O Estrolábio, nasceu após ponderação devida e foi muito desejado. Nada de precipitações com gravidezes indesejadas, nada disso.
O Loures e eu próprio tínhamos saído por razões parecidas de um outro blogue de que fui um dos fundadores, o bichinho bulia e vai daí lançamo-nos à aventura. Primeiro problema, nenhum de nós fazia ideia nenhuma das técnicas dos blogues, escrevemos textos, uns comentários e pouco mais. Eu já sabia fazer uns links e uns pings e o Carlos é um expert em tudo o que são livros, literatura, história, poesia, autores...
Não chegava, avançamos para o nome do nascituro. Estrolábio com um "E" diz o Carlos, português antigo, como escrevia Gil Vicente e logo descobrimos uns "astrolábios" dourados em caixas de cor "bordeaux" ou azul.
Bem, digo eu para o Carlos vou pedir ao meu filho para nos fazer um logótipo com esta ideia ( a do estrolábio) e, lá falei com o Hugo. Ora, como ele um é rapazinho muito certinho e segue religiosamente os pedidos do pai saiu-se com este, ( o que consta aí no cabeçalho) que foi entusiasticamente aceite por ambos.
Bem, ainda lancei a rede para o Hugo Luis continuar a fazer o que faltava mas, segundo ele, estava cheio de trabalho e indicou-nos uma colega arquitecta e amiga a Paula Melâno, que logo se dispôs a colaborar.
Enquanto o blogue não estava operacional começamos os contactos para arranjar colaboradores em que o Carlos se revelou uma autêntica "Caixa de Pandora" . Muitos e bons!
Entretanto, veio em nosso socorro a Carla Romualdo que implementou o Twitter e o Facebook, começando de imediato a angariar amigos para o blogue e que já andam pelos 770 amigos. Devíamos chegar aos 3 000 amigos mas deixemos isso para a Carla que vai fazendo esse trabalho, pouco visível mas importantíssimo.( mas os nossos "caçadores de estrelas" podiam ajudar convidando os seus amigos para fazer o pedido ao estrolabio "de amizade".)
Num ápice saltamos para os 300 visitantes/dia e para os 1 500 leituras/dia o que era realmente notável, não há muitos blogues onde cada visitante leia cinco paginas por visita e se demore sete minutos por visita. As pessoas leiem mesmo o Estrolabio!
Quando oscilávamos entre os 300/400 visitantes/dia mudamos para o SAPO onde estivemos em destaque passado pouco tempo e que nos atirou, naqueles dois dias, para cima dos 1 000 visitantes/dia.Como sempre acontece, voltamos para os 400 visitantes/dia mas nunca mais deixamos de crescer, já atingimos várias vezes os 700 visitantes/dia e até acima disso, os 800/dia.
Por volta de Setembro de 2010 andávamos pelos 350/dia e pelas 1 400 leituras!
Por esta altura já éramos lidos no estrangeiro, no Brasil, nos USA, no Chile, México,Austrália, Africa do Sul, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Canadá, França, Espanha, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Itália...
Temos colaboradores permanentes do melhor, escritores com obra publicada, poetas, académicos, a viver em vários países; temos uma ligação privilegiada com várias nações como a Galiza, Catalunha e damos visibilidade a quem luta pela Olivença portuguesa.
Estamos numa fase de crescimento muito acentuado, mas não caímos na tentação de aligeirar o quer que seja, vamos manter a qualidade até porque nascemos a 8 de Maio de 2010, somos bebé de berço nesta coisa dos blogues...
E , assim, a medição da altura do Sol será cada vez mais precisa!
E, não é, meu caro amigo e leitor que você é o visitante 100 000 ?
Somos muito jovens mas estamos a crescer muito e bem, como é apanágio de um adolescente. E a chegar muito longe, somos lidos em vários países, onde portugueses sedentos de informações nos procuram.
