Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências (12)
(Conclusão)
A dimensão estética da ciência tem sido reconhecida por cientistas e filósofos da ciência, de Poincaré a Kuhn, de Polanyi a Popper. Roger Jones considera que o sistema de Newton é tanto uma obra de arte como uma obra de ciência. A criação científica no paradigma emergente assume-se como próxima da criação literária ou artística, porque a semelhança destas pretende que a dimensão activa da transformação do real (o escultor a trabalhar a pedra) seja subordinada à contemplação do resultado (a obra de arte). Por sua vez, o discurso científico aproximar-se-á cada vez mais do discurso da crítica literária. De algum modo, a crítica literária anuncia a subversão da relação sujeito/objecto que o paradigma emergente pretende operar. Na crítica literária, o objecto do estudo, como se diria em termos científicos, sempre foi, de facto, um super-sujeito (um poeta, um romancista, um dramaturgo) face ao qual o crítico não passa de um sujeito ou autor secundário. É certo que, em tempos recentes, o crítico tem tentado sobressair no confronto com o escritor estudado a ponto de se poder falar de uma batalha pela supremacia travada entre ambos. Mas porque se trata de uma batalha, a relação é entre dois sujeitos e não entre um sujeito e um objecto. Cada um é a tradução do outro, ambos criadores de textos, escritos em línguas distintas ambas conhecidas e necessárias para aprender a gostar das palavras e do mundo.
Assim ressubjectivado, o conhecimento científico ensina a viver e traduz-se num saber prático. Daí a última característica da ciência pós-moderna.
Todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum Já tive ocasião de referir que o fundamento do estatuto privilegiado da racionalidade científica não é em si mesmo científico. Sabemos hoje que a ciência moderna nos ensina pouco sobre a nossa maneira de estar no mundo e que esse pouco, por mais que se amplie, será sempre exíguo porque a exiguidade está inscrita na forma de conhecimento que ele constitui. A ciência moderna produz conhecimentos e desconhecimentos. Se faz do cientista um ignorante especializado faz do cidadão comum um ignorante generalizado.
Ao contrário, a ciência pós-moderna sabe que nenhuma forma de conhecimento é, em si mesma, racional; só a configuração de todas elas é racional. Tenta, pois, dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elas. A mais importante de todas é o conhecimento do senso comum, o conhecimento vulgar e prático com que no quotidiano orientamos as nossas acções e damos sentido à nossa vida. A ciência moderna construiu-se contra o senso comum que considerou superficial, ilusório e falso. A ciência pós-moderna procura reabilitar o senso comum por reconhecer nesta forma de conhecimento algumas virtualidades para enriquecer a nossa relação com o mundo. É certo que o conhecimento do senso comum tende a ser um conhecimento mistificado e mistificador mas, apesar disso e apesar de ser conservador, tem uma dimensão utópica e libertadora que pode ser ampliada através do diálogo com o conhecimento científico. Essa dimensão aflora em algumas das características do conhecimento do senso comum.
O senso comum faz coincidir causa e intenção; subjaz-lhe uma visão do mundo assente na acção e no princípio da criatividade e da responsabilidade individuais. O senso comum é prático e pragmático; reproduz-se colado às trajectórias e às experiências de vida de um dado grupo social e nessa correspondência se afirma fiável e securizante. O senso comum é transparente e evidente; desconfia da opacidade dos objectivos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva e à competência linguística.O senso comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão para além da consciência, mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas. O senso comum é indisciplinar e imetódico; não resulta de uma prática especificamente orientada para o produzir; reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. O senso comum aceita o que existe tal como existe; privilegia a acção que não produza rupturas significativas no real. Por último, o senso comum é retórico e metafísico; não ensina, persuade.
À luz do que ficou dito atrás sobre o paradigma emergente, estas características do senso comum têm uma virtude antecipatória. Deixado a si mesmo, o senso comum é conservador e pode legitimar prepotências, mas interpenetrado do conhecimento científico pode estar na origem duma nova racionalidade. Uma racionalidade feita de racionalidades. Para que esta configuração de conhecimentos ocorra é necessário inverter a ruptura epistemológica. Na ciência moderna a ruptura epistemológica simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conhecimento científico; na ciência pós-moderna o salto mais importante é o que é dado do conhecimento científico para o conhecimento do senso comum. O conhecimento científico pós-moderno só se realiza enquanto tal na medida em que se converte em senso comum. Só assim será uma ciência clara que cumpre a sentença de Wittgenstein, "tudo o que se deixa dizer deixa-se dizer claramente”. Só assim será uma ciência transparente que faz justiça ao desejo de Nietzsche ao dizer que “todo o comércio entre os homens visa que cada um possa ler na alma do outro, e a língua comum é a expressão sonora dessa alma comum”. A ciência pós-moderna, ao senso comunizar-se, não despreza o conhecimento que produz tecnologia, mas entende que, tal como o conhecimento se deve traduzir em auto-conhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se em sabedoria de vida. É esta que assinala os marcos da prudência à nossa aventura científica. A prudência é a insegurança assumida e controlada. Tal como Descartes, no limiar da ciência moderna, exerceu a dúvida em vez de a sofrer, nós, no limiar da ciência pós-moderna, devemos exercer a insegurança em vez de a sofrer.
Na fase de transição e de revolução cientifica, esta insegurança resulta ainda do facto de a nossa reflexão epistemológica ser muito mais avançada e sofisticada que a nossa prática científica. Nenhum de nós pode neste momento visualizar projectos concretos de investigação que correspondam inteiramente ao paradigma emergente que aqui delineei. E isso é assim precisamente por estarmos numa fase de transição.
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SOUSA SANTOS, BOAVENTURA DE
Porto; 1988.
Boaventura do Sousa Santos é sociólogo, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, presidentedo Conselho Directivo do Centro de Documentação 25 de Abril da mesma Universidade, director da Revista Crítica de Ciências Sociais e membro da direcção da comissão de investigação sobre sociologia do direito da Associação Internacional de Sociologia. Foi professor visitante da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, da Universidade de Sussex, da Universidade de Wisconsin-Madison, da London School of Economics e da Universidade de S. Paulo.Especializado em sociologia do direito e do Estado e em sociologia da ciência, com investigações empíricas realizadas no Brasil, em Portugal e em Cabo Verde, tem publicado numerosos trabalhos, dentre os quais se salientam: Law Against Law: Legal Reasoning in Pasargada Law (1974); Democratizar a Universidade (1975) ; Da Sociologia da Ciência a Política Científica(1977) ; The Law of the Oppressed: The Construction and Reproduction of Legality in Pasargada Law (1977) ; O Discurso e o Poder (1980); O Estado, o Direito e a Questão Urbana (1982); A Justiça Popular em Cabo Verde (1984); On Modes of Production of Social Power and Law(1985); Estado e Sociedade na Semiperiferia do Sistema Mundial: o Caso Português (1985) ; O Estado, a Sociedade e as Políticas Sociais: O caso das Politicas de Saúde( 19 87) ; O Social e oPolítico na Transição Pós-moderna( 1 98 8); Introdução a uma Ciência Pós-Moderna( ...) .
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências (10)
(Continuação)
Do conteúdo desta reflexão respigarei, a título ilustrativo, alguns dos temas principais. Em primeiro lugar, são questionados o conceito de lei e o conceito de causalidade que lhe está associado. A formulação das leis da natureza funda-se na ideia de que os fenómenos observados independem de tudo excepto de um conjunto razoavelmente pequeno de condições (as condições iniciais) cuja interferência é observada e medida. Esta ideia,reconhece-se hoje, obriga a separações grosseiras entre os fenómenos, separações que, aliás, são sempre provisórias e precárias uma vez que averificação da não interferência de certos factores é sempre produto de um conhecimento imperfeito, por mais perfeito que seja. As leis têm assim um carácter probabilístico, aproximativo e provisório, bem expresso no princípio da falsificabilidade de Popper. Mas acima de tudo, a simplicidade das leis constitui uma simplificação arbitrária da realidade que nos confina a um horizonte mínimo para além do qual outros conhecimentos da natureza, provavelmente mais ricos e com mais interesse humano, ficam por conhecer.
