Sexta-feira, 27 de Maio de 2011

O ESPÍRITO MUSICAL DE FRANK LLOYD WRIGHT, por José de Brito Guerreiro

 


 

 

 

 

 

O arquitecto americano Frank Lloyd Wright (1867-1959) era filho de um músico. Este facto teve uma influência indelével na estética do arquitecto. Por meio do pai, Wright descobriu a paixão pela música dos compositores alemães Johann Sebastian Bach (1685-1750) e Ludwig van Beethoven (1770-1827). Em criança, diariamente, ouvia o pai tocar corais de Bach no órgão da igreja e, ao fim da tarde, sonatas de Beethoven no piano de casa. «Eu adormecia todas as noites, durante toda a minha primeira infância, com os acordes das sonatas de Beethoven», confessou Wright.

 

 

 

Frank Lloyd Wright | Solomon R. Guggenheim Museum

 

Nova Iorque | 1943-1946 – 1955-1959

 

Os intervalos das notas, os temas maiores e menores, a harmonia, o movimento do todo ao particular, tudo isto afectou profundamente o modo de ver o seu mundo. A música não serviu apenas para o entreter, mas sim para enriquecer a sua vida em muitas formas. Proporcionou-lhe um sistema análogo que poderia usar para traduzir as suas ideias numa outra forma de arte, a arquitectura.

 

 

  

 

Frank Lloyd Wright | S.C. Johnson and Son Company Administration Building

Racine – Wisconsin | 1936-1939 |Área dos escritórios e sala de trabalho

 

 

 

Na sua autobiografia, Wright descreveu o que de comum existe entre um arquitecto e um músico: «O empenho pela entidade, unidade na diversidade, profundidade no desígnio, repousam na expressão final do todo. Vou para uma encantadora e inspiradora escola quando oiço a música de Beethoven.»

 

Numa edição especial da revista House Beautiful publicada em 1955, Frank Lloyd Wright, então com 88 anos, escreveu: «O que eu chamo de ornamento integrante está fundado sobre os mesmos princípios orgânicos que a Quinta Sinfonia de Beethoven, essa revolução espantosa em tumulto e esplendor de som construído sobre quatro tons, assente num ritmo que uma criança consegue tocar no piano com um dedo.

 

Imaginação suprema elevando os quatro tons repetidos, ritmos simples, a um grande poema sinfónico, que é provavelmente o mais nobre edifício pensado-construído no nosso mundo. E a arquitectura é igual à música nesta capacidade para a sinfonia.»

 

Para Wright, tanto a música como a arquitectura eram matemática sublimada. Atribuía ao seu pai o facto de fazer a comparação referindo-se a uma sinfonia como um «edifício de som». 

 

 

Frank Lloyd Wright | Kaufmann House ‘Fallingwater’ | Bear Run – Pennsylvania | 1935-1939

  

Numa carta de Dezembro de 1934 para o seu cliente Edgar J. Kaufmann, Frank Lloyd Wright escreveu sobre o cenário onde viria a ser construída a Fallingwater: «A visita à cascata nos bosques permanece comigo, e uma casa tomou forma vaga na minha mente segundo a música do riacho.»

 

Numa palestra para a Taliesin Fellowship, Wright disse: «A Fallingwater foi uma grande graça divina – uma das maiores graças divinas que se podem experimentar aqui na terra. Acho que nada igualou nunca a coordenação, a expressão harmoniosa do grande princípio de tranquilidade quando a floresta, água, rocha, todos os elementos estruturais se combinam tão silenciosamente; de facto não se ouve seja que ruído for para além da música do rio que ali passa. Escuta-se a Fallingwater da mesma maneira que se escuta a quietude do campo...»

 

A Escola de Arquitectura Frank Lloyd Wright, conhecida como Taliesin Fellowship, foi inaugurada formalmente em 1932, quando vinte e três aprendizes foram viver e aprender para Taliesen (nome galês, atribuído por Wright à sua residência de Verão, que significa: Cume brilhante). As fontes desta filosofia educacional têm raízes que se reportam a datas muito anteriores à década de 1930.                          

  

  

 

                        

Frank Lloyd Wright | Taliesin West

                           Scottsdale – Arizona | 1937-1938

 

Em 1931, Wright e a sua mulher Olgivanna colocaram em circulação um prospecto destinado a um grupo internacional de distintos académicos, artistas e amigos, anunciando o seu plano para formar uma escola, em Taliesin, Spring Green, Wisconsin, segundo o conceito Learn by Doing (aprender fazendo – aprender através da prática).

 

Afirmaram: «As belas artes, assim chamadas, devem permanecer no centro como inspiração...» «A educação em Taliesin enfatizará a pintura, a escultura, a música, o drama e a dança, nos seus lugares como divisões da arquitectura.»

 

Cada um destes elementos das belas artes, como Wright os concebia, conduziria a uma aprendizagem mais ampla: «A música significará o estudo fundamental do som e do ritmo como uma reacção emocional, ambos como carácter original e natureza presente.»

 

 

 

 

 

 

Frank Lloyd Wright                    

Taliesin West

Scottsdale – Arizona

1937-1938

Auditório

 

Com o nascimento da Taliesin West, o segundo campus da Escola de Arquitectura e também residência de Inverno de Wright, em Scottsdale, Arizona, a música continuou a fazer parte integrante da vida e formação dos estudantes. Estes participavam em actuações e assistiam regularmente a concertos.

