Sexta-feira, 1 de Julho de 2011

O quebra-cabeças grego semeia a confusão no mercado opaco dos CDS, estes seguros contra o risco de incumprimento por Marie de Verges e Marc Roche

enviado por Julio Marques Mota

 

Introdução

 

Na sequência do  texto anterior onde um dos maiores críticos mundiais dos instrumentos financeiros  chamados CDS.  Satyajit Das,  nos fala da incompetência  das autoridades europeias, aqui temos uma demonstração mais do clara, claríssima, dessa mesma incompetência, com um texto simples sobre CDS.  A crise sob os seus aspectos financeiros rebenta com a falência do Lehman Brothers , é aí diremos que a bolha especulativa explode mas curiosamente a União Europeia foi incapaz, por incompetência, por maldade,  de regular fosse o que fosse dos instrumentos que à crise nos levaram.                                                                                                                                                                                         

 

Os CDS, um dos elementos chaves desse processo, armas de  destruição maciça como os classificou Warren Buffet, e que à falência o primeiro segurador mundial levaram, a AIG,  assim continuaram a ser fortemente utilizados contra a dívida soberana na Europa , a descoberto e a não descoberto e agora…toda a gente tem medo do que eles possam revelar  pelo que a palavra Default é  proibida nas Instâncias Europeias para que não se vislumbre   a incompetência de quem aos destinos da Europa preside e que dá pelo nome de Durão Barroso, futuro doutorado Honnoris causa de uma Universidade low-cost portuguesa.                                                                                                                                                   

 

E tudo isto a fazer lembrar uma tragédia, a de Default da dívida russa onde se inventaram estratagemas e onde se gastaram milhões   para se questionar se um não pagamento era um não pagamento! Afinal, a definição jurídica do  que  pode ser um acontecimento de crédito! Daí que só se possa falar na Europa  em reestruturação voluntária e informal, para que assim não haja nenhuma declaração passível de activar os CDS! É esta a transparência a que os nossos dirigentes nos estão a habituar!

 

Como se diz no texto de Satyajit Das, um terrível acontecimento é um drama , dois acidentes são uma negligência e esta, dizemos nós,  pode ser ou não ser criminosa.A Europa está agora ela ao nível dos comportamentos que derivavam das bebedeiras de Boris Eltsine, apetece-me perguntar?

 

Um texto pois sobre CDS aqui vos deixo à vossa atenção.

 

Coimbra, 29 de Junho de 2011

 

Júlio Marques Mota

 

O quebra-cabeças grego semeia a confusão no mercado opaco dos CDS, estes seguros contra o risco de incumprimento

 

Acusados de ser a arma favorita dos especuladores , os CDS  impuseram-se  como um dos símbolos da crise grega: os CDS, ou Crédito Default Swaps, estes são  produtos financeiros complexos que permitem proteger-se contra o risco de falência de um Estado. Agindo como contratos de seguro que garantem ao credor que será reembolsado ainda que o seu devedor entre em falência , os CDS são hoje uma carga de complicações para os  meios financeiros.

 

Na altura  em que os líderes europeus se encontram  em Bruxelas, na quinta-feira 23 e Sexta-feira 24 de Junho, para tentar salvar in extremis  a Grécia da falência, uma pergunta se coloca : as instituições financeiras que venderam os CDS vão ter que  pagar? “Sempre se pode  jogar com as palavras , mas a realidade, é que a Grécia não pode reembolsar as suas dívidas ", diz de modo decido um banqueiro da praça .

 

Em teoria, tudo leva a crer  que  o país não  escapará a ser sujeito a “uma reestruturação”, assimilada pelas agências de notação a uma situação de incumprimento. O que, tecnicamente, deveria provocar a liquidação dos CDS . Na prática, o problema  é claramente mais complicado. Como o notam  os peritos, há incumprimento e incumprimento. Como se deve então  interpretar uma participação voluntária dos credores privados no salvamento da Grécia? A resposta não é  nada clara.

 

Para os líderes da zona euro, é necessário custe o que custar evitar que o mercado conclua que se -se  deu, como se diz em gíria financeira, um “acontecimento de crédito ",     que levaria de imediato a que se fizesse  o pagamento dos famosos CDS. Tal procedimento encarnaria concretamente a falência de Atenas. “E ninguém tem realmente desejo que se  recompense quem andou a jogar  contra a Grécia ", acrescenta Jean-François Robin, estratega no banco Natixis. Destinados na  origem a proteger um investidor contra uma situação de incumprimento , os CDS tornaram-se para certos agentes  um meio eficaz para ganhar muito dinheiro.

 

O princípio? Quanto mais elevado é  o risco de falência, mais o seguro é caro. A acreditar nas autoridades europeias, os especuladores teriam  comprado maciçamente estes produtos para aumentar os receios, as apreensões. Actualmente, custa 2 milhões de euros por ano a um investidor se este  deseja segurar uma carteira de 10 milhões de euros de dívida grega. Do nunca visto!

