Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2011

Se levarem Vénus... - por Ethel Feldman

Mais um capítulo só para Clara distrair-se. Revejo textos antigos. O do diospiro encaixa no meu livro.
Clara chega sempre sorridente. Fala baixo. Ouve só o que quer.
- Então Ana?
Feliz, digo que escrevi, escrevi, escrevi, escrevi! Na estante todos meus desabafos (alguém conhecido assim condenou a minha escrita). Orgulhosa mostro quase 20 páginas A4.

 


Enquanto acomoda-se no sofá, faço um chá - Flores da Paixão – chá verde com rosas.
Clara avisou-me que ia apontar todos os erros. Aceito como um exercício de humildade.
- Ana, falta a ligação... Não estás a escrever só para ti. Nada é tão óbvio.
- hm
- E depois os diospiros não se descascam!
- Nunca os comi, apenas imaginei.
- Mas está errado amiga. O diospiro abre-se. Chupa-se.
- Deixa-me descacar a fruta Clara. Deixa-me dar dentadas na laranja.
- Eu deixo. Mas está mal. Olha, não te vou largar. Vou ser uma chata. Só vais alterar se achares bem. Mas não te vou poupar.
Hoje, David enviou-me uma mensagem a dizer que eu comesse o fruto como bem quisesse. Quando menos espero apetece-me morder um ananás com casca. Ferir os lábios, sangrar. No meio da dor o suco da fruta a fazer-me feliz.

 
- Quero mostrar-te a carta que escrevi a Cleo quando Gabriel saiu de casa. Quero expulsar a dor que resta. Importas-te?
- Claro que não.
Ontem, disseram-me que uma energia intrusa tomou conta da mim. Baco, Vénus, Sansão e Dalila moram comigo. Se os expulsar o que vai restar de mim?
Estou tão cansada desta convivência! Por isso, não resisto. Que venha à superfície o que sou.
Como sempre, sigo o meu impulso. Meu Deus que procuro eu? Mostrar que valho a pena? Esta modéstia mentirosa. Vou tirando o disfarce. Dalila não me cortes o cabelo!
A febre volta a tomar conta de mim. Deliro. Quero embebedar-me. Esquecer. Tirar a roupa, perder-me de desejo.
Se me levarem Vénus como vou existir?
- Ana. Acorda linda. Vai correr tudo bem. Contenta-te com o que tens.
Água salgada que limpa o meu rosto. Lágrimas uma seguir as outras. Na garganta um nó! Mãe aparece, dá-me o teu colo que eu hoje sou criança de novo.  Faz de conta que me deixo engolir pela onda e tu dizes que sim. Não me puxes para norte mãe, eu quero o sul.
Olha meu corpo cheio de nódoas. Esta é a cor da dor mãe – roxa. Tem um som fundo, quase silencioso. Vem do estômago este grito que ninguém ouve.

o que corrigir nesse texto.

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publicado por Carlos Loures às 11:00
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Terça-feira, 5 de Outubro de 2010

O Zeca fadista e a Amélia cantadeira.

Luis Moreira

O Zeca fadista, canta e toca viola na Baixa de Lisboa e emite uns sons tipo assobio, uma espécie de solista, de gaita de beiços. É um artista que nunca frequentou escola nenhuma de música, nasceu com aquele talento musical, com um ouvido que, se não é "absoluto" é muito próximo, pois ele não faz fífias no meio daquela algazarra. Mas o Zeca, tem outras interessantes caracteristicas. Uma delas é que o Zeca já não tem a idade do tempo em que arrasava as garotas da noite, era só elevar a voz num fado trinado e o mulherio era aos magotes. Agora engordou e empobreceu, mas o Zeca é dos que engorda na barriga e na cara, como não tem dinheiro, usa os óculos escuros comprados quando arrasava o "mulherame" o que faz que os óculos lhe fiquem pendurados na ponta do nariz , mas as astes não lhe chegam às orelhas, o que lhe dá um ar de quem se está rir, mesmo quando canta.

A Amélia cantadeira, é daquelas mulheres pequeninas e magrinhas, de idade indefinida, espreme-se toda para arrancar um som à sua voz já cansada, não engorda por mais que coma, é toda nervos, ajeita o chaile sobre os ombros num tique que lhe ficou da juventude nas casas de fado, fecha os olhos, levanta-se sobre os pés, ah, fadista.

Fui-lhe dizer que ela tinha nascido fadista, bastava olhar para ela, o ar gingão, a voz a trinar, a emoção a tomar conta dela, enquanto o Zeca fazia um dos seus intervalos, tocava viola num compasso repetido mas sem falhas, desconfio que passa pelas brasas e está explicado o uso dos óculos escuros, e ela, no meu tempo os homens morriam por mim, mas só amei o meu, que já lá está, ele "era assim grande como você" e esta frase é um livro aberto, "era", porque já se foi e ela ficou e "grande",porque mesmo magrinha podia bem com ele, coitadinho que não saía da taberna, e depois dormia à porta que quando eu chegava às tantas queria era dormir, não estava para aturar bebedeiras e ataques de ciúmes...
publicado por Luis Moreira às 13:00
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