Há dias, no Estrolábio, numa sua mensagem dirigida ao Carlos Loures, fez alguns comentários a propósito dum texto de minha autoria.
Agradeço a atenção que fez o favor de dispensar-me mas, sem querer polemizar sinto-me obrigado a considerá-los, apenas e sobretudo, como subentendidos deduzidos – mas mal – do meu texto sobre a, para mim, muito desejável Independência da Galiza.
No meu escrito não há nenhuma referência a Liberdade, a associação de nacionalismo com liberdade nem, tão pouco, a base religiosa e étnica.
Para quê entrar nesses terrenos. Falei de Independência Nacional, de Direitos Humanos e de Democracia. Há terrenos que não pisei pelo que, para lá, não devo ser empurrado. Se lá tivesse estado – e nunca estive – pelo certo, retirar-me-ia, porém, sem espírito de recuo. São áreas demasiado especulativas para as minhas capacidades.
“Tenho um conceito de Liberdade – escreve o Matos Gomes – que não se sente ameaçada, nem ofendida por a Galiza não ser independente”. Não consigo acompanhá-lo mas o que está em causa é saber se o conceito de Democracia (Democracia e Liberdade não são sinónimos) está ameaçado e ofendido. Para mim está e está definitivamente. Pode haver Liberdade e não haver Democracia. Em Portugal, por exemplo, há Liberdade (isto é, a Constituição reconhece e codifica as Liberdades políticas) mas, em minha opinião – e estou bem acompanhado – não há Democracia. A Constituição não permite chegar a tanto, excepto se o modelo conceptual constitucional, velho de milénios, for julgado como uma boa resposta. Para os possidentes, é.
No caso do estado espanhol até pode haver todas as liberdades políticas mas se há – como há – Nacionalidades oprimidas, então, não há Democracia. E, antes do demais, é isso que está em causa.
Haverá Democracia num Estado – o tal Estado-Nação – em que há Nacionalidades oprimidas? A partir da nossa fronteira terrestre, por essa Europa fora, são imensas.
Para o Matos Gomes há dificuldade em definir o que é uma Nacionalidade o que, em meu entender, só pode decorrer da confusão imposta pelos Estados expansionistas que inventaram o tal conceito de Estado-Nação.
O que é, por exemplo, um espanhol? Um alemão? Um italiano? Um russo?
Os R eis Católicos, Napoleão, Cavour, Bismarck e Ivan III, cada qual na sua modalidade, inventaram os Estados-Nação. Por cá não se chegou a falar dum Portugal do Minho a Timor? A Inglaterra, sob a designação Reino Unido, coloniza a Escócia, a Irlanda do Norte e o País de Gales e, sem propriedade mas astúcia vai ao ponto de chamar-lhes britânicos; rouba-lhes a indicação da nacionalidade em favor daquela da insularidade!
Tentar definir o que é uma Nacionalidade não pode ser feito em função das designações que os Estados-Nação a si mesmo deram mas sim em respeito pelas designações históricas que, sucessivamente, foram submetidas e esbulhadas das suas autonomias políticas. Dever-se-á contemporizar com os crimes de usurpação? Aceita-se a sua prescrição?
Um alsaciano ou um loreno, como exemplos bem frisantes, têm sido, sucessivamente, alemães e franceses, quando, afinal, só devem ser alsacianos e lorenos, estes últimos só incorporados no reino francês, em 1738.
No meu texto sobre a Independência da Galiza não há qualquer sugestão de fazer substituições dos múltiplos invasores que proliferam na Europa por qualquer religião ou qualquer etnia (uma designação sem qualquer sentido) tal como nada de semelhante é preconizado em relação a qualquer Estado doutros continentes. O que haverá no meu texto que justifique haver tais referências, ou inferências? Quem o ler como irá situar-me? Não gosto.
A Ordem Internacional é justa? Não deve ser contrariada?
Só os portugueses é que não podiam ter colónias? Os outros têm outros direitos?
O Matos Gomes fala do grande sucesso dos Estados-Nação porém, se as coisas forem bem medidas e melhor avaliadas, os seus resultados mais influente foram e têm sido muito prejudiciais, tudo por força dos efeitos dos seus vários expansionismos – os seus imperialismos – que vivem em contradição constante com os seus tão apregoados equilíbrios estratégicos.
Um dia conversaremos.
Um abraço do
Carlos Leça da Veiga