enviado por Julio Marques Mota
Concluímos que havia uma ruptura sistémica em termos de responsabilidade e de ética.
A integridade de nossos mercados financeiros e a confiança do público nesses mercados são essenciais para o bem-estar económico do nosso país. A solidez e a prosperidade sustentada do sistema financeiro e da nossa economia assentam nas noções de tratamento justo, de responsabilidade e de transparência. Na nossa economia, esperamos que as empresas e os indivíduos ao procurarem obter benefícios ao mesmo tempo que produzem produtos e serviços de qualidade se estejam a comportar bem.
Infelizmente, como foi o caso no passado com os booms especulativos e as recessões , testemunhamos uma erosão dos padrões de responsabilidade e de ética, erosão esta que exacerbou a crise financeira. Isto não terá sido universal, mas estas violações estenderam-se desde a base até ao nível de topo das grandes empresas. Isto não resultou apenas em significativas consequências de ordem financeira mas também em danos para a confiança dos investidores, empresas e para o público quanto ao nosso sistema financeiro.
Por exemplo, no nosso trabalho de investigação verificámos , de acordo com uma medida de referência, que a percentagem de mutuários que entraram em incumprimento com as suas hipotecas em apenas uma questão de meses depois de contrair um empréstimo quase dobrou a partir do Verão de 2006 para o final de 2007. Estes dados indicam que eles provavelmente obtiveram empréstimos sobre hipotecas que nunca tiveram a capacidade ou a intenção de pagar. O que se escreveu sobre os corretores de hipotecas a que foram pagos "prémios de rendimento crescentes" pelos credores para colocarem os mutuários com de empréstimos de maior custo para que eles obtenham as taxas maiores, que frequentemente nunca eram explicados aos mutuários.
O nosso relatório mostra a crescente incidência da fraude no mercado de hipotecas que florescia num ambiente de colapso quanto às normas nos créditos concedidos e de uma regulação frouxa. O número de casos de actividades suspeitas, denúncias de possíveis crimes financeiros liderados por bancos de depósito e pelas suas filiais relacionados com fraudes de hipotecas cresceu 20 vezes entre 1996 e 2005 e, em seguida, mais do que dobrou novamente entre 2005 e 2009. Um estudo calcula as perdas resultantes de fraudes em empréstimos hipotecários feitos entre 2005 e 2007, no astronómico montante de 112 milhares de milhões de dólares americanos.
Os credores, os mutuantes, fizeram empréstimos que sabiam que os mutuários não podia pagar e que poderiam causar enormes perdas para os investidores em títulos hipotecários. Já em Setembro de 2004, os directores executivos da Countrywide reconheceram que muitos dos empréstimos que eles tinham originado poderiam resultar em "consequências catastróficas". Menos de um ano mais tarde, eles referiram que certos empréstimos de alto risco que eles estavam a fazer poderiam resultar não apenas em execuções de hipotecas , mas também em "catástrofe financeira e de reputação" para a empresa. Mas eles não pararam.
E o nosso relatório mostra que as principais instituições financeiras da misturavam sem qualquer resultado empréstimos que estavam a comprar para empacotar e vender aos investidores. Eles sabiam que uma percentagem significativa dos empréstimos incluídos na amostra não tinham cumprido as normas de concessão de empréstimos quer as suas próprias normas quer mesmo a dos agentes financeiros que originaram os créditos..No entanto, eles venderam os títulos aos investidores. A análise da Comissão sobre muitos dos prospectos dados aos investidores mostra que esta informação fundamental não era comunicada.
Estas conclusões devem ser vistas no contexto da natureza humana e da responsabilidade individual e social. Primeiro, entender esta crise como resultado de defeitos dos mortais como a ganância e arrogância seria simplista. Foi a falha de não se ter em conta as fraquezas humanas que é relevante para esta crise.
Segundo, nós claramente consideramos que a crise foi o resultado de erros humanos, de concepções erradas e de crimes que resultaram em falhas sistémicas pelas quais o nosso país pagou bem caro. Com a leitura deste relatório ver-se-á firmas bem específicas e indivíduos actuaram de modo irresponsável . No entanto, uma crise desta grandeza, desta dimensão, não pode ser apenas o trabalho de alguns maus autores e não foi esse o caso aqui. Ao mesmo tempo, a amplitude desta crise não significa que "toda a gente é culpada"; houve muitas firmas, houve muitos indivíduos que não participaram nos excessos que geraram este desastre.
Consideramos como tendo uma responsabilidade muito especial nesta crise os nosso dirigentes públicos encarregados de proteger o nosso sistema financeiro, os nossos dirigentes afinal a quem foram confiados a direcção dos nossos organismos reguladores e ao mesmo nível consideramos também os principais Directores ou Presidentes executivos de empresas cujas falhas nos levaram à crise. Estes indivíduos procuraram e aceitaram posições de significativa responsabilidade e de significativas obrigações. Subiram ao topo, não importa e, neste caso, fomos nós que descemos. Ninguém disse "não".
Mas como uma nação, devemos também aceitar a responsabilidade por aquilo que permitimos que ocorressem. Colectivamente, mas certamente não por unanimidade, nós consentimos ou abraçámos um sistema, um conjunto de políticas e de acções que deram origem a nossa situação actual.
O nosso relatório descreve os EVENTOS e o sistema que impulsionou a nossa nação para a crise. A complexa maquinaria dos nossos mercados financeiros tem muitas engrenagens essenciais algumas das quais desempenharam um papel crucial no desenvolvimento assim como no aprofundado da crise . Aqui apresentamos as nossas conclusões sobre as componentes específicas do sistema que nós acreditamos que contribuiu significativamente para o colapso financeiro.
Conclusão 7
A zona euro poderia igualmente juntar dinheiros através da emissão de subscrições de obrigações da UE, para ‘financiar a retoma económica, em vez de executar medidas de austeridade’”
SPIEGEL ONLINE, 03.07.2011
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Investir em vez de poupar: ex-políticos de topo postulam"New Deal" para a zona euro
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Os seniores da Europa querem a revolução: vários antigos chefes de estado e de governo, segundo informações do SPIEGEL, querem acabar com a crise da União Monetária mediante um “New Deal”. Em vez de poupar, a zona euro deveria efectuar investimentos maciços – e comprar obrigações de estados falidos.
Texto em alemão:
http://www.spiegel.de/wirtschaft/soziales/0,1518,771996,00.html
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„Feliz aquele que cedo se apercebe do falso raciocínio
existente entre os seus desejos e as suas forças!”
Johann Wolfgang von Goethe (Obra: Os Anos de
Aprendizagem de Wilhelm Meister IV, 2)
Quando li a palavra “New Deal”, no primeiro momento fiquei como electrizado, pensando que finalmente alguém tinha compreendido qual era a saída para a crise de sentido, social, económica e ecológica. Todavia, no segundo momento fiquei decepcionado.
Ora vejamos: a reivindicação acima referida dos “elder statesmen” europeus – entre eles também o antigo Presidente da República Jorge Sampaio – de um “New Deal”, passa mais uma vez, por um triz, ao lado de um objectivo correctamente formulado. Não funciona.
Assim, se a ideia fosse posta em prática, o até aqui imparável declínio da zona euro e da UE no seu todo, ainda seria mais acelerado.
Para dizer a verdade, trata-se de novo daqueles “pequenos, cómodos e tão humanos erros de pensamento pelos quais, no melhor dos casos, só paga um e, no pior, todo o globo” (cf. Prof. Dr. Dietrich Dörner, catedrático alemão de psicologia e investigador de complexidade em: “The Logic Of Failure: Recognizing And Avoiding Error In Complex Situations”).
Com efeito, como os leitores dos meus textos sabem, um “New Deal” que se insere correctamente nas leis da natureza e é capaz de gerar novo crescimento orgânico, deve visar desígnios extrovertidos e sóciocêntricos e não mais os velhos e caducos objectivos egocêntricos que nos levaram ao atoleiro (cf. “New_Deal_esboço_estratégico.pdf” e “DurãoBarroso_Carta_New Deal.pdf”). De facto, primeiro precisamos de um novo objectivo virado para fora – lema: o que é que Portugal e a UE no seu todo podem fazer para um correspondente grupo-alvo no mundo? – e só depois o New Deal interno – o qual então seria a consequência automática e desejável daquela estratégia diversa seguida.
O aspecto positivo: se a actual reivindicação dos “elder statesmen” for aceite e posta em prática, a derradeira “hora da verdade” e com ela a necessidade imperiosa de um novo começo num outro paradigma, chegariam mais depressa do que hoje ainda é o caso. O aspecto negativo: as consequências negativas e dramáticas relacionadas com esta escolha de fazermos o caminho até ao fim amargo.
A outra via é mais segura, menos arriscada e, sobretudo, sustentável.
RD
enviado por Júlio Marques Mota
Crise dos subprimes, um negócio criminoso?
O banco Goldman Sachs recebeu recentemente uma citação para comparecer perante o procurador de Nova Iorque devido ao papel ambíguo durante a crise dos subprimes. Será que se perfila, enfim, um inquérito penal ?
Desde o início desta crise, a finança americana assemelha-se com efeito a uma gigantesca “ cena de crimes ". Contudo, as fraudes maciças que deram origem ao desencadear da maior crise financeira desde há um século aguardam ainda os seus seus procuradores, os seus polícias e os seus juizes. A explicação de um fenómeno macroeconómico pelo crime pode parecer irrisória, anedótica ou até mesmo ingénua.
