Domingo, 3 de Julho de 2011

A impossibilidade material de pagar a dívida - uma explicação realista de quem não "tapa o sol com a peneira"

Apresentamos a seguir um texto, enviado por uma pessoa nossa amiga, que aborda um ponto muito concreto e determinante da situação em que vivemos, dando uma opinião muito clara sobre as opções a tomar no curto prazo. É mais um contributo para a discussão, que esperamos que seja franca, intensa e muito participada, mas também cordial e serena.

Pagar a dívida é ser egoísta <http://ingenea.gualter.net/?p=355>  / A impossibilidade material de pagar a dívida <http://ingenea.gualter.net/?p=355>
Tuesday, 31 May, 2011
 <http://ingenea.gualter.net/?p=355>  


Publicado em Economia <http://ingenea.gualter.net/?cat=10> , Polí­tica <http://ingenea.gualter.net/?cat=7>  | 

A tentativa de  pagar a dívida, ainda que renegociada, poderá vir a figurar entre um dos  actos de maior egoísmo da história portuguesa. A narrativa em que  assenta esta afirmação não se baseia tanto numa questão subjectiva de  legitimidade, mas sim na impossibilidade material do seu pagamento e nas  consequências sócio-ecológicas de tal gesto.

As teorias económicas que sustentam o pensamento político actual, da  direita até à esquerda foram concebidas durante um período de expansão económica, associado ao aparecimento de fontes de energia com uma  qualidade e intensidade extraordinárias – o carvão e, posteriormente, o petróleo e o gás natural. É a capacidade de utilizar estas energias no  processo produtivo que abre espaço à industrialização, assente numa transformação profunda do trabalho e da cultura geral, resultando num  enriquecimento da burguesia (cada vez mais ampla) e na expansão espacial do capitalismo.

Marx fez um excelente trabalho de análise dos processos do capitalismo.  Ao mesmo tempo que lhe lança louvores – sobretudo pela sua capacidade de  romper com as dinâmicas do sistema feudal – aponta as suas  contradições, que inevitavelmente geram a divisão de classes e o  acentuar da exploração das classes trabalhadoras pela burguesia  detentora do capital. Não vou aqui entrar em detalhes sobre a  actualidade e utilidade de tal análise ou divisão nos tempos  contemporâneos, apesar de a considerar útil e relevante em muitos  contextos, além de conter conceitos, como o fetichismo das comodidades,  que são fundamentais para compreender como se estimulam hábitos de  consumo insustentáveis e até irracionais. Contudo, o pensamento marxista (salvo algumas excepções, como o caso de marxistas verdes como John  Bellamy Foster), em particular a teoria económica sofre das mesmas  limitações do que a economia neoclássica ou outras teorias económicas  associadas ao capitalismo: os seus pressupostos, válidos num contexto de expansão suportado por uma abundância energética crescente, deixam de o ser quando entramos num período de contração, marcado designadamente  pelo pico do petróleo e de muitos outros recursos.

Frederick Soddy, um radiologista galardoado com o Nobel da Química,  escreveu, em 1926, um famoso livro intitulado Wealth, Virtual Wealth and Debt. O ponto central de Soddy era bastante simples: é fácil, para o  sistema financeiro – que representa uma esfera da economia totalmente virtual – aumentar as suas dívidas (privadas ou públicas) através de uma expansão de crédito. Esta expansão de crédito confunde-se com uma geração real de riqueza, o que aliás se tornou  bastante claro na actual crise. Soddy alerta para o facto de que a  velocidade a que o sistema financeiro se expande está totalmente  desfasada da capacidade de a economia “real” (produtiva, actualmente  medida pelo PIB) gerar riqueza para repagar as dívidas. Tal sucede  devido ao facto de a produção estar dependente do seu sustento material e  energético, onde o ritmo de crescimento é distinto e limitado, em  particular, pela velocidade dos ciclos dos ecossistemas e que, por sua  vez, estão limitados pela capacidade de aproveitamento da energia  (essencialmente solar) que atinge a atmosfera terrestre.

A expansão industrial e o aparecimento de um capitalismo capaz de  crescer exponencialmente, só foi possível devido à descoberta de combustíveis fósseis, que não são mais do que energia solar acumulada  numa escala de tempo geológica e armazenada graças a fenómenos biológicos e geológicos muito particulares. A sua extracção e uso  permitiram desenvolver as sociedades abundantes do ocidente, sobretudo, uma classe média planetária capaz de disseminar (supostas) democracias e de estabilizar uma hegemonia de pensamento, independentemente dos seus problemas e contradições. Foi também esta abundância energética que  permitiu a construção de um dos mais ambiciosos projectos da Humanidade, o Estado Social, capaz de garantir condições de vida dignas para  qualquer cidadão de um estado-nação. O Keynesianismo, transformado em  modelo para um crescimento económico de longa duração, permitiu  sustentar e alargar o Estado Social, e alimentar o crescimento económico e transformar sociedades ocidentais numa quase omnipresente classe  média. Contudo, teve uma moeda de troca: um endividamento crescente, ao  ponto de se ter tornado insustentável. A insustentabilidade da dívida  não ocorre apenas ao nível dos estados-nação. Ela é verdadeiramente  insustentável à escala global e esse é, aliás, uma das razões pelas  quais as economias mais vulneráveis e periféricas são submetidas à  pressão internacional especulativa. Alguém tem que ceder, para que  outros continuem a crescer (até quando é outra questão).

A situação geopolítica de Portugal – e da própria Europa, ou mesmo dos  EUA – está longe de permitir a continuação da usurpação crescente de recursos planetários. As economias dos BRIC crescem como nunca antes visto e, tratando-se de territórios bastante vastos e povoados, é natural que não sobre para todos. O pico do petróleo está aí – e traz a  acompanhá-lo a escassez de uma série de outros recursos, desde as terras raras, até ao fósforo. Ignorar isso e continuar a aplicar as mesmas  teorias dos tempos de abundância, é como ter um elefante a caminhar na direcção de um abismo, pensando que a força da sua mente pode contrapôr a  lei da gravidade. Neste caso não é a lei da gravidade que está a ser  ignorada, é a segunda lei da termodinâmica, o princípio da entropia, a  seta do tempo. A crescente incidência de conflitos ecológicos e sociais nas periferias e a recente Primavera Árabe, são sinais de que esses  povos não estão dispostos a ser crescentemente expoliados. A cada avanço das fronteiras dos recursos, há uma reacção cada vez maior.

Perante esta situação, discutir os contornos e a legitimidade da dívida <http://www.esquerda.net/opiniao/extremismo-de-gravata>  torna-se relativamente secundário. Sim, é imoral que nos façam pagar <http://acampadalisboa.wordpress.com/2011/05/30/paguem-nos-o-que-nos-devem> , com juros  especulativos e nacionalizações de bancas corruptas <http://5dias.net/2011/05/31/assembleia-popular-de-hoje-a-mais-importante/> . Contudo, ainda que  essa dívida fosse totalmente legítima, ela seria, ainda assim,  impagável. Tal pagamento não depende de uma maior ou menor produtividade  laboral. Na verdade, se bem feitas as contas, aumentar a produtividade  decorre de duas coisas: a exploração laboral (aumento da carga horária,  redução de salários, aumento da idade de reforma, redução do tempo de  educação, etc.) e, sobretudo, a exploração dos recursos materiais e  energéticos capazes de sustentar essa produção. Isto é, ir buscar, com  termos de troca mais favoráveis, coisas que não existem cá (nem em  Portugal, nem na maioria do território europeu). Para usar palavras  sinceras, aumentar a pilhagem colonialista, ou Raubwirtschaft (economia  de pilhagem), como enunciaram géografos franceses e alemães do  final do séc. XIX.

Hoje, pagar a dívida significa acentuar a exploração neocolonialista ou  hipotecar as gerações futuras. O mais provável é que ambas aconteçam: na  tentativa absurda de aumentar o PIB a níveis que permitam pagar uma  dívida com juros muito acima de 3% (o que nem a melhor das previsões  económicas prevê como crescimento para os próximos anos), aumentará a  pressão sobre os recursos do país e do exterior – sendo de esperar uma  pressão particularmente forte sobre os PALOP (que aliás já se verifica  nalguns campos como as plantações florestais industriais ou os  agrocombustíveis). O resultado disso será apenas uma deterioração da  base material da economia nacional e global e um aumento progressivo do  valor da dívida – a que se associa a renegociação, geralmente  condicional (sinónimo do fim da democracia ou da ditadura financeira).

Pagar a dívida é, por isso, o acto mais egoísta que se pode ter, quer para com os povos de todo o mundo, quer para com as gerações mais novas e  que nos seguirão.

 <http://ingenea.gualter.net/wp-content/uploads/ingenea/2011/05/hp_world_peak_2005.png>

A famosa curva de Hubbert, que descreve aproximadamente o pico do petróleo. As teorias económicas que sustentam as decisões políticas actuais foram construídas na fase ascendente da curva.

Para maior detalhe técnico e histórico, recomendo a leitura deste artigo  de Joan Martinez-Alier <http://www.eoearth.org/article/Herman_Daly_Festschrift:_Socially_Sustainable_Economic_Degrowth> , o qual usei como inspiração para esta breve  abordagem à questão da dívida. Mais seguirão, se o tempo o permitir.
Fonte:  http://ingenea.gualter.net/

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publicado por João Machado às 17:00
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Sexta-feira, 1 de Julho de 2011

“Não é uma crise, é uma fraude” Um texto de Attac

enviado por julio Marques Mota

 

“Não é uma crise, é uma fraude”
Um texto de Attac

“Não é uma crise, é uma fraude”, dizem indigndos  os espanhóis. Esta quarta-feira, o Parlamento grego acaba de adoptar um novo plano de austeridade, símbolo da inverosímel  fraude que se está  actualmente  a realizar na Europa.


