Terça-feira, 5 de Julho de 2011

Conclusões da Comissão de Inquérito sobre a Crise Financeira ( 2,3,4) A Comissão Pecora II

enviado por Julio Marques Mota

 

Conclusões da Comissão de Inquérito sobre a Crise Financeira ( 2,3,4)
A Comissão Pecora II
Conclusão nº2

 

• Concluímos que as grandes falhas comuns na regulação e na supervisão financeira foram  devastadoras  para a estabilidade dos mercados  financeiros  da nação.

 

As sentinelas não estavam nos seus postos, em grande parte devido à fé amplamente aceite  na natureza de autocorrecção dos mercados e da capacidade das instituições  financeiras serem elas próprias polícias delas próprias.  Mais de 30 anos de desregulamentação e de confiança na auto-regulação por parte das instituições financeiras, defendida pelo ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan e outros, apoiados pelas administrações sucessivas e pelo Congresso Americano  e activamente puxados  pela poderosa indústria  financeira  por seu lado,  fez saltar  todas as salvaguardas, que poderiam ter ajudado a evitar a catástrofe. Esta abordagem tinha aberto brechas na fiscalização de áreas críticas com milhões de milhões de dólares em risco, tais como o sistema bancário paralelo e os mercados over-the-counter, os produtos OTC,  sobre produtos derivados. Além disso, o governo permitiu que as empresas financeiras  pudessem   escolher os seus reguladores preferidos   no que se tornou uma corrida para a mais baixa supervisão possível.
 

No entanto, nós não aceitamos a visão que os reguladores não tinham o poder para estarem a  proteger o sistema financeiro.  Eles tinham poder sobre muitas áreas e  optaram por não o usarem. Retenhamos aqui três : a Comissão de Valores Mobiliários poderia ter exigido mais capital e poderia ter parado com as práticas de risco nos  grandes bancos de investimento.  Mas isto não  aconteceu. O Federal Reserve Bank of New York e outros reguladores poderiam ter apertado o cerco  contra os excessos do Citigroup na corrida para a crise. Mas estes não o fizeram. Os decisores políticos e os reguladores poderia ter parado o comboio  em muito boa marcha da titularização de hipotecas. Mas eles não o fizeram.                 

 

Caso a caso, um a seguir a outro, os reguladores continuaram a classificar as instituições que supervisionou como estão a são e salvo, mesmo em face de problemas de montagens , muitas vezes  baixando-lhes a notação  exactamente apenas um  pouco antes do seu colapso. E onde  os reguladores não tinham autoridade, eles poderiam tê-la procurado. Muito frequentemente   estes reguladores não tinham sequer a  vontade política em terem um ambiente político e ideológico que os  constrangesse,  bem como não tinham a capacidade de, de  forma crítica,  desafiarem as  instituições e todo o sistema que lhes era confiado para supervisionar.

As mudanças no sistema de regulamentação ocorreram  em muitos casos, das mesma forma que   os mercados financeiros também evoluíram. Mas como o relatório nos  vai mostrar, a indústria financeira desempenhou um papel fundamental no enfraquecimento dos constrangimentos regula tórios sobre as instituições, sobre os  mercados e sobre os  produtos. Não foi nenhuma surpresa para a Comissão de que um sector com tanta riqueza e poder tenha  exercido pressão sobre os decisores políticos e sobre os reguladores. De 1999 a 2008, o sector financeiro gastou $ 2,7 mil milhões em despesas relacionadas com o  lobby federal; os indivíduos e os  comités de acção política no sector obtiveram  mais de   um milhar de milhões de dólares nas  contribuições de campanha. O que  nos incomodou  foi a  medida em que a nação foi privada da força necessária e independência da supervisão necessária para salvaguardar a estabilidade financeira.


Conclusão nº 3

• Concluímos que houve falhas dramáticas de governança nas empresas  e na gestão de risco em muitas instituições financeiras sistemicamente importantes  e que estas falhas foram uma causa chave desta crise.


