
Então é assim, vocemecê vai à
farmácia e dá a receita a aviar, paga um serviço; ou pergunta qual o melhor medicamento para uma rouquidão, paga um serviço; pergunta como se mete o shampô nas "miudezas" por causa dos piolhos, paga um serviço; se a aspirina se pode tomar diluída em água, paga um serviço; qual o melhor "aguento" para os carecas, paga um serviço, mesmo que não cresça cabelo nenhum; dor de "burro", cólicas intestinais, comichão nas verilhas, melhor medicamento para fazer feliz a companheira "tudo pode ser como dantes", gel para fixar a dentadura...
Para além dos 20% de lucro que a farmácia cobra sobre o preço do medicamento, aqueles senhores que chamam mentiroso em público ao Primeiro Ministro e este "amocha", querem mais 20% de serviço.Querem ser pagos por acto farmacêutico praticado! Os tais que não deixam abrir mais farmácias, só por concurso que, por sinal, acerta muitas vezes em familiares de quem já é proprietário de farmácia, que têm uma actividade protegida como nenhuma outra, querem mais dinheiro. Dizem que estão perto da falência. Mas alguem conhece um proprietário de uma farmácia que não viva à grande?
Já andam a falar com o governo, para saberem quem paga porque quem recebe já se sabe quem, e vão usar a arma de sempre, o financiamento que prestam ao governo através da ANF, adiantando o dinheiro das dívidas que o governo não paga a tempo e horas.
Quanto nos custará este "favor" que a ANF presta ao governo? Por isso já sabe, vem aí o "serviço de aconselhamento pago". Entra na farmácia e já está a marcar. Tipo táxi...
Carlos MesquitaEntrei na farmácia perto de casa, virei à direita, nesta vira-se à direita, e ainda a curvar sou abalroado de chofre por uma bata branca, caiu-me em cima vedando a passagem, a bata tinha dentro uma mulher a falar. Havia algo estranho, fiquei alerta; os neurónios a rebate trocaram chistes, e antes da intrusa acabar a primeira frase, já o meu cérebro calejado nestes enredos tinha processado que estava a ser alvo duma emboscada. A bata era de farmacêutico (não é por acaso) o comportamento da mulher não. Perguntou-me com voz suficiente para se ouvir ao redor: -o senhor tem problema nas articulações? Disse-lhe que não. Ela, exibindo-me uma caixa colorida continuou, agora com o paleio B. Olhe que está na idade em que…cortei-lhe a palavra, e para a convencer que não me vendia nada para as articulações, articulei-lhe pausadamente e com bom som; - não tenho queixas e se as tivesse ia ao meu médico, ele receitaria o que fosse indicado, já o teria feito se fosse preciso como preventivo, depois disso viria aqui à farmácia aviar a receita, comprar o que ele prescrevesse, percebeu. Pareceu aturdida com o argumento, olhou para os outros clientes para verificar se tinham ouvido o meu responso, e profissionalmente desistiu. Ainda me refilou – é a sua opinião! Segui para a fila de clientes a remoer no disparate de ir ao médico ser uma questão de opinião e a vendedeira de produtos para as articulações foi pôr-se de atalaia atrás da porta. A presa foi a primeira pessoa que entrou, senhora de idade. Foi na conversa, ainda protestou que quarenta e tal euros era muito caro para ela, mas aceitou comprar o produto. A vendedora da bata contrafeita que tinha levado a freguesa até ali, acompanhou-a a tiracolo até à caixa, satisfeita por ir facturar.
Provavelmente a idosa, que não tinha ar de acumular várias reformas ou ter filhos gestores públicos, em casa olhando para os trocos irá arrepender-se. Presumivelmente irá lamentar-se às raparigas da sua idade e maleitas similares que o dinheiro fica todo na farmácia. De certeza quando entrou na farmácia não contava fazer esta despesa suplementar.
A técnica (de vendas) agressiva, aproveitando situações de fragilidade como é a dos doentes, e em espaços que são de confiança entre eles e os profissionais da saúde, como são as farmácias, é de todo inaceitável.
Cristo não descerá à Terra para correr com estes vendilhões. As farmácias correm o risco de se transformarem em locais de libertinagem comercial, com bancas modelo praça e regateiras a condizer. Imagine-se a farmácia do futuro; corredor extenso com pontos de venda de ambos os lados, e detrás dos balcões os vários propagandistas a apregoar as vantagens dos seus produtos; lá chegaremos.
Pelo sim pelo não, para acautelar embaraços, vou passar a espreitar para dentro das farmácias antes de entrar. Supunham que uma promotora comercial me aborda, e diz, – o senhor aparenta ter mais de 55 anos, sabe que nessa idade deve ter cuidado com a próstata, dá-me licença que lhe faça um toque rectal?