Carlos MesquitaNo último artigo dizia que os partidos PS e PSD só têm servido para dividir os transmontanos. Na mesma edição do Semanário Transmontano lá vem uma trica, entre as “jotas” desses partidos, a justificar a observação. Os jovens estão a deixar-se arrastar para desavenças em que são os principais prejudicados. Não é possível qualquer associação de juventude ser representativa dos jovens dum lugar, se for constituída apenas por membros de um partido, ou controlada por um partido; uma extensão ou sucursal de um partido não é levada a sério pelo resto da população, jovem ou não. Pode servir o ego dos aprendizes de líder e agradar aos adultos mal formados, que promovem o sectarismo, mas não é maneira de crescer de forma equilibrada e serem úteis à comunidade. Em adultos, na vida profissional, todos vão ter de conviver uns com os outros e com as suas diferenças, sejam políticas, religiosas ou outras. Há um espaço que é o das convicções, onde faz sentido organizarem-se conforme os seus ideais, concepções e ideologias, são os partidos, as igrejas, e agremiações semelhantes. Mas há outro campo onde os partidos não fazem falta enquanto partidos, é nas associações que se querem representativas de sectores mais vastos da sociedade como as organizações de Juventude. A juventude é composta de pessoas com e sem partido, de vários partidos e de partido nenhum; as suas causas ultrapassam as conveniências partidárias, existem para além desses interesses.
Se as associações, quaisquer que sejam, evidenciam servir interesses partidários, devem ser financiadas pelos partidos e não com o dinheiro dos contribuintes. Os jovens militantes partidários têm o mesmo direito que os outros, em participar e serem eleitos nas associações da sua condição, mas manda o bom senso, se querem parecer supra partidários ou independentes, única forma de representar todos os jovens, que tenham nas direcções pessoas de vários partidos e sem partido. Acho que essa é a única forma de acabar com o controlo partidário e o sectarismo político a que várias instituições públicas estão sujeitas. Devia ser uma exigência do Instituto Português da Juventude, suportado financeiramente pelo Orçamento de Estado, e um requisito formal da Câmara de Chaves se por lá morasse também algum bom senso.
Vou contar uma história velha de 36 anos; logo após o 25 de Abril toda a gente sentiu necessidade de se organizar em associações ou comissões, trabalhadores nas empresas, moradores nos locais onde viviam e estudantes nas escolas, onde não havia surgiram quase espontaneamente, os dinamizadores foram aqueles que já tinham alguma experiência associativa. Jovem com alguma traquejo como activista participei nessa tarefa na multinacional onde trabalhava, e numa escola industrial de trabalhadores estudantes que frequentava, formada a Associação numa reunião geral com centenas de participantes, tivemos na segunda reunião a presença (sentada) de um controleiro partidário que não era estudante nem tinha sido convidado, que pediu a palavra para dizer que a Associação de Estudantes ia fazer parte duma Inter-Associações. Não foi, não deixei, nem o resto da direcção deixou, nem o plenário deixou. Fui “corrido”, não da Associação, mas das companhias políticas de antes do 25 de Abril, e a Associação de Estudantes ficou independente de qualquer controlo partidário. Na altura não foi uma opção fácil, como hoje não será simples um militante partidário pôr os interesses de toda a juventude duma cidade acima do seu partido, é uma escolha. Representar todos os jovens, defender a autonomia associativa, ser voz de todos, é a função dos verdadeiros dirigentes, a outra opção é ser delegado dum partido para enquadrar pessoas, chefe de seita, a voz do dono.
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*transcrito de Semanário Transmontano