Apesar da ineficácia mais que  provada das medidas de austeridade para melhorar a situação das finanças gregas, o Parlamento é obrigado  a aprovar um novo programa de austeridade , com reduções de salários e uma reforma fiscal que vai fortemente atingir  a classes média  e as pessoas de menores rendimentos;


Apesar da injustiça profunda destas medidas que visam fazer com que o povo grego pague  sem estar a pôr em causa as políticas fiscais desastrosas  que foram efectuadas pelos precedentes  governos,  os desequilíbrios inerentes  ao bom funcionamento da zona euro   ou ainda os enormes lucros   realizados pelos bancos e outros especuladores  à conta das finanças  públicas gregas;


Apesar da resistência do povo grego, que se levantou dignamente  e ocupa desde há quase três semanas a  principal praça de  Atenas - onde se  situa  o Parlamento - para contestar, de maneira pacífica e democrática, estas escolhas impostas apesar da sua falta de bom senso ;

Apesar de tudo isto , os deputados gregos escolheram submeterem-se à chantagem da União Europeia e do FMI, que aceitam em troca deste plano de austeridade que se atribua “uma ajuda” de cerca de cem  mil milhões de euros à Grécia - sem a qual o governo  se reencontrar-ia incapaz de financiar o seu funcionamento (incluidos os serviços públicos, hospitais, etc.). Este pretenso plano de  “ salvamento” é feito mais para  os bancos franceses e alemães do que para a Grécia: “O CAC 40 acentua os seus lucros, confiando na Grécia” pode ler sobre o sítio do jornal  Point.fr.

Representa realmente uma vasta operação de socialização das  perdas: um estudo do jornal Les Echos  mostra que “graças” a estes planos, “a parte da dívida grega nas  mãos dos contribuintes estrangeiros passará de 26% para 64% em 2014. Tudo isto significa  que a exposição de cada família  da zona euro vai passar de 535 euros actualmente para   cerca de 1.450 euros”. Ora todos os economistas  estão de acordo em afirmar  que a Grécia não poderá reembolsar a integralidade das suas dívidas.

Opondo-se de forma  selvagem a  qualquer reestruturação, Sarkozy joga uma corrida contra-relógio a favor dos bancos franceses; Quando a Grécia  não for capaz de  pagar  , serão as finanças públicas dos outros países europeus  que estarão na primeira linha… E os povos europeus pagarão a factura através de novas medidas de  austeridade.

“Privatizar os lucros, socializar  as perdas”, esta lógica parece mais do que nunca de uma extrema  actualidade: com a nova governança económica, promovida pelos governos europeus e pela Comissão e votada pelo Parlamento Europeu , as finanças públicas serão postas sob tutela, e à imagem da Grécia, será a austeridade permanente para os povos que garantirá os benefícios dos bancos.

É essencial que os povos europeus se  mobilizem  para levar ao completo malogro esta “estratégia do choque” à escala europeia. À imagem do povo grego, é necessário não somente  se “indignar”, mas mostrar-se “determinado” a pôr um fim  ao diktat dos bancos e dos mercados financeiros, começando por impôr uma auditoria democrática das dívidas públicas. Em  França nomeadamente, as mobilizações devem redobrar de intensidade: o que se decide  na Grécia hoje  é a capacidade dos povos na Europa de sairem  da armadilha na qual  nos coloca  a finança que está  em causa.

Na quinta-feira 30 de Junho, no dia seguinte  ao da mobilização sem precedentes do povo grego, e enquanto que os movimentos sociais e  os sindicatos britânicos organizam uma greve geral contra os cortes maciços nos orçamentos públicos, Attac apela a que as pessoas se reunam  as  18h em  frente da embaixada da Grécia para um apoio às mobilizações que se desenrolam na Europa, na Grécia, no Reino Unido, na Espanha, para afirmar que os seus combates são  mais do que nunca os nossos combates também.

3. Goldman Sachs assume oficialmente a direcção  do BCE

Attac, França,
Paris, 29 de Junho de 2011
Goldman Sachs assume oficialmente a direcção  do BCE


Mario Draghi, antigo Presidente de Goldman Sachs para a Europa, assume  hoje a presidência do Banco Central Europeu. Era Presidente da Goldman Sdachs  na altura  em que o banco de negócios americano , nos anos 2000, ajudava a Grécia a maquilhar  as suas contas públicas. O seu papel vai ser agora o de  preservar os interesses dos bancos na actual crise europeia.

Podiamo-nos  até agora interrogar  sobre as razões que levavam o BCE e Jean-Claude Trichet a opôrem-se de maneira mesmo violenta - incluindo face à chanceler  alemã - a toda e qualquer ideia de reestruturação da dívida grega.


Esta atitude parecia incompreensível dado que todos os analistas, incluindo os economistas dos bancos, estavam de acordo em considerarem que a Grécia não poderá assegurar o serviço da sua dívida nas actuais condições contratuais. Um reescalonamento, ou mesmo uma anulação parcial parece ser inevitável de acordo com a opinião  geral. Querer atrasar  esta solução  faz apenas agravar os estragos económicos e sociais provocados pelos planos de uma austeridade brutal e impopulares  impostos aos Gregos.

A nomeação de  Draghi clarifica por conseguinte as coisas. O BCE defende não o interesse dos cidadãos e de contribuintes europeus, mas sim o interesse dos bancos. Um estudo britânico citado ontem por Les Echos tem o mérito de quantificar claramente o processo em curso. Este estudo indica que graças “aos planos de salvamento” da Grécia e ao “ mecanismo europeu de estabilidade” instaurado pelo BCE, pelo FMI e pela União Europeia, “ a parte de dívida grega nas  mãos dos contribuintes estrangeiros passará de 26% para 64% em 2014. Isto significa  que a exposição de cada lar da zona euro vai passar de 535 euros actualmente para  1.450 euros”.

“O salvamento” da Grécia é pois de facto  uma gigantesca operação de socialização  das perdas do sistema bancário. Trata-se de transferir o essencial da dívida grega - mas também espanhola e irlandesa - das mãos dos banqueiros para a mão dos contribuintes. Será em seguida  possível fazer assumir os custos  da inevitável reestruturação destas dívidas pelos orçamentos públicos europeus.

Como o afirmam os  Indignados  espanhóis, “não é uma crise, é uma fraude! ». O Parlamento Europeu votou  ontem “o pacote da governança” que reforma o pacto de estabilidade, reforçando os constrangimentos sobre os orçamentos nacionais e as sanções contra os países em infracção. O Conselho Europeu reunido hoje e amanhã vai  terminar o seu  trabalho. E não é a próxima nomeação de Christine Lagarde à frente  do FMI que reduzirá a influência dos bancos sobre as instituições financeiras internacionais, bem pelo  contrário.

 

Felizmente as resistências sociais e de cidadãos  vão em  crescendo em toda a Europa. Governar para os povos ou para a finança? A resposta é hoje clara: vai ser necessário que os povos europeus se dêem as mãos para construirem  juntos uma  outra Europa.




publicado por Luis Moreira às 17:00

editado por João Machado às 16:15
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Eurointelligence Daily Briefing - 1 de Julho de 2011

Second vote passed, and now what?

  • The Greek parliament approves the implementation bill by 155 to 138;
  • Evangelos Venizeles promises to set up a privatisation fund to sell off €50bn in state assets;
  • life on Syntagma Square in Athens returns to normal after Wednesday’s riots;
  • former EU Commission Vasso Papandreou accuses Germany of preparing the ground for a Greek bankruptcy;
  • German private banks will contribute a pathetic €2bn to the rollover package;
  • Mark Schieritz says the French rollover proposal is deeply flawed, and will make it harder for Greece to return to the market;
  • Italy’s cabinet passed the multi-annual budget – we have the details of the main measures;
  • Guido Westerwelle claims a majority of member states oppose the idea of an EU tax;
  • Bild says Britain takes a free ride by not participating in Greek rescue;
  • Jean Quatremer notes that France now its fifth European affairs minister in four years;
  • Arnaud Leparmentier writes how Nicolas Sarkozy was pushed by into the appointment of Francois Baroin by the young Turks of his party;
  • the French president’s popularity has begun to a recover a little – but he still remains deeply unpopular;
  • Eric Le Boucher writes that the next president will have to take tough deficits on budget cuts;
  • the case against DSK, meanwhile, appears on the verge of collapse, according to the New York Times.

A Make or Break Moment for Greece

By: Jens Bastian

 

What we are currently witnessing on the streets and squares across Greece is the next stage of the country’s two-year long crisis. It now involves the collapse in trust between citizens and Greek-style parliamentary democracy.

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The Greek government got the parliamentary approval for the implementation of austerity measures in the second vote on Thursday, now set to secure emergency payment and avoid immediate default. The bill was passed with 155 against 138 votes. Even after the successful passage of the main austerity measures, financial market nervousness over Greece’s future will remain high amid ambitious privatisation and consolidation targets. Finance minister Evangelos Venizelos told parliament his priorities were to complete an overhaul of the tax administration and press ahead with the privatisation programme by setting up a national wealth fund to handle €50bn of disposals by 2015, the FT reports.

 

The main protest site Syntagma square went back to normal. Athens began cleaning up after Wednesday riots, while the government defended the police from accusations by opposition parties of heavy-handedness, Kathimerini reports. The City of Athens said it will cost €55000 to repair the 176 dumpsters vandalized on Wednesday. Businesses will have to pay €520000 to repair the damage caused by rioters.