Na biologia, onde as interacções entre fenómenos e formas de auto-organização em totalidades não mecânicas são mais visíveis, mas também nas demais ciências, a noção de lei tem vindo a ser parcial e sucessivamente substituída pelas noções de sistema, de estrutura, de modelo e, por último, pela noção de processo. O declínio da hegemonia da legalidade é concomitante do declínio da hegemonia da causalidade. O questionamento da causalidade nos tempos modernos vem de longe, pelo menos desde David Hume e do positivismo lógico. A reflexão crítica tem incidido tanto no problema ontológico da causalidade (quais as características do nexo causal?; esse nexo existe na realidade?) como no problema metodológico da causalidade (quais os critérios de causalidade?; como, reconhecer um nexo causal ou testar uma hipótese causal?). Hoje, a relativização do conceito de causa parte sobretudo do reconhecimento de que o lugar central que ele tem ocupado na ciência moderna se explica menos por razões ontológicas ou metodológicas do que por razões pragmáticas. O conceito de causalidade adequa-se bem a uma ciência que visa intervir no real e que mede o seu êxito pelo âmbito dessa intervenção. Afinal, causa é tudo aquilo sobre que se pode agir. Mesmo os defensores da causalidade, como Mario Bunge, reconhecem que ela é apenas uma das formas dodeterminismo e que por isso tem um lugar limitado, ainda que insubstituível, no conhecimento cientifico (36). A verdade é que, sob a égide da biologia e também da microfísica, o causalismo, enquanto categoria de inteligibilidade do real, tem vindo a perder terreno em favor do finalismo.
O segundo grande tema de reflexão epistemológica versa mais sobre o conteúdo do conhecimento científico do que sobre a sua forma. Sendo um conhecimento mínimo que fecha as portas a muitos outros saberes sobre o mundo, o conhecimento científico moderno é um conhecimento desencantado e triste que transforma a natureza num autómato, ou, como diz Prigogine, num interlocutor terrivelmente estúpido (37). Este aviltamento da natureza acaba por aviltar o próprio cientista na medida em que reduz o suposto diálogo experimental ao exercício de uma prepotência sobre a natureza. O rigor científico, porque fundado no rigor matemático, é um rigor que quantifica e que, ao quantificar, desqualifica, um rigor que, ao objectivar os fenómenos, os objectualiza e os degrada, que, ao caracterizar os fenómenos, os caricaturiza.
É, em suma e finalmente, uma forma de rigor que, ao afirmar a personalidade do cientista, destrói a personalidade da natureza. O que se torna evidente se compararmos as estratégias metodológicas da antropologia cultural e social, por um lado, e da sociologia, por outro. Na antropologia, a distância empírica entre o sujeito e o objecto era enorme. O sujeito era o antropólogo, o europeu civilizado, o objecto era o povo primitivo ou selvagem. Neste caso, a distinção sujeito/objecto aceitou ou mesmo exigiu que a fosse relativamente encurtada através do uso de metodologias que obrigavam a uma maior intimidade com o objecto, ou seja, o trabalho de campo etnográfico, a observação participante. Na sociologia, ao contrário, era pequena ou mesmo nula a distância empírica entre o sujeito e o objecto: eram cientistas europeus a estudar os seus concidadãos. Neste caso, a distinção epistemológica obrigou a que esta distância fosse aumentada através do uso de metodologias de distanciamento por exemplo, o inquérito sociológico, a análise documental e a entrevista estruturada.
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36 M. Bunge, Causality and Modern Science. Nova Iorque, Dover Publications, 3ª ediçao, 1979, p. 353: “The causal principle is, in short, neither a panacea nor a myth: it is a general hypothesis subsumed under the universal principle of determinacy, and having an approximate validity in its proper domain”. Em Portugal é justo salientar neste domínio a notável obra teórica de Armando Castro. Cfr. Teoria do Conhecimento Científico, vols. I-IV, Porto, Limiar, 1975, 1979, 1980, 1982; vol. V, Porto, Afrontamento, 1987.
37 I. Prigogine e I. Stengers, ob. cit.
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências 9
(Continuação)
A título de exemplo, menciono as investigações do físico-químico llya Prigogine. A teoria das struturas dissipativas e o princípio da “ordem através de flutuações” estabelecem que em sistemas abertos, ou seja, em sistemas que funcionam nas margens da estabilidade, a evolução explica-se por flutuações de energia que em determinados momentos, nunca inteiramente previsíveis,desencadeiam espontaneamente reacções que, por via de mecanismos não lineares, pressionam o sistema para além de um limite máximo de instabilidade e o conduzem a um novo estado macroscópico. Esta transformação irreversível e termodinâmica é o resultado da interacção de processos microscópicos segundo uma lógica de auto-organização numa situação de não-equilíbrio. A situação de bifurcação, ou seja, o ponto crítico em que a mínima flutuação de energia pode conduzir a um novo estado, representa a potencialidade do sistema em ser atraído para um novo estado de menor entropia. Deste modo a irreversibilidade nos sistermas abertos significa que estes são produto da sua história (28).
A importância desta teoria está na nova concepção da matéria e da natureza que propõe, uma concepção dificilmente compaginável com a que herdámos da física clássica. Em vez da eternidade, a história; em vez do determinismo, a imprevisibilidade; em vez do mecanicismo, a interpenetração, a espontaneidade e a auto-organização; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade e a evolução; em vez da ordem, a desordem; em vez da necessidade, a criatividade e o acidente. A teoria de Prigogine recupera inclusivamente conceitos aristotélicos tais como, os conceitos de potencialidade e virtualidade que a revolução científica do século XVI parecia ter atirado definitivamente para o lixo da história.
Mas a importância maior desta teoria está em que ela não é um fenómeno isolado. Faz parte de um movimento convergente, pujante sobretudo a partir da última década, que atravessa as várias ciências da natureza e até as ciências sociais, um movimento de vocação transdisciplinar que Jantsch designa por paradigma da auto-organização e que tem aflorações, entre outras, na teoria de Prigogine, na sinergética do Haken (29), no conceito de hiperciclo e na teoria da origem da vida de Eigen(30), no conceito de autopoiesis do Maturana e Varela (31), na teoria das catástrofes de Thom (32), na teoria da evolução de Jantsch (33), na teoria da “ordem implicada” de David Bohm (34) ou na teoria da matriz-S de Geoffrey Chew e na filosofia do “bootstrap” que lhe subjaz (35).
Este movimento científico e as demais inovações teóricas que atrás defini como outras tantas condições teóricas da crise do paradigma dominante têm vindo a propiciar uma profunda reflexão epistemológica sobre o conhecimento científico, uma reflexão de tal modo rica e diversificada que, melhor do que qualquer outra circunstância, caracteriza exemplarmente a situação intelectual do tempo presente. Esta reflexão apresenta duas facetas sociológicas importantes. Em primeiro lugar, a reflexão é levada acabo predominantemente pelos próprios cientistas, por cientistas que adquiriram uma competência e um interesse filosóficos para problematizar a sua prática científica. Não é arriscado dizer que nunca houve tantos cientistas-filósofos como actualmente, e isso não se deve a uma evolução arbitrária do interesse intelectual. Depois da euforia cientista do século XIX e da consequente aversão à reflexão filosófica, bem simbolizada pelo positivismo, chegámos a finais do século XX possuídos pelo desejo quase desesperado de complementarmos o conhecimento das coisas com o conhecimento do conhecimento das coisas, isto é, com o conhecimento de nós próprios. A segunda faceta desta reflexão é que ela abrange questões que antes eram deixadas aos sociólogos. A análise das condições sociais, dos contextos culturais, dos modelos organizacionais da investigação científica, antes acantonada no campo separado e estanque da sociologia da ciência, passou a ocupar papel de relevo na reflexão epistemológica.
