Quarta-feira, 2 de Março de 2011

Estás a ver Ó Deolinda!

12 de Março de 2 011: 1 milhão de pessoas na Avenida da Liberdade, pela demissão de toda a classe política.

Deolinda, lembras-te? Pois, em vez de chorar dão corda aos sapatos e aí vão vocês fazer uma coisa que é habitual ser feita por quem tem emprego seguro e para toda a vida. Vão exigir que sejam ouvidos, vocês que são 1 milhão e que constituem o maior grupo de pressão que há cá na terra. As corporações instaladas passam a vida a descer a Avenida a exigirem mais e mais e, agora, aparecem vocês a exigirem, não mais, mas o mínimo. Ter um emprego!

 

Ó Deolinda, eu tinha proposto que uma hipótese é a emigração, e na vossa idade é sempre uma opção, mas há quem ache que tem o direito de trabalhar na sua terra, e bem, e aí estão vocês a fazer tremer muita gente. Porque cá no burgo, come quem faz barulho, e faz barulho quem tem formas organizadas para se fazer ouvir, por isso, cá no cantinho, os mais fracos e mais pobres nunca comem nada.

 

A partir de agora, se vocês conseguirem manter-se unidos, os investimentos começam a ser dirigidos para a criação de emprego, porque, verdade seja dita, nunca haverá 100% de população activa com emprego mas vai haver maior flexibilidade, mobilidade e quem está desempregado pode ter algumas hipóteses. Não fiquem é à espera que os que têm emprego lutem pelos vossos direitos, pois não lutam nem nunca lutarão!

 

Já andam aí na blogoesfera os "terroristas de boca", que vocês são gente parva, mazinha, cuidado que é gente do pior, quando afinal vocês só estão a praticar um direito, o da liberdade de expressão e a fazer o que as corporações fazem vezes sem conta.

 

Estás a ver como de parvo vocês não têm nada?

 

Dentro do Coliseu com a lágrima no olho a fazer "encores" é que se não vai a lado nenhum!



 


 

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2011

Emprego e Desemprego na Juventude Portuguesa (2) - por Júlio Marques Mota

(Conclusão)

B) Os comentários, à margem, porque de outra coisa não sou sinceramente capaz.~

 

Os textos falam por si. Deixemo-los então na expressão da brutalidade do que representam, aqui, na Tunísia, no Egipto e a acreditar em Eichengreen, na China, também. Um dos  alunos fala em Carta Aberta. Com efeito  muito brevemente  penso enviar ao meu ministro de Tutela, Mariano Gago uma carta aberta sobre a política de educação educação deste nosso  país. Faço anos, estou de saída  e é tempo de balanços, de indignações. Não sei ainda que destino adicional lhe  darei para além do envio ao seu destinatário de eleição, virtual talvez, o senhor Ministro. Mas não é isso que aqui interessa. Face aos materiais acima  transcritos, escrevi esta pequena nota que agora o aluno em questão me pede que venha a colocar  na carta aberta ao Ministro conjuntamente com a sua descrição da entrevista na REMAX.

 

Para os visitantes do Estrolábio, os textos dos estudantes de Bolonha, a nota, um excerto talvez da próxima carta aberta, e um pouco também  da angústia de quem várias vezes parou, o seu teclado olhou com a sensação de quem nem sequer as teclas queriam escrever  o que  pensou, como se um rio de tristeza aqui, minutos antes, por elas passou. Mas uma pergunta no ar aqui deixo: quantos terão já desistido de ir para a construção trabalhar para emprego poder procurar. E quantos nem isso serão capazes de fazer, por matriz cultural ou  por  outro tipo qualquer de impossibilidades ?

 

A brutalidade de tudo isto deixa-nos extraordinariamente incomodados e sem nenhuma vontade de  escrever. Vontade de  fazer, mas o quê?  A vontade existe mas não é bem para isto escrever.. Da exploração intensiva de empresas como a PT que funcionando num ambiente clean deixam  às outras o papel sujo da exploração intensiva e em que  nem têm nada a ver com isso, do comportamento da PT interessada apenas na obtenção de milhões e não na forma como estes são obtidos, são sempre obtidos  apenas por magia dos golden-boys que o sistema inventou e altamente sempre remunerou, da PT apenas interessada em descobrir como pode afinal todos estes lucros de milhões ao Estado subtrair da imposição fiscal a dever este exigir, de um Estado que se pavoneia da modernidade instalada e de socialista chamada, mas que é  por quase todos nós bem amaldiçoada, comungando-se ao nível da Administração dessa estranha cumplicidade entre os goldens-boys na PT e os golden-boys ao Governo ligados e que dela fazem a sua legalidade, desta PT à Multinacional Vencedores Primatas, a distância não é nenhuma.