 

Reuters has an illuminating quote from Vasso Papandreou, the former European Commissioner and member of Pasok. She said voted in favour as a patriotic duty, but she believed the economy would deteriorate as a result. And then this: "Germany is preparing the ground for our official bankruptcy as soon as this can happen without cost to the German banks."

 

Ms Papandreou will probably not be enchanted by this news, and the analysis by Mark Schieritz (one further down).

 

German banks participate in Greek rescue, but only a little bit

 

German newspapers are full of critical comments for the €2bn the banks in Germany will share in the efforts to finance the second rescue package for Greece. There are another €1.2bn but they come out of the bad banks of WestLB and Hypo Real estate which are semi public vehicles. “The banks avoid giving substantial aid”, Süddeutsche Zeitung writes. “The German banks have merited to be applauded”, Financial Times Deutschland says in an unsigned editorial.  

 

Mark Schieritz on the rollover vehicle

 

Writing in the Herdentrieb blog, Mark Schieritz argues that the rollover vehicle is flawed. After analysing the various cash flows inherent in the model, he concludes that the new bond is effective a secured bond, but unlikely a Brady bond it is not secured by the Treasury or the IMF, but by Greece itself. His two conclusions are that this scheme will not lead to any meaningful reduction in NPV, and that Greece will find it harder to return to capital markets.

 

 

 

publicado por João Machado às 13:30
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Eurointelligence Daily Briefing - 30 de Junho de 2011

Obtivemos este briefing graças ao Júlio Marques Mota e ao Domenico Mario Nuti, que o enviaram atempadamente ontem. Por problemas organizativos nossos, só hoje o publicamos. O seu interesse é manifesto.

 

 

Due to a technical glitch, a few of yesterday's email briefings were only sent out this morning. The web version was not affected. We apologise for the confusion.

Greece votes not to default this summer

  • Greek parliament votes 155 to 138 for austerity package, and is expected to approve implementation bill today;
  • financial markets still expectGreeceto default eventually, amid doubts that the government will implement the programme;
  • the additional annual burden for an average Greek family will be in the order of one month’s salary;
  • violent protests erupted in the centre ofAthensafter the vote;
  • Michael Martens argues thatGreeceis going to remain a limited democracy for some time to come;
  • central banks extend dollar swap lines as an insurance policy in case of a Greek default;
  • Jürgen Stark tells Die Zeit that any Brady-plan element in a rollover package would contravene the Art.125 TFEU;
  • Germanymay include longer-dating Greek debt instruments in the rollover package;
  • Merkel and Ackermann clash over the pretence of a “voluntary” rollover;
  • the Italian cabinet is due to pass a €47bn four-year austerity plan, with most of the savings earmarked for the time after the next elections;
  • Nicolas Sarkozy appoints budget minister Francois Baroin asFrance’s new finance minister;
  • a French legal commission will decide on July 8 whether the Christine Lagarde will be prosecuted;
  • Le Monde calls on Lagarde to emancipate herself from Sarkozy;
  • Patrick Welter criticises the direction the IMF had taken under DSK;
  • the European Commission, meanwhile, proposes a 1% sales tax and a financial transaction levy to boost its own resources.

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In the end, the margin was decisive – 155 to 138 – but few people expect thatGreecewill be able to implement the package its MPs have voted on. In September, the troika will descend onAthensand investigate whether the programme is still on track. And it will demand that any shortfall will have to be covered by new austerity measures. The expectation is now that the Papandreou government will last until the of the year, and that a debt restructuring is now virtually inevitable.

 

At yesterday’s vote, all but one of Papandreou’s Socialist MPs, and one New Democracy dissenter, backed the government’s midterm economic program, Kathimerini reports. Panagiotis Kouroublis voted against the program and was ousted from the party, Elsa Papadimitriou voted for the measures, breaking ranks with her party and declaring herself an independent.

 

Parliament votes on the second bill today. Government and analysts expect it will also pass. The debate in Parliament resumes at 9.30am, the vote is not expected before 2pm, Reuters reports.

The relief about parliament’s approval was only brief and most headlines this morning reflect this. Analysts said the real challenge will come after the bill is voted on and the international money secured. There is a growing concern over whether the government will be able to implement the unpopular cuts in practice to meet a tight schedule imposed by the EU and the IMF. Bloomberg quotes Greek newspaper To Vima calculated the additional burden for an average family of four at €2795 a year, about the same as one month’s income.

 

Violence escalated in central Athensafter Parliament approved the first bill of the new austerity package, with reports of dozens of protesters and police officers being injured in running battles, Kathimerini reports. Those clashes were among the worst Athens has seen in several months, writes the WSJ.

 

Limited democracy in Greece

 

After yesterday’s endorsement of the second rescue package in the Greek parliament Frankfurter Allgemeine Zeitung’s Michael Martens takes a look at democracy in Greece and concludes that “for the foreseeable future Greece will only be a limited democracy”. According to the author the Greek government has been stripped of its sovereignty and the elected representatives can no longer take meaningful decisions. Instead they execute what the EU and the IMF tells them to do. Martens dismisses worries of economists that the rescue programs could create moral hazard and constitute an invitation to countries to be fiscally irresponsible. “No prime minister will want to pay the prize that prime minister Papandreou currently has to pay”, he writes.

 

Central banks prepare for Greek accident by extending Dollar swap lines

 

The Fed, the ECB, the Bank of England, the Bank of Canada and the Swiss National Bank extended the Dollar swap lines that would have otherwise expired August 1<sup>st</sup>, Financial Times Deutschland reports.  Those swap lines were first created at the first height of the Geek crisis in May 2010 because European banks found it increasingly impossible to get short term dollar loans on the credit markets. The Fed therefore offered other central banks the possibility to borrow unlimited amounts of dollars which they in turn lend to their local banks. Since the Fed will not meet before August 9 and an accident in Greece is not excluded the Fed decided at their last FOMC meeting to extend the dollar swap line until August 2012.

 

Did Jürgen Stark jump the gun and reject the bond rescheduling package?

 

This is from a Reuters rendition of an interview in Die Zeit, in which Jürgen Stark said an instrument like a Brady bond was explicitly “disqualified” by Art.125 of the Treaty. He was asked about schemes under which banks would exchange their Greek bonds for new paper backed by EU states. The article concludes that this would also apply to the French bond rollover agreement, as one portion of it includes an EFSF issued, or guaranteed, zero coupon bond.

 

Reuters reports that Germany may include more Greek debt instruments in the package presumably because German banks hold only a relative small amount of short-dated debt. Citing “four people familiar with the talks”, the report said bond maturing up until 2020 might be included.

 

The FT, meanwhile, has a nice snippet from an ill-tempered conversation between Angela Merkel and Joseph Ackermann. Ackermann: “I am assuming that we will lend our hand to a solution, but not because we are doing it willingly.” Merkel retorted that private creditors should do it “willingly” because they had an interest in doing so.

 

Austerity comes to Italy

 

This is budget week in Italy, as Giulio Tremonti prepares the biggest austerity programme in the country’s modern history, but the savings are back-loaded to the end of the parliamentary terms, which may throw some of these measures in doubt. The FT has a good overview of the intrigues within the government that preceded the agreement, which is due to be voted on in the cabinet today.

 

The total size of the cuts is €47bn by 2014, of which €1.8bn are due this year, €5.5bn in 2013, €20bn in each 2013 and 2014. La Repubblica notes that most of the sacrifices would come after the next elections. The measures include an increase in the retirement age for women to 65 (the same as for men), an increase in health care charges, a tax on fast cars, a tax on financial transaction.

  

Sarkozy promotes Baroin to become finance minister

 

Nicolas Sarkozy promotes budget minister Francois Baroin to become finance minister. Baroin was in competition with agriculture minister Bruno Le Maire who was considered by many to be the front runner because he is elaborating Sarkozy’s electoral platform for the presidential elections and he is a German speaker. But Baroin, a former Chirac loyalist who threatened to resign in case he did not succeed to Christine Lagarde, had the support of many UMP deputies in the National Assembly and of the influential UMP chairman Jean-Francois Copé. Education minister Valérie Pecresse will replace Baroin as education minister. Le Maire, whom Sarkozy promised to get the finance ministry as late as Tuesday, gets noting and is considered the big looser. Le Monde, Les Echos and Le Figaro have a good and complete coverage of the government reshuffle. Baroin’s debut will be this Sunday when the Euro finance ministers meet in Brussels to complete discussions about the second rescue package for Greece and the bank’s involvement in paying part of it.

 

Lagarde’s potential legal worries


Le Figaro and Le Monde explain that Christine Lagarde will take over as the IMF’s new MD on July 5, but a legal commission will only decide on July 8 if Lagarde will be prosecuted in relation to a €1m transfer to the French tycoon Bernard Tapie to settle a year long dispute as a consequence of the Crédit Lyonnais scandal of the 1990s. Should the proceedings continue, Lagarde, who will not be protected by any immunity because all of this happened before she took over the IMF job, could be interrogated as a witness. It may even take years before the French Court of the Republic, a special court for government ministers, issues a ruling. In a nutshell, Lagarde’s handling of the Tapie case is doubtful because she decided against the recommendations of her advisors at the finance ministry in favour ofan arbitration, which ruled that the government should pay more than €200m to Tapie.