28 I. Prigogine e I. Stengers, La Nouvelle Alliance. Metamorphose de la Science. Paris, Gallimard, 1979; I. Prigogine, From Being to Becoming. S. Francisco, Freeman, 1980; I. Prigogine, “Time, Irreversibility and Randomness”, in E. Jantsch (org.), The Evolutionary Vision. Boulder, Westview Press, 1981, pp. 73 e ss.
29 H. Haken, Synergetics: An Introduction. Heidelberg, Springer 1977; H. Haken, “Synergetics An Interdisciplinary Approach to Phenomena of Self-Organization”, Geoforum, 16 (1985), 205.
30 M. Eigen e P. Schuster, The Hypercycle: a Principle of Natural Self-Organization. Heidelberg, Springer, 1979.
31 H. R. Maturana e F. Varela, De Maquinas y Seres Vivos. Santiago do Chile, Editorial Universitária, 1973; H. R. Maturana e F. Varela, Autopoetic Systems. Urbana, Biological Computer Laboratory University of Illinois, 1975. Cfr. também, F. Benseler, P. Hejl e W. Koch
(orgs.), Autopoiesis. Communication and Society. The Theory of Autopoietic Systems in the Social Sciences. Frankfurt, Campus, 1980.
32 R. Thom, ob. cit.. pp. 85 e ss.
33 E. Jantsch, The Self-Organizing Universe: Scientific and Human Implications of the Emerging Paradigm of Evolution. Oxford, Pergamon, 1980; E. Jantsch, “Unifying Principles of Evolution”, in E. Jantsch (org.), The Evolutionary Vision, cit., pp. 83 e ss.
34 D. Bohm, Wholeness and the Implicate Order. Londres, Ark Paperbacks, 1984.
35 G. Chew, “Bootstrap: a scientific idea?”, Science, 161 (1968), pp. 762 c ss; G. Chew, “Hardon bootstrap: triumph or frustration?”, Physics Today,23 (1970), pp. 23 e ss; F. Capra, “Quark physics without quarks: A review of recent developments in S-matrix theory”, American Journal of Physics, 47 (1979), pp. 11 e ss.
(Continua)
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências (8)
(Continuação)
Acontecimentos simultâneos num sistema de referência não são simultâneos noutro sistema de referência. As leis da física e da geometria assentam em medições locais. “Os instrumentos de medida, sejam relógios ou metros, não têm magnitudes independentes, ajustam-se ao campo métrico do espaço, a estrutura do qual se manifesta mais claramente nos raios de luz" (24).
0 carácter local das medições e, portanto, do rigor do conhecimento que com base nelas se obtém, vai inspirar o surgimento da segunda condição teórica da crise do paradigma dominante, a mecânica quântica. Se Einstein relativizou o rigor das leis de Newton no domínio da astrofísica, a mecânica quântica fê-lo no domínio da microfísica. Heisenberg e Bohr demonstram que não é possível observar ou medir um objecto sem interferir nele,
sem o alterar, e a tal ponto que o objecto que sai de um processo de medição não é o mesmo que lá entrou.
Como ilustra Wigner, “a medição da curvatura do espaço causada por uma partícula não pode ser levada a cabo sem criar novos campos que são biliões de vezes maiores que o campo sob investigação” (25). A ideia de que
não conhecemos do real senão o que nele introduzimos, ou seja, que não conhecemos do real senão a nossa intervenção nele, está bem expressa no princípio da incertezade Heisenberg: não se podem reduzir simultaneamente os erros da medição da velocidade e da posição das partículas; o que for feito para reduzir o erro de uma das medições aumenta o erro da outra (26). Este princípio, e, portanto, a demonstração da interferência estrutural do sujeito no objecto observado, tem implicações de vulto. Por um lado, sendo estruturalmente limitado o rigor do nosso conhecimento, só podemos aspirar a resultados aproximados e por isso as leis da física são tão-só probabilísticas. Por outro lado, a hipótese do determinismo mecanicista é inviabilizada uma vez que a totalidade do real não se reduz à soma das partes em que a dividimos para observar e medir. Por último, a distinção sujeito/objecto é muito mais complexa do que à primeira vista pode parecer. A distinção perde os seus contornos dicotómicos e assume a forma de um continuum.
0 rigor da medição posto em causa pela mecânica quântica será ainda mais profundamente abalado se se questionar o rigor do veículo formal em que a medição é expressa, ou seja, o rigor da matemática. É isso o que sucede com as investigações de Gödel e que por essa razão considero serem a terceira condição da crise do paradigma. O teorema da incompletude (ou do não completamento) e os teoremas sobre a impossibilidade, em
certas circunstâncias, de encontrar dentro de um dado sistema formal a prova da sua consistência vieram mostrar que, mesmo seguindo à risca as regras da lógica matemática, é possível formular proposições indecidíveis, proposições que se não podem demonstrar nem refutar, sendo que uma dessas proposições é precisamente a que postula o carácter não-contraditório do sistema (27). Se as leis da natureza fundamentam o seu rigor no rigor das formalizações matemáticas em que se expressam, as investigações de Gödel vêm demonstrar que o rigor da matemática carece ele próprio de fundamento. A partir daqui é possível não só questionar o rigor da matemática como também redefini-lo enquanto forma de rigor que se opõe a outras formas de rigor alternativo, uma forma de rigor cujas condições de êxito na ciência moderna não podem continuar a ser concebidas como naturais e óbvias. A própria filosofia da matemática, sobretudo a que incide sobre a experiência matemática, tem vindo a problematizar criativamente estes temas e reconhece hoje que o rigor matemático, como qualquer outra forma de rigor, assenta num critério de selectividade e que, como tal, tem um lado construtivo e um lado destrutivo.
A quarta condição teórica da crise do paradigma newtoniano é constituída pelos avanços do conhecimento nos domínios da microfísica, da química e da biologia nos últimos vinte anos.
24 H. Reichenbach, ob. cit.. p. 68.
25 E. Wigner, ob. cit.. p. 7.
26 W. Heisenberg, A Imagem da Natureza na Física Moderna. Lisboa, Livros do Brasil, s/d.; W. Heisenberg, Physics and Beyond. Londres, Allen and Unwin, 1971.
27 O impacto dos teoremas de Gödel na filosofia da ciência tem sido diversamente avaliado. Cfr., por exemplo, J. Ladrière, “Les Limites de la Formalization", in J. Piaget (org.), Logique et Connaissance Scientifique. Paris, Gallimard, 1967, pp. 312 e ss; R. Jones, Physics as Metaphor. Nova Iorque, New American Library, 1982, p. 158; J. Parain-Vial, Philosophie des Sciences de la Nature. Tendances Nouvelles. Paris, Klincksieck, 1983, pp.52 e 55; R. Thom, Parábolas e Catástrofes. Lisboa, D.Quixote, 1985, p. 36; J. Briggs e F. D. Peat, Looking Glass Universe. The Emerging Science of Wholeness. Londres, Fontana, 1985, p.22.
(Continua)
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências (7)
(Continuação)
Mais aprofundada, esta concepção, tal como tem vindo a ser elaborada, revela-se mais subsidiária do modelo de racionalidade das ciências naturais do que parece. Partilha com este modelo adistinção natureza/ser humano e tal como ele tem da natureza uma visão mecanicista a qual contrapõe, com evidência esperada, a especificidade do ser humano. A esta distinção, primordial na revolução científica do século XVI, vão-se sobrepor nos séculos seguintes outras, tal como, a distinção natureza/cultura e a distinção ser humano/animal, para no século XVIII se poder celebrar o carácter único do ser humano. A fronteira que então se estabelece entre o estudo do ser
humano e o estudo da natureza não deixa de ser prisioneira do reconhecimento da prioridade cognitiva das ciências naturais, pois, se, por um lado, se recusam os condicionantes biológicos do comportamento humano, pelo outro usam-se argumentos biológicos para fixar a especificidade do ser humano. Pode, pois, concluir-se que ambas as concepções de ciência social a que aludi pertencem ao paradigma da ciência moderna, ainda que a concepção mencionada em segundo lugar represente, dentro deste paradigma, um sinal de crise e contenha alguns dos componentes da transição para um outro paradigma científico.
