nuestra lengua vernácula: una la fonética, la rutinaria, influida por el predominio del castellano, y otra la que arranca de su mismo genio originario, de sus fuentes prístinas, la etimología como atributo lógico y esencial [...] porque es la ortografía natural de la lengua gallega, y no se comprende cómo todavía haya en esto no sólo dudas y vacilaciones, sino pareceres adversos, fundados en la rutina y en la ley del menor esfuerzo, sin base científica alguna” (1930: 70). E também para Johán Carballeira é necessária a “unificação”: “Eu son o mesmo que en 1927 propugnaba pola unificación da lingua galega na grafía sobre bases etimolóxicas. É a miña convinción de hoxe e de sempre” (1932). Num artigo de 1922 manifesta João Jesus Gonçales: “Somos galegos e somos lusitanos: relixiosamente, etnoloxicamente, filoloxicamente, por enriba de todas as pequenas e vulgares opinións.” (2008)

R. Otero Pedraio diz: “Galicia, tanto etnográficamente como geográficamente y desde el aspecto lingüístico, es una prolongación de Portugal; o Portugal una prolongación de Galicia, lo mismo da” (1931.1978: 103), e: “Por algo nuestra lengua es la misma de Portugal” (142, 24 maio 1933), e ainda: “A língua deve voltar a ser a mesma” (1977:131). Álvaro das Casas escreve na revista Alento, da que foi diretor: “cuido que deveríamos sujeitar-nos no possível ao português, tanto mais que, na maior parte desta possibilidade, ficaríamos mais dentro das nossas formas originárias [...] seria mui conveniente uma juntança de filólogos lusitanos e galegos que unificassem, no possível, as nossas línguas” (1934, 5).

Para João Vicente Biqueira não há dúvida de que “O galego, não sendo uma língua irmã do português, senão uma forma do português (como o andaluz do castelhano), tem-se que escrever, pois, como o português. Viver no seu seio é viver no mundo: é viver sendo nós mesmos” (1974: 180).

Também na diáspora (antes americana, depois europeia, p.ex. o Padroado da Cultura Galega, Caracas; pessoas relacionadas com o Padroado da Cultura Galega, México; Associaçom Civil “Amigos do Idioma Galego”, Buenos Aires; pessoas relacionadas com a Casa Galicia de Nova Iorque; Grupo de Trabalho Galego de Londres; Grupo de Roma; Renovação-Embaixada Galega da Cultura, Madrid); nela temos testemunhos deste movimento: o livro Grafia Galega, de Fuco G. Gomes (Havana, 1926); a revista argentina A Fouce (“órgao da Sociedá Nacionalista Pondal”); textos de Ricardo Flores “segundo um posicionamento favorável à causa da soberania e do Galego-Português, com coerência no uso da grafia histórica do idioma desde a década de 30, sendo um vulto representativo desta tendência” (2003, 75/76: 234-235); e mais tarde em editorial do jornal Pátria Galega: “a maior parte da intelectualidade galega, e a bem mais activa, tomou partido polo reintegracionismo, tal como em verdade já tinham feito os grandes devanceiros do galeguismo” (Buenos Aires, outubro 1982).

A Guerra Civil de Espanha matou aquele agromar, mas no exílio escreve A.R. Castelão: “O galego é un idioma estenso e útil, porque -con pequenas variantes- fálase no Brasil, en Portugal e nas colonias portuguesas” (1944.1974: 41-42), e também: “A nosa língoa está viva e frorece en Portugal” (241). E em carta de 1944 ao historiador espanhol Sánchez Albornoz: “Yo deseo que en Galicia se hable tan bien el gallego como el castellano y el castellano tan bien como el gallego. Deseo además que el gallego se acerque y confunda con el portugués, de modo que tuviésemos así dos idiomas extensos y útiles” (1975, 47: 101).

(continua)

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Segunda-feira, 8 de Novembro de 2010

Sempre Galiza! - coordenação de Pedro Godinho: Síntese do reintegracionismo contemporâneo, por Carlos Durão



Galiza Sempre! inicia hoje a publicação no Estrolabio do notável ensaio de Carlos Durão, Síntese do reintegracionismo contemporâneo, sobre as raízes e razões do reintegracionismo galego.
Para possibilitar uma leitura sequencial deste ensaio do professor Carlos Durão, e durante a sua publicação, Sempre Galiza! passará a ter uma presença diária.
A não perder, todos os dias, no Sempre Galiza!, a publicação da Síntese do reintegracionismo contemporâneo, de Carlos Durão.



Síntese do reintegracionismo contemporâneo

por Carlos Durão

(Nota prévia: O presente trabalho foi concebido com o alvo eminentemente prático de orientar as pessoas que se acheguem sem preconceitos à problemática do idioma galego. Não é um ensaio histórico: só “contemporâneo”; e não é um estudo em profundidade: só uma “síntese”; tem, sim, uma parte de história recente, mas sobretudo quer refletir os testemunhos de um grande conjunto de pessoas que, em muitos casos independentemente umas das outras, chegaram a conclusões parecidas e convergentes: por isso elas não figuram no texto em ordem histórica nem alfabética. E, pelas mesmas razões, conclui com um mínimo de bibliografia e endereços de organizações reintegracionistas. Uma versão abreviada foi publicada no 1º Boletim da AGLP, 2008)


Introdução

O alvo do REINTEGRACIONISMO é reintegrar as falas galegas do norte da raia galego-portuguesa (e leste da Comunidade Autónoma da Galiza, nas comarcas limítrofes do chamado galego oriental) no seio da língua inicialmente galaico-portuguesa e hoje internacionalmente conhecida como portuguesa: em fim reconstituir a unidade da língua nada na velha Galécia.

