Ensaio
Juan Rulfo O Desafio da Criação
Infelizmente, eu não tive quem me contasse histórias; na nossa aldeia, as pessoas são fechadas, sim, completamente, ali, uma pessoa é um estrangeiro.
Eles estão a conversar; sentam-se, à tarde, nos seus cadeirões de verga a contar histórias e coisas dessas; mas assim que uma pessoa chega, ficam calados ou começam a falar do tempo: «hoje parece que vêm para aí nuvens...». Enfim, eu não tive essa fortuna de ouvir os mais velhos a contarem histórias; por isso, vi-me obrigado a inventá-las e eu creio, precisamente, que um dos princípios da criação literária é a invenção, a imaginação. Somos mentirosos; todo o escritor que cria é um mentiroso, a literatura é mentira; dessa mentira, porém, sai uma recriação da realidade: recriar a realidade é, assim, um dos princípios fundamentais da
criação.
Coordenação de Augusta Clara de Matos
continuação...
Tenho conversado muito com os meus amigos Jean-Pierre Changeux, Thomas Insel e António Damásio grandes cientistas das novas interrogações. Também Jean-Pierre se apaixonou pela arte, também ele caiu nas suas mãos traiçoeiras. Mas não se meteu propriamente com ela, foi mais esperto. Não se deixou levar pela tentação do seu corpo nem pelo calor das suas tintas, não tentou penetrá-la e possuí-la de forma séria, profunda e infinita, agarrando-a pelo sexo numa cumplicidade de tragédia. Deixou-se embevecer e atrair pela sua beleza, é certo, mas dentro de uma espécie de amor platónico, não ousando tocá-la, talvez por imposição profissional, talvez por medo, talvez por pudor. Daí o ter-se preocupado, essencialmente, com a razão estética e com a força ontológica da criação. Provavelmente, por isso, nunca lhe fora apresentada a amiga frustração, tendo-se livrado, assim, quem sabe, do valente frete que constitui a obscura consciência da inferioridade e da falsamente compensadora necessidade de uma indignada afirmação de si próprio.
Conhecendo o enigma do artista, sabendo que a criação artística permanecera sempre um mistério dentro de uma atmosfera de magia, bom observador das duas perspectivas, psicológica e sociológica da arte, apercebeu-se que as neurociências e a psicologia cognitiva há muito começaram a contribuir para a reequacionamento desse mesmo mistério. Aventurou-se pelo complexo mundo do processo criativo, tentando responder às questões simples que a minha amiga da onça desconhece, mas que logo usaria se as conhecesse, como jóias e enfeites para as suas maliciosas conquistas e para satisfação da sua insaciável vaidade:
- O que se passa no cérebro do artista quando cria?
- Que mecanismos regem a actividade cerebral no momento em que se contempla uma pintura?
- De onde surge a estranha e poderosa emoção que é o prazer estético?
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