A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE
São hoje muitos e fortes os sinais de que o modelo de racionalidade científica que acabo de descrever em alguns dos seus traços principais atravessa uma profunda crise. Defenderei nesta secção: primeiro, que essa crise é não só profunda como irreversível; segundo, que estamos a viver um período de revolução científica que se iniciou com Einstein e a mecânica quântica e não se sabe ainda quando acabará; terceiro, que os sinais nos permitem tão-só especular acerca do paradigma que emergirá deste período revolucionário mas que, desde já, se pode afirmar com segurança que colapsarão as distinções básicas em que assenta o paradigma dominante e a que aludi na secçãoprecedente.
A crise do paradigma dominante é o resultado interactivo de uma pluralidade de condições. Distingo entre condições sociais e condições teóricas. Darei mais atenção às condições teóricas e por elas começo.
Einstein constitui o primeiro rombo no paradigma da ciência moderna, um rombo, aliás, mais importante do que o que Einstein foi subjectivamente capaz de admitir. Um dos pensamentos mais profundos de Einstein é o da relatividade da simultaneidade. Einstein distingue entre a simultaneidade de acontecimentos presentes no mesmo lugar e a simultaneidade de acontecimentos distantes, em particular de acontecimentos separados por distâncias astronómicas. Em relação a estes últimos, o problema lógico a resolver é o seguinte: como é que o observador estabelece a ordem temporal de acontecimentos no espaço? Certamente por medições davelocidade da luz, partindo do pressuposto, que é fundamental à teoria de Einstein, que não há na natureza velocidade superior à da luz. No entanto, ao medir a velocidade numa direcção única (de A a B), Einstein defronta-se com um círculo vicioso: a fim de determinar a simultaneidade dos acontecimentos distantes é necessário conhecer a velocidade; mas para medir a velocidade é necessário conhecer a simultaneidade dos acontecimentos. Com um golpe de génio, Einstein rompe com este círculo, demonstrando que a simultaneidade de acontecimentos distantes não pode ser verificada, pode tão-só ser definida. É, portanto, arbitrária e daí que, como salienta Reichenbach, quando fazemos medições não pode haver contradições nos resultados uma vez que estes nos devolverão a simultaneidade que nós introduzimos por definição no sistema de medição (23). Esta teoria veio revolucionar as nossas concepções de espaço e de tempo.
23 H. Reichenbach, From Copernicus to Einstein. Nova Iorque, Dover Publications, 1970, p. 60.
(Continua)
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciencias (6)
(Continuação)
Reconhece-se que essas diferenças actuam contra os fenómenos sociais, ou seja, tornam mais difícil o cumprimento do cânone metodológico e menos rigoroso o conhecimento a que se chega, mas não há diferenças qualitativas entre o processo científico neste domínio e o que preside ao estudo dos fenómenos naturais. Para estudar os fenómenos sociais como se fossem fenómenos naturais, ou seja, para conceber os factos sociais como coisas, como pretendia Durkheim (18) , o fundador da sociologia académica, é necessário reduzir os factos sociais às suas dimensões externas, observáveis e mensuráveis. As causas do aumento da taxa de suicídio na Europa do virar do século não são procuradas nos motivos invocados pelos suicidas e deixados em cartas, como é costume, mas antes a partir da verificação de regularidades em função de condições tais como o sexo, o estado civil, a existência ou não de filhos, a religião dos suicidas(19). Porque essa redução nem sempre é fácil e nem sempre se consegue sem distorcer grosseiramente os factos ou sem os reduzir a quase irrelevância, as ciências sociais têm um longo caminho a percorrer no sentido de se compatibilizarem com os critérios de cientificidade das ciências naturais. Os obstáculos são enormes mas não são insuperáveis. Ernest Nagel, em The Structure of Science, simboliza bem o esforço desenvolvido nesta variante para identificar os obstáculos e apontar as vias da sua superação. Eis alguns dos principais obstáculos: as ciências sociais não dispõem de teorias explicativas que lhes permitam abstrair do real para depois buscar nele, de modo metodologicamente controlado, a prova adequada; as ciências sociais não podem estabelecer leis universais porque os fenómenos sociais são historicamente condicionados e culturalmente determinados; as ciências sociais não podem produzir previsões fiáveis porque os seres humanos modificam o seu comportamento em função do conhecimento que sobre ele se adquire; os fenómenos sociais são de natureza subjectiva e como tal não se deixam captar pela objectividadedo comportamento; as ciências sociais não são objectivas porque o cientista social não pode libertar-se, no acto de observação, dos valores que informam a sua prática em geral e, portanto,também a sua prática de cientista(20).
Em relação a cada um destes obstáculos, Nagel tenta demonstrar que a oposição entre as ciências sociais e as ciências naturais não é tão linear quanto se julga e que, na medida em que há diferenças, elas são superáveis ou negligenciáveis. Reconhece, no entanto, que a superação dos obstáculos nem sempre é fácil e que essa é a razão principal do atraso das ciências sociais em relação às ciências naturais. A ideia do atraso das ciências sociais é a ideia central da argumentação metodológica nesta variante, e, com ela, a ideia de que esse atraso, com tempo e dinheiro, poderá vir a ser reduzido ou mesmo eliminado.
Na teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn o atraso das ciências sociais é dado pelo carácter pré-paradigmático destas ciências, ao contrário das ciências naturais, essas sim, paradigmáticas.
A segunda [variante] vertente reivindica para as ciências sociais um estatuto metodológico próprio. Os obstáculos que há pouco enunciei são, segundo esta vertente, intransponíveis. Para alguns, é a própria ideia de ciência da sociedade que está em causa, para outros trata-se tão-só de empreender uma ciência diferente. O argumento fundamental é que a acção humana é radicalmente subjectiva. O comportamento humano, ao contrário dos fenómenos naturais, não pode ser descrito e muito menos explicado com base nas suas características exteriores e objectiváveis, uma vez que o mesmo acto externo pode corresponder a sentidos de acção muito diferentes. A ciência social será sempre uma ciência subjectiva e não objectiva como as ciências naturais; tem de compreender os fenómenos sociais a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem às suas acções, para o que é necessário utilizar métodos de investigação e mesmo critérios epistemológicos diferentes dos correntes nas ciências naturais, métodos qualitativos em vez de quantitativos, com vista a obtenção de um conhecimento intersubjectivo, descritivo e compreensivo, em vez de um conhecimento objectivo, explicativo e nomotético.
Esta concepção de ciência social reconhece-se numa postura antipositivista e assenta na tradição filosófica da fenomenologia e nela convergem diferentes variantes, desde as mais moderadas (como a de Max Weber) (21) até às mais extremistas (como a de Peter Winch) (22).
18 B. Durkheim, As Regras do Método Sociológico. Lisboa, Presença, 1980.
19 B. Durkheim, O Suicídio. Lisboa, Presença, 1973.
20 Ernest Nagel, The Structure of Science. Problems in the Logic of Scientific Explanation. Nova Iorque, Harcourt, Brace &
World, 1961, pp. 447 e ss.
21 Max Weber, Methodologischen Schriften. Frankfurt, Fischer, 1968.
(Continua)
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências (5)
(Continuação)
O determinismo mecanicista é o horizonte certo de uma forma de conhecimento que se pretende utilitário e funcional, reconhecido menos pela capacidade de compreender profundamente o real do que pela capacidade de o dominar e transformar. No plano social, é esse também o horizonte cognitivo mais adequado aos interesses da burguesia ascendente que via na sociedade em que começava a dominar o estádio final da evolução da humanidade (o estado positivo de Comte; a sociedade industrial de Spencer; a solidariedade orgânica de Durkheim). Daí que o prestígio de Newton e das leis simples a que reduzia toda a complexidade da ordem cósmica tenham convertido a ciência moderna no modelo de racionalidade hegemónica que a pouco e pouco transbordou do estudo da natureza para o estudo da sociedade. Tal como foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade. Bacon, Vico e Montesquieu são os grandes precursores.