 

Os responsáveis da zona euro temem também que um desencadeamento dos CDS seja o veículo de um contágio da crise ao sector privado. Sobre este mercado escuro, impossível de saber precisamente quem são os compradores, os vendedores, e o montante dos seus compromissos.
Renovação de volatilidade

 

“Ninguém no mundo sabe quem detém os CDS, quem deveria pagar e o quê  no caso de um acontecimento de crédito na Grécia  ", alertou, na quarta-feira, a  chanceler  alemã, Angela Merkel. Aquando da crise financeira de 2008, estes contratos tinham desempenhado um papel determinante  na falência do ex-número um mundial dos seguros, o americano AIG, grande  emissor de CDS.

 

Mas certos actores do sector preocupam-se com o andar dos  acontecimentos. “ Os CDS são utilizados como uma protecção ", sublinha Gary Jenkins, responsável do mercado das obrigações  junto do corrector londrino Evolução Securities. Qual será a sua credibilidade se os bancos decidirem não pagar, apesar da incapacidade manifesta da Grécia em honrar as suas dívidas? Jenkins avisa  contra um aumento  de volatilidade nos mercados: “Os investidores em dívida soberana incapazes de se proteger  poderiam exigir garantias suplementares, o que aumentaria o custo de empréstimo de certos Estados. “

 

No  momento, a organização ISDA (Internacional Swaps and Derivatives  Association), a organização profissional que supervisiona este mercado, parece ir no sentido das capitais europeias. Em meados de Junho, considerou que uma participação voluntária dos credores não constituiria um “acontecimento de crédito  ". Mas, em última circunstância , a decisão de pagar ou não caberá ao seu  Determination Committee, uma discreta comissão composta de uma dezena de bancos.

 

Marie de Verges e Marc Roche, Le casse-tête grec sème la confusion sur le marché opaque des CDS, ces assurances contre le risque de défaut, Le Monde

 


publicado por Luis Moreira às 20:00
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Terça-feira, 29 de Março de 2011

Crise da zona euro-3

Júlio Marques Mota

 

Os CDS e a dinâmica da dívida pública :a propósito da política suicidária da Comissão Barroso[1]

 

  1. A propósito de CDS

O que é um CDS?

 

O que é um CDS, um Credit Default Swap?

 

Um CDS, Credit Default Swap, é um contrato bilateral, um swap, inscrito fora de balanço, entre duas contrapartes: uma, o vendedor (dito também writer ou seller), oferece ou vende à outra parte, o comprador (buyer), a protecção contra o risco de um acontecimento de crédito sobre títulos de crédito de uma terceira parte, a entidade de referência (reference name ou devedor de referência), contra o pagamento de prémio de risco, a que se chama taxa de CDS ou ainda spread. Desta forma o CDS é, portanto, um derivado de crédito pois é um produto financeiro que tem como subjacente um crédito ou um título representativo de um crédito e tem como finalidade a transferência do risco relativo a esse mesmo crédito, o subjacente, do comprador do CDS para o vendedor do CDS, sem a transferência dos activos considerados e sobre os quais se coloca o risco de crédito. O risco de crédito é assim transferido através do CDS da entidade de referência, da entidade de quem se receia um acontecimento de crédito, para o vendedor da segurança contra o risco, o seller, em quem se confia. Este próprio, o fornecedor da segurança, pode entrar em situação de falência e veja-se o caso da AIG. Neste,, o segurado deixou assim de ficar segurado.



[1] Estas notas deveriam ter sido publicadas no corpo do texto de Sterdyniak, Crise da Zona Euro, publicado por Estrolábio. São uma sintese actualizada, mas em termos reduzidos,  de textos nossos já publicados  com a finalidade de  servirem de enquadramento a alguns dos pontos desenvolvidos por Sterdyniak.

 

A entidade de referência, a terceira parte, a que se refere a transacção pode ser uma empresa, um banco ou um Estado. No caso de ser um Estado, os CDS começaram inicialmente por ser utilizados na cobertura de risco sobre as emissões de títulos da dívida soberana quando emitidos em moeda estrangeira - como exemplo, os títulos da Grécia emitidos em ienes ou dólares e não em Euros, o que deu azo ao famoso swap com a Goldman Sachs -para assim proteger, portanto, o comprador dos títulos do risco da variação cambial. A protecção era portanto essencialmente feita sobre os títulos da dívida pública emitidos em moeda estrangeira mais do que sobre os títulos emitidos em moeda nacional.

 

As duas contrapartes do CDS, vendedor e comprador, são geralmente bancos, companhias de seguros, hedge funds, os chamados fundos especulativos de alto risco, mas podem sê-lo igualmente grandes empresas ou mesmo Estados.