A opinião publicada - a das elites que têm acesso aos meios de comunicação social - apressa-se como sempre a diabolizar uma perspectiva tão incómoda, agitando cómodos espantalhos : teoria a conspiração, a teroia de bodes expiatórios, efeito de diversão, populismo.
Todos querem impôr uma amável visão das causas da crise através de explicações fatalistas (a teoria dos ciclos), mágicas (uma catástrofe) ou estimulantes (disfuncionamentos dos mercados). No entanto, poucas crises financeiras na história comportaram uma dimensão criminosa tão evidente, uma tal massa crítica de fraudes.
Estes especialistas da negação são frequentemente aqueles que, durante as décadas de euforia (1980-2000), estavam cegos pela anomia crescente dos mercados financeiros. Ontem foram incapazes de antecipar a crise, hoje apressam-se a dissimular os seus aspectos mais chocantes , o que siginifica dos dois lados do Atlântico a falência quase generalizada dos peritos universitários e mediáticos.
Ora esta cegueira só pode preocupar aqueles que ainda são dotados de memória histórica, mesmo por muito pouco que esta seja. Com efeito, nos anos 1980, a América já tinha sofrido uma primeira grande crise financeira de forte “odor criminoso” com a falência das caixas de poupança. Por falta de ter sabido tirar as verdadeiras lições desta primeira tragédia da desregulação dogmática dos bancos, a América condenava-se a uma recaída dolorosa.
A cegueira generalizada e a desregulação depredadora encontra a sua origem na ideia que os mercados são omniscientes e auto-reguladores. Por outras palavras, que a sua “mão invisível” é quase infalível. Inchada e arrogante com este pressuposto , o lobby financeiro de Wall Street pode-se ligar - se comprar ? - aos eleitos sempre disponíveis se não estiverem mesmo convencidos, a míopes professores e às vezes ávidos de avaliações remuneradas, a analistas simpatizantes, friendly , e a jornalistas enredados na complexidade da matéria e pela pertença da maior parte dos meios de comunicação social aos grandes grupos de capitalistas.
Nos factos, esta crise foi o teatro de fraudes ao mesmo tempo maciças (sistemáticas) e integradas nos mecanismos financeiros (sistémicos).
Fraudes que puderam eclodir apenas pela graça de uma desregulação dogmática dos mercados financeiros, pensada e depois realizada desde os anos 1980, tanto pelos republicanos como pelos democratas. Sendo portadora de incitações e de oportunidades criminosas inéditas, a desregulação teve de facto este efeito criminoso; o que explica porque é que estes comportamenos ilícitos têm podido espontanea e mecanicamente eclodir ao longo da complexa e opaca cadeia financeira americana, à maneira dos enxames de abelhas e das matilhas.
Estas fraudes foram determinantes em três níveis: a montante com os empréstimos ditos “depredadores” ou “mentirosos”, difundidos no interior da franja mais vulnerável da sociedade americana (pobres, minorias étnicas, pessoas idosas e deficientes). Estes empréstimos serão mesmo qualificados pelos profissionais da indústria financeira como sendo “ empréstimos de neutrões”, subentendendo-se: estes empréstimos são armas que irão destruir as famílias e deixar as casas intactas. Tanto cinismo linguístico reduz a nada as tentativas de defesa a posteriori sobre o tema da ignorância ou da incompetência.
A jusante, as fraudes têm a ver com os produtos titularizados que foram vendidos pelos grandes bancos de investimento de Wall Street. Aí, estes bancos entregam-se a múltiplos comportamentos engaanosos: engano sobre o nível de risco, trucagem dos balanços, manipulação dos cotaações em baixa, etc.
No meio do processo, as três grandes agências de notação - das quais uma francesa - agem em reguladores de facto, num pântano “de conflitos de interesses”, um eufemismo que hoje já não engana ninguém . Estas agências são juizes e partes interessadas dado que notam produtos financeiros que elas mesmas contribuíram para estruturar.
Ora esta crise vem “de cima”, os defraudadores pertencem geralmente às elites da sociedade americana. Estamos pois longe de uma criminalidade organizada clássica, estamos aqui perante uma criminalidade de “ colarinhos brancos ", integrados ao sistema e dispondo de todos os instrumentos para podererm fazer desaparecer até a ideia mesmo dos seus crimes. Esta crise financeira largamente criminosa coloca de novo à luz do dia o novo equilíbrio dos poderes nos Estados Unidos entre o poder político (Washington) e o poder financeiro (Wall Street): depois do “ complexo militaro-industrial” denunciado pelo presidente Eisenhower (1961), “um complexo politico-financeiro” ter-se-á ele imposto nos Estados Unidos?
Porque é que até agora, nenhum banqueiro foi condenado por crime , as únicas sanções têm-se resolvido com em compensações negociadas ao nível do direito civil. Além disso, o plano de salvamento federal realizou-se únicamente para a benefício de Wall Street. O que pensar, afinal, de um sistema que recompensa tão abertamente a predação? Porque a impunidade continua aser um potente estímulo para a recidiva, quer se seja seja ladrão de bancos ou banqueiro ladrão (“bankster”).
Exageros, dir-se-á ? Os sépticos deveriam ler os dois relatórios do Congresso dos Estados Unidos que foram publicados desde o início d eJaneiro de 2011 : FCIC (fcic.law.stanford.edu/report) ; Carl Levin (hsgac.senate.gov/public/_files/Financial _Crisis/FinancialCrisisReport.pdf). As quase 1 300 páginas não deixam nenhuma dúvida : a fraude aí está de maneira indiscutívela ser o fio conductor desta crise.
Jean-François Gayraud, chargé de mission au Conseil supérieur de la formation et de la recherche stratégiques, commissaire divisionnaire, La crise des subprimes, une affaire criminelle ? , Le Monde, 13.06.11,
Homenagem ao povo americano
Enquanto o governo português , como um qualquer um outro da União Europeia continua o seu jogo de mentiras para esconder que a crise é da sua inteira responsabilidade colectivamente, acrescente-se , e o caso da reestruturação voluntária e informal, da dívida soberana é disso um perfeito exemplo, enquanto desta forma ficam por punir os responsáveis da crise criada, e prova é que continuam a ir aos nossos bolsos para o nosso pão ao bancos estar a entregar, enquanto desta forma nos continuam a vida a estragar e aos bolsos legalmente a ir roubar, enquanto não são capazes de nos dar uma prova científica que a política actualmente seguida é a via capaz de empregos para os nossos jovens no futuro lhes serem capazes de dar , enquanto tudo, saudamos o dia da independência americana de uma forma muito especial:
Acima fomos relembrando um famoso jantar que a História da Americana tem vindo a moldar, publicando um artigo sobre a crise vista como um roubo generalizado a que os nossos governos democraticamente eleitos tem vindo a sancionar, como uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário, e sobretudo a este dia nos associamos com o iniciarmos hoje a publicação de longos excertos da Conclusões da Comissão de Inquérito sobre a Crise Financeira, comissão a que podemos chamar de Comissão Pecora II, na linha de artigos publicados pelo New York Times.
Daqui relembramos duas pequenas frases do texto abaixo:
- Parafraseando Shakespeare, a culpa não está nas estrelas, mas sim em nós.
- Este relatório esforça-se por expor os factos, por identificar as responsabilidades, por desvendar mitos e para nos ajudar a entender como é que a crise poderia ter sido evitada. É uma tentativa de registar a história, não de a reescrever, nem de permitir que esta seja reescrita.
- Que mais se poderia esperar nesta auto-estrada onde não havia limites nem de velocidade e onde nem havia as linhas de demarcação estavam nitidamente pintadas
E é tudo, por este dia 4 de Julho, dia da Independência da nação americana.
Coimbra, 2 de Julho de 2011
Júlio Marques Mota
Documento 1.
Documento 2. A história de um jantar.
3. Em separado. Texto pequeno.
Conclusões da Comissão de Inquérito sobre a Crise Financeira
A Comissão de Inquérito sobre a Crise Financeira foi criada para examinar a crise financeira e económica que assola o nosso país e para explicar as suas causas ao povo americano. Estamos conscientes da importância da nossa função , dado o prejuízo económico que a América sofreu na sequência da maior crise financeira desde a Grande Depressão.
A nossa tarefa foi primeiro determinar o que aconteceu e como aconteceu para que pudéssemos compreender porque é que isso aconteceu. Aqui apresentamos as nossas conclusões. Nós encorajamos o povo americano a juntar-se a nós para fazer as suas próprias avaliações com base nos factos, nas evidências reunidas com o nosso trabalho. Se não aprendermos com a história, é então pouco provável que se recupere totalmente desta crise. Alguns em Wall Street e em Washington, com uma participação e uma responsabilidade no status quo podem ser tentados a apagar da memória os acontecimentos desta crise, ou a sugerirem que ninguém a poderia ter previsto ou impedido. Este relatório esforça-se por expor os factos, por identificar as responsabilidades, por desvendar mitos e para nos ajudar a entender como é que a crise poderia ter sido evitada. É uma tentativa de registar a história, não para a reescrever, nem permitir que esta seja reescrita.