Bacon afirma a plasticidade da natureza humana e, portanto, a sua perfectibilidade, dadas as condições sociais, jurídicas e políticas adequadas, condições que é possível determinar com rigor(15). Vico sugere a existência de leis que governam deterministicamente a evolução das sociedades e tornam possível prever os resultados das acções colectivas. Com extraordinária premonição Vico identifica e resolve a contradição entre a liberdade e a previsibilidade da acção humana individual e a determinação e previsibilidade da acção colectiva(16). Montesquieu pode ser considerado um precursor da sociologia do direito ao estabelecer a relação entre as leis do sistema jurídico, feitas pelo homem, e as leis inescapáveis da natureza(17). No século XVIII este espírito precursor é ampliado e aprofundado e o fermento intelectual que daí resulta, as luzes, vai criar as condições para a emergência das ciências sociais no século XIX. A consciência filosófica da ciência moderna, que tivera no racionalismo cartesiano e no empirismo baconiano as suas primeiras formulações, veio a condensar-se no positivismo oitocentista.
A primeira variante [vertente] - cujo compromisso epistemológico está bem simbolizado no nome de “física social” com que inicialmente se designaram os estudos científicos da sociedade - parte do pressuposto que as ciências naturais são uma aplicação ou concretização de um modelo de conhecimento universalmente válido e, de resto, o único válido.
15B ac on, ob. cit. .
16 Vico, Scienza Nuova inOp er e. Milão, Riccardi, 1953.
17 Montesquieu, L'Esprit des Lois. Paris, Les Belles-Lettres, 1950.
(Continua)
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências (2)
(Continuação)
Há alguma razão de peso para substituirmos o conhecimento vulgar que temos da natureza e da vida e que partilhamos com os homens e mulheres da nossa sociedade pelo conhecimento científico produzido por poucos e inacessível à maioria? Contribuirá a ciência para diminuir o fosso crescente na nossa sociedade entre o que se é e o que se aparenta ser, o saber dizer e o saber fazer, entre a teoria e a prática? Perguntas simples a que Rousseau
responde, de modo igualmente simples, com um redondo não.
Estávamos então em meados do século XVIII, numa altura em que a ciência moderna, saída da revolução científica do século XVI, pelas mãos de Copérnico, Galileu e Newton, começava a deixar os cálculos esotéricos dos seus cultores para se transformar no fermento de uma transformação técnica e social sem precedentes na história da humanidade. Uma fase de transição, pois, que deixava perplexos os espíritos mais atentos e os fazia reflectir sobre os fundamentos da sociedade em que viviam e sobre o impacto das vibrações a que desejam ser sujeitos por via da ordem científica emergente. Hoje, duzentos anos volvidos, somos todos protagonistas e produtos dessa nova ordem, testemunhos vivos das transformações que ela produziu. Contudo, não o somos, em 1985, do mesmo modo quo o éramos há quinze ou vinte anos. Por razões que alinho adiante, estamos de novo perplexos, perdemos a confiança epistemológica; instalou-se em nós uma sensação de perda irreparável tanto mais estranha quanto não sabemos ao certo o que estamos em vias de perder; admitimos mesmo, noutros momentos, que essa sensação de perda seja apenas a cortina do medo atrás da qual se escondem as novas abundâncias da nossa vida individual e colectiva. Mas mesmo aí volta a perplexidade de não sabermos o que abundará em nós nessa abundância.
Daí a ambiguidade e complexidade do tempo científico presente a que comecei por aludir. Daí também a ideia, hoje partilhada por muitos, de estarmos numa fase do transição. Daí finalmente a urgência de dar resposta a perguntas simples, elementares, inteligíveis. Uma pergunta elementar é uma pergunta quo atinge o magma mais
profundo da nossa perplexidade individual e colectiva com a transparência técnica de uma fisga. Foram assim as perguntas de Rousseau; terão de ser assim as nossas. Mais do que isso, duzentos e tal anos depois, as nossas perguntas continuam a ser as de Rousseau. Estamos de novo regressados à necessidade de perguntar pelas relações entre aciência e a virtude, pelo valor do conhecimento dito ordinário ou vulgar que nós, sujeitos individuais ou colectivos, criamos e usamos para dar sentido às nossas práticas e que a ciência teima em considerar irrelevante, ilusório e falso; e temos finalmente do perguntar pelo papel de todo o conhecimento científico acumulado no enriquecimento ou no empobrecimento prático das nossas vidas, ou seja, pelo contributo positivo ou negativo da ciência para a nossa felicidade. A nossa diferença existencial em relação a Rousseau é que, se as nossas perguntas são simples, asrespostas sê-lo-ão muito menos. Estamos no fim de um ciclo de hegemonia de uma certa ordem científica. As condições epistémicas das nossas perguntas estão inseridas no avesso dos conceitos que utilizamos para lhes dar resposta. É necessário um esforço de desvendamento conduzido sobre um fio de navalha entre a lucidez e a ininteligibilidade da resposta. São igualmente diferentes e muito mais complexas as condições sociológicas e psicológicas do nosso perguntar. É muito diferente perguntar pela utilidade ou pela felicidade que o automóvel me pode proporcionar se a pergunta é feita quando ninguém na minha vizinhança tem automóvel, quando toda a gente tem excepto eu ou quando eu próprio tenho carro há mais do vinte anos.
Teremos forçosamente de ser mais rousseaunianos no perguntar do que no responder. Começarei por caracterizar sucintamente a ordem científica hegemónica. Analisarei depois os sinais da crise dessa hegemonia, distinguindo entre as condições teóricas e as condições sociológicas da crise. Finalmente especularei sobre o perfil do uma nova ordem científica emergente, distinguindo de novo entre as condições teóricas e as condições sociológicas da sua emergência. Este percurso analítico será balizado pelas seguintes hipóteses do trabalho: primeiro, começa a deixar de fazer sentido a distinção entre ciências naturais e ciências sociais; segundo, a síntese que há que operar entre elas tem como pólo catalisador as ciências sociais; terceiro, para isso, as ciências sociais terão de recusar todas as formas de positivismo lógico ou empírico ou de mecanicismo materialista ou idealista com a consequente revalorização do que se convencionou chamar humanidades ou estudos humanísticos; quarto, esta síntese não visa uma ciência unificada nem sequer uma teoria geral, mas tão-só um conjunto de galerias temáticas onde convergem linhas de água que até agora concebemos como objectos teóricos estanques; quinto, à medida que se der esta síntese, a distinção hierárquica entre conhecimento científico e conhecimento vulgar tenderá a desaparecer e a prática será o fazer e o dizer da filosofia da prática.
(Continua)
Boaventura de Sousa Santos Um Discurso Sobre as Ciências (1)
Este texto é uma versão ampliada da Oração de Sapiência proferida na abertura solene das aulas na Universidade de Coimbra no ano lectivo de 1985/86.
Estamos a quinze anos do final do século XX. Vivemos num tempo atónito que ao debruçar-se sobre si próprio descobre que os seus pés são um cruzamento de sombras, sombras que vêm do passado que ora pensamos já não sermos, ora pensamos não termos ainda deixado de ser, sombras que vêm do futuro que ora pensamos já sermos, ora pensamos nunca virmos a ser. Quando, ao procurarmos analisar a situação presente das ciências no seu conjunto, olhamos para o passado, a primeira imagem é talvez a de que os progressos científicos dos últimos trinta anos são de tal ordem dramáticos que os séculos que nos precederam - desde o século XVI, onde todos nós, cientistas modernos, nascemos, até ao próprio século XIX – não são mais que uma pré-história longínqua.