Não abdicamos da qualidade e não usamos títulos bombásticos nem matérias "tipo tablóide" e estamos a ser recompensados por isso. Não nos interessa crescer a qualquer preço. Se formos ao blogómetro ( o ranking dos blogues) verificamos que são os blogues de gajas e futebol que vão muito na frente. Não tem pois, qualquer interesse entrar em competições que não tem significado nenhum.
O Dia 25 de Abril, é um marco de qualidade e de audiencia. Ontem, seguimos a par e passo, hora a hora, todos os momentos mais importantes daquele dia histórico, com poemas, vídeos, textos, testemunhos e fomos recompensados com uma grande audiencia.
Vamos continuar com a qualidade a que habituamos os nossos leitores e a chegar cada vez mais longe, junto dos nossos compatriotas. Por cada um que nos leia, já dá razão ´a nossa existencia.
Como se sabe, na sequência da aprovação pela Assembleia da República das cinco moções de rejeição do Programa de Estabilidade e Crescimento, o Governo de José Sócrates demitiu-se. Abre-se assim uma crise grave na vida política do País.
Os 41 colaboradores do nosso blogue, como é natural, não encaram de maneira uniforme a situação criada pela demissão do Governo, nem fazem dos motivos que a ela conduziram ou das suas consequências uma análise comum. Unidos pela amizade, pelo respeito mútuo e pelo amor à cultura, temos sobre as questões políticas, filosóficas, religiosas, posições diferentes. Há mesmo entre nós quem tenha militância políitica assumida em partidos envolvidos na presente crise.
No período que hoje se inicia, em que o executivo passa a ser um governo de gestão e enquanto vão decorrer os preceitos determinados pela Constituição da República que conduzirão à fixação de eleições legislativas antecipadas, abriremos um espaço de debate em que cada um poderá expor a sua análise da situação, adiantar perspectivas e propor soluções.
Começada a campanha eleitoral, esse espaço será encerrado.
É muito curioso que as audiências do estrolabio, desde praticamente o primeiro dia, tenham uma tão grande compenente de origens fora de Portugal. Aqui ainda faltam, países que pelo seu número de leitores ser reduzido não são mostrados, como Angola, Maputo, Chile, Venezuela, Timor, Inglaterra, França, Canada e outros menos frequentes e com menor número de leitores.
Julgamos tratar-se de Portugueses que vivem e trabalham naqueles países e que através do estrolabio matam saudades.Os temas que publicamos são, na sua maioria, de interesse geral não nos interessando a pequena notícia, ou interessando menos a notícia do dia ou a local o que contribui para a fidelidade.
Temos colaboradores frequentes em Itália e França, Catalunha, Galiza e Brasil o que também explica os 60% de audiência que temos fora de Portugal. Vamos manter este caminho, observando as regras que nos permitem viver uns com os outros, mas sem cedências, somos um grupo de gente livre, não há censuras, cada um responde pelo que escreve mas sabemos que a liberdade de cada um acaba onde se inicia a do parceiro.
Frequentemente não estamos de acordo com esta ou aquela apreciação acerca de um determinado fenómeno mas isso leva-nos à discussão saudável, é assim a democracia, pior que a não ter é não a viver.
Agradecemos aos nossos leitores, é para eles que escrevemos, escolhendo textos de gente muito capaz na economia, poesia, sociologia, história aqui e ali na política índigena, autores de obra publicada e professores universitários. Não esquecemos a Arte e a Arquitectura, a música ligeira e as grandes canções do século bem como a música erudita.
Gostamos do que fazemos e gostamos de o ter a si como nosso leitor. Se quiser colaborar é só mandar o que tem para o nosso endereço aí ao lado. Gostamos de dar voz a quem nos lê!
Da esquerda para a direita: José António Gonçalves, Vergílio Alberto Vieira, Ernesto Rodrigues, João Rui de Sousa e João David Pinto-Correia.
É um escritor com uma obra de grande valor.
