Sexta-feira, 10 de Setembro de 2010

Notas de cêntimo (9) - Para tudo acabar no Eco(fin)

Carlos Mesquita

Como n´A Felicidade" de Vinícius de Moraes, tristeza não tem fim, felicidade sim. A sorte do parlamento português acaba antes do fim, no Ecofin, uma versão de ditadura ecológica para tratar o mau ambiente que a autonomia dos parlamentos nacionais provocam. A comissão de Economia e Finanças da União Europeia vai validar ou vetar os orçamentos dos Estados antes de eles chegarem aos parlamentos de cada país membro. Por cá as reacções são óbvias, aqueles que querem alterar as políticas orçamentais na Assembleia da República falam em alienação da soberania, enquanto a direita apoia, seja governo ou não, pois é uma janela de oportunidades. Ao PS minoritário dá jeito, pois as medidas impopulares que não tem coragem de apresentar passam a parecer impostas pela União Europeia, dirão que é contra vontade mas tem de ser; enquanto PSD e CDS querem ver este governo implementar as políticas restritivas, poupando-se eles de o fazer num futuro e hipotético governo. Trata-se duma aliança de circunstância contra a movimentação política da esquerda parlamentar e a agitação social. O Ecofin substitui-se ao papel histórico do FMI, que é o da autoridade supra nacional que indo em socorro dos governos, lhes permite com custos políticos reduzidos, fazer o que os povos não aceitariam daqueles que elegem.

Discussões como as que houve acerca do PEC deixarão de fazer sentido, a ultimatos como aquele que Passos Coelho fez para conhecer o Orçamento até 9 de Setembro (ontem) ninguém dará importância (aliás neste caso também ninguém ligou ao líder do PSD) e vamos ter de ponderar para que serve o Parlamento português.

A incapacidade dos países do sul de resolverem por si os problemas dos deficits e do crescimento económico, é o catalisador para a intromissão da União Europeia nas decisões internas desses países, que ficam assim com menos autonomia que os estados federados dos EUA.

Será alienando soberania e importando governação que solucionamos os problemas da balança externa? Quem vai escrutinar as decisões de Bruxelas? O que delibera a Assembleia da República? Poderemos impedir a perda de soberania? Este país precisa de treinadores estrangeiros na economia e nas finanças? De tanto dizermos mal de nós, já os outros acreditam que valemos pouco.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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