Mas se fecharmos os olhos e os voltarmos a abrir, verificamos com surpresa que os grandes cientistas que estabeleceram e mapearam o campo teórico em que ainda hoje nos movemos viveram ou trabalharam entre o século XVIII e os primeiros vinte anos do século XX, de Adam Smith e Ricardo a Lavoisier e Darwin, de Marx e Durkheim a Max Weber e Pareto, de Humboldt e Planck a Poincaré e Einstein. E de tal modo é assim que é possível dizer que em termos científicos vivemos ainda no século XIX e que o século XX ainda não começou, nem talvez comece antes de terminar. E se, em vez de no passado, centrarmos o nosso olhar no futuro, do mesmo modo duas imagens contraditórias nos ocorrem alternadamente. Por um lado, as potencialidades da tradução tecnológica dos conhecimentos acumulados fazem-nos crer no limiar de uma sociedade de comunicação e interactiva libertada das carências e inseguranças que ainda hoje compõem os dias de muitos de nós: o século XXI a começar antes de começar. Por outro lado, uma reflexão cada vez mais aprofundada sobre os limites do rigor científico combinada com os perigos cada vez mais verosímeis da catástrofe ecológica ou da guerra nuclear fazem-nos temer que o século XXI termine antes de começar.
Recorrendo à teoria sinergética do físico teórico Hermann Haken, podemos dizer que vivemos num sistema visual muito instável em que a mínima flutuação da nossa percepção visual provoca rupturas na simetria do que vemos.
Assim, olhando a mesma figura, ora vemos um vaso grego branco recortado sobre um fundo preto, ora vemos dois rostos gregos de perfil, frente a frente, recortados sobre um fundo branco. Qual das imagens é verdadeira?
Ambas e nenhuma. É esta a ambiguidade e a complexidade da situação do tempo presente, um tempo de transição, síncrone com muita coisa que está além ou aquém dele, mas descompassado em relação a tudo o que o habita.
Tal como noutros períodos de transição, difíceis de entender e de percorrer, é necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode fazer mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade. Tenho comigo uma criança que há precisamente duzentos e trinta e cinco anos fez algumas perguntas simples sobre as ciências e os cientistas. Fê-las no início de um ciclo de produção científica que muitos de nós julgam estar agora a chegar ao fim. Essa criança é Jean-Jacques Rousseau. No seu célebre Discours sur les Sciences et les Arts (1750) Rousseau formula várias questões enquanto responde à que, também razoavelmente infantil, lhe fora posta pela Academia de Dijon (1). Esta última questão rezava assim: o progresso das ciências e das artes contribuirá para purificar ou para corromper os nossos costumes? Trata-se de uma pergunta elementar, ao mesmo tempo profunda e fácil de entender. Para lhe dar resposta - do modo eloquente que lhe mereceu o primeiro prémio e algumas inimizades - Rousseau fez as seguintes perguntas não menos elementares: há alguma relação entre a ciência e a virtude?
1- Jean Jacques Rousseau, Discours sur les Sciences et les Arts, in Oevres Completes, vol. 2, Paris, Seuil, pp. 52 e ss.
(Continua)
coordenação de Augusta Clara de Matos
Rui de Oliveira Agenda Cultural 14 a 20/2/2011
Na Segunda 14/2 - Continua o ciclo "Jacques Démy" no Institut Franco-Portugais, às 19h, com a exibição de "La Baie des Anges" (1963), comédia dramática de Jacques Démy com música de Michel Legrand, onde intervêm Jeanne Moreau, Claude Mann e Henri Nassiet (entrada livre).
Para aqueles que às míticas Segundas-feiras procuram as últimas estreias, propomos do realizador japonês de 75 anos Koji Wakamatsu a sessão dupla Exército Vermelho Unido (United Red Army) e O Bom Soldado (Kyatapiru), uma "análise cruel da mentalidade revolucionária e do "heroísmo" de guerra", com boa cotação crítica.
Na Reitoria da Universidade de Lisboa (UL), as conferências comemorativas do I Centenário serão de José Esperança Pina ("Anatomia Artística da Pintura de Miguel Ângelo na Capela Sistina") e Manuel Costa Cabral ("Saídas Profissionais") na Sala de Conferências das 18 às 20h (entrada livre). Ainda na Reitoria pode visitar-se (até 27 de Fevereiro) a mostra de arte "espaço_arte@ulis2011", constituída por obras de 55 artistas desde Alberto Faria a Xana (alfabeticamente).
Na Terça 15/2 - Às 19h, o pianista russo Boris Berezovsky regressa a uma das suas obras favoritas (os estudos de Chopin, na leitura de Godowsky) tocando Scherzo,op.39,Polaca-Fantasia,op.61 e Improviso,op.51 de Fryderyck Chopin e ainda Doze Estudos de execução transcendente de Franz Liszt. O concerto ocorre no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).
A 2ª conferência do ciclo "O Fascínio da Economia" por João Ferreira do Amaral decorre no Pequeno Auditório da Culturgest sobre o tema "A Economia Positiva: Microeconomia e Macroeconomia", às 18h 30m.
Neste dia as conferências comemorativas do I Centenário da UL serão de Fernando Rosas ("Hegemonia e Memória. Uma luta dos dias de hoje") e Francisco Bethencourt ("Portugal na História do Mundo"), às 18h (S.de Conferências da Reitoria).
Na Quarta 16/2 - Na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II estreia, às 21h 30m, a peça de Arthur Schnitzler A Cacatua Verde, em tradução de Frederico Lourenço e encenação de Luis Miguel Cintra. A acção desta ironia histórica decorre em 1789 em plena Revolução Francesa e tem como actores o próprio L.M.Cintra, além de Rita Blanco, João Grosso, Luis Lima Barreto, entre outros. Prolongar-se-á de Quarta a Domingo até 27/3.
Na Casa Fernando Pessoa, às 18h 30m, o encontro "Poetas do Mediterrâneo", motivado pelo lançamento pela editora Gallimard (em colaboração com os vários Institutos de línguas latinas) dum livro com este nome, porá à conversa, perante público, os poetas Nuno Júdice, Ana Marques Gastão, Jaime Siles, Valerio Magrelli, Jean-Pierre Siméon, Casimirio de Brito, Gastão Cruz e Vasco Graça Moura. Encontros semelhantes com alguns destes participantes ocorrem nesta semana no Instituto Cervantes (15/2), na FNAC Chiado (17/2) e no Institut Franco-Portugais (18/2).
Miguel Galvão Teles ("O caso de Timor Leste - Portugal c.Austrália - no Tribunal Internacional de Justiça") e Martim de Albuquerque ("Considerações à volta da Soberania") serão os conferencistas no centenário da UL, às 18h na Sala de Conferências da Reitoria.
Na Quinta 17/2 - No Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, às 21h, a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Christian Zacharias (que também actuará ao piano), interpreta o Concerto para Piano nº27 de Wolfgang Amadeus Mozart e a Sinfonia nº3 de Anton Bruckner. Repete na Sexta 18, às 19h.
O pianista Artur Pizzarro efectua, no Pequeno Auditório do CCB às 21h, o seu sexto concerto do projecto de interpretação da obra integral de Fr. Chopin para piano. Abrangerá o período de 1836 a 39, constando do programa Duas Polonaises, Quatro Mazurcas (op.30 e 33),um Nocturno, uma Valsa, um Scherzo, a Variação nº6 e 24 Prelúdios.
No mesmo CCB, às 22h na recepção do Centro de Reuniões, Paulo Barros (piano) e Adriana Mink (voz brasileira) actuarão juntos noutro concerto de jazz "Dose Dupla" (entrada livre).
Na Câmara Municipal de Lisboa (sala do Arquivo) às 18h o Duo de Harpa e Percussão da Orquestra Metropolitana Stéphanie Manzo (harpa)/ Fernando Llopis (percussão) tocará Claude Debussy Prelúdios (1.º livro), César Franck Prelúdio coral e variações, Eric Satie Gymnopédies e Claude Debussy Quatro epígrafes antigas.
Na sede da Orquestra Metropolitana, às 18h, Liviu Scripcaru (violino) executará peças contemporâneas de César Viana (Batuk em estreia absoluta), João Pedro Oliveira (Integrais I), Ian Mikirtoumov (Lágrimas -Slyezi em estreia absoluta), Christopher Bochmann (Essay III e Partita n.º 2 em estreia nacional).