Para ajudar os nossos concidadãos a entender melhor esta crise e as suas causas, também apresentamos algumas conclusões especiais v no final dos capítulos das Partes III, IV e V deste relatório.
O tema deste relatório é de grandes consequências para esta nação. Os acontecimentos profundos de 2007 e 2008 não foram nem solavancos na estrada, nem uma descida acentuada nos ciclos financeiros e de negócios que temos vindo a compreender num sistema económico assente no mercado livre. Esta foi uma fundamental disfunção - uma grande turbulência financeira, se assim quisermos entender, que causou enormes estragos nas comunidades e nas terras de todo o nosso país.
Quando este relatório for para a impressão, haverá mais de 26 milhões de americanos que estão sem trabalho, que não podem encontrar trabalho a tempo inteiro ou que podem mesmo ter desistido de procurar trabalho. Cerca de quatro milhões de famílias perderam as suas casas devido à execução das hipotecas e outros quatro milhões e meio estão agora sujeitos eles também aos processo de execução hipotecária ou estão seriamente com os seus pagamentos em atraso nas suas hipotecas . Quase US $ 11 milhões de milhões de riqueza das famílias desapareceu, evaporou-se, as poupanças dos reformados e as economias de toda uma vida que assim foram varridas. Empresas, grandes e pequenas, têm sentido os efeitos de uma profunda recessão. Há muita raiva sobre tudo o que aconteceu, e justificadamente é assim. Muitas pessoas que respeitaram todas as regras encontram-se agora sem trabalho e cheios de incerteza sobre as suas perspectivas relativamente ao seu futuro.
Os danos colaterais desta crise têm sido as pessoas reais e as comunidades reais. Os impactos desta crise são susceptíveis de serem sentidos por toda uma geração. E a nação não encontra facilmente nenhum caminho para renovar a sua capacidade económica.
Como tantos americanos, começámos o nosso trabalho com os nossos próprios pontos de vista e com algum conhecimento preliminar sobre como o mais forte sistema financeiro mundial chegou à beira do colapso. Mesmo na altura em que fomos nomeados para este painel independente, muito já havia sido escrito e dito sobre a crise. No entanto, todos nós temos sido profundamente afectados pelo que aprendemos no decorrer da nossa investigação. Nós ficámos várias vezes fascinados, espantados e até mesmo chocados com o que vimos, com o que ouvimos, com o que lemos
. O nosso trabalho foi para nós uma jornada de revelação.
Muita atenção tem sido dada ao longo dos últimos dois anos às decisões do governo federal em prestar forte assistência financeira para estabilizar o sistema financeiro e resgatar as grandes instituições financeiras que foram consideradas sistemicamente muito importantes para as deixar falir. Essas decisões e as emoções profundas em torno delas serão debatidas ao longo de muito tempo, no futuro. Mas a nossa missão era a de perguntar e responder a esta questão central: como é que isto aconteceu de tal modo que, em 2008, a nossa nação foi obrigada a escolher entre duas alternativas, ou o violento e doloroso risco do colapso total do nosso sistema financeiro e da economia ou então injectar milhões de milhões de dólares dos contribuintes para o sistema financeiro e para uma série de empresas, com milhões de americanos ainda a perderam os seus empregos, as suas economias, e as suas casas?
Neste relatório, detalhamos os eventos da crise. Mas um resumo de síntese, como estamos agora a publicar, no início do relatório é extremamente útil. Enquanto as vulnerabilidades que criaram o potencial para a crise foram feitas ao longo de anos , foi o colapso da bolha imobiliária, alimentada por baixas taxas de juros, pelo crédito fácil e disponível, pela regulação escassa e oelas hipotecas tóxicas, que foi a faísca que fez disparar uma série de eventos, que conduziram a uma crise de grandes proporções no Outono de 2008. Milhões de milhões de dólares em hipotecas de grande risco tornaram-se parte integrante de todo o nosso sistema financeiro , com as referidas hipotecas a serem empacotadas, reembaladas e ligadas a activos que eram, por sua vez, vendidos a investidores em todo o mundo. Quando a bolha estourou, centenas de milhares de milhões de dólares em perdas em hipotecas e nos activos que a estas estavam ligados abalaram os mercados, bem como instituições financeiras que tinha exposições significativas sobre essas hipotecas e que tinha contraído emprestado de forma maciça na base destes activos. Isso aconteceu não apenas nos Estados Unidos mas em todo o mundo. As perdas foram ampliadas através dos derivados, tais como títulos sintéticos.
A crise alcançou proporções sísmicas em Setembro de 2008 com a falência do Lehman Brothers e com o colapso iminente da empresa gigante dos seguros americana, a AIG . O pânico espalhou-se devido a uma falta de transparência nas contas das principais instituições financeiras, juntamente com um emaranhado de interconexões entre as instituições consideradas "demasiado grandes para as poder deixar falir", fez com que o mercado de crédito se redimensionasse e disso se aproveitasse . No campo comercial sofre-se de uma estaagnação forte .O mercado de acções afundou-se. A economia mergulhou numa profunda recessão.
O sistema financeiro que analisámos tem pouca semelhança com o sistema financeiros da geração dos nossos pais. As mudanças nas últimas só três últimas décadas têm sido notáveis. Os mercados financeiros tornaram-se cada vez mais globalizados. A tecnologia transformou a eficiência, a velocidade e a complexidade dos instrumentos financeiros e das transacções. Existe um maior acesso e um menor custo de financiamento do que nunca. E o próprio sector financeiro tornou-se uma força muito mais dominante na nossa economia.
De 1978 a 2007, o montante da dívida trabalhada pelo sector financeiro passou de 3 milhões de milhões de dólares para US $ 36 milhões de milhões , mais do que dobrando relativamente ao produto interno bruto. A própria natureza de muitas empresas de Wall Street mudou - de parcerias público-privadas relativamente seguras para empresas de capital negociadas em bolsa , assumindo cada vez mais, maiores e mais diversificados tipos de risco. Em 2005, os 10 maiores bancos comerciais dos EUA detinham 55% dos activos do sector, mais do dobro do nível realizado em 1990. Na véspera da crise em 2006, os lucros do sector financeiro constituíam cerca de 27% de todos os lucros empresariais nos Estados Unidos, contra 15% em 1980. Compreender esta transformação tem sido fundamental para a análise da Comissão.
Agora, passamos a apresentar os nossos principais resultados e conclusões e tudo o que afirmamos é baseado em factos contidos neste relatório: são publicados com a esperança de que estas lições possam ser aprendidas para ajudar a evitar uma catástrofe futura.
• Concluímos que esta crise financeira era evitável.
A crise foi o resultado da acção humana e da inacção, não é o resultado da Mãe Natureza ou dos modelos de computador que estariam errados. Os capitães das finanças e os administradores públicos do nosso sistema financeiro ignoraram os avisos e falharam em questionar, entender e gerir os riscos que estavam a evoluir dentro de um sistema essencial para o bem-estar do povo americano. Os seus comportamentos foram um grande erro , não um tropeção. Enquanto o ciclo de negócios não pode ser modificado , uma crise desta magnitude não necessitaria de se ter ocorrido. Parafraseando Shakespeare, a culpa não está nas estrelas, mas sim em nós.
Apesar do ponto de vista expresso por muita gente em Wall Street e em Washington de que a crise não poderia ter sido prevista nem evitada, havia claros sinais de alerta. A tragédia foi a de que estes sinais foram ignorados ou foram minimizados. Houve uma explosão na concessão de empréstimos subprime de grande risco e na sua titularização , houve um aumento insustentável nos preços da habitação, houve vários relatórios e testemunhos de monumentais práticas generalizadas de empréstimo predadores, houve o aumento dramático na dívida hipotecária sobre habitações e houve um crescimento exponencial nas actividades financeiras das empresas comerciais, houve um aumento de produtos financeiros de derivados que não são não regulamentados, e houve a utilização intensiva do mercado "repo", mercados de empréstimos a curto prazo com colaterais, entre muitas outras bandeiras vermelhas, bandeiras de alarme. No entanto, houve uma permissividade generalizada; a acção que foi tomada para conter as ameaças em tempo útil foi praticamente de pouco ou nenhum significado .
O principal exemplo é a falha fundamental do Federal Reserve, o banco central americano, para conter a vaga de hipotecas tóxicas, em que poderia ter criado um conjunto de regras definindo o que seria uma prudente concessão de empréstimos hipotecários. A Reserva Federal era a única entidade habilitada a fazê-lo mas isso não foi feito . O registo de nossa análise está cheio de sinais de outras falhas: as instituições financeiras fizeram, compraram e venderam títulos hipotecários que nunca analisaram, que nunca se incomodaram em analisar, ou sabiam que não prestavam; as empresas dependiam de dezenas de milhares de milhões de dólares de empréstimos que diariamente tinham que ser renovados, colateralizados por títulos assentes por seu lado, em créditos hipotecários de alto risco e as grandes empresas e os investidores cegamente confiaram e contavam com as agências de rating de crédito como sendo os árbitros de risco. Que mais se poderia esperar nesta auto-estrada onde não havia limites nem de velocidade e onde nem havia as linhas de demarcação estavam nitidamente pintadas?
Aos leitores de estrolábio, um texto aqui vos deixo.