Embora fosse por fins dos anos 70 e princípios dos 80 do século XX quando se começou a espalhar o emprego dos termos REINTEGRACIONISMO e REINTEGRACIONISTA na cultura galega, o conceito é facilmente identificável desde muitos anos antes na obra de autores diversos que à primeira vista não pareceriam estar associados a este movimento.

Assim, brevemente, o  Pe Feijóo (1726) opina: “el idioma Lusitano y el Gallego son uno mismo”; e o Pe Sarmiento (1755.1974: 30): “la lengua portuguesa pura no es otra que la extensión de la gallega”. Pela sua parte, Gregorio Mayáns i Siscár (1737.1981: 58-59) diz: “El Portuguès, en el qual comprehendo el Gallego, considerando aquel como principal porque tiene Livros, i Dominio aparte; i dejando ahora de disputar qual viene de qual”. E Juan Valera (1896): “Lo mismo, aunque los gallegos se enojen, se puede decir del dialecto gallego con relación á la lengua portuguesa, que en mi sentir y tal vez en el sentir de los que no estén muy obcecados, es el gallego literario, atinada y ricamente cultivado durante cuatro siglos.António de la Iglésia, ao incluir um capítulo de Os Lusíadas na antologia El idioma gallego, está a evidenciar igual conceção.

(No mesmo sentido geral expressaram-se B. Vicetto, Marcial Valadares, López Ferreiro, Garcia de Olhóqui, Garcia Pereira, o Marquês de Figueiroa, F. Vaamonde Lores, F. Anhom, J.M. Pintos e a própria Rosalia de Castro. Depois Vitoriano Taibo, R. Cabanilhas, C. Emílio Ferreiro, A. Noriega Varela, Á. Zebreiro, Á. Gil, M. Lugris Freire, F. Bouça-Brei, F.L. Cuevilhas, A. Iglésia Alvarinho, A. Couceiro Freijomil. E dos não galegos: J.J. Nunes, Menéndez Pidal, Lindley-Cintra, Luciana Stegagno Picchio; também E. Alarcos Llorach e Koldo Mitxelena.)

Mª Helena Mira Mateus assinou uma moção, aprovada no CONGRESSO SOBRE A SITUAÇÃO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO (1985, I: 586), que diz: “o Congresso reafirma a tese de que o galego e o português são normas cientificamente reconhecidas de um mesmo sistema, que engloba as comunidades linguísticas luso-galego-brasileiro-africanas”.

Francisco Tettamancy (1907: 14) escreve: “O seu idioma é o nosso, e tais são as suas afinidades que em nada diverge do galego, pela sua estrutura, pela sua fonética, pela sua fraseologia, pelas suas desinências, etc., só que os portugueses o civilizaram”; Leandro Carré Alvarelhos (1959: 155-156): “o portugués é o noso mesmo idioma lixeiramente modificado pol-o uso constante das xentes cultas e bencriadas. Cáseque como falan hoxe os portugueses, falaban os nosos antergos cando Galicia era reino con personalidade propia”; Eugénio Carré Aldão (1921, 3: 71): “hoje os povos duma mesma raça se buscam e chamam, tratando, pese a quem pese, de se unirem numa só e comum aspiraçom”; e até os escritores galegos em castelhano, como Júlio Camba (“si en gallego se puede decir todo lo que se quiere, ello es tan sólo a condición de decirlo en portugués”), ou Venceslau Fernandes Flores (que confessou que “respiraria melhor” se lhe fosse possível escrever em português).

Igualmente os filólogos não galegos: Leite de Vasconcelos (1929, IV: 361): “sendo o galego e o português uma mesma língua”; José Agostinho (1921: 9): “A língua, todos nós sabemos quanto parece idêntica”; Margot Sponer (1927, 37:): “Cantas veces por empregar eu as verdadeiras formas galegas tomáronme por portuguesa!”; Sampaio Bruno (1906: 101): “português e galego foram diferenciando-se cada um do seu lado, de modo que cada um se topa em face do outro como um dialecto perfeitamente definido, não porque o português seja um dialecto do galego ou o galego um dialecto do português, mas porque português e galego saíram duma base comum, a língua galécio-portuguesa”.

Eduardo Pondal empregava a grafia etimológica, e cantou, em Queixumes dos pinos, o “verbo do grã Camões, fala de Breogã”. Manuel Murguia (1891.1974, 43: 83-89) posicionou-se sobre a necessidade de utilizar a grafia portuguesa: “o nosso idioma [...] que do outro lado desse rio é língua oficial”; e na apresentação da Academia Galega em 1906; escreveu em português para a revista Aurora do Lima, de Viana: conserva-se pelo menos um manuscrito português seu (1996, 47: 352-359); e num fragmento manuscrito, do arquivo da Real Academia Galega:El gallego y el portugués [...] son uno mismo en el origen, gramática [...] y vocabulario. Por que no aceptar la ortografía portuguesa? Si nos fue comun en otros tiempos, por que no ha de serlo de nuevo? (Caixa 113); “La verdadera lengua, gallega o portuguesa, -para el caso es igual- [...] es la corriente en Galicia y gran parte de Portugal, la misma que hablaron Camoens y Sáa de Miranda” (Risco, 1976: 182).

(continua)

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