Às 18h 30m, na Sociedade Portuguesa de Autores, solistas da Metropolitana (Carlos Damas violino, José Teixeira violino, Valentin Petrov viola, Jian Hong violoncelo e Anna Tomasik piano) interpretarão a História do Tango de Astor Piazzolla e Quinteto com Piano em Mi bemol maior de Robert Schumann.
Abre na Fundação Gulbenkian (Aud.2) (e encerra a 19/2) o colóquio internacional "Image in Science and Art" que visa reflectir sobre se "...depois da voz e da escrita, é a imagem que adquire uma inaudita relevância. Ela determina a nossa vida de forma cada vez mais decisiva, tanto a nossa maneira de ver o mundo como a forma de nele inscrevermos a nossa existência individual e colectiva" (entrada livre).
Em ligação com este evento e recém-inaugurada no Pavilhão do Conhecimento-Ciência Viva, a exposição CorpoIMAGEM (representações do corpo na ciência e na arte) resulta duma colaboração com o Centro da Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa e merece uma visita (até fim de Março 2011).
Nela podem ver-se representações científicas e artísticas do corpo desde o século XIX até à actualidade (quer corpos nus desenhados na simplicidade e naturalidade da sua superfície por Columbano ou Soares dos Reis, corpos complexos e fragmentados de Amadeo de Souza-Cardoso a Sérgio Pombo e Helena Almeida, ou do lado da ciência, esqueletos do homem e da mulher tal como eram representados nos tratados anatómicos do século XIX, ou proteínas que hoje a ciência assegura constituírem esse outro “esqueleto” das células humanas).
No Grande Auditório da Culturgest, às 21h 30m, o conjunto Pop Dell'Arte (onde se mantem o vocalista João Peste e o guitarrista Zé Pedro Moura) festeja 26 anos de carreira à volta do seu último CD Contra Mundum (2010).
No OndaJazz, às 22h 30m, Bárbara Lagido passeará a voz pelo universo de Tom Waits, acompanhada por Alexandre Diniz (piano e acordeão), António Pinto (guitarra) e Yuri Daniel (contrabaixo).
Neste dia as conferências comemorativas do I Centenário da UL serão de António Marques ("A Reflexão Filosófica: Limites e Dinâmica") e Luciano Pinto Ravara ("O valor do conhecimento"), às 18h (S.de Conferências da Reitoria).
Na Universidade Católica (às 18h na sala 511), promovida pelo seu Instituto de Estudos Políticos, pronuncia a palestra "The Neo-liberal State and the Rule of Law" o Lord Plant of Highfield, no âmbito das palestras anuais Alexis de Tocqueville 2010/2011 (entrada livre).
Os nostálgicos dos Velvet Underground não devem perder em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente às 21h 30m (o site refere 20h), John Cale & Band, que visitará também Leiria (24), Torres Vedras (25) e Torres Novas (26), além de cidades nortenhas.
Na Sexta 18/2 - No Grande Auditório do CCB, às 21h, os encenadores Alain Platel e Frank van Laecke criam, com a actriz Vanessa van Durme e os Ballets C de la B, "uma performance teatral sobre a esperança e as ilusões acarinhadas ou perdidas" que denominaram Gardenia. Repete no Sábado 19.
No São Luiz Teatro Municipal inicia-se o "Ciclo de Teatro do Porto ? De António Pedro à Fábrica da Rua da Alegria", comissariado por João Pedro Vaz, com Era Preciso Fazer as Coisas, filme de Margarida Cardoso sobre a encenação por Nuno Carinhas do Tio Vânia de Tchekov. Será feita a evocação de Isabel Alves Costa, intérprete dessa peça.
No Palácio da Independência, às 18h30m, o Quarteto com Fagote da Metropolitana (Franz Dörsam fagote, Adrian Florescu violino, Elena Komissarova violino, Gerardo Gramajo viola e Ana Cláudia Serrão violoncelo) tocarão Antonín Reicha Quinteto em Si bemol maior e duas peças de Johann Evangelist Brandl Quinteto em Si bemol maior, Op. 52/1 e Quinteto em Fá maior, Op. 52/2. O Concerto, comentado por Rui Campos Leitão, é repetido no Sábado, 19 de Fevereiro, às 17h00 no Museu do Oriente.
Na Casa Fernando Pessoa, às 18h 30m, haverá um recital por solistas da Orquestra Metropolitana de Lisboa onde Ercole de Conca, em contrabaixo, e Alexandra Simpson, ao piano, interpretam a Sonata Arpeggione em Lá menor, D. 821 de Franz Schubert e a Sonata n.º 2 em Sol menor, Op. 5 de Ludwig van Beethoven.
Na Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, às 19h, o Duo de Violinos da Metropolitana (Eldar Nagiev e Anzhela Akopyan) tocará Georg Philipp Telemann Sonata n.º 4 em Mi menor, Béla Bartók Cadernos 3 e 4 (dos 44 Duos para Violinos) e Henryk Wieniawski Quatro estudos e Caprichos, Op. 18.
Ainda às 19h, nos Armazens El Corte Inglés, em concerto comentado por Alexandre Delgado, o Duo de Flauta e Cravo da Metropolitana (Nuno Inácio, flauta e Marcos Magalhães, cravo) executará G.P. Telemann Sonata para Flauta e Continuo em Mi menor, J.F. Kleinknecht Sonata de Câmara em Si menor, Carl Philipp Emanuel Bach Sonata para Flauta em Sol maior e J.G. Müthel Sonata para Flauta em Ré maior.
Também às 19h, no Liceu de Camões, o Trio Russo da Metropolitana (Alexêi Tolpygo violino, Peter Flanagan violoncelo e Savka Konjikusic piano) tocará Chostakovich Trio com Piano n.º 1 em Dó menor e Rachmaninov Trio elegíaco em Ré menor. O concerto é repetido no Sábado, 19 de Fevereiro, às 21h30, no Cinema-Teatro Joaquim d'Almeida do Montijo.
O novo disco do Júlio Resende Trio You taste like a Song será apresentado num concerto com o mesmo nome no Grande Auditório do CCB (21h 30m), onde os intérpretes serão Júlio Resende ao piano, Matt Penman no contrabaixo e Joel Silva na bateria.
No OndaJazz, a premiada harpista brasileira Cristina Braga toca e canta às 22h 30m desde bossa nova a temas clássicos, acompanhada por Ricardo Medeiros (baixo e contrabaixo) e Sílvio Franco (bateria). Esta intérprete repete o show "Feito um Peixe" nas FNAC do Chiado (às 18h) e do Colombo (às 21h 30m) (entrada livre).
No ciclo de palestras "Ciência em Português" da Universidade de Lisboa, o tema "Quantos anéis de ouro são produzidos numa Supernova?" terá como orador Daniel Galaviz Redondo do Centro de Física Nuclear da FCUL, apresentado pelo astrónomo Rui Agostinho. Esta conferência sobre "aquelas estrelas...grandes fábricas de elementos do nosso Universo" ocorre na Sala de Conferências da Reitoria, às 18h (entrada livre).
No Sábado 19/2 - Às 18h, ao Grande Auditório da FCG regressam as transmissões da Metropolitan Opera, esta em diferido. Será vista e ouvida a ópera Nixon in China de John Adams, dirigida pelo próprio J.Adams e produzida por Peter Sellars, tendo como intérpretes as sopranos Kathleen Kim e Janis Kelly e o tenor Robert Brubaker, entre outros.
No Grande Auditório da Culturgest, às 18h, far-se-á ouvir o Duo de Pianos de Luísa Tender e Jill Lawson que interpretará O Quebra Nozes de Tchaikovsky, La Valse de Ravel, Quadros de Agosto de Fernando Lapa e a Suite nº2 de Rachmaninov.