Tal como o FMI organizou a queda da Argentina em 2001, está agora a caber a vez ao país berço da nossa democracia, a Grécia . Andam ladrões à solta, andam muitos criados ao serviço destes ladrões pelos bolsos de todos nós a sacar, andam polícias a demitirem-se das sua funções de zeladores da coisa pública para se transformarem em guardas públicos da coisa privada e assim os capitais continuam a fugir da Grécia até esta cair completamente exangue, mas há liberdade de capitais, claro! E até, pasme-se, o Financial Times vem protestar contra o facto de que "na sua "grande sabedoria ", a zona euro tenha decidido que as perdas dos credores do sector privado tenham que ser socializadas ... e o fardo final tenha de ser assumido pelos contribuintes dos países deficitários. " Liberdade de uns receberem, obrigação de outros pagarem, liberdade de uns se movimentarem, os capitais, obrigação de outros se fixarem, os contribuintes, é esta a liberdade da Eurolândia, são estas as características do seu reino por um incompetente dirigido que dá pelo nome de ser português.
Nada vai bem na zona euro. A Grécia está na berlinda um ano depois de ter sido salva pelo programa imaginado pelo FMI e pela Comissão Europeia. A Espanha está numa corda bamba e a Itália foi colocada sob vigilância pela Standard and Poor’s . Os deputados do CDU estão em rebelião contra Angela Merkel, que sofre derrota eleitoral após derrota eleitoral. O seu ministro das Finanças, que tinha agitado os mercados financeiros evocando publicamente um reescalonamento da dívida grega, acaba de mudar de opinião. Jean-Claude Trichet reage agressivamente contra Jean-Claude Juncker que defendia a hipótese “re-perfilar ” a dívida grega e o BCE ameaça mesmo vir a deixar de alimentar os bancos gregos. Um responsável deste país indica que, neste caso, seria necessário deixar a zona euro. Eis pois, aproximadamente, o estado das coisas que resultam da notável solidariedade europeia prometida por Angela Merkel e por Nicolas Sarkozy. Há então sérias razões para nos questionarmos.
Porque é que o défice grego não se reabsorve?
A Comissão prevê um défice de 9,5% do PIB em 2011 e de 9,3% em 2012 depois de 10,4% em 2010. Não é por falta de esforços pela parte do governo. De acordo com a última avaliação dos progressos conduzida pelo FMI datada de Março último, lê-se : “ A economia evoluiu como previsto, com uma baixa de 4,5% do PIB em 2010, uma taxa de inflação que continua a ser fraca, e com custos unitários do trabalho que começam a descer . Face a estes ventos contrários, as autoridades terminaram com um ajustamento orçamental de 5,75% em 2010. ” Explicação destes cálculos em aparência contraditórios: o governo apertou fortemente a tarraxa ( os 5,75%), mas a recessão é profunda (os -4,5%) e sem fim, precisamente, devido a este ajustamento precipitado. De repente, as receitas orçamentais reduzem-se e… o défice realmente não se reabsorve (- 9,5%).
O que fazer agora?
Para o FMI e para a Comissão, é necessário fazer mais e ainda melhor . “A Grécia progrediu em direcção dos seus objectivos [os que lhe foram impostos como condição do empréstimo], e as reformas orçamentais e estruturais necessárias são levadas a efeito gradualmente . Contudo, reformas essenciais devem ainda ser preparadas e levadas a prática para construir a massa crítica necessária à sustentabilidade orçamental e à retoma económica. ” Por outras palavras, é necessário ainda continuar a apertar a tarraxa ou o cinto, o que é equivalente. Mas se as medidas do ano passado prolongam a recessão e não permitem de modo nenhum reduzir o défice, como previsto pela Comissão, o que fará a Grécia num ano? Apertar ainda mais o cinto. Continua-se a aplicar um remédio que enfraquece ainda mais o doente já de si muito fraco.
Porque é que os Alemães quebraram o tabu da reestruturação de dívida?
Como o défice não se reabsorve e porque o governo grego não pode mais vir a contrair empréstimos nos mercados financeiros internacionais, é necessário que o FMI e a Europa continuem a conceder empréstimos. A Alemanha, sendo o primeiro mutuante dos fundos em questão, daí que uma surda inquietação comece a aparecer além-Reno (mas não em França onde, aparentemente, a opinião pública não se preocupa com o montante destes empréstimos). Uma reestruturação reduziria o montante dos empréstimos suplementares a realizar, o que aliviaria a pressão sobre Merkel.
O que é uma reestruturação?
Incumprimento, reescalonamento, diminuição de dívida, etc. são diversos meios para reduzir uma dívida. Como um país não pode ser colocado na prisão, pode decidir de maneira unilateral não reembolsar a totalidade da sua dívida pública. É ilegal mas é um facto de príncipe. Os seus credores têm poucos recursos de oposição e a sua melhor opção é, em geral, negociar o que irão perder - “ haircut ” como se diz deliciosamente em inglês ou a tesourada como se diz em bom português. Que isto assuma a forma de pagamentos diferidos, uma baixa da taxa de juro ou uma redução directa da soma devida, há incumprimento desde que os termos iniciais sejam unilateralmente alterados. Certos responsáveis políticos falaram de reescalonamento “ voluntário e bem organizado”. É uma pura ficção. Os credores, e há dezenas dos milhares ou mesmo muito mais, nunca serão voluntários e alguns batem-se com energia negociando de forma muito dura e recorrendo aos tribunais. De repente, o procedimento é desordenado, longo e complicado.
Que pensam os mercados financeiros?
A opinião geral, mas não unânime, é a de que a Grécia não escapará a uma reestruturação. Os mercados são habituados a estes acontecimentos e preparam-se. Uma parte dos bancos e os investidores que detinham a dívida grega desfizeram-se dela , frequentemente a sofrerem perdas moderadas; agora estão posicionados para ganharem dinheiro quando isso se produzir. Outros quiseram evitar perdas a revender e estão agora inquietos. Ninguém duvida que estes mantêm a angústia dos governos de modo a que o contribuinte os venha salvar da sua aposta. Ganham-se hábitos.
Porque é que a França se opõe a uma reestruturação?
Segundo a linguagem oficial afirma a Europa não é a América Latina, a solidariedade não é uma palavra vã e o remédio corre o risco de ser pior que o mal porque existe um risco de contágio. O contágio é possível, com efeito. Resta uma outra interpretação, perfeitamente hipotética. Os bancos franceses (e alemães) parecem deter uma parte da dívida grega e poderiam vir a ter grandes prejuízos . Se estes bancos estão menos sólidos do que o que se pensa , poderiam ficar ainda mais seriamente destabilizados , e ainda mais se houvesse contágio. Mas a informação sobre estas questões não está disponível, pode-se apenas imaginar o pior.
Porque é que o BCE é violentamente contra uma reestruturação?
O BCE está em dificuldades e por muito tempo, sobre esta questão . Às advertências sucedem as ameaças. Como toda gente, o BCE teme o contágio. Este também avisou que o sistema bancário grego se desmoronaria, o que é possível, mas não seria dramático. Com efeito, se o governo reduz a sua dívida, digamos, de 50% do PIB e que deve então situar-se sobre a linha de água , ou seja (nacionalizar ) o sistema bancário por um custo de aproximadamente 20% do PIB, o ganho fica então de 30% do PIB, uma bela operação financeira.
As angústias do BCE podem estar num outro lugar. Desde Maio de 2010, sob uma pressão intensa dos governos, comprou muitos títulos das diferentes dívidas públicas. Cuidadoso, aplicou um haircut da ordem de 20% mas os incumprimentos em série deixá-lo-iam com perdas muito substanciais. Certamente seria recapitalizado pelos governos, mas o Banco Central Europeu teme uma perda vertiginosa do seu prestígio, já colocado em maus lençóis pelas suas compras não muito voluntárias de dívidas, e mais geralmente, por um aumento do cepticismo no que diz respeito à moeda única. As suas advertências soam como um sinal de pânico, dando a ideia de que terá com o dedo imprudentemente accionado uma engrenagem que não controla.
Quem decide ?
A Grécia é um país soberano e é ela que decidirá. Desde o início da crise, os seus parceiros europeus ditam-lhe o caminho a seguir e esta aceita estas injunções na esperança evidente de vir a ser ajudada, ainda que as ajudas não sejam dons, é necessário recordá-lo, mas sim empréstimos que aumentam a sua dívida. Como todos os outros, o governo grego pesa os prós e os contras das suas opções. Uma declaração de incumprimento dar-lhe- -ia para respirar um momento e permitir-lhe-ia aliviar a pressão sobre a sua população. Mas a decisão poderia tornar-se inevitável se os Gregos acelerassem o movimento, de momento lento, de retirada de fundos dos bancos, informados que estes estão pelo BCE que o sistema bancário pode desmoronar. O voluntarismo político quebra-se frequentemente contra o rochedo da dura realidade
Depois da Grécia, a Irlanda, depois da Irlanda, Portugal, e quem será o próximo país a ser atacado pelos mercados financeiros, a ser a próxima vítima da incompetência das Instituições Europeias? Aceitam-se apostas.
Mas que dirigentes temos nós que nos levam a uma situação em que já se pode apostar em quem será o próximo país a cair!