 

O desrespeito é o mesmo, mas  há aqui um ou outro detalhem, senhor Ministro, sobre as suas Universidades   e sobre as suas políticas que de vergonha nos fazem corar. No texto e neste contexto, o de selecção, o de tensão para definir o caminho de um posto de trabalho fortemente ambicionado e possivelmente a não ser alcançado,   o tempo de leitura e de compreensão, 3 minutos por página, é ostensivamente pouco para muitos dos seus alunos assim se poder  humilhar. Mas nesta violência, assistimos ao preço elevado da sua modernidade, senhor Ministro, não da minha que proíbo taxativamente os alunos de utilizarem máquina  de calcular nos pontos de exame,  pois nesta  corrida a um emprego precário e incidindo apenas sobre 5 por cento dos candidatos , depois de uma forte selecção, estes ainda têm que fazer contas sobre fracções, para se saber se as sabem fazer. De tudo o resto, as suas funções afinal, o Estado se esqueceu e, quanto a isto, o senhor Ministro - igual crítica à senhora Ministra do Trabalho pode ser feita, pois que mais interessada está em descobrir quais  são os direitos de trabalho que o mercado financeiro quer abolir, do que se  interessar pela leis do trabalho a fazer cumprir e o trabalho digno garantir -  anda agora sobretudo  interessado  em colocar os professores não a questionar, o que eu aqui faço, a obra feita e o que há a fazer no Ensino Superior, não, está-se apenas ou sobretudo interessado  em os professores poder silenciar pelos múltiplos enquadramentos com que o poder o  pode mandatar.

 

E entretanto, a produção maciça de diplomas continua e os desajustamentos entre a realidade e o que nos dizem pensar dela não deixa de aumentar.  Respeito pela  juventude gostava de o ver, respeito afinal pelo futuro de um país  que nele (futuro) e nela (juventude)  necessariamente tem de crer, e que obrigatória e diariamente o estará a fazer, de forma surda ainda mas que as linhas de saída há-de nas suas próprias mãos seguramente vir a reter. Como assinala Stiglitz, a respeito da Tunísia: “quando é necessário ter relações para encontrar um posto de trabalho, quando os empregos são cada vez mais raros, quando os dirigentes e altos funcionários  acumulam fortunas  enquanto que os recursos são limitados nasce um sentimento de injustiça e depois de revolta.” Terá isto apenas a ver com a Tunísia, senhor Ministro, qualquer que seja o Ministro que estas linhas possa estar a  ler?

publicado por Carlos Loures às 18:00

editado por Luis Moreira às 19:09
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Segunda-feira, 14 de Fevereiro de 2011

Emprego e Desemprego na Juventude Portuguesa - por Júlio Marques Mota

 

 

 

De como vai o mercado de trabalho para os licenciados deste país, para os licenciados de Bolonha, pois estes casos referem-se a três jovens recem-licenciados, e uns embaraçados comentários que se lhes seguem. A) Vias de desemprego, os relatos Primeiro Candidato a emprego Empresa Ganhar Desafios pertencente ao Grupo KF Actividade Comercial - Comercial porta a porta, door-to-door. Venda de telefones Optimus Remuneração de base - ZERO; Apenas comissões variáveis portanto com as vendas. Deslocações de serviço. No meu carro pessoal e caso fosse com outros colegas nas suas viaturas teria de dar 5€ ao proprietário da viatura por dia.