Nasceu em Lisboa em 1928. Licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de 1982 a 1993, trabalhou como investigador na área de espólios literários da Biblioteca Nacional de Lisboa. Com António Ramos Rosa, António Carlos (Leal da Silva), José Bento e José Terra, fundou em 1955 a revista Cassiopeia, que dirigiu em 1955. Poemas seus figuram em numerosas antologias. Para além da escrita poética, tem desenvolvido uma intensa actividade ensaística, com particular incidência na crítica de poesia.
Entre a sua vasta obra , destacamos Habitação dos Dias (1962), Corpo Terrestre (1972), Enquanto aNoite, a Folhagem (1991) e Obstinação do Corpo (1997). Em 2009 foi distinguido com o Prémio Nacional António Ramos Rosa pelo livro Quarteto Para as Próximas Chuvas (Lisboa, 2008). É deste seu livro o poema que escolhemos:
Vida e morte das palavras
São vivas quando o coração do vento amadurece e a voz vem de repente e não se esquece de estremecer as trevas ou de roer as malhas da rotina ou de dar lenha e fogo (matéria inesperada e sibilina) a um barco que arrefece.
São mortas quando a morte nelas cresce – com os seus cabelos ralos, suas ramagens crespas, desgastadas, seus ossos cabisbaixos rolados sobre o nada. São mortas se não queimam a limalha sobrante – esse pó de cães exaustos, de dias fatigantes – e em podridão se instalam.
Permitam que vos apresente uns versos (bem melhores!) que Richard Wagner pôs Hans Sachs a cantar nos Mestres Cantores de Nuremberga, e Nietzsche cita na Origem da Tragédia:
Quando falamos de Coimbra, logo lhe associamos uma ideia - a da Universidade. Numa visão estereotipada que a magnífica canção de Raul Ferrão e José Galhardo acentua, Coimbra é muitas vezes descrita na óptica saudosista de quem lá estudou e, com o avançar dos anos, foi progressivamente associando a cidade à sua juventude. Para muitos, Coimbra é um ícone nostálgico dessa longínqua juventude. E a quem não nasceu ou não vive em Coimbra, essa é a visão mitificada que lhe chega. Porque as descrições que mais pesam na construção do imaginário vêm de ex-estudantes e dão-nos essa ideia - a de que a cidade apenas existe em função da Academia. Coimbra não é apenas a cidade que acolhe a que é considerada a mais antiga e emblemática das universidades portuguesas – a urbe já existia antes de, em 1308, o rei D. Dinis ter transferido o estudo geral para a sua Coimbra. Em 1290, o papa Nicolau IV autorizara a criação em Lisboa de uma universidade. Mas os institutos que a constituíam andaram durante cerca de dois séculos e meio de Lisboa para Coimbra e vice-versa - em 1308 foram para Coimbra, em 1328, voltaram a Lisboa e em 1354 para Coimbra, regressando a Lisboa em 1357. E é neste ano que uma bula do papa Gregório IX autoriza a Universidade a outorgar os graus de bacharel, licenciado e doutor. Só em 1537, a Universidade voltaria a Coimbra e até à reforma pombalina do Ensino, será a única instituição do Ensino superior em Portugal. Com excepção da Universidade de Évora, nascida do Colégio do Espírito Santo gerido pela Companhia de Jesus e criada pela bula Cum a nobis, do papa Paulo IV, em 1559. Mas não foi a instalação da Universidade que tornou a cidade importante.
Foi a importância de Coimbra que aconselhou a instalação ali da Universidade. O conceito de capital não existia com o sentido que hoje lhe damos – a capital do reino era onde a Corte estivesse instalada. E Coimbra era uma das cidades onde, sobretudo durante a primeira dinastia, a Corte permanecia mais tempo.. Seis reis ali nasceram. Não conto com o Fundador que, segundo o Professor Luís Krus, ali terá nascido também. Mas não queremos entrar nessa discussão, sabendo-se que vimaranenses e viseenses disputam acerrimamente a posse do berço de Afonso I. Coimbra teria argumentos para entrar nessa corrida. Mas chega-lhe este facto indesmentível: foi ali que Afonso Henriques quis ser sepultado - e ali repousam os seus restos mortais, na Igreja de Santa cruz, sob um túmulo magnífico construído no século XVI.