Coimbra, 26 de Maio de 2011
Júlio Marques Mota
Crise europeia: o espantoso silêncio francês
É actualmente o assunto mais importante para o futuro da França, para o futuro da Europa. A crise está a atingir toda a zona euro. O efeito de contágio, instilado pelas agências de notação, porta-voz dos interesses financeiros, está a aumentar . Depois da Grécia, da Irlanda e de Portugal, a
Espanha e a Itália estão na linha de mira. A Bélgica poderia ser o próximo país da lista, depois de uma nova advertência lançada pela agência Fitch.
E a lógica do “estragar tudo” não fica por aqui, pois, depois da Bélgica estará, sem margem para dúvida, a França. A ruína das nossas finanças públicas, com uma dívida de 1.600 mil milhões de euros, coloca-nos numa situação de vulnerabilidade e de chantagem extrema em relação ao mundo financeiro.
Neste cenário de catástrofe, é a própria existência da construção europeia que passa a estar em causa. Ora, perante este abalo, que poderia conduzir até à explosão da zona euro, uma coisa espanta: o silêncio da classe política francesa. Espantoso silêncio mesmo, tanto à direita como à esquerda, nos partidos ditos de governo. Como se para afastar a ameaça, valha mais esconder os problemas.
A falência patente dos planos de resgate europeu elaborados há um ano, o destino de países vizinhos postos completamente de joelhos, a crise financeira paga somente pelas populações, a austeridade transformada na única linha de defesa para a Europa, merece no entanto que se abra o debate. Que significa portanto a solidariedade europeia? Que Europa queremos para amanhã? Perante estas perguntas, os dirigentes políticos franceses estão mudos.
Aliás, o debate começa a fazer furor. Na Alemanha, ocupa o centro de todas as discussões desde há semanas. Certo, Berlim é o primeiro contribuinte para o salvamento da zona euro, por conseguinte o primeiro em causa. Mas a França situa-se exactamente logo a seguir. Os partidos políticos alemães discutem sem fim sobre a questão grega e, de modo mais geral, o salvamento da zona euro. O debate é quase que diário na imprensa e no Bundestag. Alguns defendem uma linha dura sobre o tema: “os contribuintes alemães não devem pagar estar a para o resto da Europa”, e pedem sanções para os países em falta. Outros põem como fundamental a necessidade de preservar a construção europeia.
Para além das declarações de princípio, os líderes políticos avançam a fundo sobre as escolhas técnicas, expressão das orientações políticas. A questão de não fazer pagar os custos somente pelos contribuintes mas também de os fazer pagar também pelos interesses privados, ou seja pelos bancos, é agora largamente debatida.. Porque a urgência o exige, todos os assuntos, mesmo os mais tabus, começam a ser estudados. A publicação de um estudo pela revista Spiegel sobre a saída da Grécia do euro, estudo provavelmente efectuado pelo ministério alemão das finanças, mostra que os responsáveis políticos já não se proíbem de nenhuma pista de reflexão, dispostos a declarar a seguir que se trata apenas de um impasse .
As divergências de pontos de vista são visíveis até mesmo no topo da Administração, nos órgãos máximos do Estado. Enquanto que o ministro das finanças, Wolfgang Schaüble, defende desde há várias semanas que uma reestruturação da dívida pública grega, é o único meio, do seu ponto de vista, para trazer um pouco de alívio a um país ao bordo de se desmoronar , a chanceler alemã, Ângela Merkel, opôs-se publicamente ao seu ministro, defendendo uma posição de sanção moral, que leve a recusar a menor alteração doa situação relativamente à Grécia.
A disputa tem continuado a aumentar e prossegue-se agora com o Banco Central Europeu. Esta ameaça os países europeus“do horror” de acordo com os termos do governador do Banco da França, Christian Noyer, se estes aceitarem uma reestruturação da dívida grega. De acordo com o BCE, isto só poderá criar um precedente para a Irlanda e para Portugal. A prazo, é todo o sistema bancário europeu que é ameaçado e com ele é também toda a economia europeia que está ameaçada. No lado oposto, está o ministro das finanças alemão, apoiado pelos Países Baixos e também agora pelo presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, que defende a necessidade de uma alteração das condições para a Grécia.
Mediapart, Crise européenne: l’assourdissant silence français, 26 de Maio de 2011.
Portugal é um pequeno barco num mar agitado. Exigem-se bons timoneiros mas se o mar for excessivamente agitado não há barco que resista, mesmo num país que séculos atrás andou à descoberta do mundo em cascas de noz. A diferença entre então e agora é que o Adamastor era um capricho da natureza, depois da borrasca era certa a bonança e só isso tornava “realista” o grito de confiança nacionalista, do “Aqui ao leme sou mais que eu…”. Hoje, o Adamastor é um sistema financeiro global, controlado por um punhado de grandes investidores institucionais e instituições satélites (Banco Mundial, FMI, agências de notação) que têm o poder de distribuir as borrascas e as bonanças a seu bel-prazer, ou seja, borrascas para a grande maioria da população do mundo, bonanças para eles próprios. Só isso explica que os 500 indivíduos mais ricos do mundo tenham uma riqueza igual à da dos 40 países mais pobres do mundo, com uma população de 416 milhões de habitantes. Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do BM e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 cêntimos por dia.
Júlio Marques Mota
“Pode-se perguntar à maioria das pessoas - agricultores, pescadores, professores, doutores, enfermeiros – se estão dispostas a assumir a responsabilidade da falência dos bancos privados? Esta questão, que estará no centro do debate no caso do banco islandês Icesave, vai ser a questão quente em numerosos países eurpeus”
Ólafur Ragnar Grimsson, Presidente da República da Islãndia (Outubro de 2010)
Porquê voltarmos hoje à crise islandesa?
Este pequeno país já não está sob o centro da actualidade. É certo que teve uma crise bancária e financeira espectacular que conduziu o Estado e o país inteiro à beira da falência. Além disso, se é certo que os montantes das dívidas em questão são importantes, os valores globais (algumas dezenas de milhares de milhões de euros) não são susceptíveis de perturbar gravemente os equilíbrios financeiros internacionais. Por fim, face às últimas notícias, as coisas por ali vão bem melhor: baixa da inflação, retoma do crescimento, baixa do desemprego…
[10] Para o Relatório da Comissão Especial de Investigação, veja-se: http://sic.althingi.is/
[11] http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5i_8IvTANWHSQ6zt8mF5Kxj8mU81
g?docId=CNG.613bea31ca2dfb51007376451423f687.421
Todos estes elementos se explicam pelo clima de euforia que reinava então. O dinheiro era fácil. Os rendimentos das colocações eram confortáveis. De um ponto de vista da valorização “do valor accionista”, a estratégia é onerosa. Os rendimentos eram muito elevados. O ROE (rendimento sobre os capitais próprios) excede largamente os 15%. Em certos bons anos este atinge 40% ou até mesmo 50% (gráfico 2).
E é bem certo que os dividendos por acção crescem muito fortemente (gráfico 3).
Tudo parece sorrir a esta estratégia. Em 2007, a ilha ocupa o primeiro lugar à escala mundial de acordo com o índice de desenvolvimento humano (IDH) das Nações Unidas, o quinto lugar dos países mais ricos do mundo com um PIB per capita de 50 mil dólares. Melhor ainda, os poderosos analistas e especialistas em previsões da OCDE ou do World Economic Forum prevêem um futuro brilhante para este país. A Islândia é classificada como sétimo melhor país em termos de competitividade da sua economia!
Com efeito, e na própria altura em que dois relatórios escritos por peritos, entre os mais reconhecidos da finança internacional “oficial”, elogiam a banca e a regulação financeira da Islândia[12], todas as condições estavam a ser reunidas para o aparecimento da catástrofe. A rã financeira islandesa conseguiu mesmo inchar de tal modo que parecia um boi. Só lhe restava rebentar. Com um sistema bancário totalmente sobredimensionado e extrovertido, mais que qualquer outro, a economia islandesa está exposta aos riscos da conjuntura financeira internacional.
[12] Trata-se de um lado do relatório de F. Michkin (Professor em Columbia e que exerceu altas funções no Federal Reserve Bank de New York de 1994 a 2007), intitulado «Financial Stability in Iceland» (sic !...) publicado em 2006, e por outro do relatório de Richard Portes, Professor na London Business School, intitulado «The Internationalisation of the Iceland’s Financial Sector», publicado em 2007. Os dois relatórios encomendados depois da crise de 2006 que sacudiu a Islândia, insistem no entanto sobre a solidez da finança islandesa, sobre a excelência do seu percurso e sobre a qualidade da supervisão exercida pelas autoridades. Estes textos estão disponíveis em:
http://www.vi.is/files/555877819Financial%20Stability%20in%20Iceland%20Screen%20Version.pdf
http://www.iceland.org/media/jp/15921776Vid4WEB.pdf
CONTINUA...
Aos visitantes do estrolábio
Depois de ter lido as declarações do Ministro finlandês das Finanças, Jyrki Katainen, que passamos a reproduzir : “ se fizermos o nosso trabalho como deve ser com Portugal, o risco com a Espanha tornar-se-á ainda menor”, lembrei-me de um texto escrito para o estrolábio sobre a Europa em 2013 igual à de 2011. Ao apresentar o referido texto aos meus alunos, pedi-lhes publicamente desculpa por um ou outro apontamento político que saía da esfera estritamente académica, mas o texto tinha sido concebido para um blog e eu não estava disponível para academicamente o censurar. Foi assim. Não imaginava, depois, que o senhor ministro finlandês validava, com as afirmações acima, o rigor cientifico do texto citado e ai, não só anulava a razão para o meu pedido de desculpas como invertia a situação: o texto pecava como ser politicamente limitado, por não ir ao fundo político da questão. Declarações como as do ministro acima nada têm a ver com a democracia, com o respeito pela soberania dos povos. Têm a ver com o quê?
