Luís MoreiraNuma antiga cripta de uma igreja transformada em moinho de farinha por alvará industrial de D.Maria, jazem os elementos de uma das famílias mais poderosas do tempo de Camões e onde o poeta teria servido como pajem.Os Menezes!
Estão lá D. Francisco de Menezes e D. Violante e os seus filhos, com excepção da benjamim, Joana de seu nome.O filho, tambem Francisco, foi resgatado de Alcácer-Quibir, tendo sido um dos jovens nobres que lutara ao lado de El.Rei D. Sebastião e lá perdera a vida nas areias quentes do norte de África.
Tinha acabado de ler o livro do Prof. Hermano Saraiva que revelava a existência desta cripta e, curiosamente, fazia agora parte da garagem de uma grande empresa industrial onde eu próprio trabalhava.Em vez de almoçar, juntamente com o engenheiro director industrial e, munidos de uma lanterna e roupa a condizer para quem tinha que rastejar para passar por entre instalações velhas de séculos, lá fomos à descoberta.
E, na realidade, lá estão os túmulos onde repousam em paz os elementos daquela família e que segundo o historiador é um elemento essencial para se compreender a vida de Camões. A lírica de Camões é considerada por alguns especialistas, de nível literário acima da épica, embora seja por esta que Camões seja conhecido mundialmente e há séculos.Toda a lírica de Camões, não seria mais que o relato pelo próprio, da sua atormentada vida, por onde passariam os amores perigosos com D. Violante e sua filha Joana e que levaria D. Francisco de Menezes, já ancião, a desterrar Camões, enviando-o para Macau, "onde carpindo estou saudoso amante" chora o Bocage, comparando-se a Camões na desdita.
Que a lírica de Camões é portentosa não restam dúvidas, que a sua vida foi atormentada e que morreu pobre e esquecido nada se sabendo da sua última morada, tambem é verdade, ( o que não deixa de ser significativo quando a sua obra já tinha sido publicada e reconhecida)e que o livro, com esta versão da vida de Camões me persegue e me encanta, está aqui a prova neste texto simples.
Conta como a minha singela, simples e modesta homenagem à figura da história de Portugal que sempre povoou o meu imaginário!
Erros Meus, Má Fortuna, Amor ArdenteErros meus, má Fortuna, Amor ardenteEm minha perdição se conjuraram;Os erros e a Fortuna sobejaram,Que para mim bastava Amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presenteA grande dor das cousas que passaram,Que já as frequências suas me ensinaramA desejos deixar de ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;Dei causa a que a Fortuna castigasseAs minhas mal fundadas esperanças.
De Amor não vi senão breves enganos.Oh! Quem tanto pudesse, que fartasseEste meu duro Génio de vinganças!
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"Em cima: «Camões na prisão de Goa», por um companheiro de cela, há quem diga ser o único retrato para o qual o poeta posou. Também se dz que poder ser um auto-retrato. À esquerda: Cópia de um desenho do pintor Fernando Gomes.O original, pertença do Conde da Ericeira, seria um dos poucos retratos que se pensa reproduzir com veracidade as feições de Camões.