Aeminium foi o nome que os Romanos deram à cidade que nascera junto do rio Aeminium (Mondego). Foi, na era cristã, sede de Diocese, substituindo a cidade romana de Conímbriga. Com a invasão moura, Coimbra, situada na zona tampão entre território cristão e árabe, passou a ser um importante entreposto comercial. Mudou de mãos com frequência - em 871 era o Condado de Coimbra mas só em 1064 a cidade foi reconquistada por Fernando Magno de Leão. A cidade cresceu e prosperou, governada por Sesnando, um moçárabe. O Conde D. Henrique e D. Teresa, quando lhes foi concedido o Condado Portucalense, passaram a residir em Coimbra, D. Afonso Henriques ali instalou a sua Corte, podendo dizer-se que foi a primeira capital de Portugal, condição que só perdeu em 1255, quando a Corte se mudou para Lisboa. Nesse século XII em que foi cabeça do reino a cidade apresentava um tecido urbano revelador de diferenças sociais – na parte alta da cidade (Almedina) residiam nobres e clérigos, enquanto na parte baixa, junto ao rio, se situavam habitações e tendas de artífices e mercadores. Quando em 1537 a Universidade transitou, desta vês definitivamente, de Lisboa para Coimbra, a importância da instituição sugou todo o protagonismo da urbe – Coimbra passou a viver em função da sua Universidade e só no século XIX a mancha urbana se expandiu para lá das muralhas que acabaram por desaparecer no furacão da Reforma Pombalina.
A Universidade passou a ser o coração da cidade que viveu durante séculos quase ao ritmo das badaladas da Cabra. Um coração de bronze. Numa edição que, como a nossa, se debruça principalmente sobre os aspectos culturais da vida coimbrã, a Universidade surgirá com frequência. E, confirmando essa omnipresença, será com os Antigos Orfeonistas Universidade que abrimos esta edição inteiramente dedicada a Coimbra. Cantando a canção de Raul Ferrão e José Galhardo que hoje associamos indissoluvelmente à bela cidade do Mondego.
Vamos encerrar esta primeira Semana do Ensino. O debate suscitado pelos textos apresentados irá ocorrer mais tarde. Parece-nos, no entanto, que esta fase de apresentação de ideias e de defesa de pontos de vista foi bastante positivo.
Agradecemos, em primeiro lugar, ao Carlos Mesquita que lançou a ideia desta iniciativa. Foi dele o texto com que começámos. Agradecemos também ao Professor Júlio Mota Soares, docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, que nos deu uma preciosa ajuda, não apenas com o texto que nos enviou, como também com os artigos, por si traduzidos. Agrdadecemos também ao Professor Raúl Iturra, catedrático do ISCTE (actual---), que nos cedeu-nos o seu texto sobre o Proceeso Educativo, ao Professor Fernando Pereira Marques, professor da Universidade Lusófona, e à sua editora Coisas de Ler, pela autorização que nos deram para transcrição de um capítulo do recém-lançado livro "Sobre as Causas do Atraso Nacional"; o Professor Sílvio Castro, catedrático da Universidade de Pádua.
Outros colaboradores como Josep Anton Vidal que, tendo enveredado pelos caminhos da Edição, nunca esqueceu a sua condição de professor e pedagogo, a Manuela Degerine, professora num liceu de Paris e que nos revela a sua experiência. Last but not least, Alexandra Pinheiro que, membro do Forum Liberdade de Escolha, publicou aqui uma opinião sobre as vantagens do esnsino privado relativamente ao público, texto que gerou uma animada discussão.
