Quarta-feira, 18 de Maio de 2011

A Republica nos livros de ontem nos livros de hoje, CXIII e CXIV, por José Brandão

As Minhas Entrevistas com Abel Olímpio

 

“O Dente de Ouro”

 

Berta Maia

 

Lisboa, 1928

 

Porque escrevi este livro

 

Tu, meu filhinho, ficaste órfão aos seis meses, toda a tragédia se desenrolou à tua vista e tu sorrias, sorrias sempre! Deus Meu! Pensei que um dia a tua alma estimaria ler estas páginas, escritas por tua Mãe, sem ódios, sem gritos de vingança, e então uma lágrima rolaria pela tua face, serena, sem revoltas, amparado à cruz de Cristo, forte, altivo na tua dor, orgulhoso de teu Pai!

 

Berta Maia, viúva de Carlos da Maia – uma das vítimas do 19 de Outubro – empenhou-se corajosamente na busca de quem tinham sido os mandantes dos assassinos. Conseguiu mesmo entrevistar na prisão «o Dente de Ouro», responsável pela morte do seu marido.

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As Minhas Memórias

 

3 Volumes

 

Cunha Leal

 

Lisboa, 1966

 

O livro, que me proponho escrever, vai ser a resultante dum conjunto de afectuosas, mas insistentes pressões familiares.

 

Entendem os meus filhos que a personalidade do pai tem sido desvirtuada mercê de observações sistematicamente eivadas de leviandade ou de má fé. Julgam que constitui para mim obrigação indeclinável dizer de minha justiça em causa própria, mostrar ao meu pais com honrada sinceridade o que sou, o que fiz e o que pretendi, mas não me deixaram fazer. Em suma, incitam-me nada mais, nada menos do que a escrever as minhas memórias!

 

Sou um homem que, através duma vida já longa, nunca contrariou, antes pretendeu sempre favorecer, a instauração na nossa Terra duma organização económica, social e política, susceptível de atenuar sensivelmente as gritantes desigualdades, que estão gerando o surdo descontentamento dos seus habitantes.

 

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publicado por João Machado às 17:00
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Domingo, 22 de Agosto de 2010

Repúblca nos livros de ontem nos livros de hoje - 113 e 114 (José Brandão)

As Minhas Entrevistas com Abel Olímpio

“O Dente de Ouro”

Berta Maia

Lisboa, 1928

Porque escrevi este livro

Tu, meu filhinho, ficaste órfão aos seis meses, toda a tragédia se desenrolou à tua vista e tu sorrias, sorrias sempre! Deus Meu! Pensei que um dia a tua alma estimaria ler estas páginas, escritas por tua Mãe, sem ódios, sem gritos de vingança, e então uma lágrima rolaria pela tua face, serena, sem revoltas, amparado à cruz de Cristo, forte, altivo na tua dor, orgulhoso de teu Pai!

Berta Maia, viúva de Carlos da Maia – uma das vítimas do 19 de Outubro – empenhou-se corajosamente na busca de quem tinham sido os mandantes dos assassinos. Conseguiu mesmo entrevistar na prisão «o Dente de Ouro», responsável pela morte do seu marido.
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As Minhas Memórias

3 Volumes

Cunha Leal

Lisboa, 1966

O livro, que me proponho escrever, vai ser a resultante dum conjunto de afectuosas, mas insistentes pressões familiares.

Entendem os meus filhos que a personalidade do pai tem sido desvirtuada mercê de observações sistematicamente eivadas de leviandade ou de má fé. Julgam que constitui para mim obrigação indeclinável dizer de minha justiça em causa própria, mostrar ao meu pais com honrada sinceridade o que sou, o que fiz e o que pretendi, mas não me deixaram fazer. Em suma, incitam-me nada mais, nada menos do que a escrever as minhas memórias!

Sou um homem que, através duma vida já longa, nunca contrariou, antes pretendeu sempre favorecer, a instauração na nossa Terra duma organização económica, social e política, susceptível de atenuar sensivelmente as gritantes desigualdades, que estão gerando o surdo descontentamento dos seus habitantes.