Havia uma visão de que os instintos de auto preservação dentro  das grandes empresas financeiras  iriam  protegê-las da hipótese  fatal de riscos sem a necessidade de uma mão firme na regulação em que, as empresas argumentaram, iriam sufocar a inovação. Muitas dessas instituições actuaram   de forma imprudente, assumindo um risco muito grande, com muito pouco capital  e com demasiada dependência no financiamento de curto prazo.                                                                                                                                                                                          

 

Em muitos aspectos, isso reflectiu uma mudança fundamental nestas instituições, particularmente nos grandes bancos de investimento e nas sociedades gestoras de participações financeiras  que se concentraram em  actividades cada vez mais de maior risco mas em  que se geravam  grandes lucros.  Estes comportamentos  levaram  a assumir exposições enormes ao risco  em adquirir e apoiar os devedores  subprimes  e criando, embalando, reembalando   e vendendo  milhões de milhões  de dólares em activos ligados a hipotecas, incluindo produtos financeiros sintéticos. Como Ícaro, nunca temeram voar  cada vez mais perto do sol.

Muitas dessas instituições cresceram  agressivamente através  de aquisições mal executados e através também de  estratégias de integração que faziam  com que a  gestão eficaz seja ainda mais desafiadora.  O CEO do Citigroup disse à Comissão que uma posição de 40 mil milhões de dólares  em títulos hipotecários altamente cotados poderia  "não ter, de forma alguma,  chamado  a minha atenção", e  o co-director do banco de investimento Citigroup disse que gastou "uma pequena fracção de 1%" de seu tempo sobre esses valores. Neste exemplo, serem demasiado grandes para poderem  falir significava muito grande para poder ser gerida.

As instituições financeiras  e agências de rating de crédito  passaram a usar   modelos matemáticos como estimadores fiáveis ​​de riscos, substituindo o julgamento em demasiados casos. Muitas vezes, a gestão  de risco tornou-se a justificação de risco.

Os sistemas de compensação projectados num ambiente de dinheiro barato, a concorrência intensa, e  regulação muita ligeira  muitas vezes recompensaram  e bem  os  negócios assentes em perspectivas de curto ou muito curto prazo,  os ganho de  curto prazo sem a devida consideração pelas  consequências  a  longo prazo. Muitas vezes, estes  sistemas encorajaram as  grandes apostas, onde os ganhos  quando a aposta era ganha eram grandes e se a aposta era perdida, os prejuízos eram diminutos.  Esta foi a situação das grandes instituições para com  os corretores de hipoteca a venderam nas ruas.

 

O nosso estudo revelou casos impressionantes de falhas de governança e de irresponsabilidade. Serão explicados e verão , entre outras coisas, sobre a ignorância da alta administração   da AIG  em face dos termos e da exposição aos riscos da empresa sobre 79 milhares de  milhões  de  produtos derivados sobre  activos ligados a hipotecas; iremos ver que a procura pela parte da administração de  Fannie Mae em conseguir a  maior quota de mercado possível, os maiores lucros e bónus possíveis, a  levaram a uma situação de exposição crescente a empréstimos e a títulos de risco quando  o mercado de habitação estava no auge; iremos ver a custosa surpresa  quando a direcção de  Merrill Lynch percebeu que a empresa tinha  cerca de  55 mil milhões em títulos  "super-sénior" e supostamente "super-seguros" colateralizados sobre hipotecas  sobre  valores mobiliários, que resultaram em milhares de milhões de dólares de perdas.

Conclusão nº 4

• Concluímos que houve uma combinação de endividamento excessivo, de investimentos de risco, e de  falta de transparência que em conjunto colocaram  o sistema financeiro  em rota de colisão com a crise.

 

Claramente, esta vulnerabilidade está relacionada com as  falhas de governança  ao nível das empresas e da  regulação, mas é significativamente suficiente  por si só para justificar aqui a nossa atenção.