Agradecemos a todos os que com os seus posts ou comentários animaram esta I Semana do Ensino. Vamos voltar muitas vezes a este tema tão importante.
Jean Jaurès (1859-1914), líder socialista francês.
João Machado
Escrevi este post no início do Estrolábio. Embora tenham decorrido apenas pouco mais de seis meses, o problema da liberdade de expressão está desde então ainda mais agravado. Veja-se o que se está a passar com o Wikileaks. Não conheço os mentores desse projecto, não sei quem são. Mas sei que o que têm feito é da maior importância para a liberdade e a democracia. Ajudará com certeza a compreender e a interpretar muitos dos acontecimentos recentes, que tanto nos têm afectado. E porá à vista de todas algumas das mãos invisíveis que estiveram por detrás desses acontecimentos. Acima acrescentamos um fotografia de Jean Jaurès, líder socialista, defensor de Dreyfus e pacifista, que foi assassinado por um nacionalista fanático.
É comum ouvirmos dizer que hoje em dia existe liberdade de expressão. Contudo essa afirmação não resiste a uma observação mais aprofundada. A maior parte dos cidadãos dificilmente consegue transmitir qualquer opinião mais significativa através da chamada comunicação social, mesmo quando disso sente necessidade. Muitas forças políticas e sociais também encontram muitos obstáculos para conseguirem fazer chegar ao público uma mensagem mais elaborada. Quando tentam fazê-lo vêem frequentemente deturpadas as imagens e ideias que pretendem dar a conhecer.
Também se ouve com frequência gabar a sociedade em que vivemos e o nosso sistema político por permitirem o convívio de diferentes ideias e de modos de vida. Novamente, temos que constatar que esta segunda afirmação não contém muito de verdade. Existem, é verdade, diferentes maneiras de ser e de pensar, mas os valores dominantes colocam-nas numa escala pré-determinada, que influencia decisivamente a opinião da maioria.
A comunicação social é controlada pelo Estado e pelos grandes grupos económicos. Os pequenos jornais, as rádios locais têm públicos restritos e debatem-se com cruéis limitações que dificilmente ultrapassam, apesar do enorme valor de muitos dos seus responsáveis.
O escritor e activista britânico George Monbiot escreveu a semana passada, na coluna que mantém no Guardian, que a mentira mais perniciosa em política é que a imprensa é uma força democratizante. Alguns afirmarão que constituirá uma incongruência escrever esta frase num jornal de grande tiragem. Pessoalmente, penso que Monbiot dificilmente conseguiria publicar a sua coluna noutro jornal que não o Guardian, e nunca na maioria dos países do mundo. Mas também penso que culpar a imprensa e a comunicação social em geral pelas limitações à democracia é um pouco como matar o mensageiro que nos traz uma má notícia (o problema muitas vezes é que nem consegue transmiti-la). O problema está obviamente nas pressões e limitações que incidem sobre toda a comunicação social. No chamado mundo ocidental são sobretudo (não só) de carácter económico. As indignas manipulações que se constatam são um reflexo deste facto. Foi outro britânico, Lord Acton, que disse abertamente aquilo que todos instintivamente sabemos, que o poder corrompe. Não é preciso contar o Citizen Kane para concluirmos que o poder da comunicação social não é excepção.
O movimento dos blogues tem constituído uma maneira de contornar aquelas pressões e limitações. Em muitos lados do mundo é uma maneira razoavelmente eficaz de fazer conhecer factos e ideias, em alternativa à comunicação social tradicional. O seu alcance depende obviamente de muitos factores, como por exemplo a disseminação da internet. Mas o fundamental é contribuir para contrariar o crescimento do pensamento único, cada vez mais forte nas últimas décadas, à sombra de pretensas políticas realistas, de apregoados apaziguamentos ideológicos, que apenas servem para camuflar pretensões de afirmação e de eternização do poder que nada têm de democráticos, nem têm a ver com as liberdades ou os direitos fundamentais.
teremos música romântica, um antropólogo distinto e algo para os noctívagos, insones & afins, dos quais nunca nos esquecemos. Um tema para meditar, desta vez.