 

 

Lagarde needs to emancipate herself from Sarkozy

In its unsigned front page Editorial Le Monde criticizes Nicolas Sarkozy for calling Christine Lagarde’s nomination at the IMF a “victory for France”. If Lagarde wants to be effective and gain legitimacy with the emerging countries she needs to “get rid of the influence of the Elysée (the French presidential palace)” and to think what management of the Greek crisis is in the IMF’s best interest. Frankfurter Allgemeine Zeitung’s Patrick Welter explains in a long front page editorial that Lagarde is „not the right person“ to be at the helm of the IMF. Welter considers that DSK has set the IMF on the wrong track with his ambition to make the world’s economic government and central bank. The multiplication of tasks, its huge number of reports and its huge financial means have become a problem.“ The idea to give ever more credit and to act ever more like an insurance company against all risks creates the huge risk that the fund is stumbling from one bail-out to the next”. The IMF’s agenda should be self limitation instead and Lagarde, who sees herself in the tradition of DSK, is unlikely to promote a self limiting agenda.

 

 

Commission proposes EU tax in its budget frame work

All European newspapers report on the Commission’s proposal to introduce a 1% sales tax and a levy on financial transactions as part of plans to boost its seven-year budget to almost €1 trillion. The proposed new taxes are designed to reduce the amount EU governments must pay to Brussels, the Commission said, while increasing the block's budget by about 5% to more than €970bn between 2014 and 2020. Germany and seven other net payers ask the Commission for “very substantial savings” in the expenditure on EU officials. They want the Brussels administration to see if retirement age for officials can be raised and if the supplements for working abroad can be reduced.

 

 

 

 

Spreads, Forex, and ZC Swaps.

Spreads ease after the Greek vote. Italian spreads are back below 2%, Spanish spreads down to 2.6%. Euro strengthens.

 

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publicado por João Machado às 09:00
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Segunda-feira, 27 de Junho de 2011

Algo que podemos dizer com certeza: A Economia cheira muito mal ! - por Arianna Huffington

enviado por Júlio Marques Mota

 

Algo que podemos dizer com certeza: A Economia cheira muito mal !

Há pelo menos uma coisa boa que é publicada nestes tempos sombrios:  os  números do emprego do mês de Maio  divulgados  na semana passada: a equipa  para a reeleição do actual  presidente Obama decidiu  assumir o  frágil estado da economia real como fazendo parte de sua mensagem de campanha.

Em primeiro lugar, os números agora conhecidos: a economia criou um total líquido de 54 mil empregos em Maio, cerca de 100 mil a menos do que se esperava. Isto vem na  sequência da taxa de crescimento do PIB igualmente desanimadora  , cerca de  1,8 por cento no primeiro trimestre,  . Além do mais, os números de emprego do mês de Março e Abril foram revistos para valores mais  baixos, para  39 mil. Infelizmente, é tarde demais para rever em alta a intensidade da resposta do governo Obama para a crise do emprego dos últimos dois anos.

Em vez disso, a Casa Branca perdeu um tempo precioso apontando fantasmagóricos rebentos de esperança, e juntou  os dirigentes de ambos os partidos deslocando a partir daí a atenção da Nação  do problema  da criação de empregos  para que o grande problema a enfrentar  seja  agora a redução do défice - ignorando deliberadamente o sofrimento que está a acontecer por todo o país.
Mas agora os números são de tal forma maus - e Novembro de 2012 está  tão perto - que os organizadores da campanha de Obama decidiram  que se deve, como Carrie Budoff Thrush Glenn Brown publicitá-los e  "  temperar muito do optimismo de “Morning-in-América  que  estava a atravessar toda a América   "

Isto é verdadeiramente chocante. Não é que a equipa do presidente conceba e utilize uma campanha do tipo  "Morning in-América"  mas o desfile sob esta bandeira é sempre considerado em primeiro lugar. Mesmo que os números quanto a postos de trabalho tivesse sido o que se esperava, cerca de  150.000 - ou mesmo se eles viessem melhores do que o que se esperava , digamos, 200.000, e ficassem  a este nível durante vários meses, continuaríamos muito perto da ideologia de “ Morning-in- América“, de estar a sonhar sem nada que o justifique. Mas infelizmente, muito do país parece estar mais perto de um pesadelo permanente.
 
Como o nosso  Editor Peter Goodman afirma, as condições subjacentes a esses números são "já familiares para além da esfera dos  economistas profissionais e dos decisores políticos." Isto é o que a maioria dos americanos, Goodman escreve, "sente na própria pele, não a partir de relatórios do governo e de  reflexões abstratas dos economistas, mas a partir dos medos que os acompanham todos os dias ao olharem  para os livros de cheques  e para os seus últimos cartões de crédito : não há nenhum  alívio à vista . Ninguém está em posição de conseguir modificar  este quadro deprimente, ninguém está disponível para gastar as suas reais energias para tentar melhorar este mesmo quadro , e muito menos dentro da Casa Branca, onde a liderança é fundamental. "

Em vez disso, a Casa Branca aceitou a mensagem do Great Old Party para quem  o défice é um problema bem maior que o do  emprego, cortando as pernas à   sua capacidade para criar outras formas capazes de estimular a economia. E agora o presidente e sua equipa  afirmam calmamente que não há muito que possam  fazer. Mas o que eles não mencionam é a forma como eles foram cúmplices na criação de condições que não os deixam agora fazer  grande coisa  Eles entregaram todas as munições  e agora invocam a sua incapacidade em modificar esta situação por falta de munições.

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Quinta-feira, 16 de Junho de 2011

A bandeira da Grécia em saldo, talvez. E a de Portugal? - por Júlio Marques Mota

 

 

Ontem passou-me pela frente dos olhos uma síntese  do relatório elaborado pelos homens  da Troika sobre a situação na  Grécia . A visão que nos dão é aterradora mas pelos vistos para elas é a solução , isto é aquilo que nos aterra é aquilo que eles defendem para a Grécia, tudo com um objectivo: a consolidação orçamental , não nos tempos das vagas gordas, o que seria normal, mas  sim   no tempo das vagas magras e de tão magras muitas delas  já estão que se corre o risco de ficarem eternamente doentes, mas insistir nesse objectivo nessas condições de recessão terrível é politicamente criminoso. É o mínimo que se pode considerar dos lideres políticos que nos levaram a esta situação.  Gentilmente, dois professores ingleses dirão que os homens de Bruxelas  são mais ignorantes que as crianças, pegam num telescópio e procuram ver ao longe pelo lado oposto! A lição de Keynes é que se deve primeiro olhar para os níveis de emprego e tratá-los. Depois os défices tratam-se quase que por si. Trata-se de olhar pelo telescópio mas pelo lado correcto, não como faz Durão Barroso e os  seus altos funcionários. Pelo lado correcto, este é o nosso lado para olhar pelo telescópio, esse é também o de milhões de desempregados que por essa Europa fora estão impedidos de procurar ou de encontrar emprego , esse é o lado pelo qual  as crianças desta Europa  que pelos criminosos políticos está a ser massacrada, gostariam que se olhasse para assim se vislumbrar o seu futuro, não o seu inferno.

 

Dessa síntese do relatório , o primeiro parágrafo que aqui repetimos é exemplar: "A recessão parece ser um pouco mais profunda e prolongada do que aquela que se esperava  inicialmente de acordo com as nossas projecções ... Há indícios bem claros  de que o reequilíbrio da economia está a realizar-se  e que  o período  da mais  profunda contracção já passou ... No entanto, está ainda prevista uma nova contracção do PIB real para o segundo semestre de 2011,.assim como a  necessidade de consolidação orçamental adicional e das restrições de liquidez vai adiar ainda a recuperação  por  um bom par de trimestres. O crescimento real do PIB para 2011 está projectado para ser de menos -3,8 por cento. Negativo portanto, embora  estejam projectadas taxas moderadas de crescimento  a partir de 2012”.

 

 

A situação da Grécia está mal, vai ficar pior com as medidas já tomadas, vai ainda continuar a  piorar mais   com as  medidas ainda a tomar, mas a Grécia, como diz o documento da Troika  é ainda rica e a conclusão é então aproveitar. Diz-nos o referido relatório:

 

“o governo grego é um dos soberanos europeus com a mais rica carteira de activos... A maioria desses activos não fornecem  quaisquer  receitas pertinentes;. empresas estatais deficitárias que têm sido efectivamente uma fonte de custos suportados pelos contribuintes.

 

Deixemos os juros disparar, e deixar é o verbo a utilizar, o verbo que e  então  a essa situação se deve aplicar será pois…  privatizar,
privatizar. Privatizar,  para quê? Para descer o peso da dívida grega. Vejamos como.

 

Na nossa última aula publicada pelo estrolábio vimos que o peso da dívida relativamente ao PIB na Grécia era de aproximadamente 150% . Também aí explicámos que a expressão  de variação da dívida pública por unidade PIB é dada pela expressão db = dp+b(i - g), onde db é a evolução da dívida pública por unidade PIB, b é a ratio da dívida pública relativamente ao PIB, dp é o défice público primário por unidade de PIB, que também pode ser visto como sendo a diferença entre o que os contribuintes pagam ao Estado e o que dele recebem, mais geralmente definido como a posição orçamental por unidade do PIB, sem o serviço da dívida, i a taxa de juro da dívida pública e g a taxa de crescimento nominal do PIB.

