Sábado, 25 de Junho de 2011

LIÇÕES DE ETNOPSICOLOGIA DA INFÂNCIA - XXII, por Raúl Iturra

(Continuação)

 

É fascinante aplicar o saber de Freud, Klein e Bion ao entendimento de um ser humano que, nos seus curtos anos, é considerado um pecador. As análises revelam a possibilidade, a realidade diria eu, de seres que, desde a sua existência dentro do líquido amniótico pensam, sentem, têm emoções, choram, decidem. Aprendem a optar, a ter autonomia. Sobre esta temática, a melhor análise é o texto Inveja e Gratidão de Klein, base das ideias de disciplina religiosa de Bion no seu Attention and Interpretation, debate que define o comportamento como ideias partilhadas, em harmonia ou em desencontro, por muitos, uma religião como o autor denomina, sem entrar pela teologia, pelo Direito canónico ou a catequese, procura como John Locke[1] no Tratado sobre a Tolerância baseado nas suas observações de crianças e sobre teologia, que era o seu domínio[2], com recurso ao estudo de crianças em clínica.

 

Não é o caso de Bion nem o de Freud ou o de Klein, entre outros. Sim, usam os elementos da teoria cultural, cuja lógica da cultura é a religião, mas a definição é diferente. Enquanto os Locke, o William of Ockam, os Henry Bergson, passando pelos economistas Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, Marquis de Condorcet, François Quesnay, Adam Smith, James Mill, Alfred Marshall, Lord John Maynard Keynes, até o Socialista David Ricardo em 1823, procuram um saber do real com base numa religião orientada pela divindade, pelo totem que colabora com o lucro e ajuda a guardar a mais-valia retirada ao operariado dos seus povos, como analiso no meu livro A Dádiva, essa grande mentira social. A mais-valia na reciprocidade, Afrontamento, Porto, 2003. Bem longe do caso, claro está, de Émile Durkheim e Marcel Mauss, fundadores do Marxismo-leninismo francês e colaboradores da Revolução Soviética. Freud, por seu lado, define religião como foi dito e, no entanto, baseia-se na mesma para entender a mente e a procura da felicidade na interacção social que Bion define em 1970 como “um pensamento de modelos de seres humanos, criaturas de intencionalidade que transcende as necessidades físicas imediatas e permite actos pessoais de compensação como a meta emocional e cognitiva que procura o ser humano, para acrescentar que usa a notação 0 para indicar a realidade última, representada por termos como realidade última, verdade absoluta, a deidade, o infinito, a coisa – em – si”[3]. Esta deidade não é ritual nem faz milagres, é apenas um conceito que indica que entre todos os seres humanos, há uma procura de saber para fazer – contrário a Aquino em 1275, ou Averröes, dois Séculos antes entre os Muçulmanos, que já tinham tudo definido pela cultura revelada e o denominado Direito natural, estes intelectuais estabelecem um diálogo com uma mente em branco, e denominam divindade a procura do fazer a seguir ao entendimento dos factos. Não é em vão que Freud, num dos seus textos – revisto por ele em francês – Psychopatologie de la vie quotidienne[4], analise a masculinidade de Moisés e a sua capacidade de ditar e de obrigar a cumprir as leis. Ou o comentário de Melanie Klein de ser indiferente a religião e filosofia, mas nada oposta a análises que permitem um posicionamento esquizoide, como já referi.

 

 

 

publicado por João Machado às 14:00
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