 

A sublinhar que antes da crise financeira, os CDS sobre a dívida soberana dos países desenvolvidos eram praticamente inexistentes. Estes ganharam importância com a crise financeira e mais ainda ganharam importância com os crescentes compromissos financeiros para salvar os bancos (aumento dos limites de garantia dos depósitos, a recapitalização dos bancos, as garantias das dívidas bancárias) e depois com os défices públicos pelo estímulo à economia e adicionalmente com os efeitos de tesoura sobre as contas públicas: a recessão instalava-se, as despesas públicas aumentavam e as receitas públicas, pela recessão diminuíam. Por estas vias deslocou-se o risco de crédito das instituições financeiras para o Estado. Por essa via, e refeitos do seu desastre, as instituições financeiras colocaram-nos perante um outro desastre: passaram a atacar aqueles que os recuperaram e exactamente até sobre os instrumentos que de que os Estados se serviram para os apoiar: os títulos utilizados para os colocar em funcionamento e solváveis. A partir daí, nos mercados financeiros criou-se o problema do défice soberano, a seguir criou-se o problema da dívida soberana e, como se isto não chegasse, criou-se depois o problema da balança corrente, país a país, mesmo que se esteja numa zona monetária onde não existe problema de taxa de câmbio no seu interior, como o caso na União Monetária e em tudo isto os CDS desempenham um papel determinante. Os excessos do mercado dos CDS têm sido bem manifestos nestes últimos tempos através do interesse bem recente pelos contratos protegendo contra situações de incumprimento de emitentes soberanos (os designados CDS soberanos). O largo leque de bancos, de que muitos deles tiveram necessidade de injecções de capitais e de forte apoio dos governos em matéria de liquidez para se garantir a sua existência, para evitar a sua falência, a oferecerem hoje garantias a outros intervenientes do mercado contra o risco de incumprimento dos Estados soberanos que os salvaram (e em muitos casos trata-se do seu próprio país) é tão profundamente surreal que é o nosso próprio real, o subjacente, diríamos, que por baixo de tudo isto passa a estar em questão e passa a ser o nosso problema pelos mercados criado. Esta é a moral da história que aqui vos deixo para ler.

 

Um CDS é economicamente parecido com uma apólice de seguro emitido por uma companhia seguradora. Apenas parecido. Quais as diferenças?

 

Como primeira diferença o emitente do CDS, o chamado vendedor da segurança de acontecimento de crédito, ou ainda dito também writer, pode ser um banco, uma companhia de seguros ou uma outra instituição.

 

Numa apólice de seguro, exige-se que o detentor da apólice, o comprador do seguro, seja também ele o detentor do objecto segurado. Num CDS pode nem sequer haver posse de nenhum título, pode, portanto, não haver posse do objecto face ao qual se compra a respectiva segurança[2], o que lhe confere um estatuto muito especial como instrumento de especulação, o que veremos mais adiante.

 

Por outro lado as companhias de seguros, emitentes das apólices, são reguladas pelo Regulador de Seguros, no caso português, pelo Instituto de Seguros de Portugal, os bancos são regulados pelos Bancos Centrais, enquanto muitas outras instituições que operam neste mercado nem sequer têm regulador, a nível nacional e internacional, como é o caso dos hedge funds, instituições estas muitas vezes determinantes neste segmento de mercado, o dos CDS.



[2] Para darmos um exemplo bem perto de nós e bem no centro da crise, vejamos o caso do Lehman Brothers. Quando o Lehman Brothers faliu, o seu endividamento atingia cerca de 600 mil milhões de dólares. Segundo as estimativas de mercado, o Lehman Brothers era a entidade de referência de contratos CDS num montante situado entre os 400 e os 500 milhares de milhões de dólares. No caso de cobertura física dos títulos, títulos detidos por quem procura a segurança, os contratos CDS teriam simplesmente levado a uma transferência das perdas dos credores para os vendedores da cobertura, com a perda global constante, transferência de uns para os outros, dos credores do banco para os vendedores da segurança. As estimativas do mercado situam em 150 mil milhões de dólares os contratos CDS efectuados para este efeito. Os restantes 250 a 350 mil milhões seriam pois cobertura sobre títulos de crédito sobre o Lehman Brothers que não existiam, isto, contratos efectuados sem subjacente, contratos nus.

 

O que é considerado acontecimento de crédito é especificado no contrato. Os principais acontecimentos de crédito geralmente considerados são:

 

- incumprimento;

 

- bancarrota, o que não se aplica aos CDS sobre títulos soberanos;

 

- reestruturação da dívida envolvendo:

 

            - a redução na taxa de juro;

 

            - a redução no valor do capital em dívida ou do prémio pagável na maturidade do título;

 

            - reescalonamento do pagamento do capital em dívida ou dos juros;

 

            - uma mudança no grau de subordinação dados títulos de dívida: dívida sénior passar a ser equiparada a títulos de dívida júnior.

 

Formalmente, não existe nenhuma diferença entre um CDS sobre uma empresa e um contrato de CDS que assente sobre obrigações emitidas por uma entidade soberana. Sabendo que as entidades soberanas não estão cobertas pela legislação sobre as falências que é aplicável às empresas, a falência não constitui um acontecimento de crédito para os emitentes soberanos.

 

No caso dos CDS sobre a dívida soberana, os acontecimentos de crédito sobre os emitentes soberanos resultam principalmente de uma reestruturação da dívida, por um reescalonamento da dívida (Argentina, 2002), por uma situação de não-pagamento da dívida (Equador, 2008) ou por uma moratória sobre a dívida (México, 1982).