 

Preparação para actividade : Depois da entrevista tive um dia de formação no terreno, para dar a minha resposta final Resultado desta oferta de emprego: Não, não aceitei, porque os métodos de venda que presenciei não me pareceram eticamente recomendáveis . Como ideia: grande maioria do nosso público-alvo contactado, eram pessoas acima dos 65 anos de idade. Pessoas fragilizadas, sem qualquer hipótese de defesa, com baixas reformas, a viver em aldeias bastante afastadas dos centros urbanos, às quais eram ocultadas informações importantes, ou eram fornecidas falsas informações.) Segundo candidato a emprego, uma outra empresa, Empresa de recrutamento Os Talentosos, e o local de trabalho era a Portugal Telecom Actividade : Comercial door-to-door, sobre venda de telefones, internet e televisão

 

Na entrevista de selecção foi-me devidamente explicado que antes da resposta final iria ter um dia de formação no terreno. Na hipótese de aceitar , a minha remuneração seria da seguinte forma, a partir somente do segundo mês, pois havia um mês para formação profissional: SMN (pago pela empresa de recrutamento) + subsídio de refeição e comissões (pagas pela PT) Aceitei, uma vez que tudo me pareceu profissionalmente muito limpo em que se apresentavam todas as condições dos serviços. E devemos sublinhar que o público-alvo contactado era bastante amplo. 1º mês era de formação profissional - frequentar curso de formação profissional nas instalações da PT, 8h por dia. - caso ocorra algum imprevisto (alheio à empresa de recrutamento) que impeça a frequência (a minha) ou que implique alteração de local ou horário do curso, não me seria conferido a qualquer título o direito de indemnização - a minha admissão ficaria dependente do meu aproveitamento até ao final do mês de formação. - até ao final da formação não poderia desempenhar trabalho subordinado - seria pago um valor inferior a 3€/hora, que apenas seria processado se obtivesse bom aproveitamento e se permanecesse na empresa pelo um período mínimo de um mês após a conclusão do curso. Este mês de formação profissional, na realidade consistiu em ir para o terreno no carro da empresa vender porta a porta, door-to-door, como se eu já fosse um comercial normal.

 

publicado por Carlos Loures às 22:00

editado por Luis Moreira às 21:58
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Quarta-feira, 2 de Fevereiro de 2011

Trabalhar mais, para ganhar o quê? - por Robert Castel

 

 

No momento em que a escassez de empregos é sabiamente mantida, onde a precariedade ganha o terreno e onde, trivialmente, o trabalho se reduz a um custo, o sociólogo Castel interroga-se sobre a justificação do seu sacrossanto “valor” tanto em voga e ao gosto da direita, com se mostra com a eleição do candidato Sarkozy.

Desde há uma dezena de anos que se tem estado a produzir uma transformação considerável e inesperada na representação da função e na importância do trabalho na sociedade francesa. Em meados dos anos 1990 floresciam os discursos sobre o trabalho " valor em via de desaparecimento" , ou mesmo sobre o " fim do trabalho". Traduziam a opinião - errada mas na moda - que o trabalho perdia a sua importância como pedestal privilegiado da inserção dos indivíduos na sociedade.

Paralelamente, o debate público era animado por reflexões mais sérias sobre a possibilidade de lutar contra o desemprego reduzindo a duração do trabalho a fim de melhor reparti-lo. Reflexões mais sérias porque o pleno emprego não se mede pela duração do trabalho, nem a sua produtividade pelo tempo passado a trabalhar. Não é por conseguinte insensato pensar que, no âmbito de uma melhor organização do trabalho, tendo em conta os ganhos de produtividade e os progressos tecnológicos, se poderia trabalhar menos trabalhando melhor, como o atesta a história do capitalismo industrial.

Qualquer que seja a sua pertinência, estes debates desapareceram completamente da cena pública. Assiste-se, pelo contrário, a uma extraordinária sobrevalorização do trabalho feita através de uma ideologia liberal agressiva que encontra a sua tradução política directa nas orientações da actual maioria, com o presidente da República à cabeça. A virulência da crítica às leis ditas " Aubry" sobre a redução do tempo de trabalho após a mudança de maioria em 2002 roçou, por vezes, a histeria. " A França não deve ser um parque de divertimentos" , declarava durante o verão de 2003 Jean-Pierre Raffarin, então primeiro ministro. A França tornou-se a lanterna vermelha da Europa, ela atola-se no declínio porque os Franceses não trabalham bastante: a campanha presidencial foi dominada por esta apologia do trabalho, e a habilidade com a qual Nicolas Sarkozy a orquestrou foi, para muitos, a razão do seu sucesso.