 

Nos anos que antecederam a crise, muitas instituições financeiras, bem como muitas famílias, endividaram-se ao máximo, deixando-os assim vulneráveis ​​a problemas financeiros ou mesmo sujeitos a irem para a ruína se o valor dos  seus investimentos caísse  ainda que  modestamente. Por exemplo, a partir de 2007, os cinco grandes bancos de  investimento Bear Stearns, Goldman Sachs, Lehman Brothers, Merrill Lynch e Morgan Stanley, estavam a trabalhar com  capital próprio extraordinariamente baixo .                                                                                                             

 

Por uma das formas como esta   relação é calculada,  os seus rácios de alavancagem foram tão elevadas como 40-1, ou seja, para cada 40 dólares em activos, havia apenas US $ 1 em capital para cobrir as perdas. Uma descida mesmo inferior a  3% nos valores dos activos poderia acabar com uma empresa. Para piorar ainda mais a situação, grande parte do  seu endividamento era de curto prazo, no mercado overnight, ou seja, os seus  empréstimos tinham diariamente que ser renovados . Por exemplo, no final de 2007, o Bear Stearns tinha  11,1 mil milhões  de dólares em capital e 386,6 mil milhões de dólares em responsabilidades,  tinha em  empréstimos cerca de  70 mil milhões no  mercado overnight. Isto era  equivalente a uma pequena empresa com $ 50,000 de património que fosse contrair um  empréstimos  de US $ 1,6 milhões, com   296.750 dólares de empréstimo overnight, mobilizáveis diariamente. Não se pode realmente perguntar "O que é que eles estavam a pensar?"  Quando até parece que havia muitos deles que estavam a pensar  da mesma forma.

E a alavancagem foi muitas vezes escondida através de  posições sobre produtos derivados , em itens fora do balanço, e através de "vitrina" de relatórios financeiros disponíveis para o público investidor.

Os reis de alavancagem foram Fannie Mae e Freddie Mac, as duas empresas monstras , empresas patrocinadas pelo Governo  (GSEs). Por exemplo, até ao final de 2007, Fannie e Freddie o ratio de  alavancagem combinada, incluindo empréstimos que possuíam e garantias , situou-se em 75-1.

 

Mas as empresas financeiras não estavam sozinhos nesta  farra dos  empréstimos: de 2001 a 2007, a dívida nacional hipotecária quase duplicou, e a quantidade de dívida hipotecária por família subiu  mais de 63% a partir de 91.500 dólares para 149.500 dólares, e isto quando  os salários tinham basicamente estagnado .Quando a crise imobiliária apareceu , as empresas financeiras e as famílias altamente endividadas foram duramente atingidas.

 

A pesada dívida assumida por algumas instituições financeiras foi agravada pelos  activos de risco que eles estavam a adquirir  com essa dívida. Como o  mercado de hipotecas e do imobiliário estava agitado  tornava os empréstimos mais arriscados e de maior risco, muitas instituições financeiras carregavam  nos encargos e remunerações destes . Até ao final de 2007, o Lehman tinha acumulado  111 mil milhões de dólares em habitações comerciais e residenciais como activos imobiliários e em  títulos, o que representava  quase o dobro dos seus valores  sobre que tinha trabalhado  apenas dois anos antes  e representava mais de quatro vezes o seu património total.                                                                      

 

E, de  novo,  o risco não estava a ser  assumido  apenas pelas grandes  firmas financeiras , mas também pelas famílias. Aproximadamente  um em cada 10 mutuários em 2005 e 2006 contraiu    empréstimos com "a opção ARM", (aquisição de casa a taxa de juro variável)  o que significava que poderia escolher  efectuar  pagamentos mensais tão baixos quanto subia o valor das  suas casas hipotecadas.