 

Um dos aprendizes de Wright, o americano John Lautner (1911-1994), que depois tornar-se-ia um notável arquitecto, foi aceite pelo mestre porque desconhecia todos os ensinamentos sobre arquitectura e tinha, portanto, menos a desaprender. Edgar Tafel (1912-2011), outro aprendiz, também americano, que viria a ser arquitecto e autor de vários livros sobre Frank Lloyd Wright, tocava frequentemente Bach ao piano, a pedido de Wright.

 

Em Taliesin, Lautner, Tafel e os demais colegas desfrutavam de jantares ao domingo ao som de quartetos de cordas.

 

Wright serviu de inspiração para os músicos americanos Paul Simon (1941) e Art Garfunkel (1941), que compuseram, para o álbum de 1970 Bridge Over Troubled Water, o tema So Long, Frank Lloyd Wright (Garfunkel estudou arquitectura: Bachelor of Arts, Master in Art History, Master in Mathematics).

 

 

 

 

 Frank Lloyd Wright e os seus aprendizes da Taliesin Fellowship, em 1938

 

Wright (1867-1959) aparece em primeiro plano, sob o olhar atento dos aprendizes que trabalharam na Fallingwater, da direita para a esquerda: William Wesley ‘Wes’ Peters (1912-1991) [sentado], Edgar Tafel (1912-2011) e Robert ‘Bob’ Mosher (1909-1992) [ambos de pé]. John Lautner (1911-1994) está sentado na mesa atrás de Wright. Lautner participou concreta e fisicamente na construção de Taliesin West e supervisionou a construção de vários projectos de Wright: Abby Beecher Roberts House, ‘Deertrack’ (1936), Herbert Johnson House, ‘Wingspread’ (1937), Sturges House (1939) e Oboler House (1940).

 

 

 

Frank Lloyd Wright e os seus aprendizes da Taliesin Fellowship, em 1938

  

Da direita para a esquerda: Robert ‘Bob’ Mosher (1909-1992) e William Wesley ‘Wes’ Peters (1912-1991) [ambos inclinados sobre a mesa de desenho]. Edgar Tafel (1912-2011) está atrás de Mosher. John Lautner (1911-1994) [de pé] é o segundo da esquerda para a direita.

 

 

 

 Aprendizes de Frank Lloyd Wright a trabalhar nas pranchas de desenho ao ar livre, em Taliesin West

  

John Lautner (1911-1994) aparece em primeiro plano.

 

 

 ▲ Frank Lloyd Wright e os seus aprendizes da Taliesin Fellowship,

em 1956

 

Sentados, da esquerda para a direita:

John H. Howe (1913-1997), Frank Lloyd Wright (1867-1959), Eric Lloyd Wright (1929) [neto de Wright] e William Wesley ‘Wes’ Peters (1912-1991). John H. Howe era o desenhador principal de Wright, permanecendo na Taliesin Fellowship durante 32 anos (1932-1964).

 

 

Edgar Tafel (na fotografia com 95 anos), sentado numa cadeira desenhada por Wright, a tocar no seu piano Steinway

  

Frank Lloyd Wright costumava “ordenar”: «Edgar, toca para nós um pouco de Bach!».

 

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publicado por João Machado às 15:00
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Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2011

NÓTULA SOBRE A PSEUDO-ARQUITECTURA DE ROBERT ADAM,

por José de Brito Guerreiro

 

 

 

Robert Adam

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Robert Adam

 

 

 

 

Robert Adam é um arquitecto  contemporâneo que faz projectos “tradicionais”. Ataca a        abordagem Modernista à arquitectura, que vê como auto-indulgência por parte do arquitecto e como  algo estranho para a maioria dos cidadãos comuns. Sugere que se cria um fosso entre os seus criadores  e o público, e que é prejudicial para o seu meio envolvente.

 

 

Em vez disso, Robert Adam defende uma abordagem baseada na tradição, que vê como intimamente  conectada com o ‘novo’. Explica como as tradições são criadas e salienta esse aspecto.

 

Robert Adam vê a arquitectura como parte da nossa cultura tradicional, e argumenta que em vez de ser  arruinada, a tradição deve ser usada para criar algo novo. Acredita que o desenho tradicional pode ser original, criativo e pode até mesmo inventar novas tradições.

 

Contudo, a arquitectura deve reflectir a sociedade, o contexto e as vivências contemporâneas. Deve ser um espelho da época em que é concebida.

 

 

Robert Adam - 2008

 

 

A obra projectada e escrita por Robert Adam evidencia um total desrespeito pela evolução e pelas  conquistas da arquitectura ao longo dos tempos.

 

A arquitectura não deve ser dúbia e iludir o público na sua leitura, não deve ter a veleidade de  aparentar ser de uma época que não é.

 

A obra deste arquitecto é um estéril decalque, é absurda, anacrónica e obsoleta.

 

Como escreveu Pessoa, «O poeta é um fingidor», mas o arquitecto não deve sê-lo.

 

 

 

 

 

 

Le Corbusier 1928 - 1931

 

Le Corbusier

 

 

 

 

 

 

Frank Lloyd Wright 1935 - 1939

 

 

 

«Lembro-me do contacto que tive com Le Corbusier, e o mais importante foi o dia em que ele me disse: Arquitectura é inovação... E isso depois eu compreendi lendo diversos livros... Quando eu li o poeta francês, não me lembro do nome agora (Baudelaire), ele dizia que a invenção, o espanto, é a característica principal da obra de arte. De modo que, em minha arquitectura, o que eu faço é ter como preocupação inicial que seja diferente, é que o povo pare, surpreso de ver uma coisa nova.»

 

Óscar Niemeyer in A Vida é um Sopro, 2007

publicado por João Machado às 16:00
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