 

Seja então  a taxa de financiamento   definida pelo taxa dos Bunds, os títulos alemães adicionado do CDS sobre os títulos gregos. A cotação de hoje era a seguinte:

 

 

 

Previous Day Close

Yesterday’s Close

This morning

France

0.334

0.337

0.340

Italy

1.709

1.801

1.782

Spain

2.330

2.422

2.411

Portugal

7.770

7.930

7.910

Greece

13.309

13.839

14.10

Ireland

7.867

8.066

8.235

Belgium

1.112

1.144

1.143

Bund Yields

3.245

3.026

3.045

 

E a taxa dos títulos gregos a considerar é então 3.245+13.309, ou seja 16,550. Vimos pelos números da Troika que a taxa de crescimento da economia grega é de  (-3,8)  então temos :

 

db=dp+150 [16,550 - (-3,8)]= dp+ 150 (20%) = dp+30%. Se a dívida externa não crescesse, se db fosse igual a zero  então dp teria que ser  a menos 30%. Este facto significa que se teria que obter um excedente primário de 30% e isto significa pura e simplesmente que por cada euro, (por cada euro grego, ou se calhar por dracma novo, desculpem-me, enganei-me)  cada cidadão teria que dar 30 por cento do que ganha para que pudesse ficar a dever o mesmo.

 

E aqui vai a síntese do relatório da Troika  

  

Troika-report

 

BERLIM (Reuters) - A missão à Grécia da União Europeia, do BCE e do FMI, diz  no seu mais recente relatório  obtido pela Reuters na quarta-feira que a  próxima parcela do auxílio concedido à Grécia não podia ser feito a não ser que a Grécia  corrija  a situação de subfinanciamento do seu programa de ajustamento.

 

Seguem-se  aqui  alguns pontos por nós destacados do relatório feito pelos peritos da chamada "Troika" da União Europeia, Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional:

 

RECESSÃO


"A recessão parece ser um pouco mais profunda e prolongada do que aquela que se esperava  inicialmente de acordo com as nossas projecções ... Há indícios bem claros  de que o reequilíbrio da economia está a realizar-se  e que  o período  da mais  profunda contracção já passou ... No entanto, está ainda prevista uma nova contracção do PIB real para o segundo semestre de 2011,.assim como a  necessidade de consolidação orçamental adicional e das restrições de liquidez vai adiar ainda a recuperação  por  um bom par de trimestres. O crescimento real do PIB para 2011 está projectado para ser de menos -3,8 por cento. Negativo portanto, embora  estejam projectadas taxas moderadas de crescimento  a partir de 2012".

 



Metas Fiscais



"As receitas  arrecadadas pelo Governo resultantes dos impostos continuam a ficar aquém do que nos planos se esperava, mesmo  depois da revisão à  baixa atribuída em relatórios anteriores.

 

"A missão de avaliação anterior (Fevereiro de 2011) identificou que, sem medidas adicionais, a meta fiscal para 2011 não seria  lcançada em  pelo menos três quartos de ponto percentual do PIB. Entretanto, a diferença entre as projecções fiscais e o limite do défice tem-se alargado substancialmente. Se nenhuma acção for  tomada, o défice público em 2011  ficaria perto do nível de 2010, acima dos 10 por cento do PIB. "

 

"O objectivo da estratégia orçamental de médio prazo é o de identificar as medidas de redução do défice, que sejam de efeitos  duradouros na  redução do défice. O objectivo é reduzir o défice orçamental para 2,5 por cento do PIB em 2014 e reduzir mais ainda em
2015, e colocar o rácio da dívida em situação de ficar a descer de modo sustentado. Para atingir esse objectivo, o governo identificou medidas de consolidação orçamental de 10 por cento do PIB, de 2011 a 2014, e mesmo acima de 11 por cento do PIB, se for o considerado o período de 2011-15 . "

 

"Este pacote fiscal só pode ser bem sucedido se for  posto em prática de forma decisiva e
consistente com o apoio de todos os ministérios . A legislação deverá ser
aprovada pelo Parlamento entre o final de Junho e a primeira semana de Julho."

PRIVATIZAÇÕES



"O governo grego é um dos soberanos europeus com a mais rica carteira de activos... A maioria desses activos não fornecem  quaisquer 
receitas pertinentes;. empresas estatais deficitárias que têm
sido efectivamente uma fonte de custos suportados pelos contribuintes. Deste modo,  privatizar esses activos irá  contribuir para reduzir a posição financeira  do governo com um pequeno custo, se o  houver, em termos de receitas futuras mas em que se pode  realmente reduzir os  custos actuais ... Para acelerar o processo, e para assegurar a sua completa irreversibilidade , deve ser posta em marcha uma adequada governação : uma agência de privatizações  gerida por um conselho independente e profissional 
deverá ser rapidamente estabelecido. A Comissão e os Estados membros da zona euro poderão nomear observadores para o  conselho da agência. Além disso, para reforçar a sua credibilidade, a missão concordou que os objectivos vinculativos trimestrais  quanto à obtenção de  receitas das privatizações deveria  fazer parte da condicionalidade nos memorando de entendimento actualizados

(updated memorandum of understanding MOU). "

 

SUSTENTABILIDADE



"O reforçar a  consolidação orçamental e os planos de privatização poderá contribuir para levar relação dívida / PIB  publica para uma trajectória sustentável. Com base nas projecções actuais, o rácio da dívida pública grega  atingirá o pico em 2012/2013 ... e passará a decair a partir daí, com uma contribuição significativa do plano de privatizações .Embora a Grécia tenha que continuar rigorosamente com uma política de  austeridade fiscal e da redução do rácio da dívida e  terá que o fazer por  muitos anos, a inflexão na relação dívida
/ PIB vai contribuir para melhorar a confiança do mercado na  economia grega. "

 

 

Mecanismos de segurança nos bancos ( BUFFERS)



"O Banco Central da Grécia vai exigir reservas adicionais  de capital  contra a deterioração potencial do seu ambiente operacional, com base no perfil  de risco específico de cada banco . Contudo, a missã faz questão de sublinhar que as perspectivas para o sector grego financeira não  são independentes  das escolhas assumidas para acabar com a enorme falha quanto ao financiamento soberano ".



REFORMAS ESTRUTURAIS

 

"Embora haja melhorias na competitividade, graças a uma redução dos salários, as reformas estruturais ainda não alcançaram uma massa crítica que lhes permita obterem um resultado concreto quanto à produtividade da economia e quanto à  sua capacidade de crescimento."

 

 CONSENSO POLÍTICO

 

"A missão identificou alguns pontos de convergência  entre os programas de ajustamento e as medidas propostas pelo  principal partido da oposição  (ND). O Partido ND  apoia um programa extensivo de privatizações.e há aqui uma convergência de pontos de vista na sua maioria favoráveis ​​ao desenvolvimento das reformas estruturais e do crescimento, . ... Mais ainda, a missão concordou com a oposição sobre a fundamental importância que há em  erradicar as dívidas aos fornecedores e em pagar os  reembolsos de impostos o mais cedo possível, assim como estão de acordo sobre a necessidade de acelerar a utilização  dos fundos estruturais. Contudo, a missão é  de opinião de que os grandes cortes  nos impostos.propostos  no  programa económico do principal partido da oposição são irrealistas e incompatíveis com os objectivos gerais do programa de ajustamento. Contudo, a missão concorda  com o governo e com a oposição que se deve trabalhar para a reforma tributária fiscalmente neutra, a partir do Outono em diante, com o objectivo de alargar as bases tributárias, eliminando muitas das isenções fiscais, o que pode assim levar a uma redução nas taxas de imposto sobre o trabalho. No momento em que se está a redigir este relatório, parece muito pouco provável que o principal partido da oposição vá  votar favoravelmente o novo pacote de medidas fiscais ".

 

FINANCIAMENTO

 

"Grécia, provavelmente, não será capaz de voltar ao mercado em 2012. No plano de financiamento acordado há um ano assumiu-se que a Grécia  não iria ao mercado durante  quase dois anos e  que voltaria a renovar a  sua dívida de  médio e de longo prazo a partir do início de 2012. Este é agora um cenário muito remoto. O custo de financiamento no mercado continua proibitivo ... É improvável que os  rendimentos sobre os seus títulos voltarão para  níveis acessíveis em questão dentro de  alguns trimestres. O cepticismo dos mercados está relacionado com as dúvidas existentes  sobre a capacidade e sobre a vontade do governo grego e da sociedade em  continuarem a executar o processo de consolidação fiscal e em conseguirem  estabelecer  a competitividade  da Grécia. Além disso, a incerteza sobre o funcionamento da União Europeia  e as possibilidades  de financiamento na zona do euro agravou a tensão nos mercados financeiros. "

 


"A estratégia de financiamento tem de ser revista. Dada que é remota a possibilidade de a Grécia voltar aos mercados financeiros em 2012 para se financiar  o programa de ajustamento agora estabelecido.está subfinanciado. A.próximá prestação  não poderá ser  executada sem que esta questão do  sub-financiamento  esteja resolvida."

publicado por Carlos Loures às 13:00

editado por Augusta Clara às 01:42
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Domingo, 22 de Maio de 2011

Apresentação do Testamento de Maurice Allais, por Júlio Marques Mota. Ler amanhã às 23.00.

 

Desde que tive conhecimento do texto Testamento de Maurice Allais, o único prémio Nobel que a França teve,  publicado por Marianne 2 que procurei  obter a versão integral do  referido texto. Um amigo meu. Jean-Paul Girard trouxe-me  uma fotocópia de Marianne 2 mas em letra tão pequena que não era legível para um velho como eu. Desisti, até que anteontem,  ao procurar de novo o documento para utilizar longamente num texto que estou a escrever,  tive acesso via Internet, ao referido documento. Traduzi-o, disponibilizei-o  aos meus estudantes  e pedi que o mesmo fosse feito aos visitantes de estrolábio.

