Sexta-feira, 8 de Outubro de 2010

De olhar atento à beleza

O meu nome é Paulo Rato e sou o mais recente colaborador do Estrolabio. Já vos fui apresentado, mas gostava de ser eu a falar do Paulo Rato. Aqui está:
Nasceu em Janeiro de 1947, céptico, racional e materialista.

De olhar atento à beleza, quotidianamente renovada, das nuvens no céu (mesmo se o cinzento predomina), das incontáveis tonalidades de folhas e ervas, flores e raízes, dos troncos e seus desenhos, nunca iguais; e também da obra dos homens que aprenderam a olhar, a ouvir, a decifrar na pele o passar do vento e o que traz consigo, e se lançam à árdua tarefa de inventar novos sentidos para o que os sentidos captam e, por diferentes vias, com várias ferramentas, recriar o voo do gavião ou, do cavalo (livre, não selvagem) a corrida e o salto e o seu rasto.

Crê que, em boa parte, se lhe aplicam estas palavras, com que Jorge de Sena se resume a si mesmo: "Inquieto e franco, altivo e carinhoso, / Será sempre sem pátria. (...)".

Aprendeu a ler aos três anos, por razões explicáveis, mas não lembradas com minúcia. E nunca mais parou de ler. Doença grave condenou-o a quase cinco anos de longos repousos, intensificando a leitura, sem plano... nem limites. A Biblioteca da casa surge, assim, como uma aventura contínua, de peripécias tão diversas como insolitamente irrequietas nas dobras do espaço-tempo, narrada por incontáveis vozes e suas maneiras próprias.

Entrou no Liceu quase como o "Selvagem" do Aldous Huxley, com quatro anos de realidade roubados da sacola da vida, pesada de saberes desarmónicos e digeridos apenas como o pequeno estômago consentira.

Como referiu o Carlos, não se recorda de alguma vez ter aceitado como "naturais" a miséria e a injustiça.

Mas quando, aos 14 anos, descobriu que vivia numa ditadura, foi a prisão da palavra que mais o indignou e lhe impôs a luta. Decisão tomada, exercitou-se com um rigor também inato: músculos e gestos, já não leituras. Depois, entrou para o PCP. E foi "pré" tudo o que era associação de jovens estudantes (liceus, cineclube,...). Usou alguns dos seus pequenos talentos para desenhar postais para a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e CGTP (mais tarde, para ilustrar caricaturalmente a sua revista) e em traduções.

Por engano, seguiu "Ciências" e é capaz de ser "bacharel" em Engenharia (ou quase). Engano desfeito, alongou o período de visitas à Universidade e adiou-se da tropa, com tanta sorte que chegou ao 25 de Abril como "instruendo" na EPAM...

Entretanto, entrara na Emissora Nacional (assinando alegremente o papelucho do "integrado"+"repúdio", cônscio de que quem não tem honra nem dignidade merece falsas juras, fintas, golpes baixos e o que de pior haja).

E foi assim. Na EN e na RDP, foi técnico, locutor, autor e realizador, documentalista.

Foi activista e dirigente sindical, membro quase permanente da CT/RDP e de várias estruturas organizativas das CTs, membro dos Conselhos de Opinião da RDP e da sequente "SGPS".

Aposentou-se antecipadamente, antes que mais lhe roubassem na "pensão" e no domínio do "seu" tempo de decisão.

Com algum desgosto: chefiava, na altura, o Arquivo Áudio da RDP, que incluía a Discoteca e o Arquivo Histórico; participara em reuniões internacionais e descobrira que a preocupação de resguardar um património (inestimável) registado "em som" era algo de muito recente, que trazia questões aliciantes, pela dificuldade de resolução e a criatividade e empenhamento requeridos, o que os mais destacados oficiantes, a nível internacional, já demonstravam, juntando-lhe aquele grão de aluada loucura, tão característico destas estranhas actividades, quase druídicas; também descobrira que tais oficiantes tinham percursos semelhantes ao seu, com origens académicas (tais matérias eram quase inexistentes ou mesmo de todo ausentes nas Universidades) e profissionais não coincidentes com o documentalismo áudio, mas com bases, interesses e práticas culturais múltiplas e convergentes.

No seu caso, continuava a decidir das aquisições de novos registos fonográficos e a fabricar programas de rádio, aliando a construção do presente à preservação do passado histórico.

O desgosto foi, entretanto, totalmente dissipado pela degradação do sector radiofónico dentro da "Rádio e Televisão de Portugal", pela nulidade da CT em exercício, pela inoperância do Conselho de Opinião (a que foram retirados os representantes dos trabalhadores da empresa) e pela única característica discernível no actual CA - a "lata".
publicado por Carlos Loures às 10:00
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