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publicado por Carlos Loures às 18:00
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Sexta-feira, 18 de Junho de 2010

República nos livros de ontem nos livros de hoje - 26 e 27 (José Brandão)

A Regra do Jogo, 1980


Decadência e Queda da I República Portuguesa

1º Vol.

António José Telo

 Regra do Jogo, 1980

Este livro começou por ser um estudo sobre o 28 de Maio, seu carácter e causas. Simplesmente, ao fim de pouco tempo tornou-se claro que as verdadeiras causas do 28 de Maio e do fim da República se tinham de ir buscar ao pós-guerra, ao modelo então ensaiado e às contradições geradas. Aquilo que era para ser um pequeno estudo, foi-se alargando e prolongando ao longo de meses e anos, interrompido algumas vezes por força das circunstâncias. De uma maneira quase imperceptível para o próprio autor, foi abrangendo sectores inicialmente desprezados e transformou-se num grosso maço de centenas de folhas.

Finalmente tornou-se necessário dividir o conjunto em dois livros, para não se ser obrigado a publicar uma obra demasiado volumosa e cara.

O primeiro período abrange os anos 1919-1922, aquilo a que se pode chamar o pós-guerra.

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Decadência e Queda da I República Portuguesa

2º Vol.

António José Telo

A Regra do Jogo, 1980




A imprensa conservadora recebe favoravelmente a estabilização e o novo decreto sobre os bancos, mas não se mostra satisfeita, O «Jornal do Comércio e das Colónias», por exemplo, reclama contra a continuação do «monopólio» do desconto directo da Caixa Geral dos Depósitos e contra a nomeação governamental de directores para o Banco de Portugal e o Banco Nacional Ultramarino.

Mas também neste campo o gabinete revela a sua mudança de atitude ao nomear para o Banco Nacional Ultramarino Cunha Leal, um dos principais dirigentes conservadores. Assiste-se assim ao paradoxo de Cunha Leal, um dos maiores opositores do decreto de José Domingues dos Santos, entrar para a direcção do BNU pela mão do Governo que atacava e por obra e graça do decreto que esconjurara violentamente.



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publicado por Carlos Loures às 18:00
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Segunda-feira, 31 de Maio de 2010

Outra Constituição, outra Democracia, uma Terceira República – 14

Carlos Leça da Veiga

A União Europeia é um autêntico logro político e económico para os portugueses, porém, um negócio notável para quem, na falta dos lucros oriundos das velhas colónias africanas, agora, entre nós, recebe o favor dos subsídios europeus e, traição verdadeira, sob os pretextos de obediência neoliberal às regras de mercado, não só tudo faz para impedir a produção nacional como, em simultâneo, incrementa a importação. Enfim, transformaram Portugal numa colónia. Viver-se-á melhor?

Contra toda a lógica, aliás bem evidente, da evolução duma economia mundial balanceada entre o retrocesso da dos ocidentais e a presença fortíssima, em crescendo, da dos emergentes – muito mais que emergentes – os dirigentes da política portuguesa, sem tino nem senso, pela necessidade de conseguirem apresentar algum serviço e, sobretudo, pela ânsia tradicional de copiar os estados europeus, de preferência os continentais e, por igual, satisfazer-lhes os interesses estratégicos, correram a aceitar-lhes uma aliança multilateral, a União Europeia, sabendo – deviam saber – que estavam a fazê-lo com estados que, como a História no-lo conta, sempre pretenderam prejudicar Portugal e que, nos últimos anos, como está à vista, até deixaram de ter interesse económico e político significativo por estarem em perda económica muito sensível e, pelo certo, irreparável. Estar-se-á a viver melhor?

Mais uma vez, na História de Portugal, os seus dirigentes, foram procurar, na aliança com os potentados do ocidente europeu, em retrocesso económico, as fontes do auxilio para, como imaginaram e imaginam – mas mal – conseguirem que a grandeza desses potentados, se o foi, ou se o é, extravasasse para Portugal. Procederam desse modo por causa não só das tradicionais mimética e submissão face a tudo quanto é feito na Europa – uma crença com séculos – mas, também, não pode ignorar-se, por força das manobras políticas dos interesses muito próprios dos possidentes nacionais e da sua aliança estreita com um lote influente de personalidades políticas portuguesas interessado na satisfação duma sua velha mas desastrosa perspectiva maçónica que a leva a imaginar-se, mais outra vez, como fundadora dum sonhado mas serôdio federalismo europeu. Viver-se-á melhor?

