Sábado, 15 de Janeiro de 2011

Ode ao ciborgue - por Carlos Loures

 

 

Quando no final dos anos 80 do século XX a introdução nas cirurgias de transplante dos fármacos anti-rejeição aumentaram as taxas de sobrevivência dos pacientes sujeitos a tais cirurgias, tiveram lugar algumas especulações sobre o futuro da espécie. Esse tipo de interrogação foi reforçado pelo isolamento do enzima de restrição que permitiu pensar-se em manipulação de mensagens genéticas e a possibilidade de modificar as moléculas de DNA, cuja descodificação, mais recentemente, permitiu a clonagem. Este tipo de esperanças e temores, deu, como disse lugar a muitas especulações.

 

Este meu poema (incluído em O Cárcere e o Prado Luminoso, 1990) acompanhou essa onda de preocupação.

 

Diz o seguinte:

 

Ode ao ciborgue

 

Os transplantes, a substituição

de órgãos e membros deficientes,

a intervenção humana nas leis da genética,

vão ser, nas próximas décadas,

cada vez mais vulgares e frequentes.

E isto é quase o mesmo que dizer

que, dentro de relativamente pouco tempo,

o corpo humano estará crivado de próteses

e enxertos, irá sendo cada vez mais

um artefacto onde, como solitárias ilhas,

restarão alguns órgãos de origem.

O nome que alguém deu a esse ser híbrido

e futuro, quase imortal,

viagem entre o homo sapiens e a máquina,

foi o de ciborgue,

simbiose articulada de plástico e plasma,

silicone e carne, ossos, titânio e aço inoxidável,

ouro, músculos, alumínio, vísceras,

platina, chips, circuitos integrados…

Um cérebro, talvez provisoriamente,

prolongado pela água e pela gelatina

dos olhos (talvez acoplado a um computador),

registará a negra paisagem citadina,

a superpopulação, a água do rio

navegada pelos resíduos da central.

Sejamos corteses, saudemos o ciborgue,

metálico milagre do processo evolutivo,

o machina sapiens, cidadão do amanhã,

herdeiro longevo do mundo irrespirável

já hoje em construção febril.

E (quem sabe?), oleando as articulações,

mudando as baterias solares do coração,

registando mensagens nas memórias

do seu cérebro-computador,

talvez que nos dígitos luminosos,

implantados onde nós, os antigos,

tínhamos os lábios e a voz,

talvez, quem sabe? Quem sabe?

se acenda por momentos a palavra amor.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00
link | favorito

.Páginas

Página inicial
Editorial

.Carta aberta de Júlio Marques Mota aos líderes parlamentares

Carta aberta

.Dia de Lisboa - 24 horas inteiramente dedicadas à cidade de Lisboa

Dia de Lisboa

.Contacte-nos

estrolabio(at)gmail.com

.últ. comentários

Transcrevi este artigo n'A Viagem dos Argonautas, ...
Sou natural duma aldeia muito perto de sta Maria d...
tudo treta...nem cristovao,nem europeu nenhum desc...
Boa tarde Marcos CruzQuantos números foram editado...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Eles são um conjunto sofisticado e irrestrito de h...
Esse grupo de gurus cibernéticos ajudou minha famí...

.Livros


sugestão: revista arqa #84/85

.arquivos

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

.links