História de Portugal – X(A República - I)Sonhos e MalogrosJoão Medina (direcção)
Ediclube, 1994Na noite do assassínio de Miguel Bombarda, cerca de 50 pessoas reuniram-se na Rua da Esperança e decidiram manter a decisão de passar o Rubicão: dava-se isto na mesma hora em que, no Palácio de Belém, se reuniam os convivas do derradeiro banquete da realeza, banquete que por ironia da sorte era oferecido ao presidente eleito da República do Brasil, Hermes da Fonseca. Entrementes, quando, no meio de apreensões e angústias visíveis no semblante dos hospedeiros, os convivas desdobravam os guardanapos para aquele jantar oferecido a um presidente da Republica proclamada no exacto dia em que nascera o jovem que agora detinha a coroa portuguesa, meia centena de conspiradores decretavam o início da revolução que iria depor D. Manuel II e instaurar a República em Portugal.
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História de Portugal – XI(A República - II)O nó górdio e as espadasJoão Medina (direcção)
Ediclube, 1994Este depoimento do então «maximalista» Manuel Ribeiro tem a enorme vantagem de nos dar um perfil moral e político do homem que matou Sidónio em 14 de Dezembro de 1918. Completemos o seu retrato histórico, socorrendo-nos ainda de elementos que nos foram fornecidos pela própria família do homicida. José Júlio da Costa nasceu no Garvão, Baixo Alentejo, em 14 de Outubro de 1893, vindo a falecer com 53 anos incompletos, em Lisboa, no asilo psiquiátrico Miguel Bombarda, em 16 de Março de 1946, ou seja, cerca de 28 anos depois do crime que projectou o seu nome na história portuguesa. Assentou praça no Exército em 21 de Maio de 1910, com 17 anos incompletos, como soldado voluntário, encontrando-se no Regimento de Infantaria 16 quando se deu a revolução; foi assim um dos primeiros a participar na acção revolucionária.
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História da Revolução Portuguesa(O Começo de Um Reinado)Armando RibeiroJoão Romano Torres, 1910 Passadas as primeiras lágrimas, o assombro de momento, entregue a cidade ao governo militar por deliberação do conselho de ministros presidido por João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco, D. Manuel teve que volver os olhos inexperientes para os assuntos complexos que em seu redor se desenvolviam e assim ordenou na madrugada de 2 de Fevereiro a convocação do Conselho de Estado para as três horas da tarde, no paço das Necessidades.
Não cerrou o rei os olhos nessas longas horas que precederam o dia...; não os cerrou também sem inquietação o povo...
D. Manuel tinha a visão dos dois entes queridos, arrebatados pela morte; as lágrimas da mãe e da avó, as dores no braço atingido pelas balas, os seus próprios tormentos e, afora isto, o receio do futuro, nebuloso, indeciso, como é sempre o daquele que vê na realidade as horrorosas tragédias da vida.