Todos se lembram dos slogans que incitam ao trabalho, e que trazem consigo a promessa que trabalhar mais é, ao mesmo tempo, o meio para melhorar o seu poder de compra e também o meio para realizar o seu dever de cidadão e ajudar a França a reencontrar o lugar que merece no concerto das nações. Isto, evidentemente, para todos os que querem bem trabalhar, que têm a coragem para tal. Esta celebração do trabalho com efeito é acompanhada da estigmatização de todos os que não trabalham. É a suspeita que pesa sobre os desempregados de serem " desempregados por vontade própria" , sobre os quais se vai multiplicar os controlos e as pressões para que aceitem todo e qualquer emprego. É também a condenação dos " assistidos" , como os beneficiários do RMI, acusados de serem parasitas que vivem às custas da França que se levanta cedo.

Estas posições, de resto populares, poderiam parecer se não aberrantes, pelo menos paradoxais, dado que uma das características da situação actual está precisamente no facto de que o trabalho falta e que o pleno emprego já não se assegura mais, desde há trinta anos. Contudo, é neste contexto que o estímulo incondicional ao trabalho assume todo o seu verdadeiro sentido.

É necessário com efeito pensar em conjunto as três componente da situação presente: primeiramente, há o não-emprego, isto é uma escassez de postos de trabalho disponíveis sobre o mercado de trabalho susceptíveis de assegurar o pleno-emprego; deuxio, há uma sobrevalorização de trabalho de que resulta, com efeito, um imperativo categórico, uma exigência absoluta de trabalhar para ser socialmente respeitável; em terceiro lugar, existe esta estigmatização do não-trabalho assimilado à ociosidade culpada, à figura tradicional do " mau pobre" vivendo às custas dos que trabalham.

Estas três dimensões funcionam de uma maneira complementar para impulsionar uma política que pode conduzir à actividade plena sem que isso signifique o regresso ao pleno emprego Todos devem e poderiam trabalhar se se baixa o limiar de exigência que comanda o acesso ao trabalho. É necessário por conseguinte trabalhar ainda que o trabalho não assegure as condições mínimas de uma certa independência económica. É assim que o cidadão se transforma em " trabalhador pobre" , figura que está em vias de ganhar raízes na nossa paisagem social. De modo nenhum é conveniente ou gratificante ser,  um " trabalhador pobre", qualquer que seja o ponto de vista. Contudo é melhor que ser um " mau pobre" , um miserável parasita assistido.

Desenha-se assim uma estratégia que, no limite, poderia reabsorver o desemprego ganhando progressivamente terreno através da multiplicação de formas degradadas de trabalhar. Poder-se-ia assim restaurar uma sociedade de actividade plena (palavra de ordem da OCDE) sem que se possa falar de sociedade de pleno emprego, se se entende- por emprego um trabalho relativamente seguro da sua duração (superioridade do CDI), firmemente enquadrado pelo direito do trabalho e coberto pela protecção social. O processo está em curso. De contratos ajudados em serviços pontuais à pessoa passando pela aumento rápido das formas ditas " atípicas" de empregos que representam hoje mais de 70% das contratações, põe-se em prática uma larga gama de actividades que institucionalizam a precariedade como um regime de cruzeiro no mundo do trabalho. A insegurança social está de regresso, e um número crescente de trabalhadores vive de novo " diariamente a jornada" , como se dizia antigamente.

O novo regime do capitalismo que se instala desde há trinta anos após a saída do capitalismo industrial não está em condições de assegurar o pleno-emprego. A prova: a existência de um desemprego de massa e a precarização das relações de trabalho. Mas não é isto que ele visa, e os que o realizam atiram-se pelo contrário ao estatuto do emprego denunciando os custos que este representa e os obstáculos que põe ao livre desenvolvimento da concorrência a nível do planeta.

Em contrapartida, este capitalismo pretende alcançar a actividade plena para maximizar a produção das riquezas, que continua a depender do trabalho. A China oferece neste momento o exemplo de um fantástico desenvolvimento económico em grande parte devido ao facto do custo do trabalho aí ser muito baixo, porque as garantias ligadas ao emprego estão raramente associadas às actividades que se exercem livremente.