Depois de ter lido o comunicado do Eurogrupo e dos ministros de Ecofina onde claramente se mostra que as Instituições Europeias viram as costas à democracia ou fazem dela apenas um espantalho para os pardais verem, sublinho pequenos excertos desse comunicado:
“deverão (…) chegar a um acordo entre partidos garantindo que um programa de ajustamento pode ser adoptado em meados de Maio e aplicado rapidamente a seguir às eleições”. Então eleições para quê, se o programa político é imposto antes.
“ um ajustamento orçamental ambicioso deve restaurar a sustentabilidade orçamental”
“Reformas que estimulem o crescimento e a competitividade através da superação da rigidez nos mercados de produtos e do mercado de trabalho”
“Isto deve incluir um ambicioso programa de privatizações” como na Grécia, talvez. Pelos vistos quer-se também cá, quer-se Portugal à venda e possivelmente em saldo, dada a urgência e a escassez de recursos..
Depois de ler tudo isto, fui ler Pacheco Pereira, intelectual que muito prezo, excepto quanto às questões da guerra contra o Iraque ou do seu apoio explícito à destruição do ensino secundário em Portugal, operado pelo governo de Sócrates sob a batuta de Maria de Lurdes Rodrigues, e esse artigo tinha como título: Vergonha.
Pensava que Pacheco Pereira se ia envergonhar deste espectáculo que as Instituições Europeias estavam a dar e a impor a toda a Europa. Mas não, Pacheco Pereira, também ele passava ao lado do fundamental da crise e, para nós, esta crise e a forma como as Instituições Europeias lidam com ela, mostra-nos os ministros mais como altos funcionários de um qualquer Governo estabelecido pelas grandes instituições financeiras privadas do que ministros saídos de governos democraticamente eleitos. Disso, eu sinto vergonha. Mas afinal, de vergonha falamos, mas não falamos da mesma coisa.
Depois de ter lido Pacheco Pereira, proponho aos leitores de Estrolábio um documento que se posiciona exactamente no centro das questões fundamentais da crise e das vias para dela sair. Fala-nos da crise da Europa, da crise do seu modelo, da crise das suas Instituições, que assim nos leva a considerar que é a própria democracia que se pode sentir ameaçada. Um documento de Dominique Plihon, dos Economistas Aterrados, já participante na Iniciativa Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC, e normalmente um dos conselheiros da referida iniciativa. Um texto sobre a necessidade da reestruturação das dívidas soberanas a apresentar segunda e terça-feira, no estrolábio.
Coimbra 10 de Abril de 2011.
Júlio Marques Mota
PS: ler documento de Dominique Plihon (23 horas de hoje)
Nota do Estrolábio:
"Aqui estava um texto apócrifo, reproduzido porque por muito lado circulava. Não valia a multiplicação das suas palavras, cresceu a dúvida da sua paternidade. Por isso foi retirado. Erros dos primeiros passos estrolabicos. Errar é humano, não aprender com os erros é idiota."
Fizemos tudo para comprovar a existência do autor o que não conseguimos.
Enviado por Julio Marques Mota
A senhora Merkel disse na conferência de imprensa da Cimeira que a sua única concessão — a de que o MEE pudesse comprar dívida soberana no mercado primário — não alteraria muito as coisas. Tem completamente razão. O mecanismo de apoio financeiro como foi agora concebido é um serviço de apoio e nada mais. No sábado de manhã do dia 12 de Março, na União Europeia obteve-se um acordo que a coloca num verdadeiro purgatório entre o resgate financeiro e o incumprimento, enquanto ela vive mergulhada na confusão e na desordem, numa crise sem fim, nós caminhamos para uma situação talvez equivalente à da República de Weimar, para o período que antecedeu o crescendo de diversos ismos na Europa que ninguém deseja ver repetir. Estamos longe é certo, estamos a tempo de a todos eles impedir. Façamo-lo, então.
A terminar este pequeno trabalho sobre esta Europa, confundida, perdida, pelos mercados impelida, e que à beira do abismo se encontra bem sentida, vem-me à memória ecos do século XIX do que são os mercados à solta, à solta como agora. Uma nesga, um descuido, a miragem de lucros, e como na finança, sublinhe-se o que Cavaco Silva não quer perceber como economista, não se geram lucros, confiscam-se, usurpam-se, roubam-se aqueles que com o seu trabalho o rendimento criam. Uma nesga, um descuido, uma desregulação e aí estão os mercados ao assalto da economia real, na absorção do rendimento que nesta é criado. Um roubo, é simples, é assim a alta finança, a alta especulação, é uma transferência, dirá o prémio Nobel Joseph Stiglitz com alguma ironia. Não terá sido também assim com o BPN da nossa recente memória, onde houve gente que muito dinheiro ganhou mas que afinal se descobriu depois que foi apenas dinheiro que alguém embolsou e que dessa maneira foi todo um povo que se ludibriou? Claro que foi assim.
Uma história que tomo a liberdade de contar.
A 6 de Outubro de 1871 deu-se em Chicago o grande incêndio, “the Chicago Great Fire”, que destruiu entre outras coisas o centro dos mercados da cidade e dos Estados Unidos, o Chicago Board of Trade, cuja capacidade de armazenagem terá passado de 8 milhões de unidades de medida — o alqueire — para 5 milhões. Isto encorajou um especulador John Lyon, um importante comerciante de cereais, a lançar um corner, “prática que consiste em compras de contratos seguidas de acções que impedem estes contratos de serem realizados pelo lado dos vendedores, com a finalidade de lhes extorquir dinheiro”. Lyon associou-se a Hug Maher, negociante de madeiras e depois grande operador no imobiliário, e a F. J. Diamond, um dos maiores corretores do CBOT em cuja lista de clientes estava Munn & Scott, um dos maiores armazenistas de cereais.
Na Primavera de 1872, começaram os contratos de compra de trigo no mercado dito físico, por oposição ao virtual, que é o mercado dos contratos. Começaram-se igualmente a negociar contratos com data de conclusão ou de fecho em Agosto. Em Julho, o preço estava em 1.16-1.18 USD para acabar no final do mês a 1.35 USD. Esta alta do trigo trouxe enormes descarregamentos de trigo a Chicago, da colheita de 1871. Estes descarregamentos atingiam a 15.000 alqueires por dia. A partir de 15 de Julho atingiam 20.000 por dia e esses descarregamentos diários foram aumentando até atingir 27.000 alqueires no princípio de Agosto.
A 5 de Agosto é destruído um outro silo, Iowa elevator, por um incêndio. E por aqui já passava um conflito jurídico com Hugh Maher. Ao mesmo tempo circulavam rumores de que a colheita de 1972 estava atrasada. Os cereais sobem tanto no mercado físico e também a prazo onde certos vendedores de contratos tentam sair das suas posições, anulando-as com novas compras, agora suas, para compensar. O preço atinge em Agosto 1,65 USD. Esta subida dos cereais acelerou o ritmo das colheitas com destino a Chicago. Os agricultores queriam aproveitar-se do preço excepcionalmente elevado do trigo e para isso aumentaram a cadência das colheitas. Conta-se que houve comboios carregados de lanternas para a região a fim de se iluminar à noite os campos de cereais, as searas, para facilitar a colheita, mesmo durante a noite! Imagine-se este espectáculo. Nessa sequência, aumentaram as quantidades de trigo enviadas para Chicago.
Na segunda semana de Agosto, os descarregamentos de trigo alcançaram os 75.000 alqueires por dia para atingir o recorde a 19 de Agosto, com descarregamentos na ordem dos 172.000 alqueires. Refizeram-se inclusive novas rotas de transporte do trigo que passou a ir de Chicago para outros destinos.
Esta é a versão não oficial sobre a carreira do líder madeirense. A "Madeira nova" tem um modelo de desenvolvimento que é um enorme fracasso, vivendo muito acima das suas possibilidades e está afogada num mar de dívidas totalmente dependente do exterior.
A dimensão do medo, palpável, existente na sociedade madeirense, tendo contactado com dezenas de madeirenses nas várias deslocações que fez à ilha e mesmo no continente, todas lhe pediram para não serem nomeadas. Citando um ex-ministro do PSD que falou em off-record mas sem restrições "ninguém no seu juízo quer ter chatices políticas com o Alberto João, mas só porque é uma maçada e não vale a pena. É um assunto miúdo, percebe? Ele não mete medo - a não ser a quem depende dele ( que são quase todos, digo eu...). Acha que eu sou suficientemente doido para assumir em público isto que lhe estou a dizer agora? para ser insultado logo de seguida?"