 

Um exemplo de CDS

 

A 3 de Janeiro de 2004 o ABN, AMRO BANK NV compra protecção por 5 anos ao Deutsche Bank de títulos da Ford Motor Company, sobre um valor nocional, o valor de referência, de 10milhões de dólares pagando um prémio de 200 pontos de base, ou seja de 2%. Neste exemplo, o ABM paga 50 mil dólares, trimestralmente ao Deutsche Bank.

 

Esquema

Momento T0: Compra de protecção de crédito

 

 

Aproximadamente um mês depois, verifica-se um acontecimento de crédito e o ABN entrega os títulos de Ford Motor Company ao Deustche Bank em troca recebe os 10 milhões de dólares menos a proporção dos 50 mil dólares que deveria pagar no final do trimestre.

 

Momento T1: Acontecimento de crédito

 

 

 

 

 

Ao momento T0 do CDS chama-se o braço fixo do CDS enquanto ao momento T1, que se pode verificar ou não, chama-se braço contingente do CDS.

 

 

 

publicado por siuljeronimo às 20:00

editado por Luis Moreira em 01/04/2011 às 23:15
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Quarta-feira, 16 de Março de 2011

Aleluia, Tudo Vai Mudar Para Melhor

AGORA É QUE VAI SER

 

O PEC 4 não vai passar.

Está iminente a queda do governo.
O senhor José vai-se embora.
O senhor Presidente da República vai ficar com uma batata quente nas mãos, e nós bem sabemos o quanto ele detesta queimar-se, ou mesmo chamuscar-se, por pouco que seja. De qualquer das formas, vamos ficar, dentro de dias, a saber se temos ou não um Presidente à altura dos acontecimentos.
O senhor Silva vai ter de decidir se quer um governo de sua iniciativa, se quer tentar um bloco central ou se vai partir para eleições.
Neste último caso, qualquer um pode ganhar, seja ele o actual partido do poder ou o outro que quer ir para o lugar dele, já que os outros são pequeninos demais para que se equacionem.
Depois disso, e de se saber quem irá ganhar, precisa, o senhor Presidente, de decidir quem vai governar.
Poderá ser o actual partido da oposição, com ou sem a muleta do senhor Portas, caso os votos do povo cheguem para que, juntos, façam uma maioria.
Poderá de novo equacionar-se a hipótese de um 'bloco central', se os votos de cada um não chegarem para nada.
Poderá ainda ser o actual nosso Primeiro a ganhar.
E se for assim, se o senhor voltar a ganhar, como vai ser? Voltamos à estaca zero?
Se o actual governo cair, de uma coisa poderemos todos ter a certezinha absoluta. Seja qual for a solução encontrada pelo senhor Presidente, e sejam quais forem os resultados que se obtenham, Portugal vai mudar. E vai mudar para melhor, claro. E, se forem outros diferentes dos actuais governar o nosso País, a mudança vai ser mais rápida e 'mais melhor'.
Se calhar vamos ter o FMI ou outro qualquer organismo a ajudar a acabar com esta chuchadeira, mas isso não será mal algum já que rapidamente iremos verificar que o desemprego começa a desaparecer, os ordenados a subir, a inflação a descer, a Justiça a funcionar, a Saúde de vento em popa, e as desigualdades a desaparecerem. Em muito pouco tempo, dias até, tudo vai mudar, e vamos voltar a ser felizes.
 
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publicado por atributosestrolabio às 18:00
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Domingo, 23 de Janeiro de 2011

Fiat Lux, a propósito de CDS: apenas uma nota pessoal – 7 – por Júlio Marques Mota

(Conclusão)

 

A concluir esta pequena nota, julgamos ter deixado claro que os CDS acabam por ser instrumentos financeiros perigosos e poderosos, sobretudo, porque se permite como existência os CDS nus, isto é, haver seguros de títulos sem título se, simultaneamente altamente complexos, tão complexos que levaram o antigo Presidente da Reserva Federal de Nova Iorque, Gerald Corrigan, a afirmar em 2007, que se “alguém pensa ter percebido alguma coisa destes instrumentos então não vive neste mundo real, não é deste mundo”. Nesta mesma linha se insere hoje aquele que foi um dos maiores especuladores de todos os tempos, e não o sabemos se não o será ainda hoje, apesar da sua mão direita, Stanley Druckenmiller, um príncipe dos algoritmos, ter abandonado a profissão. Com efeito, diz-nos George Soros: “Muitos argumentam agora que os CDS deveriam ser negociados em mercados regulamentados. Eu acredito porém que estes são produtos tóxicos e que o seu uso só deve ser permitido àqueles que detêm os respectivos títulos, nunca por aqueles que querem especular contra os países ou contra as empresas. Ao abrigo desta regra - que exigiria acordos internacionais e legislação interna - a pressão da compra de CDS iria diminuir consideravelmente, e todos os CDS em circulação veriam a descida dos seus preços, os seus prémios de risco.” Ainda nesta mesma linha se insere a posição de um dos mais importantes criadores dos mercados de produtos derivados, segundo informa a Blomberg:

“March 6 (Bloomberg) -- Myron Scholes, the Nobel prize- winning economist who helped invent a model for pricing options, said regulators need to “blow up or burn” over-the-counter derivative trading markets to help solve the financial crisis.