Não estamos na China, mas a França está empenhada numa dinâmica de subida de importância em diferentes tipos de actividades, aquém do pleno emprego. Estas formas de sub emprego são geralmente pouco atractivas e elas não asseguram as condições de base necessárias para ter uma vida decente. Concebe-se por conseguinte que pressões se devem exercer para fazer aceitar estas formas de trabalho: é necessário absolutamente que trabalhes para escapar ao desprezo que está ligado ao mau pobre. É finalmente tanto sobre uma chantagem de ordem moral como sobre um raciocínio económico que assenta a orquestração actual da incondicionalidade do valor trabalho pelas autoridades que nos governam.

É necessário continuar a defender o valor trabalho, porque ainda não se encontrou alternativa consistente ao trabalho para assegurar a independência económica e o reconhecimento social numa sociedade moderna. Mas também é necessário lembrar que há trabalho e trabalho. O trabalho é essencial como apoio da identidade da pessoa através dos recursos económicos e dos direitos sociais a que dá acesso. Pelo contrário, a instituição de formas degradadas de emprego em nome da exigência de trabalhar custe o que custar e a ganhar seja o que for, tem conduzido também à degradação do estatuto de trabalhador e, finalmente, à degradação da qualidade de cidadão. Não basta " reabilitar o trabalho" , como se propõe fazê-lo o presidente da República: seria necessário respeitar a dignidade dos trabalhadores.

(Fonte: Robert Castel, Travailler plus, pour gagner quoi?,Le Monde, 9 de Julho de 2008)

A seguir: Depois da crise, que revoluções? - por Jean-Claude Milner

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 15:18
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Terça-feira, 4 de Janeiro de 2011

Carta aberta a Durão Barroso - 2 - por Júlio Marques Mota

(Continuação)

 

O Tsunami silencioso

 

Senhor Presidente, percebida de vez a questão que não se trata de desconstruir a Europa, mas sim de a reconstruir, então isto reenvia-nos para algo que antecede a situação presente, reenvia-nos para o conjunto das políticas neoliberais que antecederam a crise e a criaram, o tsunami silencioso que lentamente invadiu as nossas instituições, minando-as, que desarticulou as nossas economias, globalizando-as selvaticamente, que invadiu as nossas mentalidades, roubando-nos a capacidade de criticar, que queimou a nossa capacidade de imaginar mundos melhores, tirando-lhes a visão de futuro, É sobre esse tsunami silencioso e sobre a responsabilidade da sua existência que falarei. Mas, uma coisa é certa, senhor Presidente, sabemo-lo com o general de Gaulle quando em Pnom Penh afirmava, e cito de memória, que a democracia para se afirmar verdadeiramente como tal tem que ser capaz de reconhecer os seus erros e crescer com esse reconhecimento. Bela lição que terá perto de meio século, bela lição que é agora tempo de retomarmos em mãos, é agora tempo de os nossos dirigentes nos mostrarem que assim é ou de lhes exigirmos que no-lo mostrem. Reconhecer os seus erros, foi disso que falava o general de Gaule, corrigi-los é agora o desejo que nos vai na alma, na alma de milhões de europeus também face à catástrofe que lhes estão a impor e que têm medo, medo, medo de uma catástrofe ainda maior. Não é querer muito, é apenas querer para a Europa a democracia real.

Numa nossa carta ao Presidente da República de Portugal escrevi:

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 18:56
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Domingo, 26 de Dezembro de 2010

A geração "nem - nem"

Luis Moreira
Chamaram-lhe a geração rasca, por ser preguiçosa, meter-se nos copos, ficar em casa dos pais até aos 40 anos, não estudar, não procurar trabalho, enfim, não fazer nada. O que não se esperava é que fosse a geração "sem alternativas".


A geração anterior está bem instalada, emprego para a vida, esperar pela reforma, não há renovação no emprego, quem tem trabalho chama-lhe seu, não sai nem que seja mau trabalhador, nem se já não corresponde às exigências da função. Pior, obrigam-nos a trabalhar até mais tarde.


Também, até há pouco tempo, era a chamada "geração dos 500 euros", não dava para grande coisa mas sempre acalentava a possibilidade de ter um projecto de vida, estudar e trabalhar era norma, ia-se ganhando experiência, contactos, capacidades.


Mas a ganância e a desregulação dos mercados destruiram a economia, milhões de postos de trabalho deixaram de ser preenchidos, o investimento caíu abruptamente, e os jovens, mesmo com capacidades, não têm futuro.