Ribeiro Cardoso descobriu tambem "espantado, mesmo ali à sua frente a visão de conjunto vigente na Madeira: um líder fanfarrão e desqualificado, uma igreja de joelhos, um parlamento que é uma casa de horrores em tempo de Democracia, um poder autárquico absolutamente castrado, uma sociedade subsidiada e de mão estendida, um laranjal sentado gulosamente à mesa do orçamento, uma monstruosa administração pública às ordens de sua magestade, uma região autónoma que é tudo menos autónoma - sempre a mendigar no exterior, afogada em dívidas e com os mais baixos índices de desenvolvimento do país, apesar de tanto dinheiro que ali desaguou proveniente de Lisboa e Bruxelas."
Quando Jardim sair, com os vários delfins em guerrilha, vai ser pior que a guerra na Bósnia, assim acabe o dinheiro que Lisboa manda, em crise e sem dinheiro Jardim está de saída.
Onde e quando já eu ouvi isto com outros estadistas ?
in público
Enviado por Júlio marques Mota (continuação de ontem às 20 horas)
Veja-se nesta linha a análise que faz o FMI no seu relatório sobre a Irlanda:
“Os riscos de transmissão específicos para cada país a partir da Irlanda são significativos. A Irlanda tem fortes ligações financeiras com o resto do mundo e a ameaça de contágio da Irlanda pode ser assim importante. Dadas as percepções havidas pelos mercados, os efeitos colaterais para as outras economias periféricas da zona euro podem ser grandes. A Grécia, Portugal e Espanha são os mais vulneráveis à volatilidade da transmissão de um acontecimento na Irlanda. A probabilidade estimada condicional quanto ao perigo sobre pelo menos um outro banco europeu, dado a situação de perigo nos bancos irlandeses, é superior a mais de dois terços. Isto seria em particular o caso dos bancos gregos e portugueses.
Para uma ideia do roubo a que se referem os irlandeses, e palavra utilizada foi exactamente essa, vejamos a tabela dos CDS soberanos aplicados a 15 de Março de 2011:
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Olhe-se para os prémios de risco, a títulos a 5 anos, que se exige a Portugal em 2009 e agora, faça-se o mesmo exercíco para a Grécia e outros. O prémio de risco, apenas esse, é um múltiplo da taxa de crescimento. Se estes valores de CDS não representam um roubo, então que representam eles? Mas se são um roubo, punidos devem ser aqueles que o realizam e sobretudo aqueles que o consentem, e os que o consentem são, primeiro que tudo, as Instituições Europeias e o FMI. O quadro dispensa mais comentários. A ilustração gráfica deste sistema, em que no topo temos os grandes bancos americanos e as agências de rating:
Com esta máquina, com este sistema, assim a hemorragia continua e continuará até que o permitirmos[4]. Impedir estes mecanismos de extorsão aos países mais frágeis é uma necessidade urgente, mas esta é a via para uma outra Europa, a que a Comissão Europeia, as suas instituições regionais e asInstituições Internacionais como o FMI não querem, esta é a via para uma Europa de um outro modelo que não é o de estarem os países uns contra os outros, até mesmo no financiamento da dívida soberana, é a via para a Europa dos cidadãos e não para Europa dos mercados. A opção de uns, a dos nossos políticos, essa está feita, os seus resultados estão bem à vista. Cabe-nos agora a nós, cidadãos fazer a nossa, a de uma outra arquitectura para a União Europeia face aos resultados que desta Europa queremos verdadeiramente esperar e para a qual todos nós, com o que pudermos fazer, teremos muito que contribuir. E o tempo, esse urge.
[4] Nesse sentido, sugiro que se leiam os recentes artigos de Paul Farrel, Tax the Super Rich now or face a revolution e Super-Rich Super-Rich CEOs are killing your retirement.
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continua....
Enviado por Júlio Marques Mota
Um texto feito a partir de um outro texto, de Wolfgang Munchau, “Trabalhar e viver na confusão, na desorientação, não é opção”, Financial Times.
No mundo, nenhuma organização política é tão hábil como a União Europeia quando se trata de viver na confusão, na desordem. Ninguém a bate. Para que 27 Estados-Membros estejam de acordo, a arte do compromisso é fundamental. Viver na confusão serviu muito bem à União Europeia ao longo destes anos.
O acordo alcançado pelos Chefes de Estado e do Governo da União Europeia no princípio da manhã de Sábado (dia 12 de Março) é uma esperteza política no quadro da confusão habitual da União Europeia. Angel Merkel alcançou exactamente o que precisava: um acordo em que limita a responsabilidade financeira da Alemanha. Os outros que aguentem as suas consequências. Alguns detalhes técnicos importantes têm ainda que ser trabalhados, melhor definidos, mas o essencial do acordo está alcançado.
Infelizmente, ninguém pode viver na confusão e na desordem em tempo de crise
Há, essencialmente, duas maneiras de resolver uma crise da dívida: seja com um resgate financeiro, dito também de ajuda financeira, seja alternativamente com uma situação de não pagamento, de incumprimento das suas obrigações contratuais. Ou ainda com uma combinação inteligente das duas vias, se sabe bem o que se está fazer. Neste caso, por exemplo, pode contar-se com o apoio da União Europeia não só para renegociar a respectiva dívida como proteger o país dos ataques e das dificuldades que imediatamente começarão a surgir. Se continua a fazer como a União Europeia, a fazer as coisas na confusão e na perspectiva de mais curto prazo, sem medir as consequências futuras das decisões, bom, então o mais certo é acabar numa situação de incapacidade total em pagar, a situação de incumprimento total que ao escolher as duas vias em conjunto se queria evitar. Cuidado, com o fogo não se brinca.
Assim, até onde nos levará este acordo? Para responder à questão, é importante compreender dois ou três aspectos técnicos do mecanismo de estabilidade financeira acordado a 12 de Março. O actual mecanismo de estabilidade financeira (FEEF – Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) é válido até 2013. Com ele concedem-se créditos aos países com problemas da dívida pública e, em breve, poder-se-á comprar títulos da dívida soberana nos mercados primários. Para isso, foram precisos quase três anos durante os quais um punhado de gente se esteve brutalmente a enriquecer, dada a forte diferença entre as taxas de juro obtidas junto do Banco Central Europeu e as taxas que a seguir os Estados soberanos pagavam por esse dinheiro, no seu refinanciamento da dívida soberana. Três anos de confusão para uma coisa que parece tão simples e que continua por alcançar: financiar no espaço da União a dívida soberana e à mesma taxa. Afinal, esta União é apenas a des(União) de um somatório de países que devem concorrer uns contra os outros, mesmo quando à beira do abismo.
Na linha do FEEF, todos os créditos têm o mesmo direito relativamente aos seus devedores, todos os credores estão sujeitos às mesmas condições, todos serão atingidos da mesma maneira. Sejamos mais claros, para perceber o grande salto que à senhora Merkle convinha. Imaginemos que a Grécia se declarou, hoje, em situação de incumprimento. Consequências imediatas, do ponto de vista da dívida soberana e que tenha a ver com o mecanismo estabelecido pelo FEEF? Neste caso, seria imediatamente feito uso das garantias financeiras dadas pela Alemanha e pela França a este mecanismo de estabilidade financeira. Estes países substituíam a Grécia no pagamento aos grandes investidores que se lançaram nesta aventura, que colocaram de joelhos a Grécia e embolsaram o mais possível. Imaginemos só, por exemplo, os milhões de CDS sobre títulos que se não tinham, e que aí se cobrariam ao valor facial, imagine-se a vigarice de tudo isto que vigarice não é, é apenas um produto dos mecanismos da concorrência, onde ganha quem sabe entrar e sair no e do mercado na melhor altura. Estaríamos perante um desastre, desastre para a Grécia, desastre para Sarkozy, desastre para a senhora Merkle. Seria um desastre político. Na Alemanha, os conservadores alemães, ainda mais à direita de Merkle, e os Verdes também, estes agora à esquerda, gritariam que se estaria perante uma transferência de rendimentos para a União, proibida pelo Tratado pois o bailout é expressamente proibido, e queixar-se-iam a seguir da senhora Merkle ao Tribunal Constitucional. Conclusão desta pequena história: nenhum país que subscreveu o FEEF está interessado numa situação de incumprimento de ninguém até 2013, em particular a Alemanha.
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[1] Aqui uma interrogação: o que é vai acontecer ao sistema financeiro, dado a enorme presença de CDS nestes mercados e dada a alteração qualitativa que os títulos actuais virão a ter? Será uma situação de acontecimento de crédito? Se o for, não haverá bancos que irão à falência? Não terão, de novo, necessidade de serem recapitalizados? Relembramos aqui que no mundo opaco dos CDS muitas vezes a definição do que é um acontecimento de crédito não é fácil, dá origem a mega-processos jurídicos. Confusões que a este nível já aconteceram e relembramos que, com títulos soberanos, está nas nossas memórias o que aconteceu com a Rússia em 1998 e com a Argentina em 2001.
Uma pequena nota de Júlio Marques Mota
Dois pequenos textos de antologia, onde de antologia é também a simples referência ao golf. Estarão Portugal e a Irlanda, no fundo da crise, a serem concorrentes uns contra os outros, a serem competitivos, a favor afinal daqueles que colocaram ambos os países na miséria: os senhores e as familías de quem se passeia pelo mundo para jogar gofe e praticamente sem pagar impostos. Estes não são aqueles que trabalham seguramente. E é tudo
Coimbra, 2 de Abril de 2011-04-02
Júlio Marques Mota
Os banqueiros responsáveis da crise estão de regresso aos comandos
Marc Roche, Le Monde
Há nomes praticamente desconhecidos do grande público que recentemente têm ocupado em evidência na esfera financeira. Três nomes que, para muitos, não dizem nada, mas que simbolizam a filosofia de uma profissão que não nada aprendido e todavia tudo compreendido : banqueiro por um dia, banqueiro para todos os dias, para sempre. Para a vida, para a morte! Que seja dito!