 

Conheci Maurice Allais de vários dos seus últimos livros, é um homem do mundo liberal, e eu era um dos que  o  confundia como sendo um neoliberal. Quis o acaso que eu há muitos anos ter  tido  a sorte de ler uma crónica sobre uma sua conferência feita num Grande École  comercial em que o autor com uma lucidez extrema criticava as teorias  em que se fundamentam os ideólogos da globalização e a sua posição crítica estava tão perto das que eu defendia que me espantei , como é que um neoliberal estava tão próximo das correntes mais à esquerda nesta matéria disponíveis  aos estudantes de Economia, antes  de Bolonha, antes das Universidades à Mariano Gago, claro. Daí a minha curiosidade e estas suas obras a seguir bem li e muitos extractos traduzi para colocar  nos meus pontos de exame tal era a actualidade das ideias expostas, estas obras eu continuo a recomendar  face à prática da ignorância que se faz de ontem, de hoje e de amanhã certamente , obras estas que vêm citadas no final do seu testamento. Se puderem, olhem por e para elas e não darão o tempo por perdido,

 

Aliás nesta Europa de ideias folgadas, dizem, mas bem condicionadas, garanto eu,  ainda me lembro  de um assistente alemão de nascimento e de profissão, ou seja, professor na Alemanha, entenda-se,  ter dito mais ou menos o seguinte ao professor nessa referida conferência: Professor Maurice Allais, se eu tivesse a   coragem de dizer no meu país o que o senhor aqui disse, eu não veria o meu contrato renovado!    A sua exposição tinha sido uma crítica demolidora das teorias dominantes do comércio internacional e do seu teorema de base: o teorema das vantagens comparadas, o teorema de Ricardo, de que muitos dos meus alunos terão má lembrança, por não terem  sido por este teorema  ajudados no seu desejo de passagem na disciplina. Uma questão de vantagens, ou desvantagens, mas aqui de aprender, e houve quem com este teorema ficasse de facto a perder..

 

E boa leitura do testamento de Maurice Allais vos desejo. A sua riqueza é tal, a sua actualidade será lamentavelmente ainda a de  amanhã como será igualmente ainda  a de depois de amanhã, que  dispensa todo e qualquer comentário. Deixemos apenas um lateral sobre o texto em questão. A Troika, aqui, em Atenas, na Irlanda e amanhã num outro país qualquer desta Europa agora pela incompetência  amordaçada , procura rapar do tacho que dá pelo nome de PIB a comida com que a ganância dos   grandes capitais há-de calar. Mas o tacho  é mágico : quando mais  se mete dentro dele mais ele fica a dilatar, porque com o investimento a aumentar, uma parcela do PIB,  o emprego aumenta, a riqueza a distribuir igualmente, e o tacho   fica a crescer e fica a engordar, a aumentar de volume. Mas tragédia,  se aumenta   por si só  quando o fazem inicialmente aumentar, o movimento inverso   é porém ainda mais rápido e extraordinariamente perigoso, pois o tacho diminui, por si só, em altura e em diâmetro quando dele o seu volume ficam a querer  diminuir . Se dele tiram receitas para os capitais no mundo outras coisas poderem comprar , campos de golfe, casas no Dubai ou noutras coisas  semelhantes poderem continuar a especular, é a procura interna que fica a cair, é a produção que depois fica a diminuir, é a receita do   Estado  que fica a regredir, é o desemprego a tudo poder fazer explodir . E, quando assim  é, são depois os juros da dívida pública que ficam a subir, é a Troika a mais do tacho exigir quando ele já está a diminuír,  e são os nossos liberais, esses sim neoliberais, de esquerda ou de direita chamados, a gritar pelas exportações para se procurarem salvar. Falta de memória, esqueceram-se que desarticularam  as trocas internacionais com a sua estúpida desregulação global, com a sua assassina noção de concorrência mundial que nada mais é do uma bomba atirada ao tecido produtivo dos países europeus. Leia-se pois o texto de Maurice Allais para tudo isso se poder bem compreender. E à incompetência ele chama monstruosa, até mesmo assassina.

publicado por João Machado às 23:55
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Reflexão sobre a serena paisagem da ganância, por António Sales

 

 

 




Todos os dias deparamos com situações que conferem às relações sociais um carácter materializado por interesses desprovidos do mínimo de pudor e de carácter. Desde a criminalidade quotidiana em que bandidos vão para casa apesar de vítimas irem para o hospital, aos crimes de colarinho branco em que políticos, empresários, gente bem sucedida, chafurdam em negócios nas off-shores metendo milhões de euros ao bolso com ar tranquilo; os voluntários que ajudam nos mais diversos trabalhos sem pedir nada em troca até que alguém lhes dê um pontapé no cu. A sociedade actual elevou à mais alta potência a mentira, a ingratidão e a hipocrisia, desenvolvendo uma substancial quantidade de anti-corpos cuja missão é anular indivíduos tornando-os seres passivos de umbigo farto.


O sujeito idealista, generoso, pronto a sacrificar prazeres e afirmar a sua personalidade contra hierarquias estabelecidas está reduzido a pó de caca (mesmo dentro dos partidos políticos) se não respeitar normas de elogio e concordância que estabelecem o coro da glória venal. Discordar é blasfémia, recorrer à inteligência do eu (sem maiúscula) é ousadia, mostrar lucidez é vaidade, possuir capacidade de realização acima dos chefes é descaramento. A montanha é mais fácil de subir montado nas costas dos outros do que no esforço de si próprio.


Esta forma pouco recomendável de fazer carreira abençoando os amigos, acolhendo os compadres e pagando os favores leva à “moralização” de um Estado leproso que tudo contamina em nome de uma economia global assente no magnífico milagre do liberalismo das leis do mercado livre. O dinheiro, o poder económico, a do poder político, o cinismo, a majestosa importância da riqueza são factores provocatórios e desumanizantes da sociedade. Tal estado de coisas desperta a intolerância, o egoísmo, o culto individualista no pior sentido do termo.


Orgulho e arrogância colocam as suas máscaras. Escondem-se ambições e hegemonias antigas sob novas aparências. O réptil continua réptil, o imbecil continua imbecil, o oportunista continua oportunista. A mesquinhez humana – mais antiga do que a prostituição – conquista o estatuto da razão que a justifica na malha dos interesses instalados.


publicado por João Machado às 21:00
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Terça-feira, 26 de Abril de 2011

as três crises americanas que vão provocar a Enorme Ruptura do sistema econômico, financeiro e monetário mundial - por GEAB [*]

Enviado por Manuel Simões

 

Outono de 2011: Orçamento/Títulos do Tesouro/Dólar, as três crises americanas que vão provocar a Enorme Ruptura do sistema econômico, financeiro e monetário mundial.

 

por GEAB [*]

 

Em 15 de Setembro de 2010, o GEAB nº 47 intitulava: “Primavera de 2011:Welcome to the United States of Austerity / Rumo ao enorme pânico do sistema econômico e financeiro mundial”. No entanto, no fim do Verão de 2010, a maior parte dos peritos considerava, por um lado, que o debate sobre o déficit orçamental dos EUA permaneceria um simples objecto de discussões teóricas no seio da Beltway [1] ; por outro, que era impensável imaginar os Estados Unidos a lançarem-se numa política de austeridade uma vez que bastaria ao Fed continuar a imprimir dólares.                        

 

Ora, como todos podem constatar desde há várias semanas, a Primavera de 2011 trouxe a austeridade aos Estados Unidos [2], a primeira desde a Segunda Guerra Mundial, e o estabelecimento de um sistema global fundado na aptidão do motor americano a gerar sempre mais riqueza (real nos anos 1950-1970, depois cada vez mais virtual a partir desta data).

 

Nesta fase, o LEAP/E2020 está pois em condições de confirmar que a próxima etapa da crise será realmente a "Enorme ruptura do sistema econômico, financeiro e monetário mundial"; e que esta ruptura acontecerá no Outono de 2011 [3]. As consequências monetárias, financeiras, econômicas e geopolíticas desta “Enorme ruptura” serão de uma amplitude histórica e farão a crise do Outono de 2008 parecer aquilo que ela realmente foi: um simples detonador.

 

A crise no Japão [4], as decisões chinesas e a crise das dívidas na Europa certamente desempenharão um papel nesta ruptura histórica. Em contrapartida, consideramos que a questão das dívidas públicas dos países periféricos daEurolândia não é mais o fator de risco dominante na Europa, mas que é o Reino Unido que se encontra na posição do “doente da Europa” [5]. A zona Euro pôs em ação e continua a melhorar todos os dispositivos necessários para tratar destes problemas [6].                                                                                                                           

 

A gestão dos problemas grego, português, irlandês, etc. será feita, portanto, de maneira organizada. Investidores privados deverão arcar com descontos (como antecipado pelo LEAP/E2020 antes do Verão de 2010)[7], mas isso não pertence à categoria dos riscos sistêmicos, o que desagrada oFinancial Times, Wall Street Journal e peritos da Wall Street e da City que tentam a cada três meses refazer o “golpe” da crise da zona Euro do princípio de 2010 [8].

