Quinta-feira, 23 de Setembro de 2010

Doença Fisiológica, Doença Social.

Raúl Iturra

Palavra definida pela negativa, como convém quando a substância é a dor. Provém da palavra latina dolentia: falta de saúde, ou dolentiae: dor.

Há vários tipos de doença com os quais lutamos imenso para sarar. Há as que saram e há as que matam, há as que nos acama, há as que, passado um tempo, recuperamos do referido mal. Historicamente, há as que eram incuráveis, como o cólico miserere hoje denominado apendicite ou inflamação do apêndice ileocecal. Doença que, até 1940, matava se não fosse operada ou subtraída do corpo antes de infectar os intestinos ou o peritoneu (membrana serosa que cobre as paredes do abdómen = Peritónio). Doença que, actualmente, é simples de curar e ocorre mais entre crianças que entre adultos. Se acontecer uma inflamação do peritónio, a penicilina G é um antibiótico natural derivado de um fungo, o bolor do pão Penicillium chrysogenum (ou P. notatum). Descoberta em 15 de Setembro de 1928, pelo médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming, está disponível como fármaco desde 1941, sendo o primeiro antibiótico a ser utilizado com sucesso. A apendicite não é, hoje em dia, uma doença que mate, excepto se não for tratada atempadamente por falta de recursos da família do doente, ou porque não se acredita na pessoa que diz sofrer essas dores. Há outras doenças, urgentes de tratar, que começaram a aparecer por meados do Século passado, como o Alzheimer e o vírus HIV, transmitido por via sexual ou sanguínea, caracterizada pela destruição ou pelo desaparecimento das reacções imunitárias do organismo (o agente da sida é o retro vírus HIV). A doença caracteriza-se pela destruição de uma certa classe de glóbulos brancos, os linfócitos T4, suportes da imunidade celular, e traduz-se por um desaparecimento das reacções de defesa do organismo. São as doenças, como o cancro, nomeadamente da mama, que matam sem, ainda, se ter descoberto defesas para as curar.

Há também as doenças das que ninguém quer saber e foge-se da pessoa que a contrai porque cansa estar sempre a ouvir o seu sofrimento. Pessoalmente, sempre digo: hoje estou melhor que ontem, ou muito bem, muito obrigado, para não espantar ninguém. São doenças materiais, do corpo, não da mente, como as neuroses descobertas por Charcot e Freud. Não são materiais, são do ego e do superego que as inventa sem repararem que nada tem.

Parece-me que há um terceiro grupo, as doenças dos que para nós têm sido pessoas importantes e perdem a saúde, o mando do seu corpo e, finalmente, o respeito dos que eram os seus subordinados. É a doença do herói, que deve ser respeitado, mas ao perder o poder, é abandonado.

Finalmente, há as doenças sociais, das quais se foge porque as pessoas passam a ser uma entidade inútil para o seu grupo social e são-lhe atribuídas condutas que, de facto, não existem, inventadas porque não são pessoas que se visitem.

Acrescentaria um quarto grupo: a doença da licença, que é quando, cansada ou não, uma pessoa solicita não participar no trabalho do grupo porque não lhe apetece, ou porque tem assuntos pessoais para tratar, que não quer que ninguém saiba.

De todos estes grupos, as pessoas não contribuem para o bem comum, criando com afã uma solidariedade recíproca para a sociedade, retirando assim uma mais-valia social.

Em síntese, digamos que existem dois tipos de doenças: as que matam; e as sociais, que não permitem a contribuição para a construção da vida em grupo.

É evidente que as doenças variam de cultura para cultura, de sociedade para sociedade, como tenho tratado em outros textos ou ensaios meus, especialmente quando arremeto a doença mais pecaminosa de todas ao causar estragos na vida adulta do ser humano que a sofreu em criança: a pedofilia, que infelizmente, anda na moda hoje em dia e deve ser punida, por indicar falta de desenvolvimento emotivo, entre pessoas adultas que obtêm o seu prazer sexual com crianças, ou com púberes novos. Excepto se for um ritual, como o é entre os Baruya da Nova Guiné, estudados por Maurice Godelier, ou entre os Sambia da Oceânia, de David Herdt, ou do clã Picunche dos Mapuche do Chile, sobre o qual tenho escrito vários livros. É uma doença que apenas tem cura através da psicanálise ou com pena de prisão para separar da vida social a quem a tanto se atreve. É o problema que sofremos em Portugal, especialmente entre sacerdotes católicos e os seus estudantes, ou na Grã-Bretanha, sítio no qual Bento XVI solicitou o perdão do povo, mas nem por isso deu resultado: um ser humano ferido na infância nos seus sentimentos passa a ser um não trabalhador ou prostituto na vida adulta. No meu ver, a prisão perpétua é curta: deviam ser fuzilados como inimigos da sociedade que habitam e invadem com a sua falta de desenvolvimento racional o povo no qual habitam. São inimigos de guerra e como tal devem ser tratados. À violação das crianças devia ser declarada guerra com a participação das Forças Armadas e não apenas uma justiça lenta e demorada. Mata-se criança, seja quem for o bandido que a mata é inimigo de guerra.

Estas são doenças que a rapidez da escrita, me permite lembrar…

Solicito apenas aos adultos: nunca deixem os seus pequenos a sós: é o cólico misesere do Século XXI, sem cura, que começou muito antes que personalidades mediáticas, entre outras, tenham sido encontradas dentro deste latrocínio, da guerra do fim do mundo.
publicado por Carlos Loures às 15:00
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