Curiosamente há trabalho para as artes e ofícios, gente com menos graus académicos mas que "sabem fazer", arrancam com o seu próprio negócio e ganham a vida. Canalisadores, carpinteiros, mecânicos, informáticos "hardware", são cada vez mais os jovens que criam o seu próprio emprego, para não falar dos que saem das grandes cidades e se instalam no interior do país onde a concorrência é bem menor.


Mas há um mar de oportunidades na agricultura e na actividade marítima que precisam do apoio inicial do estado, e que potencialmente podem criar muitos postos de trabalho, bem como na reequalificação urbana que segundo a CIP ( Confederação Industrial Portuguesa) pode criar 500 000 postos de trabalho ao longo de cinco anos.


Destruiu-se a produção, somos uma sociedade de serviços em que poucas actividades têm vantagens competitivas, há que voltar a fazer o que sabemos fazer, actividades tradicionais onde temos "Know how" e matérias primas. (fileira da floresta - celuloses, carpintaria, biomassa, cortiça - texteis, agricultura- floricultura, vinho, azeite, fruticultura, verdes - actividades marítimas, Turismo, modernas tecnologias...)


E, há um principio básico, não pode ser mais favorável ficar em casa a receber subsídios do que trabalhar e ganhar uma miséria. A competitividade não pode nem deve assentar na exploração de mão de obra barata! Sem esta premissa estamos a qualificar jovens para irem procurar vida lá fora ou termos gente subaproveitada, cuja preparação académica custa muito dinheiro a todos nós.
publicado por Luis Moreira às 13:00
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Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010

Criar 500 000 empregos

Luis Moreira

A CIP retoma uma medida que está em cima da mesa desde o principio da crise. Investir na recuperação dos centros históricos das cidades.São dezenas de milhares de fogos que precisam de ser restaurados e que podem ser entregues às pequenas e médias empresas de todo o país.

Este investimento de proximidade pode puxar pelas milhares de PMEs existentes e que representam 70% do emprego e, estas por sua vez, por todas as outras que estão a montante. Tem influência, a juzante, na Lei das rendas, no IMI, na mobilidade das pessoas podendo atrair famílias para viverem no centro das cidades, nos transportes, no conforto, na segurança...

E, melhor que tudo, bastam três meses para passar à acção, começar obra, criar emprego, mexer na restauração do lugar, pôr a economia a mexer. Mas "eles" não sabem isto tudo tão natural, razoável e sensato? Sabem, mas não mexe nos grandes grupos económicos, na banca (mexe mas pouco), nos amigos consultores, nos gabinetes de advogados e, pior que tudo, não dá espaço para abrirem empresas para os acolher quando saírem do governo e fazerem contratos em que o estado paga tudo e nós pagamos o resto (olha as SCUTs)...

Como sempre se soube, os megainvestimentos para além de serem investimentos de alto risco, só começam a criar emprego daqui a dois ou três anos, não ajudam em nada a actual crise, não têm qualquer influência a curto e a médio prazo na vida das pessoas.Quem tinha dúvidas (não tinham...) tem aí o resultado, não há TGV, nem aeroporto, nem ponte sobre o tejo, mas as obras nos centros das cidades há muito que teriam arrancado.

Aliás, o reequipamento das escolas mostra isso mesmo, arrancaram e já estão em fase final de construção, deram trabalho a empresas de construção civil e arquitectos embora muito mal distribuído, foram para meia dúzia de empresas amigas sem concurso público.

Quando os nossos políticos aparecem a lamentar o desemprego e a defender o estado Social é melhor não os levar a sério, porque essa lamúria serve-lhes para o jogo político (eu sou mais solidário que tu...) mas o essencial, os lugarzinhos em grandes empresas quando saírem da governação, cantam mais alto. (olha a Lusoponte...)

Já viram algum ex-político ser administrador de uma empresa de gestão de condomínios?
publicado por Luis Moreira às 02:00
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Sábado, 6 de Novembro de 2010

Obama - jobs, jobs, jobs...

Luis Moreira

Uma das característica malignas desta crise é o desemprego que não desce, isto é, apesar das enormes ajudas financeiras dos estados à economia esta tarda a arrancar.

A crise financeira ficou para trás mas deixou rasto : um desemprego elevado, uma dívida gigante e um consumo fraco. Por estas razões e pelos fracassos das diversas políticas já são três os braços direitos de Obama que abandonam funções.