Comecemos pelo francês do lote referido. Jean-Pierre Mustier deve assumir a 21 de Março as suas novas funções de director das actividades de finança e investimento do estabelecimento italiano UniCredit, “para poder levar e desenvolver certas convicções ". Este personagem enigmático era o chefe na Société Generale , do trader louco Jérôme Kerviel. Tinha-se demitido em 2009.
O segundo protagonista é o americano Bill Winters, membro da comissão oficial britânica responsável pela reforma bancária. Este antigo banqueiro de negócios acaba de associar-se a dois peso bem pesados da vida dos negócios, o raider Lorde Rothschild e o industrial do luxo Johann Rupert, para criarem um fundo de investimento. Winters tinha sido um dos animadores da equipa de JP Morgan, que em 1994-1997 tivesse inventado os CDS crédito default swaps, estes produtos financeiros altamente tóxicos que contribuíram para a explosão do planeta financeiro .
Por último, há o caso de Alan Schwartz, o último patrão de Bear Stearns, o banco de negócios falido com os créditos imobiliários tóxicos, cuja queda em 2007 tinha sido o sinal premonitório da tormenta que veio a seguir. Depois da sua saída ignominiosa , o banqueiro de Nova Iorque tinha assumido a direcção de um hedge fund, Guggenheim Partners. Este fundo anunciou na semana passada a criação de um departamento de trading que utiliza os seus capitais próprios , uma actividade muito arriscada e altamente especulativa doravante proibida aos bancos.
Os banqueiros arrastados pela crise de 2008-2009 estão pois volta, como se nada se tivesse passado, e entram pela porta da frente. E a lista é longa, muito longa, ao ler diariamente as páginas da imprensa financeira. O caso mais escandaloso continua ainda a ser o de Antigone Loudiadis, a banqueira de Goldman Sachs que ajudou a Grécia a maquilhar as suas contas para lhe permitir entrar no euro. Este serviço valeu-lhe ser promovida à cabeça da companhia de seguros da casa Goldman Sachs!
Convenhamos, para qualquer lado que se olhe, ficamos com a cabeça à roda. Agora com um ar de quem está arrependido , Jean-Pierre Mustier terá estudado afincadamente durante o seu interlúdio londrino de ano e meio as biografias de Alan Greenspan, antigo director do FED, a Reserva Federal Americana, e de Henry Paulson, o secretário do Tesouro entre 2006 e 2008.
Na esfera dos flagelos, faz-se melhor. Greenspan passa para um dos grandes responsáveis da derrota pela sua política de dinheiro barato e pela sua recusa de uma regulação sobre os produtos derivados. Quanto a Paulson, que foi presidente de Goldman Sachs entre 1999 e 2006, não parou de estar sempre a defender os interesses do seu antigo empregador, Goldman Sachs.
O descalabro financeiro viu milhões de famílias perderem as suas casas , empregos, pensões de reforma. Com algumas excepções apenas , reencontra-se hoje os mesmos chefes à frente das grandes instituições financeiras. Nenhum dirigente da banca foi punido , mesmo nos casos de fraude provada sobre os créditos hipotecários. Neste tipo de negócios complexos, as provas são difíceis de reunir, e a incompetência não é um crime: este é o discurso oficial para justificar este laxismo judicial.
Enquanto que o contribuinte que salvou o sistema bancário deve apertar-se e bem o seu cinto, a hora é de novo para a concessão em toda a impunidade de bónus mirabolantes, à Wall Street como na City de Londres. Em Bruxelas e em Washington, os lobby bancários castraram os projectos de regulação, levando mesmo a gritos de meter medo só pela ideia de um reforço das normas prudenciais de capital. Com o desprezo mais descarado pelo civismo mais elementar, as zonas off-shore ajudam as multinacionais como as grandes fortunas a dedicarem-se à evasão fiscal legal. Para escapar ao imposto assim como ao regulador britânicos, os hedges funds londrinos terão encontrado a sua nova terra prometido, Malta, para especular em toda a calma do mundo.
A profissão bancária não vê sequer em que é que terá falhado em termos de honra ou de moral, explica-nos o consultor londrino Amin Rajan, especialista em liderança na condução de empresas. “Os meios financeiros tiveram êxito em fazer passar a mensagem que a crise é da responsabilidade do sistema, dos reguladores, dos bancos centrais, dos accionistas, ou mesmo das famílias, resumidamente, das vigarices dos outros. “ Na leitura bem particular que têm os banqueiros da deontologia, reconhecer as suas faltas seria uma confissão de fraqueza ou de culpabilidade.
No entanto, é necessário convir, os bancos, de que ninguém pode passar sem eles, não se deevem colocar todos no mesmo saco, e alguns preenchem mesmo as funções normais de financiamento da economia.
O cardeal o arcebispo Westminster, Vincent Nichols, não disse outra coisa ao falar para os banqueiros : “A vossa missão consiste antes de mais nada em servir o interesse do público. “ Esta exortação não deveria ser gravada no frontispício à entrada do Hotel Guildhall, o hotel dos homens da City?
Marc Roche, Les banquiers responsables de la crise de retour aux manettes, Le Monde, 9.03.11
2.Da Irlanda com carinho, uma carta
Um pequeno conselho amigável a Portugal
Domingo, 27 de Março de 2011
Caro Portugal:
Daqui lhe escrevo, da Irlanda. Eu sei que não nos conhecemos muito bem, embora eu tenha ouvido que alguns dos nossos promotores estão muito tristes com o facto de vocês estarem a ultrapassar a recessão.
Eles poderão ficar assim por uns tempos. Em todo o caso, não pretendo intrometer-me na sua vida mas tenho lido os jornais e causa-me impressão pensar que tenho de lhe escrever para lhe dar um pequeno conselho quanto à situação em que se encontra e quanto ao que ainda está para vir.
Porque, e com alguma ironia amarga, qual é a diferença entre Portugal e a Irlanda na presente situação? Cinco letras e seis meses.
Em todo o caso, reparo agora que Portugal está sob pressão para aceitar um resgate financeiro de urgência mas os vossos políticos estão a insistir que estão fortemente determinados a não o quererem. Para o fazerem, só por cima dos seus cadáveres. Diz-me a experiência que isto significa que
Portugal estará brevemente a querer um resgate financeiro, provavelmente a um domingo. Deixe-me primeiramente dar-lhe uma pista quanto às nuances da língua inglesa.
Dado que o inglês é a sua segunda língua, Portugal pode estar a pensar que as palavras bailout (resgate) e aid (ajuda) implicam que Portugal irá ter a ajuda dos nossos irmãos europeus para começar a sair das suas dificuldades actuais. Mas o inglês é a nossa primeira língua e foi isso que nós pensámos ser o significado de bailout e o de aid. Mas permita-me que o avise: não só este “resgate” – quando ele vos for inevitavelmente imposto – não livrará Portugal dos problemas actuais como também, na prática, os irá prolongar durante as futuras gerações.
Por tudo isto, o que esperam de si, Portugal, é que se mostre grato. Se quiser saber qual é o termo português adequado para traduzir o termo inglês bailout, sugiro-lhe que pegue no seu dicionário de Inglês-Português e procure palavras como: moneylending (empréstimos em dinheiro), usury (usura), subprime mortgage (hipotecas subprime), rip-off (roubo). Isto dar-lhe-á uma tradução mais exacta daquilo que lhe vai acontecer.
Fico, também, a saber que você, Portugal, vai mudar de governo dentro de dois meses. Vai desculpar-me pelo facto de eu-me permitir esboçar um certo sorriso quanto à mudança em questão. Não deixe de aplicar uma boa camada de tinta por cima das fendas da sua economia. E não deixe, também, de apreciar o cheiro dessa tinta fresca por algum tempo.
Nós, aqui, também arranjámos um novo governo – o que foi uma agradável manobra de diversão durante algumas semanas. O que você vai verificar é que o novo governo irá surgir no meio de uma certa euforia popular. O novo governo, entretanto, terá já feito todo o género de promessas durante a campanha eleitoral quanto a dar cabo dos detentores de títulos e por aí fora, e a União Europeia irá sorrir condescendentemente perante toda essa conversa fiada.
Então, quando o seu governo tomar posse, ele irá mostrar-se à Europa e dará algumas indicações. Você até poderá vencer alguns jogos de futebol com os vossos principais adversários, quaisquer que eles sejam, e pode até conseguir ser visitado por dignatários estrangeiros, como o Papa ou outros. Sentir-se-á uma atmosfera positiva, por algum tempo, enquanto todos se refugiam numa certa ilusão.
E usufrua de tudo isso, Portugal, enquanto puder. Porque a realidade estará de novo à espreita, para se intrometer outra vez na sua vida, quando a diversão se desvanecer. O contraponto de tudo isto é que o preço de um jogo de golfe se tornou aqui mutio competitivo. Oxalá o mesmo aconteça aí. Esperamos vê-lo, Portugal, então.
Com a amizade da
Irlanda
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