 

Em contrapartida, o Reino Unido fracassou completamente na sua tentativa de “amputação orçamentária preventiva” [9]. Com efeito, sob a pressão da rua e nomeadamente dos mais de 400 mil britânicos que enchiam as ruas de Londres em 26/02/2011 [10], David Cameron viu-se obrigado a rever em baixa seu objetivo de redução das despesas de saúde (um ponto chave das suas reformas)[11]. Paralelamente, a aventura militar líbia obriga igualmente a rever seus objetivos de cortes orçamentais no Ministério da Defesa.                                                                                   

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 16:00
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Domingo, 6 de Março de 2011

Manifesto de economistas alemães sobre a crise na Europa

Apresentação de Júlio Marques Mota

Com este texto apresentamos mais um documento de economistas de raiz  tecnocrata, documento sério à procura de soluções  mas dentro do sistema . Documento  que nada tem a ver com os silêncios sepulcrais da Comissão Europeia sobre o drama que a Europa atravessa. Referimo-nos  a este documento como de profunda raíz tecnocrata, porque  procura a solução dentro do sistema e nesta solução vejamos a  resposta que dá para o delicado problema da competitividade que urgentemente no quadro da crise terá que ser resolvido:
“Depois  de um procedimento de reescalonamento da sua dívida, como é que um Estado sobreendividado  pode reencontrar a sua competitividade? É uma importante questão. Dado que a pertença à zona euro não permite desvalorizações nominais, a competitividade internacional dos Estados atingidos  pode ser restaurada através  de reformas estruturais. O FMI tem uma vasta experiência neste domínio e pode fornecer uma assistência técnica e administrativa, por exemplo no domínio da administração fiscal. No entanto, as reacções derivadas da recessão provocada pelo  ajustamento estrutural não serão completamente evitáveis.”
Aos leitores do Estrolábio desejo boa leitura dos três documentos.

Júlio Marques Mota




Zona Euro

Manifesto de economistas  alemães sobre a  crise da dívida soberana na Europa
Andreas Haufler   Bernd Lucke   Monika Merz   Wolfram F Richter

 

 Em Maio de 2010, a UE criou um fundo de salvação, de uma duração de três anos, para os membros sobreendividados  da zona euro. Alguns propõem hoje aumentar as reservas deste fundo e dar-lhe um carácter permanente para ajudar os países confrontados com crises de liquidez. Infelizmente, procura-se em vão uma justificação convincente para  estas duas propostas. Não é evidente que os riscos já presentes foram avaliados realisticamente e que disposições adequadas estiveram previstas no caso o fundo de salvamento falhar.

 

O volume actual do fundo de salvamento, com o rating AAA, excede em  quase 80% as necessidades de refinanciamento acumuladas da Irlanda, Portugal e a Espanha até em 2013. Nestas condições vê-se mal porque seria necessário aumentar as reservas deste fundo. Para apoiar os Estados sujeitos  a crises de liquidez, o fundo de salvamento não é necessário porque eles estão em condições de se entenderem  com os seus credores para reestruturar a sua dívida pública sem necessariamente estar a alterar o valor actualizado. Se em contrapartida os seus credores não estiverem  convencidos que estão a enfrentar uma simples rarefacção de liquidez,  então estes Estados devem ser considerados como insolventes. Se a UE garantisse a solvabilidade de Estados realmente insolventes, isto teria consequências fortemente  negativas.

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Sábado, 5 de Fevereiro de 2011

Sabe qual é a diferença entre economia e finanças?

Tem algum tempo mas vale a pena voltar a contar para que se perceba o que está a acontecer com as finanças e com a economia dos países e como se ganha dinheiro sem produzir riqueza.

 

Um vendedor chegou a um pequeno hotel de uma cidadezinha no interior e pagou, adiantado, 100 euros por uma dormida. O dono do hotel correu ao talho e pagou os mesmos 100 euros que devia por fornecimento da carne ao hotel. O talhante foi pagar ao produtor e criador dos animais os mesmos 100 euros que, por sua vez, foi pagar ao dono do hotel uma dívida de uma dormida de um seu fornecedor. No fim do dia o vendedor pediu os 100 euros que tinha pago adiantadamente, por não poder permanecer na cidade essa noite.

 

Sem produzir rigorosamente nada, o vendedor chegou a uma cidade endividada e partiu deixando para trás uma cidadezinha sem dívidas.

 

Isto pode acontecer "n" vezes até que quem produz riqueza deixe de poder financiar a sua produção de riqueza. Nessa altura, deixa de haver carne, não chegam vendedores ao pequeno hotel, e todos devem a todos. As pessoas perdem os empregos, deixam de poder consumir carne e de dormir no hotel, o hotel fecha e o talhante pede dinheiro ao banco para importar de uma cidade distante a carne que ninguém lhe compra. A seguir deixa de poder pagar ao banco que se apressa a vender os seus bens em leilão a, alguem, que vai esperar pela próxima "bolha"  para ganhar muito dinheiro, ele também sem acrescentar nada aos bens que comprou na "baixa" para vender na "alta".

 

A grande cidade vendo-se cercada por cada vez mais cidadezinhas endividadas, começa a distribuir dinheiro que adquiriu a taxas muito elevadas e que "rapam" o lucro de quem produz, assim aumentando os preços dos produtos que os desempregados têm que comprar para sobreviver. Começa a importação dos produtos que os consumidores compram  muito baratos e que vêm de uma cidade longínqua e onde os consumidores (muito pobres) não têm poder para consumir mas que produzem muito ganhando muito pouco.

 

Nesta altura temos consumidores pobres a comprar a trabalhadores muito pobres e que vão aceitar trabalhar em condições cada vez mais dificeis e a receber dada vez menos pelo seu trabalho.

 

É, isto, que está a acontecer na chantagem da direcção da FIAT que o prof Júlio Marques Mota aqui nos tem trazido com os seus magnificos textos. O dinheiro passou a ganhar-se na movimentação financeira que nada produz (embora seja uma das condições a reunir para produzir) e não na economia onde na realidade se acrescentam mais valias aos bens e serviços. Este circuito infernal explica,( são a gota de água) as recentes movimentações de revolta nos países árabes( a troca de alimentos por petróleo é a solução, apressam-se a gritar os "fariseus"). E o Chile de Pinochet e o seu "milagre" económico (à custa de prisões e assassínios em massa), e o Portugal de Salazar ( cheio de gente pobre  mas com os cofres cheios de ouro), e toda a miséria que perdura por esse mundo . O neoliberalismo só é possível com o conluio dos estados ditos democráticos ( e, alguns  ditos socialistas) ou em ditaduras. Ninguém aceita viver eternamente sem futuro e sem esperança!

 

Mas é preciso produzir antes de distribuir! (verdade de La Palice mas que é o principio da política económica mais vezes desprezado)

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Sábado, 29 de Janeiro de 2011

A crise de 1929, o regresso? - por Martin Wolf

Há sinais de recuperação que estão a aparecer, aqui e ali. De toda a maneira, é o que nos asseguram. Mas antes de concluir que o fim da recessão está próximo, devemos interrogar a história para ouvir o que esta tem para nos dizer. Este é um dos guias de que dispomos na difícil situação que estamos a passar. Por felicidade, temos dados. Por infelicidade, a história que nos relatam não é nada agradável.

Dois historiadores de economia, Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Kevin O'Rourke, do Trinity College em Dublim compilaram números que nos dizem mais do que os longos discursos (ver www.voxeu.org, "A Tale of Two Depressões", Junho de 2009). Neste seu texto, os professores Eichengreen e O'Rourke datam o início da actual recessão mundial em Abril de 2008 e o da Grande Depressão em Junho de 1929.

Quais são as suas conclusões sobre a fase em que estamos já com um pouco mais de um ano depois do início da crise? A má notícia é que essa recessão corresponde ponto a ponto à primeira fase da Grande Depressão do século XX. A boa notícia é que o pior ainda pode ainda ser evitado.

Em primeiro lugar, o declínio na produção industrial global reproduz de modo assustador o que foi observado durante a Grande Depressão. Na Europa, o declínio na produção industrial em França e na Itália foi mais forte do que na similar fase da crise na década de 1930, enquanto que o declínio actual na Grã-Bretanha, Alemanha, Estados Unidos e no Canadá é aproximadamente a mesma que na crise de 29. Mas o colapso da indústria do Japão, apesar de uma muito recente recuperação foi muito pior do que o que aconteceu na década de 1930.


Em segundo lugar, a queda acentuada no volume do comércio mundial foi muito pior do aconteceu em 1929. Na verdade, a baixa registada durante o primeiro ano no mundo corresponde ao observado nos primeiros dois anos da Grande Depressão. E isto não tem nada a ver com medidas de protecção, mas sim com a queda da procura de bens manufacturados.


Em terceiro lugar, apesar da sua recente recuperação, a queda nas bolsas mundiais é muito maior do que o foi durante o período correspondente da primeira grande crise mundial.


Isto leva os autores do estudo a concluir sem qualquer hesitação: "Numa escala global, seguimos a mesma evolução, talvez até mesmo pior do que a seguida durante a Grande Depressão. Os acontecimentos que se estão a passar (...) são de uma escala dimensão semelhante à da crise dos anos 30. "


No entanto, o que deu o seu nome à Grande Depressão, foi uma forte queda durante três anos consecutivos. Hoje, o mundo aplica as lições aprendidas com os acontecimentos dos anos 1930 por John Maynard Keynes e por Milton Friedman, os dois mais influentes economistas do século XX. A resposta política dada a esta crise deixa pressagiar que o desastre não se vai reproduzir.

Os professores Eichengreen e O'Rourke não deixam de sublinhar esta diferença essencial. Durante a Grande Depressão, a média ponderada da taxa de desconto das sete maiores economias nunca desceu abaixo dos 3%. Hoje, está próxima de zero. Até mesmo o Banco Central Europeu, o mais inflexível dos grandes bancos centrais, reduziu a sua taxa chave para 1%.

Do mesmo modo, durante a Grande Depressão, a oferta de moeda afundou-se, enquanto que esta continua a crescer hoje. Na verdade, a combinação do forte crescimento monetário e de uma recessão suscita dúvidas no que diz respeito à explicação monetarista da crise de 1929.