O desemprego teve profundas consequência nas eleições intercalares, o que levou os Republicanos a alcançar números no Congresso que são um pesadelo para o Presidente Americano.

Muitos países europeus já deixaram os incentivos à economia e elegeram como prioridade a contenção orçamental, os US continuam a lançar dinheiro sobre a economia. Isto é uma evidência que a economia americana não arranca e a Reserva Federal já admitiu poder avançar com mais medidas excepcionais que alimentem a economia.

O desemprego, resultante desta crise tem um perfil diferente do das anteriores recessões, é um desemprego de longa duração. Há 15 milhões de desempregados no país, um terço dos quais há mais de seis meses.

E as más notícias não deixam de aparecer, o crescimento do PIB foi revisto em baixa, em vez de crescer 3.3 vai crescer apenas 2.6% e, em 2011, 2.3%. A continuação de uma retoma lenta é, pois, o cenário mais provável.

Mas este nível de crescimento não cria emprego ao ritmo necessário e desejável!
publicado por Luis Moreira às 13:30
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Segunda-feira, 27 de Setembro de 2010

Um país de funcionários

Luís Moreira

Andamos sempre a acusarmo-nos mutuamente de sermos preconceituosos, é o preconceito em relação aos gays, em relação aos imigrantes, aos pretos e assim por diante. Mas o preconceito mais prejudicial muito raramente é referido e debatido. É o preconceito que todos temos, uns mais outros menos em relação à iniciativa privada, aos empresários, ao empreendorismo.

Há gerações atrás todos queríamos ser funcionários dos bancos, era o emprego para toda a vida; depois veio o emprego no funcionalismo público, emprego para toda a vida, aumento do vencimentos todos os anos e certinho, progressão na carreira, ninguem é avaliado, não há mérito é só aparecer de vez em quando; há uns tempos a esta parte refinou com os milionários vencimentos nas empresas públicas e autárquicas que nascem como cogumelos.

No centro da Europa há famílias que são, por gerações, agricultores e não querem ser outra coisa, deslocam-se para África e para outros continentes para terem acesso à terra, incluindo o Alentejo, têm orgulho no que fazem, têm prestígio social, são bem pagos e tratam-se pelo nome embora a maioria tenha cursos superiores ligados à agricultura.

Aqui nesta medíocridade somos todos doutores e engenheiros, a maioria desempregada e a viver da Segurança Social, mas não há coragem para iniciarem a sua própria empresa, terem uma ideia e avançarem. Não vale a pena, o Estado estrangula essas iniciativas com impostos e com burocracia, a reputação social não é nenhuma, e é muito mais fácil ser funcionário. Vencimento certinho, sindicatos a "exigirem" numa atitude irresponsável.

No outro dia conversava com um jovem que veio cá a casa tratar dos canos da cozinha, contei-lhe dos milhares de jovens da idade dele que não têm trabalho, ao que ele me respondeu que na actividade dele "não tem para onde se virar" trabalho não lhe falta.Mas claro, nunca deixará de ser "o canalisador" ainda por cima não é "polaco".

Este preconceito em relação às pessoas que se dedicam a actividades que temos por menos nobres, é um factor essencial que explica a pobreza deste país, ninguem pergunta a ninguem o que é que sabe fazer, pergunta qual é o curso. Ainda tive a esperança de que com o aumento das universidades e com os milhares de cursos "à lá minute" se acabasse de vez com as doutorices e engenheirices, mas quando até o primeiro ministro e altas figuras da finança acham que mais vale ter um curso tirado ao domingo do que ter resultados do seu trabalho e mérito, o futuro do país não é nenhum.

Temos que passar a ter orgulho nos empresários que não vivem do estado, que produzem bens e serviços transaccionáveis, que exportam e que criam postos de trabalho, reconhecer capacidade e prestígio a todas as profissões, sem elas não vivemos. Todos ou quase todos são funcionários, um país cheio de gente sem ambição, mesmo os jovens têm como objectivo entrar para "o quadro", depois, a partir dessa posição, transformam-se em "reinvindicadores" profissionais exigem isto e mais aquilo como se não vivessem num país onde tanta gente vive desempregada e mal.