No São Luiz TM, às 21h, Gonçalo Amorim reencena A Morte de um Caixeiro Viajante de Arthur Miller que António Pedro havia encenado com o Teatro Experimental do Porto em 1954 e 58. Repete no Domingo 20/2.
Às 16h00, no Museu da Música, o Quinteto de Sopros da Metropolitana (Janete Santos flauta, Bryony Middleton oboé, Jorge Camacho clarinete, Catherine Stockwell fagote e Jérôme Arnouf trompa) interpretará Três Peças Breves para Quinteto de Sopros de Jacques Ibert, Seis Bagatelas de György Ligeti, Summer Music, Op. 31 de Samuel Barber e Quinteto de Sopros, Op. 43 de Carl August Nielsen.
O concerto de estreia da Big Band Junior, a orquestra-escola de jazz fruto da parceria CCB/Hot Clube de Portugal, tem lugar às 21h no Pequeno Auditório do CCB. Com direcção musical de Claus Nymark e artística de Alexandra Ávila e João Godinho, estes jóvens músicos tocarão Duke Ellington, Count Basie e outros arranjos mais modernos para big band.
No OndaJazz, às 22h 30m, o saxofonista Cesar Cardoso apresenta com quatro outros músicos o seu disco Half Step (2010).
No Domingo 20/2 - No Salão Nobre do Teatro Nacional de São Carlos prosseguirá (às 18h) a série "Do Barroco ao Clássico" com a 2ª sessão onde a Orquestra Sinfónica Portuguesa (com direcção musical de Julia Jones) tocará de George Frideric Haendel Música Aquática, Suite nº2, em Ré Maior, de Bela Bartok Divertimento para cordas, Sz.113 e de Wolfgang A. Mozart Sinfonia nº35, em Ré Maior, K.385, Haffner.
Para os apreciadores de outras artes, aconselharíamos o encerrar da semana com a visita (já muito referida no blogue) à magnífica exposição "PRIMITIVOS PORTUGUESES 1450-1550 O Século de Nuno Gonçalves" (e de preferência em visita guiada), patente no Museu Nacional de Arte Antiga e que encerra brevemente a 27 de Fevereiro.
NOTA: Chama-se a atenção para quem for na véspera, Sábado às 18h, haverá o atractivo suplementar da exibição, seguida de mesa redonda com a presença do realizador, do filme Painéis de São Vicente de Fora, Visão Poética de Manoel de Oliveira.
Então, como é usual, boas escolhas, caros leitores !
coordenação de Augusta Clara de Matos
Hoje Falamos de...Ciência
(David de Michelangelo)
AMANHÃ
Inauguração da exposição corpoIMAGEM
Pavilhão do Conhecimento - 12 Fevereiro 2011 - 17h00
Exmo.(a) Senhor(a)
O Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa e o projecto "A Imagem na Ciência e na Arte" têm o prazer de o(a) convidar para a inauguração da exposição CorpoIMAGEM – Representações do Corpo na Ciência e na Arte, que terá lugar no Pavilhão do Conhecimento (Ciência Viva), no dia 12 de Fevereiro de 2011, Sábado, às 17h00.
Esta exposição, promovida pela Agência Nacional Ciência Viva e pelo Centro de Filosofia das Ciências da UL e feita em parceria com a Faculdade de Belas-Artes da UL, o Museu de Medicina da FMUL e a Sociedade Nacional de Belas-Artes, inscreve-se no programa final do projecto FCT «A Imagem na Ciência e na Arte» e associa-se às Comemorações dos 100 anos da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Ciências e da Faculdade de Medicina.
Mais informações em http://ica.fc.ul.pt/exposicao.html.
Contamos com a sua presença.
< Convite >
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Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Campo Grande, Edifício C4, Piso 3, Gabinete 4.3.24
1749-016 Lisboa
PORTUGAL
coordenação de Augusta Clara de Matos
Hoje Falamos de...Ciência
O Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa informou-nos:
A Fim de Século – Edições e o Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL)
apresentam a sua mais recente publicação
AS IMAGENS COM QUE A CIÊNCIA SE FAZ
Olga Pombo e Silvia Di Marco (orgs.)
António Bracinha Vieira, Guida Casella, Artur Ramos,
Ana de Barros e Bruno Silva Santos, Marina do Vale,
Raquel Gonçalves Maia, Dinis Pestana,
Paulo Almeida, David Luz, Fátima M. Sousa,
Ricardo Santos, Carlos Marques da Silva,
Maria Estela Jardim, Marília Peres e Fernanda Madalena Costa,
Maria Beatriz Carmo e Ana Paula Cláudio, Teresa Chambel
(autores)
Disponível dia 19 de Janeiro de 2011
PVP (c/ IVA): € 25,00
ISBN: 978-972-754-279-6
288 páginas
Sobre o livro, diz Olga Pombo:
"As ciências sempre fizeram imagens. Desde a geometria grega que o destino da ciência se cruza, não apenas com a palavra escrita, mas também com o delinear da figura, com o desenho da forma, com a configuração do espaço. Também hoje, porventura mais do que nunca, as ciências continuam a fazer-se de e com imagens que elas mesmas produzem. Imagens cada vez mais sofisticadas, que envolvem processos de produção sempre novos que a ciência mesma vai tornando possíveis.
Imagens que, ontem como hoje, estiveram sempre lá, não apenas para comunicar a outros um saber já constituído, não apenas para tornar fácil o que é difícil, para dar a ver o que já se sabe, mas – suspeitamos nós – para contribuir, de forma decisiva, para a constituição desse saber, para compreender o que sem elas não se compreenderia.
Todos olhámos, mas nunca vimos, as imagens com que a ciência sempre se fez. Como se elas não estivessem lá. Como se elas não tivessem que ter estado lá. Pretendemos contrariar este alheamento, esta espécie de desatenção face ao lugar das imagens em ciência. Que funções lhes são atribuídas? Que papel desempenham? Que tarefas lhes estão cometidas? Este livro nasce dessa vontade. Ir ver com que imagens a ciência se faz. Claro está que não nos foi possível obter uma visão panorâmica ou exaustiva. Como seria possível? Contentámo-nos com alguns exemplos.
Ainda assim – incompleta e precária –, pensamos que esta amostra, e os quinze estudos que a compõem, é merecedora da vossa atenção"
O CFCUL comunicou-nos ainda:
Vimos lembrá-los que na próxima Quarta-feira terá início o Colóquio Internacional Poincaré. Problems and Perspectives.
Esta actividade é organizada pelo Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL) e pelo Projecto Poincaré (Projecto FCT, PTDC/FIL/64748/2006).
O Colóquio decorrerá nos dias 26 e 27 Janeiro 2011, no Anfiteatro da Fundação da Faculdade de Ciências da UL (Edifício C1, Piso 3).
Dentre os oradores, teremos:
Gerhard Heinzman - Université Nancy 2, Archives Henri Poincaré
Shahid Rahman - Université Lille 3
Reinhard Kahle - Universidade Nova de Lisboa/Universität Tübingen
Michel Paty - Université Paris 7, Denis Diderot
António Augusto Passos Videira - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Augusto José Franco de Oliveira - Centro de Filosofia das Ciências da UL
Olga Pombo - Centro de Filosofia das Ciências da UL
Henrique Guimarães - Centro de Filosofia das Ciências da UL
Isabel Serra - Centro de Filosofia das Ciências da UL
Rosário Laureano - Centro de Filosofia das Ciências da UL, ISCTE-IUL
João Paulo Príncipe - Universidade de Évora
Hassan Tahiri - Centro de Filosofia das Ciências da UL
María de Paz - Centro de Filosofia das Ciências da UL, Univ. Complutense Madrid
Carlos Ramos - Universidade de Évora
Laurent Rollet - Université Henri Poincaré (Nancy 1), Archives Henri Poincaré
Scott Walter - Université Nancy 2, Archives Henri Poincaré
Maiores detalhes, favor aceder à: PÁGINA DO COLÓQUIO
http://cfcul.fc.ul.pt/coloquios/coloquio_poincare/coloquiopoincare.htm
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