Quarta-feira, 13 de Abril de 2011

1961/2011 - 50 anos do vôo de Gagarin, em redor da lua, por Sílvio Castro, mais Picasso

 

 

 

 

 

 

 

 

Repetimos hoje a apresentação do poema do Sílvio Castro acompanhado de dois desenhos de Picasso, seguindo uma sugestão do Carlos Loures. O desenho abaixo foi feito em 1961, para celebrar o primeiro voo à volta da Terra. O segundo data de 1969, e foi feito após a morte de Gagarine.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No dia 12 de abril de 1961 o mundo foi surpreendido por uma notícia que mudava a história do homem: um astronauta soviético supera a órbita terrestre e gira em redor da lua. O novo herói, não somente da URSS, era o jovem piloto e único tripulante da nave espacialVostok 1, Yury Gagarin. Começava assim a Guerra Freda entre as super-potências mundiais, USA e URSS.

 

                      Gagarin, filho de um carpinteiro e de uma camponesa, depois do decolo da Estação de Baikonour, república soviética do Kazakhstan, na manhã daquele 12 de abril de 1961, realiza uma viagem que totaliza 1 hora e 48 minutos, e que o projeta, primeiro ser humano a viver uma tal experiência, numa órbita elítica em torno à Terra com um perigeu de 169 quilômetros e um apogeu de 135, conforme os cálculos dos experts do setor.

 

                       A viagem partiu conforme os cálculos. Gagarin a realiza preparado para toda e qualquer eventualidade. Porém, depois de entrado em órbita e circundada a lua, momentos em que transmite mensagens de grande beleza e maravilha - “Vocês sabiam que a Terra é toda azul? É uma coisa extraordinária!“ - lhe toca a fase mais delicada da operação. O retorno à terra. Depois de várias peripécias, em meio às maiores turbulências, ele pensa ao que deveria ter passada à cachorrinha Laika, sacrificada no vôo experimental do Sputnik 2, de 1957, bem diverso daquele mais feliz vivido pelas outras cachorrinhas Belka e Streka na experimentação da primeira Sputnik, no ano anterior. Porém, em determinado momento, tudo se transforma. Gagarin a 7000 metros do chão de sua Terra realiza o único gesto completamente autônomo da missão: aciona o pequeno banco que pode ser liberado e se sente acompanhado por um paraquedas vermelho que o conduz até aos campos a 30 quilômetros da cidade de Engels.

 

                     Kruchov encontra o Herói, em Moscou, três dias depois do reentro glorioso, e então o compara a Colombo, acrescentando que a URSS se mostrava assim lider mundial no campo militar e no da tecnologia.

 

                        Os USA de J. F. Kennedy recebem o evento como um desafio que deveria ser imediatamente respondido. Começa desta maneira a grande corrida para a conquista do espaço. No dia 19 de julho de 1969, finalmente os americanos podem responder ao desafio soviético quando Neil Armstrong, chefiando a missão Apollo 11, se faz o primeiro homem a pisar o solo da lua.

 

                        A grande corrida entrava numa fase nova, com os USA novamente na vanguarda da grande pesquisa espacial e a URSS que se via como que despojada da grande heroicidade de Gagarin. Mas a história, sempre acima dos limites dos eventos, conserva a empresa do Herói, o homem das estrelas, filho de um carpinteiro, como a referência absoluta da capacidade humana de chegar aos maiores sonhos.

 

                        No dia seguinte ao vôo da Vostok (significativamente, “Oriente”) de Gagarin, isto é, no dia 13 de abril de 1961, publiquei num quotidiano do Rio de Janeiro um poema dedicado ao Herói soviético. Poema que republico em seguida.

 

                        Yury Gagarin morreu num acidente muito discutido, quando pilotava un Mig, no dia 27 de março de 1968.

 

 

 

Yury Gagarin, o homem

 

                                                                       Sílvio Castro

 

 

                                               A terra é azul nos olhos do homem –

                                               azul nos olhos do homem

                                               movimento força continentes florestas

                                               azuis cidades azuis passos de homens

                                                rios deserto oceanos

                                               e as estrelas próximas ao olhar dos homens.

 

                                               Yury, o homem, levanta o vazio;

                                               Yury levanta o vazio para o azul

                                               da infância

                                               hoje criança

                                               imponderável.

                                               O azul desce dos olhos para os braços

                                               levando Yury no espaço.

                                               Tudo é fácil para Yuri e o azul

                                               seu braço.

 

                                               O leve traço azul:

                                               Yury espaço – olhar no sol.

 

                                               Solidão converge ao sol e

                                               o sol refaz o homem inteiro de

                                               olhar frontal ao sol.

                                               homem e sol.

 

                                               Yury mutila o sol

                                               em azul da terra.

 

                                               Yuri, escreve música e azul

                                               Na pauta das estrelas caminhadas.

 

                                                                                              Rio, 12 de abril de 1961

 

                                                                       (de Versor Disperso, in Poesia Reunida, RJ, 1998)

 

 

 

 

publicado por João Machado às 10:00

editado por Luis Moreira às 03:08
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