The markets have stopped functioning and are failing to provide pricing signals, Scholes, 67, said today at a panel discussion at New York University’s Stern School of Business. Participants need a way to exit transactions and get a “fresh start,” he said.

The “solution is really to blow up or burn the OTC market, the CDSs and swaps and structured products, and let us start over,” he said, referring to credit-default swaps and other complex securities that are traded off exchanges. “One way to do that, through the auspices of regulators or the banking commissioners, is to try to close all contracts at mid-market prices.”

A solução segundo Myrton Scholles, “consiste em fazer saltar ou reduzir a cinzas os mercados de produtos derivados negociados fora da bolsa, os CDS, os swaps e os produtos estruturados e começar de novo, a partir do zero”. Bom programa mas a incapacidade das autoridades em abrir caminho nessa via é pelo menos espantosa, para não dizer mesmo criminosa. A regulação exige-se, é necessária, imperiosa, urgente, a acreditar pelos autores citados, se queremos sair da crise. Ainda neste sentido lembremos a posição do actual Comissário Europeu, Michel Barnier:

“Não há ainda muito tempo, pensávamos conhecer os principais desafios com os quais a Europa se devia confrontar, para tirar o melhor partido da mundialização, construindo um modelo económico mais durável: estes desafios eram as variações climáticas e o envelhecimento da população. Ora, desde 2007 aprendemos também que havia um outro sector que merecia, ele também, toda a nossa atenção: o sector financeiro. De facto, o que arrancou em 2007como uma crise de crédito no mercado americano dos créditos sobre hipotecas subprime, transformou-se em 2008 numa crise financeira mundial na sequência da falência de Lehman Brothers. Isto de seguida levou-nos para o centro de uma crise da dívida soberana, devido principalmente às consequências orçamentais da instabilidade financeira, acrescendo-se a um endividamento público já elevado. Esta situação mostra à evidência qual a importância do sistema financeiro para a sociedade como um todo e, por isso mesmo, o imperativo político de o melhorar para que a finança esteja ao serviço da sociedade e não o inverso. Por isso mesmo, deveremos adoptar um conjunto de regras e de princípios novos, de modo a assegurar a estabilidade e a viabilidade do sistema financeiro. Se nós não realizamos as reformas necessárias estaremos a impedir a nossa economia de encontrar o caminho da prosperidade e de enfrentar assim os desafios de amanhã.”

E o Comissário Michel Barnier acrescenta:

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira em 22/01/2011 às 22:08
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Sábado, 22 de Janeiro de 2011

Fiat Lux, a propósito de CDS: apenas uma nota pessoal – 6 – por Júlio Marques Mota

(Continuação)

Dir-nos-ão que a justificar estes valores estará o risco, dirão, mas expliquem então como se determinam essas taxas, qual o suporte que tem a determinação destes encargos. O risco, dirão, mas a este nível e com esta dimensão,  o risco, essa invenção moderna, está a ser negociável, ao mesmo nível que as mercadorias, que  as commodities, como se o que é produzido pelo trabalho humano ao mesmo nível possa assim ser colocado, colocado ao nível do que é imaginado. Questão tanto mais séria quanto destes mercados que vivem pois do risco criado, imaginado, negociado, leiloado, à custa de cada país quase que liquidado,  quando se começa a ter como  um dado, e aqui concordamos totalmente com Satyajit Das,  num seu  recente artigo publicado pelo Banque de France, que : “a amarga realidade é que são  muito poucos os actores do sector, tendo em conta os seus próprios interesses,  que estão  preparados para  admitir que uma grande parte da inovação financeira recente foi concebida  especificamente para dissimular o risco, para enganar os investidores e para reduzir a transparência. Este processo era foi totalmente deliberado. A eficiência  e a transparência não são compatíveis com as fortes margens beneficiárias de que procura e obtém  Wall Street. É necessário que os produtos financeiros sejam  opacos e que os seus preços não sejam fixados de forma eficiente para que se obtenham os  lucros excessivos, para que se obtenham fortes rendas económicas.. Os operadores de mercado partilham a opinião de Walter Bagehot a propósito da  monarquia inglesa: “ Não se deve expor  a magia à luz do dia” “, a magia de todos estes lucros, de  todos estes  bónus que ninguém questiona como é que são ganhos, de todos estes mercados, a sua opacidade como sistema, e sobre tudo isto a incapacidade ou o silêncio ou das nossas Instituições Europeias e dos Governos dos seus Estados Membros tem sido sepulcral.A opacidade como produto, como instrumento, como prática,  o oposto do que pode entender como mercado, é disso, portanto, que nos fala  o grande especialista em produtos  derivados, Satyajit Das.