Finalmente, a política orçamental foi muito mais agressiva desta vez. No início dos anos 30, a média ponderada do défice de vinte e quatro países mais desenvolvidos manteve-se abaixo de 4% do seu produto interno bruto (PIB). Hoje, os défices orçamentais serão muito superiores. Nos Estados Unidos, o défice público deverá chegar a quase 14% do PIB.


A questão é agora de saber se as medidas de relançamento sem precedentes que têm sido tomadas conseguirão compensar as consequências do colapso financeiro e da acumulação de dívidas nunca até agora atingida do sector privado nos Estados Unidos e nos outros países. Se os planos de relançamento lhes são superiores afastar-nos-emos do caminho que levou à Grande Depressão. Se não forem superiores, voltaremos a fazer o caminho da Grande Depressão. O que todo o mundo espera é óbvio. Mas o que devemos esperar?


Estamos a assistir a uma corrida contra-relógio entre por um lado o sanear das contas dos privados e o reequilíbrio mundial da procura e, por outro, a durabilidade das politicas de relançamento económico.


Só encontraremos uma forte procura sustentada do sector privado depois das contas das famílias sobreendividadas, das empresas sobreendividadas e dos sectores financeiros sub-capitalizados terem sido melhoradas, ou depois de os países com altas taxas de poupança comecem a consumir ou a investir mais.


Nada disto vai acontecer de modo rápido. Na realidade, tendo em conta a excepcional acumulação de dívida registada durante a década passada, é muito mais provável que leve anos. Durante os últimos dois trimestres, por exemplo, as famílias nos Estados Unidos reembolsaram apenas 3,1% das suas dívidas. O desendividamento é um processo longo. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos passaram a ser o único tomador significativo de fundos. Da mesma forma, o governo chinês poderia rapidamente aumentar os seus investimentos. Mas ser-lhe-á mais difícil desenvolver e por em prática uma política capaz de elevar o seu nível de consumo.


A maior probabilidade é que a economia global tenha que aplicar políticas monetária e orçamental durante muito mais tempo do que muitos acreditam ser necessário. Isto necessariamente irá causar nervosismo nos políticos - e nos investidores.


Perfilam-se no horizonte dois perigos entre si contraditórios. O primeiro é que os planos de relançamento foram postos em prática muito cedo, como foi o caso na década de 30 e no Japão na década de 90. Isto conduzirá a uma recaída em recessão, devido ao facto de o sector privado, ainda não estar em condições de gastar - ou de não estar disponível para isso.

O outro perigo é que, ao contrário do caso anterior, as medidas de relançamento sejam dadas por concluídas demasiado tarde. Isto levaria a uma perda de confiança na estabilidade monetária, agravada pelas preocupações sobre a capacidade de se assumir a dívida pública, principalmente nos Estados Unidos, o emissor da principal moeda mundial. No limite, a subida dos preços dos produtos em dólares e de subida das taxas de juro das obrigações do Tesouro a longo prazo, poderiam mergulhar os Estados Unidos - e as outras economias no mundo – numa perniciosa estagflação. Contrariamente ao que dizem alguns alarmistas, não tenho actualmente conhecimento de qualquer um desses sinais anunciadores de um pânico. Mas este não está excluído.


Em 2008, a economia mundial mergulhou em recessão. A resposta política tem sido de uma dimensão sem precedentes. Mas aqueles que acreditam que estamos no início de uma forte recuperação liderada pelo sector privado tirem daí as suas ilusões. Os caminhos para a recuperação sustentável serão provavelmente longos, difíceis  e incertos.

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 12:19
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Sábado, 15 de Janeiro de 2011

A Famosa Crise – por Carlos Leça da Veiga

 

Na minha opinião a famosa crise   que tanto tem sido vitima das explicações mais disparatadas começou no momento  em que teve inicio a

caminhada das independências.  Foi, muito principalmente, no final da última Guerra Mundial quando os colonizados africanos e asiáticos começaram a levantar a cabeça.

 

A principio foi pouco sentida mas, por fim, resultou no que está à vista. Os ocidentais sempre viveram do rendimento obtido nas "quintas" que tinham espalhadas pela África, Ásia, América e Oceânia. A crise tão falada era a situação constante em que sobreviviam quase todos os Povos do mundo. Nós sendo colonizadores fomos, também, colónia. Por exemplo, alguém estaria preocupado com a desgraça que era o viver já secular dos chineses e dos indianos?

 

E a escravatura dos africanos feita sob a égide moral dos mandamentos da igreja romana? E o extermínio dos ameríndios? Não seria uma crise? A crise na Europa actual não resultará da existência de imensas colónias dentro dela mesma? O que faz correr Madrid para não perder a Catalunha e o País Basco? O que foi e burla da reunificação dos germânicos que não fosse a necessidade de dominar territórios no centro europeu para, mais tarde, voltar a construir um novo Reich, o Quarto e colonizar povos
europeus já que colónias no exterior da Europa é coisa do passado.


Não foi crise - e da pior - o que aconteceu do continente americano quando os castelhanos tudo exterminaram? Eu direi que os portugueses têm, também, culpas no cartório mas são incomparavelmente menores que as dos demais.



Sendo como somos a única Nacionalidade europeia que pode confundir-se com um Estado isso deveria ser o cavalo de batalha da política portuguesa para melhor contrariar a tal crise cuja génese é política e só tem solução política designadamente sob o signo das Libertações nacionais. Os Países ditos emergentes se têm grande força económica é por terem ganho a Independência depois da experiência notável de terem sido Não-Alinhados. A evolução jamais parará. Mas em que sentido???

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por Luis Moreira às 13:47
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Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2011

Cuba - investigação médica no topo mundial

Há poucos dias dei aqui conta do falhanço do sistema de produção do regime Cubano que vai despedir 1.300.000 pessoas que trabalhavam como funcionários públicos. Espera-se que estas pessoas possam criar o seu próprio emprego e aumentar a produção de produtos e bens essenciais, mormente na agricultura e pescas.

 

Ontem correu a notícia que a investigação médica Cubana, após porfiados esforços ao longo de quinze anos conseguiu obter uma vacina terapêutica do cancro do pulmão, um dos cancros mais letais e que mais tem aumentado nos últimos anos, especialmente entre as mulheres, resultado do seu apego ao tabaquinho.

 

Não se pode ler estas duas notícias sem um sentimento de espanto. No mesmo país, não se produzem batatas, agriões e tomates, não se pesca peixe suficiente, mas a sua medicina é do mais avançado a nível mundial. Aqui está uma lição que as experiências dos países comunistas nos deixaram. A iniciativa privada é essencial, não só porque não há Estado que tenha capacidade de ocorrer às inúmeras actividades que uma economia saudável comporta, mas também porque a liberdade de iniciativa é uma componente fundamental da liberdade da sociedade civil.

 

Da mesma forma, mas de sentido contrário, a crise que assola os mercados ocidentais, desfazendo economias e empregos aos milhões, mostra bem que não se pode esperar da iniciativa privada que se autodiscipline no sentido do interesse geral.É o lucro que faz mover as pessoas e não o interesse geral, pelo que os Estados não podem deixar nas mãos dos mercados e dos especuladores as actividades que, pelo seu perfil estratégico, possam influenciar a vida de milhões de seres humanos.

 

A crise em que estamos mergulhados é o resultado, não só da ganância das pessoas, mas também do falhanço dos estados que não regularam, não supervisionaram. Que o estado se dedique às actividades que só ele pode, com independência, executar!

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Sábado, 8 de Janeiro de 2011

Carta aberta a Durão Barroso - 6 - por Júlio Marques Mota

(Continuação)

 

Da Estratégia de Lisboa a uma outra política, a uma outra Europa, à Europa do futuro

 

Senhor Presidente, com a Estratégia de Lisboa em 2000 à União atribuiu-se um novo objectivo estratégico para a década seguinte: “Tornar [-se] no espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo baseado no conhecimento e capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social”. A partir deste objectivo sobre o qual tantos louvores se escreveram, pensámos, a partir daí, que o modelo europeu ia assentar na deslocalização da produção de bens salariais e de tecnologia pouco evoluída para África, para o sueste asiático e em particular para a China. Paralelamente, faria investimentos maciços na educação, na investigação, na formação, assistir-se-ia a um forte aumento do seu “capital imaterial”, o nível de desenvolvimento científico e profissional, assistir-se-ia a um aumento crescente de produções de alto valor acrescentado e teríamos desencadeado o mecanismo da troca desigual, possível sobretudo nas economias globalizadas, entre países de baixos e altos salários para os mesmos níveis de qualificação e com os capitais produtivos completamente móveis à escala internacional. A União Europeia iria, pensávamos, assegurar a obtenção do pleno emprego, com altos salários médios por hora de trabalho e a taxa de lucro igual à do resto do mundo, como resultado da concorrência dos capitais à escala mundial, iria assegurar os mecanismos de riqueza adicional a que se chama de troca desigual. A União Europeia iria crescer fortemente, assente quer nas políticas de pleno emprego quer no resultado do excedente comercial obtido também com o mecanismo da troca desigual: venda de produtos caros, resultantes dos altos salários, compra de produtos baratos devido aos baixos salários dos países produtores destes bens. Por esta via, instalar-se-ia um novo imperialismo, imperialismo não financeiro, imperialismo comercial e tanto mais assim quanto não há no quadro internacional os mecanismos desejáveis de compensação, mas se a saída fosse essa, a Europa seria também outra e generosa poderia compensar estes mecanismos via a ajuda externa. Enganámo-nos redondamente.

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 14:55
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