Um país de funcionários, sem alma, sem ambição, odiando quem é capaz de produzir riqueza e criar postos de trabalho, quem investe o seu dinheiro sem compadrios estatais, quem luta em mercados exigentes , na agricultura, nas pescas, nas pequenas e médias empresas de tecnologia avançada, os empresários em nome individual da pequena oficina, da fábrica, do escritório de serviços...são actividades indispensáveis que devem ter o nosso respeito e o prestígio de quem ganha a sua vida da forma mais dificil.

Confundir o empreendorismo com as grandes empresas do regime que são monopolistas, que "sacam" sem cessar, que praticam os preços mais elevados da Europa, é pura cegueira ideológica e de uma tacanhez preconceituosa que envergonha.
publicado por Luis Moreira às 13:30
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Quinta-feira, 19 de Agosto de 2010

O emprego não cresce



Luis Moreira

Uma notícia que passou despercebida, informa-nos que a Danone, uma empresa internacional a laborar em Castelo Branco, aumentou a produção em 40% e despediu...30 trabalhadores!

Nesta crueza, fica o retrato da situação. As empresas estão a aproveitar a crise para se reestruturarem, em organização e novos equipamentos o que lhes permite livrarem-se dos trabalhadores. Conseguem fazer mais com menos trabalhadores e melhor equipamento, e esta é, na verdade, a maneira mais simples de ganhar produtividade.

O dinheiro injectado pelos governos na economia está a servir para arrumar a casa, até porque a menor capacidade de compra dos cidadãos encolheu a procura. É, por isto, que a economia cresce, poucochinho, mas cresce, as exportações estão a crescer mas o desemprego tambem não pára de crescer.

Que fazer? Enquanto não se esgotar a capacidade potencial acrescida de produção com estas reestruturações, não há criação de emprego, pelo que não se pode continuar a encolher a procura interna, com mais impostos e com mais cortes drásticos na despesa. Terminada a limpeza no sector financeiro há que relançar a economia.

O PIB na Alemanha já está a crescer acima das expectativas bem como a França, o que quer dizer que a nossa economia pode vir a ser auxiliada com o aumento de exportações para esses países tradicionalmente mercados nossos. E o que irá acontecer em Espanha? E em Angola e Brasil?

Uma economia pequena e aberta como a nossa depende de muitos factores que não dominamos, mas dava uma ajuda que internamente o garrote alivia-se, a questão são os déficites estruturais que não nos deixam crescer.

É, nesta encruzilhada que nos encontramos e, é tambem por isso que Passos Coelho disse o que disse na Festa do PSD sobre o Orçamento para 2011.O PS que tem compromissos com Bruxelas sobre o cumprimento das metas do PEC, não gostou nem um bocadinho.

Mas das empresas, como se vê pelo exemplo, não virá bom vento no que diz respeito à criação de emprego, problema maior do país!

publicado por Luis Moreira às 13:30
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Quinta-feira, 17 de Junho de 2010

É preciso procurar

António Mão de Ferro


Os tempos que correm deixam muitas pessoas à deriva, daí que haja quem diga que se anda à procura sem saber de quê, sem rumo e sem horizontes. Mas… os que dizem isso não se apercebem de que a vida é um ponto de partida e de chegada constantes.

Procurar é normal. Empresa onde as pessoas estejam enredadas numa segurança total e numa tranquilidade absoluta, que as leva a dizer “estamos completamente satisfeitas”, não é uma organização para quem se augure grande futuro.

A comunidade de trabalho que chega à meta e não procura outras metas, outras corridas, outros desafios, outras etapas, outros obstáculos e se dá por satisfeita por chegar, caminha para o declínio. O mesmo acontece com o homem e a mulher quando não desejam mais nada. Contentam-se em serem iguais aos outros, remetem-se à defesa e perdem o contacto com os problemas, com o perigo, com a luta. Não saiem do seu tranquilizado mundo para não o fazer oscilar, para não perderem o que têm, mesmo que estejam insatisfeitos.

Mas procurar não significa que se viva em permanente anarquia. É preciso definir etapas, traçar caminhos, ainda que nem sempre com contornos bem definidos, porque quando não sabemos onde queremos ir, nunca podemos saber se conseguimos ou não lá chegar.

É importante que não se reclame por tudo e por nada, se reflicta sobre as circunstâncias da vida e se continue a procurar novas oportunidades.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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