 

Dentro do sistema financeiro , os perigos desta dívida foram ainda ampliados porque a transparência não era nem  necessária nem  desejada. Dívida enormíssima,  de empréstimos de curto prazo, combinada com as obrigações  não visíveis para os outros agentes no mercado, aumentou assim as possibilidades de o sistema poder  rapidamente se desfazer. Na primeira metade do século 20, nós criámos uma série de protecções - o Federal Reserve como um emprestador de última instância, o seguro federal para os  depósito, amplos regulamentos para fornecer um protecção contra as situações de  pânico que tinham  regularmente flagelado o sistema bancário da América  no século XIX.                                                               

 

No entanto, nos últimos 30 anos ou mais, permitiu-se  o crescimento de um sistema bancário sombra opaco e assente no enorme volume   de dívida de curto prazo, que rivalizava com a dimensão  do sistema bancário tradicional. As componentes  chave do mercado, por exemplo, os multi millhões de milhões de crédito do mercado repo, as múltiplas entidades fora do balanço  bem como a utilização de  produtos derivados OTC ( negociados fora da bolsa )    estavam assim fora  da vista, escondidos, sem as protecções que tinha sido criadas  para evitar os colapsos financeiros. Nós tínhamos um sistema financeiro  do século XXI  com as salvaguardas do século XIX.

Quando o mercado imobiliário e de hipotecas se afundou , a falta de transparência, os extraordinários  volumes de  dívida, os empréstimos de curto prazo, e todos os activos de risco ficaram assim expostos . O resultado foi o pânico. Tivemos como colheita o que semeámos.

publicado por Luis Moreira às 20:00

editado por João Machado em 04/07/2011 às 22:10
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Segunda-feira, 3 de Janeiro de 2011

Um país hipotecado - Parcerias- Público -Privadas

 

 

 

O PS e o PSD não se entendem quanto à constituição da Comissão para a análise das parcerias publico-privadas e percebe-se bem as razões, uma delas está aí em cima no gráfico. A(s) outra(s) estão no livro do Conselheiro jubilado do Tribunal de Contas Carlos Moreno, no seu livro (Como o Estado gasta o nosso dinheiro).

 

Carlos Moreno diz-nos que o Estado nestas parcerias é, sistemáticamente, prejudicado, absorve os prejuízos enquanto os lucros e as vantagens ficam para os privados, com taxas de retorno asseguradas, sem risco e muito mais elevadas que as taxas padrão do mercado. Chega a dizer que só pessoas sem qualificações e sem experiência é que negoceiam contratos tão desequilibrados, isto, para não dizer o que parece ser óbvio. Passados três anos, esses representantes do Estado estarão na administração de um desses grupos favorecidos.

 

Uma das condições para se ter chegado a acordo no OE/2011 é a análise destas PPP, mas alguém não está interessado que essa análise se faça, não aceitaram Freitas do Amaral que, recorde-se foi Ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro governo de Sócrates e, também não aceitaram Joaquim Ferreira do Amaral, economista, bem mais perto do PS do que do PSD, tudo indica que mexer nos contratos das parcerias não trás saúde a ninguém.

 

Há que empurrar para o mais longe possível, muitos (i)rresponsáveis sabem bem o que fizeram. Entretanto, hoje, vieram dois nomes a lume que parece reunirem consenso. O do Presidente do Tribunal de Contas ( óbvio porque a sua função habitual já lhe trouxe conhecimento de grande parte do que vai encontrar) e o do economista, António Pinto Coelho, professor da Universidade Nova de Lisboa  .

 

Esperemos, muito sinceramente, que o que se encontre não seja pior do que o que já se conhece e que, por uma vez, se defendam os interesses do Estado, e que as empresas do regime corram os riscos naturais ao seu negócio e ganhem o que é razoável. Afinal, o principio básico para os negócios é que sejam bons para as partes e, não, para uma das partes à custa da outra.

publicado por Luis Moreira às 13:00
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