Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011

Cartas em andamento - por Ethel Feldman

 

 

 

Coordenação de Augusta Clara de Matos

Cartas em andamento

por Ethel Feldman

 

Quem dera que a felicidade fosse feita dessa vontade que tenho em não existir. Depois tu sorris e eu esqueço tudo que aprendi.

Já passavam das dez da manhã quando acabei de ler. Não me lembro ao pormenor, como vim parar aqui. Quando os militares tomaram o poder substituíram a censura pela leitura selectiva. Sem eira nem beira fui colocada no ministério da cultura.
- Major, não arranja um trabalho para a minha filha?

O pobre coitado que tinha acabado de mudar de patente ficou embatucado. A memória de um favor por pagar visitava delicadamente o presente.

- Claro que sim. A revolução precisa de jovens que estejam ao lado da liberdade.
Pois foi assim que me tornei leitora profissional. Milhares de cartas por ler!
A vida é feita de regras e a que me foi destinada era só uma: - LER!

Bastava ler, dobrar a carta e colocar de novo no envelope. Em seguida ia para um caixote das CARTAS LIDAS.

Era uma jovem responsável, apoiante da revolução. Foi num ápice que li todas as cartas. Um velho funcionário aconselhou-me a voltar a colocar as cartas já lidas no caixote das CAIXAS POR LER, pois se me mostrasse desocupada seria despedida.
Lembro-me de ter sorrido. Sempre senhora da verdade corri ao gabinete do major.

- Major as cartas já foram lidas. Devo responder?
- Todas? Se não há mais cartas sou obrigado a mandá-la embora…

Quem me dera que a felicidade fosse feita dessa vontade que tenho em não existir.
Depois tu sorris e eu esqueço de tudo o que aprendi

(Porque agora a ladainha da velha? Porque esta dor que rompe o som?)

- Mas Major hão-de vir mais cartas para ler. Devo responder às que já li?
- Seu trabalho é de leitura. Ninguém escreve à espera de uma resposta. E se esperar, paciência – temos mais o que fazer. Continue lendo. Quando deixarem de escrever acaba o seu trabalho.

No corredor Sebastião sorria só com o olhar.
- Eu avisei. Coloque as cartas lidas no caixote das cartas por ler, se quiser este emprego…

Passaram 20 anos e o meu sorriso perdeu-se pelo caminho. Não sei quantas voltas já dei ao caixote.

Há cartas que sei de cor. Outras o tempo tratou de engolir o texto. Passados seis meses o major foi colocado noutro lugar, mas eu já me habituara à rotina das caixas.
Ninguém se preocupou – o trabalho quando bem feito não deve ser alterado. Já tinha encontrado uma metodologia que rentabilizava o circuito. Quem precisa de mudar quando tudo parece tão perfeito?

Hoje eram dez e eu já tinha lido tudo. Amanhã vou acompanhar o corpo de Sebastião. Morreu de morte natural – foi o que li na carta que a esposa enviou aos colegas. Esta vai para o caixote das CARTAS LIDAS.


Quem me dera que a felicidade fosse feita dessa vontade que tenho em não existir.
Depois tu sorris e eu esqueço de tudo o que aprendi

(Sempre a ladainha da velha. A mesma dor que rompe o som – todos os dias!)
publicado por Carlos Loures às 14:00

editado por Luis Moreira às 17:24
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Terça-feira, 24 de Agosto de 2010

As citações de Saramago

Luis Moreira


Depois dos livros que aqui deixamos com uma breve resenha de cada um deles, vamos ter as citações que melhor ajudam a compreender o pensamento de Saramago. Durante vários dias não faltaremos.

Amor

"Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira e, se acontece, há que recebê-lo".

Pilar del Rio

"Estamos sempre juntos, aqui ou quando viajamos. Então como hei-de dizer? encontrei a pessoa de que precisava. Com 63 anos, quando já não se espera nada, encontrei o que faltava para passar a ter tudo. Portanto, há de facto esse sentido de família, da solidão, mas no fundo aqui a família nuclear não são dois mais X, é o casal. E podemos estar sozinhos, sem ninguem, que não nos faz diferença nenhuma".

Mulheres

"As mulheres são os motores dos homens.Na minha infância, quando vivia com os meus avós maternos, via-se perfeitamente que naquela casa a grande força era a minha avó. E durante toda a vida pude sempre comprovar que num casal a figura forte é a da mulher.O homem alimenta-se da força delas."

Blogoesfera

"Inventei uma expressão que acho bonita: escrever na infinita página. E é essa a sensação: ao mesmo tempo que se estão inscrevendo nessa página as palavras que escrevo, outras,muitas,por toda a parte, estão a ser escritas."

Felicidade

"Eu podia ser felícissimo como homem e ter uma pouca sorte danada como escritor. No meu caso, sinto-me em paz com o meu trabalho, sei o que quero fazer e julgo que faço aquilo que quero. Como homem posso dizer de mim mesmo que sou um homem feliz"
publicado por Luis Moreira às 19:30
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