Nos anos oitenta do século transacto tornou-se evidente que as correntes político-partidárias com peso eleitoral, na impossibilidade, aliás confirmada, de saberem como ter e como obter o saber político suficiente para enfrentar as perspectivas estratégicas, por evento dolorosas, dum Portugal independente e, também, para conseguirem dar uma resposta populista às consideradas necessidades imediatas da população portuguesa, a troco dum prato de lentilhas, foram buscar protecção fora de portas, entre os potentados continentais europeus, dispensando-se de acautelar o futuro nacional. Em compensação, o futuro dos seus interesses pessoais, esse, passaria – passou – a estar bem encaminhado e melhor resolvido! Viver-se-á melhor?

De novo, na História nacional e numa repetição lastimável, as classes sociais dominantes a troco da protecção dos seus interesses próprios – anunciados como sendo os nacionais – aceitaram vender às potências europeias, sem quaisquer escrúpulos, a particular e importante posição estratégica portuguesa designadamente a que deriva tanto da sua magnifica fachada atlântica como, por igual, da sua imensa área marítima submarina. Mais outra vez na História nacional, as classes sociais dominantes, sem mostrarem qualquer sentimento de culpa, não hesitaram em ter tornado os dez milhões de portugueses em meros compradores líquidos da produção agrícola, comercial e industrial europeia, sobretudo daquela continental e, para tanto e tal, aceitaram as condições ditatoriais impostas pela União Europeia. Com efeito, esta UE, para assegurar-se duma legião de portugueses tornados importadores obrigados das suas produções, determinou levar à liquidação a generalidade das actividades produtivas nacionais, estatais e privadas para, desta maneira, tudo passar a ter de ser comprado por essa Europa fora. Nestas condições lamentáveis, poder-se-á dizer que está a viver-se-á melhor?

Os possidentes nacionais e os seus caudatários de serviço, na repetição dum passado triste, já desejado como morto, ao invés da defesa dos interesses nacionais mas, tão-somente, para salvaguarda das suas vantagens muito próprias, foram entregar-se nos braços dos potentados europeus que, de Portugal, ontem como hoje – isso nunca deveria esquecer-se – sempre pretenderam tirar vantagens sem nada respeitar. Esses farroupilhas nacionais acreditaram, contra toda a evidência da evolução mundial, que o padrão de vida em curso no centro da Europa e no norte do Continente americano era imutável e, como assim, haveriam de beneficiar com as esmolas suficientes para garantir-lhes uma situação socioeconómica estável e tranquila. Estar-se-á a viver melhor?

Como Portugal tinha deixado de ter colónias e de fazê-lo sem deixar vestígios de neocolonialismo, logo desprovido das tradicionais fontes de rendimento – que, essas, não eram poucas – então, segundo a bestialidade dos próceres nacionais, era preciso ligarem-se a quem lhas facultasse mesmo que à custa do delito de empenhorar a Soberania Nacional portuguesa. Quiseram ombrear com um padrão de crescimento alienígena esquecendo-se – ignorando – que o salto em frente era demasiado grande face ao passado histórico da evolução tradicional portuguesa – cada qual tem a sua História – e que os Países cuja cópia desejaram fazer já estavam, de sobremaneira, em decadência franca tal como, nos últimos anos, acabou por tornar-se completamente patente. Viver-se-á melhor?

Para além de toda a encenação que os Governos sucessivos têm apresentado como sendo a dum desenvolvimento acertado – mais outra das muitas falsidades anunciadas – também está montada a versão sempre repetida (para, deste modo, conseguir ganhar foros de veracidade e a população ser levada a acreditar) que, hoje em dia, em Portugal, fruto da sua inclusão na União Europeia ou, na versão trocista do saudoso Eng.º Cunha Leal “graças à sábia governação que felizmente nos rege” está a viver-se melhor. Como será possível? Nem por milagre.

Onde já vão os benefícios alcançados nos anos seguintes ao 25 de Abril?

Viver-se-á melhor?