E os Gato Fedorento começam a noite da melhor maneira ...
De hoje a uma semana, dia 26 de Novembro, celebramos aqui o Dia do Porto. Porquê? Não se cansem a procurar nas efemérides – tal como fizemos para o Dia de Lisboa – porque sim! Além desta justificação tão abrangente, temos outras: porque muitos de nós (colaboradores e visitantes) são portuenses, porque todos amamos o nosso Porto. Mas não precisamos de justificar a razão por que dedicamos uma edição inteira ao Porto. O que digo a seguir deve ser entendido como uma introdução ao tema. Não será novidade para os portuenses, mas talvez o seja para alguns dos que lá não nasceram.
Em Portugal, a primeira sede da Corte foi, como se sabe, Coimbra. Desde a Fundação até 1255, ali esteve instalado o rei. Nesse ano, no reinado de Afonso III, a Corte foi transferida para Lisboa. Mas os reis e os seus familiares, conselheiros e servidores iam deambulando pelo território (Mário Soares com as suas «presidências abertas», não inventou nada) – Santarém, Leiria, Coimbra… Porque, segundo julgo saber, o termo «capital» não existia na Idade Média. Dizia-se a Corte. E a Corte era onde os reis estavam na altura. Estas reais deambulações, desde o século XIV, não incluíam o Porto, pois uma carta de D. Fernando, datada de 1374, marcaria a história do Porto para os séculos seguintes. Por essa carta régia emitida pelo monarca a rogo dos burgueses da cidade, ficavam os nobres e prelados do reino proibidos de permanecer na cidade do Porto por mais de três dias. O direito de aposentadoria que obrigava os súbditos do reino a ceder a sua casa ao rei, a qualquer nobre ou alto prelado que assim o desejasse, deixou de ser observado no Porto. Um privilégio do burgo que deste modo, evitava a humilhação por que muitos súbditos passavam ao ver suas casas devassadas pelos nobres e suas comitivas, arrogantes, despóticos, e cometendo, por vezes, as arbitrariedades que se adivinham.
Esta medida real, solicitada pela burguesia portuense, vantajosa no curto-prazo, retirou protagonismo à cidade, dela afastando os eventos mais importantes, pois a Corte nunca por ali assentava arraiais. Importância que viria a recuperar, quase quatro séculos depois, no consulado do Marquês de Pombal, com a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 1756, e situando no Porto as infra-estruturas de escoamento do vinho produzido nas encostas do Douro – na época, o mais importante produto nacional de exportação.
O Porto foi o grande fenómeno de explosão urbana do século XIX. Estas medidas tomadas pelo Marquês de Pombal no que se refere ás vinhas do Douro e à utilização obrigatória do porto de Leixões para exportar o vinho duriense, deram à cidade um crescimento como até então nunca ocorrera em Portugal, salvo talvez na Lisboa quinhentista, com o afluxo de gente de toda a Europa. Há dados sobre o crescimento da cidade, nomeadamente do livro de Custódio Cónim - Portugal e a sua população (Publicações Alfa, Lisboa, 1990). Mas seria ocioso estar aqui a debitar números e a exibir gráficos e quadros estatísticos.
Terra que tem dado ao País um poderoso contributo em todos os campos, no plano intelectual são tantas as figuras ilustres nascidas na cidade que não caberia aqui referi-las (sob o risco de se verificar alguma gritante omissão) – digamos que entre Fernão de Magalhães e Manuel de Oliveira, milhares de portuenses intervieram e intervêm activamente na vida artística, política, económica de Portugal.
Porque sim, celebramos as nossas terras – Lisboa em Outubro, o Porto em Novembro… Coimbra será cantada em Dezembro. Seguir-se-ão as grande regiões. E não esqueceremos os países lusófonos de onde provêm as maiores colónias de imigrantes em Portugal, Brasil e Cabo Verde, sobretudo.
