Estrolabio é a forma arcaica, em português e em castelhano, de astrolábio. Aparece assim grafada em numerosos textos do século XVI. Na obra de Hieronymus Münzer, editada em 1508 logo no extenso título aparece a palavra: Regimento do estrolabio e do quadrante pera saber ha declinaçom e ho logar do soll em cada huñm dia e asy pera saber ha estrella do norte; (13r): Tractado da Spera do mundo tyrada de latim em liguoagem com ha carta que huu~gramde doutor aleman mandou ao rey de purtugall dom Joham el segu~do.
Na famosa carta de João Faras a D. João II, a grafia é também a mesma: Fecha en uera crus a primero de maio de 500. pera la mar mejor es regyrse por el altura del sol que non por ninguna estrella e mejor con estrolabio que non ...
Podíamos referir muitos exemplos, mas apenas vamos recorrer a mais um, ao que nos levou a dar este nome ao nosso blogue: diz Gil Vicente, na Copilaçam, fl. 258 vs. ed. De 1562.: O ano de mil & quinhentos & dezanove veo a esta corte de Portugal hum Felipe Guilhem, Castelhano, que se disse que fora boticayro nel Porto de Sancta Maria; o qual era grande lógico & muyto eloquente de muyto boa prática, que antre muytos sabedores o folgavam d'ouvir: tinha algua cousa de mathemático; disse a el-Rey que lhe queria dar a arte de Leste a Oeste, que tinha achada. Pera dar mostra desta arte fez muytos estromentos, entre os quaes foi hum estrolabio de tomar o sol a toda a hora: praticou a arte perante Francisco de Melo, que entam era o milhor mathemático que havia no reyno, & outros muytos que pera isso se ajuntaram per mandado de Sua A.."
Esta frase vem integrada no prólogo de umas trovas que o pai do teatro português fez a um Castelhano. Não transcrevo todo o prólogo porque a segunda parte é negativa para o Castelhano, visto que acabou por ser preso em Aldeia Galega como charlatão. E as trovas de Gil Vicente são uma sátira contra o tal castelhano. Mas, então, o que é um estrolabio ou um astrolábio?
Trata-se de um instrumento naval antigo, usado para medir a altura dos astros acima do horizonte. A sua invenção é geralmente atribuída a Hiparco de Niceia, astrónomo grego do século II a.C., cujos trabalhos são conhecidos graças a Ptolomeu. Mas talvez seja mais correcto imputar a sua criação às teorias matemáticas desenvolvidas por Euclides, Ptolomeu, Hiparco e Hipátia de Alexandria. A sua utilização por navegadores europeus e árabes durante a Idade Média, permitiu aperfeiçoá-lo. Foi por muito tempo utilizado como instrumento para a navegação maritima com base na determinação da posição das estrelas no céu, nomeadamente permitindo medir a altura do Sol.
Na sua obra Curso de História Náutuca, Luís de Albuquerque, referindo-se aos primórdios da navegação astronómica, diz que «a náutica renovada com fundamento na astronomia exigiu a medição de alturas, em geral meridianas, do Sol e de outras estrelas. Os primeiros instrumentos usados para medir essa coordenada dos astros foram os que já tinham longo curso na Idade Média: quadrante e astrolábio plano».
No seu Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, o mesmo autor diz-nos que «…o astrolábio foi um instrumento de uso muito corrente em astronomia e astrologia durante toda a Idade Média. Composto essencialmente de um disco de latão graduado na periferia, de um anel de suspensão e de uma mediclina com as suas pínulas suspensas no centro, podiam com ele medir-se alturas dos astros, mas para outras operações astrológicas ou de agrimensura, o disco tinha traçadas no rosto e no dorso uma série de linhas além do zodíaco e da fixação de algumas estrelas, que possibilitavam essas operações». Portanto, o astrolábio náutico media a altura dos astros para ajudar na localização em alto mar. O astrolábio moderno de metal foi aperfeiçoado por Abraão Zacuto, um cientista hebraico, que viveu em Portugal.