A estabilidade social é um bem público, senhores ministros desta Europa fora, preservemo-la, proibindo, é esse o termo, tudo o que se lhe opõe. De novo aqui, não é querer muito em democracia, é querer que se respeite a concorrência não falseada, a não distorção dos preços de mercado, da economia real. Como se assinala na Assembleia da República francesa “o problema não é o da existência da especulação, o problema é a existência de uma especulação excessiva, que se poderia qualificar de patogénica, portadora de riscos sistémicos, ou susceptíveis de atingir e deformar a integridade dos mercados, ou a de uma especulação fraudulenta feita de rumores, passando pela manipulação das cotações, a difusão de falsos rumores,” e deste modo, “a especulação, pela deformação da realidade económica é evidentemente prejudicial ao bom funcionamento do mercado e contrário à sua lógica. Ora se os preços são mal formados, a poupança não se dirige para os bons investimentos”. E não se pense que se está apenas a falar de produtos financeiros numa economia globalizada, pois, como se assinala no mesmo documento “não estou nada seguro de que a prazo não haja risco sistémico nos mercados das matérias-primas agrícolas. (…) Penso que tendo em conta posições muito importantes quanto às importações, em particular da China, pode haver amanhã um grande risco sistémico: se os grandes operadores não puderem assumir as suas obrigações, isto arrastará falências em cadeia, ou seja, uma crise. (…) Para os industriais, tudo isto se traduz por uma desestabilização e por uma verdadeira perda de referências, a volatilidade das cotações não lhes permitindo arbitrar as posições e os contratos em condições normais relativamente ao horizonte económico de uma empresa. O andar do tempo dos operadores físicos não é de modo nenhum o dos operadores financeiros. (…) A enorme variação dos preços impede os produtores e os utilizadores de actuar no mesmo plano a que os outros operadores, muito mais poderosos, actuam”[1]. Como sabemos e aqui bem se explica é o próprio coração da economia real que é neste contexto atingida, pelo disfuncionamento destes mercados. Até lá, continue-se pois a especular. Como se assinala num texto produzido pela Presidência da República Francesa, a assimetria acima explicada “encoraja os especuladores a apostarem sobre a baixa das obrigações, e a existência do mercado dos CDS exerce assim uma pressão à baixa das obrigações subjacentes. Neste caso, estes investidores compram CDS, não porque antecipam uma situação de incumprimento futura, mas porque esperam que o preço dos CDS venha a aumentar como resposta aos receios e temores sobre o incumprimento do emitente.” E a nova emissão de títulos do Estados vai já incorporar estes valores novos dos CDS! E os Estado soberanos por essa via ficam prisioneiros dos mercados, como o atesta a afirmação clara da direcção do Barclays:

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 01:43
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Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011

Fiat Lux, a propósito de CDS: apenas uma nota pessoal – 4 – por Júlio Marques Mota

Como se assinalou recentemente na Assembleia da República Francesa, “enquanto no mercado das acções, as posições curtas (vendas a descoberto) ao apostarem na depreciação de activos, que se obtêm por empréstimo ou que se fica de entregar mais tarde (3 dias no máximo), apresentam um risco superior (consequentemente mais dissuasivo) ao das posições longas (a de um comprador que detém uma acção e aposta sobre a subida do seu preço - o prejuízo não pode exceder o seu preço inicial, o de compra), enquanto tal os CDS oferecem não somente um meio de obter uma posição curta sobre as obrigações, mas podem incitar os especuladores a apostarem sobre o default dos emitentes[1] e exercer uma pressão à baixa sobre as obrigações subjacentes. Porque comprar a protecção (a posição curta) é tomar o risco de perdas fracas face a lucros potencialmente levados (a fortiori se o comprador não detém o título subjacente portador material do risco), enquanto vender protecção conduz à existência de lucros potencialmente muito elevados (está a comprar o risco subjacente)”.

 

Em síntese, no mercado das acções, para o especulador sobre operações curtas, a venda a descoberto, o prejuízo é ilimitado e o ganho é limitado. No caso dos CDS, especular sobre a descida das obrigações é comprar CDS e aqui o prejuízo é limitado ao prémio de risco enquanto o ganho é relativamente ilimitado. De acordo com Satyajit Das o contrato de CDS facilita a venda a descoberto do risco de crédito. Isto permite ultrapassar os problemas estruturais, como a natureza ilíquida do mercado de garantias dadas sobre títulos privados (as operações repo anteriormente citadas) que existem quando se quer especular a descoberto directamente com títulos dados como garantia.

 

Conclusão em mercados à baixa é favorecida a especulação sobre obrigações, onde o ganho pode ser considerado relativamente ilimitado e os CDS aparecem aqui como um instrumento de excelência para o efeito.