Dia 26, desde o primeiro ao último minuto, o Estrolabio estará inteiramente dedicado ao Porto.
Utilizo hoje o meu espaço habitual, não para, como frequentemente acontece, para defender ideias que, em alguns casos, são meramente pessoais e noutros tentam fazer ecos de anseios colectivos – pregações no deserto que, por vezes, chegam a oásis onde amigos, concordando ou discordando, discutem com base nas palavras que a meio do dia lanço, esperando com isso não estragar digestões (embora a minha esperança, por vezes, seja essa – a de prejudicar algumas digestões).
Hoje venho ocupar-me de um assunto interno do Estrolabio, deste microcosmos onde, desde Maio, quase quarenta amigos lançam palavras que, numa média diária, põem mais de trezentas pessoas a ler mil e tal páginas. É pouca gente? É a que é. Nós gostamos de trabalhar para públicos pouco numerosos. Somos como aqueles actores que não se adaptam aos grandes palcos e preferem trabalhar num pequeno bar, cantando declamando ou dizendo piadas. O Estrolabio não atrai tanta gente como o Rock in Rio, mas isso não nos incomoda, pois quem tem essas grandes audiências consegue-o de uma forma pela qual não queremos enveredar. Não é um mal, o termos entre trezentos e quatrocentos visitantes – é uma opção.
O nosso editorial do primeiro dia está aí na barra lateral e nele se anunciam as nossas intenções. A elas queremos ser fiéis - não queremos ser um estádio de futebol. Preferimos ser um piano-bar. Gostos não se discutem.
Há meses atrás, o nosso colaborador Sílvio Castro, lançou-nos o repto de revelarmos quais os dez livros do Século XX que mais nos tinham impressionado. Muitos de nós correspondemos e os depoimentos foram interessantes. Lança-nos agora um outro desafio – o Evento. Diz ele: «Trata-se de um jogo, sério, muito sério, que os amigos do Estrolabio de todos os Países de Expressão Portuguesa poderão enviar, exaltando um evento de uma das Literaturas dos 9 Países de Expressão Portuguesa. O conceito de evento é o mais amplo possível: pode referir-se a uma data, a uma obra, a um episódio, a um movimento etc, etc.»
E, dando o exemplo, enviou-nos já três textos - um relacionado com a literatura brasileira (já publicado), outro com a portuguesa, um terceiro com a angolana.
Portanto, a ideia é – colaboradores e leitores mandarem-nos textos que exaltem uma obra, um movimento, uma polémica, que constituam um momento-chave relativo a uma das nove literaturas de língua portuguesa. Pode repetir-se literaturas já referidas por outros apontando outro evento. É natural que a grande maioria dos depoimentos se refira à literatura portuguesa. Faço apelo aos leitores, aos que não constam (por enquanto) da lista de colaboradores, particularmente dos que nos lêem fora do País – mandem-nos os vossos depoimentos.
Espero, desta vez, não ter estado a pregar no deserto.
Em Outubro passado, publicámos no Estrolabio uma carta aberta do Professor Júlio Marques Mota, docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra dirigida aos líderes parlamentares da Assembleia da República. Transcrevemos essa carta e o vigoroso testemunho nela contido.
De todos os líderes parlamentares só o Deputado José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, respondeu ao Professor Marques Mota. Carta que incluímos neste dossiê.
Finalmente, este nosso importante documento é completado com uma carta de Júlio Marques Mota a José Manuel Pureza.
No seu conjunto, este nosso dossiê reúne documentação valiosa. Ela permite-nos tirar ilações sobre a cultura, a economia, a política, sobre a nossa sociedade.
Estrolabio agradece ao Professor Júlio Marques Mota e ao Deputado José Manuel Pureza a disponibilização da sua correspondência. Um agradecimento caloroso ao nosso colaborador António Gomes Marques, sem o qual a organização deste dossiê não teria sido possível.