Subsídios para a História da CUFJosé Soares MartinsAfrontamento, 1974Ora, o sr. Alfredo da Silva, pelo simples facto de possuir muitos milhares de contos, que certamente não angariou somente com o seu esforço, não tem o direito de insultar o enxovalhar quem, por necessidade de ganhar a sua vida, é empregado da Sociedade Geral.
Há muito que se vem esperando que tal situação se modifique, mas a verdade é que as coisas cada vez vão tomando pior caminho.
A Sociedade Geral não tem sequer um comandante de terra com quem os comandantes dos navios se entendam em assuntos de carácter técnico e de quem recebessem directamente as respectivas ordens, sem terem de se humilhar a receberem ordens, as mais disparatadas, de qualquer indivíduo que de coisas do mar nada percebe, julgando dos assuntos marítimos pelas viagens feitas no Tejo, a bordo de qualquer rebocador, de navio para navio.
____________________
Subsídios Para a História do Movimento Sindicalista em Portugal(De 1908 a 1919)
Alexandre Vieira
Lisboa, 1977Já em Lisboa, onde continuou e ampliou a sua militância, fundou, em 1908, o jornal «A Greve», conjuntamente com outros camaradas tipógrafos e um empregado de escritório (que o escreviam, compunham, imprimiam e vendiam). Para o poder vender na rua, Alexandre Vieira não hesitou em se inscrever como «vendedor ambulante de jornais, cautelas e lotarias autorizadas».
Artista gráfico, revisor e jornalista, dirigiu além dos supracitados jornais, ainda o semanário
«O Sindicalista» (1911-1915), em 1917, o «Movimento Operário», e em 1919 o diário sindicalista «A BATALHA».
Preso várias vezes pelos monárquicos, viria a ser detido igualmente pelos republicanos, cujo ódio ao sindicalismo nada ficava a dever aos primeiros, Já sob o fascismo, foi forçado ao exílio durante cinco anos.
_________________
Carlos Godinho
Quando era miúdo e vivia no Barreiro, havia seis ou sete momentos por ano no futebol que me enchiam de adrenalina, quase como se jogasse. Eram as visitas do Benfica e Sporting e os jogos com a CUF e o Vitória de Setúbal. Eu e os outros miúdos vivíamos esses jogos com enorme entusiasmo. Além desses jogos, havia dois acontecimentos por ano, que nos marcavam com grande intensidade, embora sem os vivermos no local. Eram os Benfica/Sporting, na Luz e em Alvalade. Através de "A Bola" e mais tarde do "Record", e das rádios, a televisão nessa altura tinha muito pouco impacto, a repercussão desses jogos atingia o país e quase o fazia parar, secando tudo à sua volta. Que grandes momentos, com grandes jogadores, mas com pouca informação, onde quase tudo girava à volta da imaginação e do sonho. Hoje, esses jogos, perderam muito do seu fulgor, por força da rivalidade surgida com o crescimento do FC Porto e também com as fragilidades, surgidas à vez, dos clubes lisboetas. Além disso, a informação entra-nos pela casa dentro em catadupa, não deixando mais espaço ao sonho. Agora estamos dentro do acontecimento, tanto ou mais que os espectadores no campo, e praticamente tudo é antecipado para os espectadores de sofá. Só falta descobrir o resultado. O resto sabe-se e vê-se tudo.
(de «Todos Somos Portugal»)