Com mais de seiscentos mil desempregados, poder-se-á pensar assim?

Quantos milhares, dentro de um a dois anos vão ficar sem qualquer subsídio de desemprego?

Pensem-se nos mais de oitenta mil portugueses que, em 2009, já nem tentavam procurar qualquer emprego e, como é sabido, a procissão, ainda, vai no adro. Quantos serão em 2010, 2011 e assim, sucessivamente?

Que recuperação económica conseguirá sobrevir para conseguir absorver tantos milhares de desempregados?

Como é possível que com tantos economistas, não tenha sido antevista a evolução do capitalismo – um apátrida – cuja missão, na sua essência verdadeira, digam o que disserem, é reduzida, apenas, a extorquir mais valias e, caso necessário, sem olhar às vítimas provocadas.

A União Europeia, mau grado o avolumar constante duma crise económica – uma inevitabilidade do sistema capitalista, para mais evoluído do nível financeiro para o mafioso – prosseguiu, anos a fio, no erro de não atacar o sistema económico da troca, nem tão pouco, ao menos, de querer regulamentá-lo. Então o que tem feito? Tem insistido em exaltar-lhe o seu sentido neoliberal, em esforçar-se, sem sucesso, por querer salvar-lhe a sua inexistente face humanista e, imagine-se, última decisão, a apresentar-se a protegê-lo à custa das receitas do orçamento estatal pago, obviamente, com o dinheiro dos contribuintes. Afinal, o mesmo estado cuja intervenção, por sistema, é considerada intempestiva, nociva e pecaminosa para o curso livre das leis do mercado e das liberdades individuais é quem, por fim, acaba por ter de socorrer a banca mafiosa ante uma morte anunciada, porém, hipocrisia das hipocrisias, tudo explicado à população como tendo sido uma deliberação pensada em favor do interesse nacional para quem, como dizem, a manutenção indemne das virtudes sacrossantas do mercado e da banca – mafiosa que seja – é entendida como uma necessidade básica, sine qua non.

O que mais interessa aos possidentes – e para isso têm uma comunicação social bem dominada e domesticada – é que a população não vá passar a concluir que razão tinham os que, desde sempre, foram adversários da chamada economia de mercado quando entregue, por inteiro, na mãos do capital privado, para mais, desde há uns bons anos – nunca é demais repetir – tornado mafioso.

Poder-se-á concluir que, de verdade, em Portugal, está a viver-se melhor? Que a maioria dos portugueses está a viver melhor?

Como será possível tirar-se essa conclusão – os socratinos fazem-no – mesmo quando há uma abundância de circunstâncias da vida nacional portuguesa em franco retrocesso e descaracterização. As aparências sociais em exibição constante – mais mundanas que sociais – não são, de facto, a realidade nacional.

Por ser um factor do retrocesso social provocado pelas exigências economicistas de Bruxelas importa verberar-se a continuada, premeditada e insofismável decadência do sistema público de educação para, na linha do neoliberalismo, o de fora e o de dentro, ter de reduzir-se a despesa pública e ao mesmo tempo, facilitarem-se lucros ao negócio dos privados, isto para não falar na intencionalidade criminosa da descapitalização educativa da população portuguesa, de tal modo – esse é o grande objectivo das centrais da desinformação – passo a passo, possa caminhar-se para a manutenção conveniente dum grau satisfatório de ignorância – o que já é uma realidade – e, a seu par, provoque-se nos mais jovens uma indiferença política com monta bastante para conduzir a população utilizadora do sistema público do ensino, à perda sucessiva de quaisquer sentidos crítico e cívico. Com os resultados escolares que o país vai conhecendo e os socratinos desmentindo, poder-se-á concluir que está a viver-se melhor?

Importa, também, não deixar de denunciar-se a falência marcada duma política cultural pública susceptível de facultar, como é imprescindível, uma complementaridade dinâmica ao sistema educativo e, também, por seu turno, tornada instrumento capaz de ajudar a combater a onda avassaladora e, sempre em curso, da alienação político-social. Nestas circunstâncias tão desfavoráveis poder-se-á concluir-se que está a viver-se melhor?

(Continua)
publicado por Carlos Loures às 21:00
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