 

Os CDS são transaccionáveis e, portanto, tendem a ser encarados como autênticas garantias que podem ser vendidas em qualquer momento. Os agentes nestes mercados compram-nos não porque esperam uma eventual situação de incumprimento, mas sim porque esperam que os CDS variem de preço em resposta à evolução da situação financeira, da empresa ou do país. Os títulos descem, o medo instala-se, num movimento de Panurge, a procura de CDS aumenta, o prémio de risco aumenta, e pode-se voltar a vender os CDS que comprados, por exemplo, a 2% podem ser vendidos agora a 5 ou 6% aos múltiplos gestores de contas, de fortunas, aos fundos de pensão das seguradoras, etc. Como sublinhou Michel Aglietta na citada Assembleia da República Francesa, “privados de todo e qualquer determinante objectivo, os actores tomam as suas decisões em funções heurísticas que consistem, na prática, a imitar os outros. Cada um está assim sobre o mesmo quadro de referência [e com o mesmo programa informático, diremos nós], produz-se uma convenção de desconfiança relativamente a todos os valores, excepto o da liquidez absoluta: é, pois, uma convenção do medo que se instala”. E se o pânico continuar a crescer, quem os compra, volta também a especular, vai vendê-los a uma taxa mais alta e, por cada subida de taxa, por cada acesso de pânico, por cada subida de CDS, esta repercute-se nas emissões seguintes do Tesouro Público de cada país e são os Estados soberanos que afinal estarão a pagar tudo, e tudo porque se permite esta arma mortífera contra os Estados, as vendas a descoberto ou o seu equivalente, os CDS. Alimente-se a máquina do medo, este instala-se, os spreads disparam e eis os gestores de contas a correr contra o desastre que temem que pode acontecer repentinamente, comprando as protecções para os títulos que têm. Como se sublinhou na Assembleia da República Francesa “sem ir até à teoria da conspiração conduzida por especuladores ávidos, basta que os mercados financeiros tenham seguido as suas tendências naturais para que a crise se espalhe e se agrave em proporções muito excessivas relativamente aos riscos reais.

 

A dinâmica dos mercados é, em si-mesma, auto-realizadora: quando antecipam um agravamento dos riscos de incumprimento, a procura de protecção sobre os títulos cresce; os prémios de risco aumentam ou o valor dos CDS sobe; correlativamente os mercados exigem taxas de remuneração superiores para os novos empréstimos. O refinanciamento torna-se mais caro, o serviço da dívida aumenta, os défices dos países em dívida aumentam, necessitando a emissão de cada vez mais títulos de dívida, os riscos de insolvabilidade aumentam. As taxas voltam a subir ainda mais, ainda mais e assim sucessivamente”, a dinâmica da dívida criada pela desregulação dos mercados e pelos encargos assumidos torna-se infernal e simultaneamente estrutural. Na linha deste documento oficial de um país da zona euro, podemos pois afirmar, com efeito, que a actual estrutura da UEM que a Comissão quer ainda mais reforçada, tem levado a uma situação criada pelos mercados financeiros que é, no mínimo, bem caricata. Sobre os títulos da dívida traçam-se grandes apostas, e a especulação é isso mesmo, mas onde o resultado é só um. Como? Simples. O medo instala-se, o especulador ganha, o custo do risco dispara, todos terão ficado a ganhar, esse risco estende-se a todos os títulos emitidos independente das suas maturidades e o Estado esse, vai pagar tudo isso nas próximas emissões. O especulador perde, as apostas são de muitos, muitos milhões mesmo e o Estado vai, via Orçamento, salvar o banco, e o resultado é o mesmo.

 

Voltámos a pagar, via défice primário. Em tempo de crise, em tempo de pânico, no mínimo, é criminoso. Mas, já agora, haja alguém, algum governo, algum ministro das Finanças, algum regulador que esclareça todos os que da crise estão a ser vítimas como se determina e com que rigor, afinal, o valor dos CDS da dívida soberana, qual é afinal o risco de incumprimento de um Estado sobre a sua dívida! Que o diga, por exemplo, Christine Largarde, ministra da Economia de França, depois de ter lembrado que “a crise grega diz-nos que o mais pequeno estremecimento provocado pelo muito estreito mercado dos CDS soberanos é suficiente para deslocar o preço das obrigações soberanas, permitindo àqueles que se tinham posicionado a descoberto embolsarem lucros importantes, mesmo se a prova precisa que estes movimentos foram criados nunca existirá”. A ministra sabe, os Governos sabem, a Comissão Europeia sabe, os Reguladores sabem, mas os trabalhadores gregos, esses, que trabalhem, que paguem. Na Europa, sobretudo, que nos digam então como se explicam as quantias agora exigidas, como se explicam os spreads aplicados. Se aceitam que todos nós as paguemos, que aceitem então explicar a cada um de nós a razão exacta daqueles montantes de encargos que nos saem a todos nós das entranhas da vida. Um exemplo, tirado de MarKit, a 6 de Janeiro de 2011, quanto a spreads em vigor: como  CDS soberanos tínhamos os seguintes valores por país : a Alemanha (55 pontos de  base), a Bélgica, (238), a Espanha, (346), a França (108), a Itália, (247),  a Irlanda, (609), Portugal, (526), a Grécia, (1009, ou seja 10%, digamos, sem comentários) enquanto que o CDS aplicado à Turquia ,(146).  Graficamente, a 6 de Janeiro de 2011 as imagem que destes  mercados nos  são mandadas, são as seguintes:

 

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 17:30
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Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2011

Fiat Lux, a propósito de CDS: apenas uma nota pessoal – 3 – por Júlio Marques Mota

Assimetrias de risco, especulação a descoberto, acções, obrigações e CDS

 

Admita-se que se está perante um especulador que compra uma acção no mercado a prazo, para lhe ser entregue daqui a 6 meses. Isto significa que está a especular sobre posições longas, a comprar para vender depois, isto é, no momento em que recebe o título, dita também de especulação a prazo, de especulação à alta. Se daqui a 6 meses, na altura em que se realiza o contrato, o título tiver subido, o especulador ganha a diferença e o ganho pode ser considerado ilimitado; se o título descer perde-se a diferença entre o preço spot de venda e o preço de compra anteriormente acordado. Este prejuízo é afinal o efeito da exposição ao risco, o efeito de comprar o título a um preço previamente fixado e garantido e de o vender a um preço que o especulador pensava ser superior mas em que a evolução foi exactamente a contrária, foi a da descida, tornando o preço de venda inferior ao preço de compra. No limite, o valor máximo que o especulador pode perder, será o valor do título anteriormente fixado e comprado. As situações extremas são então, para o especulador que opera no mercado a prazo e que compra a acção a preço fixo no mercado a prazo, a de ganho ilimitado com a subida ilimitada do título em alta e de prejuízo limitado no máximo ao valor fixo do título se o preço tiver descido até zero.

 

Admita-se agora uma outra situação, a de um especulador que opera com a venda completamente a descoberto, um especulador sobre posições curtas, naked short selling. Neste caso, o especulador vende a descoberto, por exemplo, por um período curto[1], acções que não tem e para além de três dias[2] terá que apresentar uma parte dos títulos em garantia no corretor, obtidos, por exemplo, em operação repo. Para realizar esta operação de venda, terá que adquirir, decorridos os 6 meses, as acções que ele não tem. Assim, se o valor da acção no momento em que se realiza o contrato de venda sobe, no momento em que a entrega, o especulador em questão fica a perder pois terá de comprar mais caro a acção que não tem para a entregar a quem lha comprou. Perde a diferença que aqui pode ser ilimitada, pois, à priori, a subida não tem limite definido. Inversamente e para a mesma operação, admita-se agora que o preço do título desce. O especulador ganha. Vendeu a um preço determinado quando no acto da entrega da acção está à venda por um preço mais baixo. Ganha a diferença entre o preço a que vendeu e o preço a que agora a pode comprar para entrega, que no máximo é o preço de venda da acção, se o seu preço de mercado tiver atingido, por hipótese limite, o valor zero. As situações extremas são, portanto, como especulador a descoberto de ganho limitado e de prejuízo ilimitado.

 

Diremos que estamos com assimetrias de posição face ao risco. Ser especulador sobre posições longas não é a mesma coisa que ser especulador sobre posições curtas. Na subida, na especulação sobre posições longas, o ganho é ilimitado e as perdas, se o título segue uma cotação inversa, são limitadas à exposição ao risco, ao valor do título, enquanto nas posições curtas, especulação sobre a descida do valor dos títulos, o ganho é limitado ao valor dos títulos, se a cotação dos títulos desce como esperado, sendo o prejuízo ilimitado se a cotação seguir uma evolução inversa ao esperado, isto é, se a cotação subir. Podendo, talvez, dizer-se que esta assimetria desencoraja a especulação a descoberto no mercado das acções, quando há a descida dos títulos, mas encoraja a especulação sobre posições longas, a especulação a prazo, a especulação sobre a subida dos títulos, pois nesta são as perdas que estão sempre limitadas. Contudo, tem de se comparar o que é comparável e, por isso, o que temos de comparar é o comportamento do mesmo agente especulador face aos dois mercados e para a mesma evolução esperada dos títulos. Temos de comparar a assimetria para o mesmo agente que especula sobre a alta nos dois mercado e comparar a assimetria para o mesmo agente que especula sobre a baixa nos dois mercados e também aqui nos dois tipos de títulos, acções e obrigações, nos dois mercados de títulos.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 18:47
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Terça-feira, 18 de Janeiro de 2011

Fiat Lux, a propósito de CDS: apenas uma nota pessoal - 2 – por Júlio Marques Mota

(Continuação)

 

Um exemplo de CDS

 

A 3 de Janeiro de 2004 o ABN, AMRO BANK NV compra protecção por 5 anos ao Deutsche Bank de títulos da Ford Motor Company, sobre um valor nocional, o valor de referência, de 10milhões de dólares pagando um prémio de 200 pontos de base, ou seja de 2%. Neste exemplo, o ABM paga 50 mil dólares, trimestralmente ao Deutsche Bank.

 

Esquema

 

Momento T0: Compra de protecção de crédito

 

Protecção-Comprador

ABN-AMRO

 

2% como prémio de risco

Protecção-Vendedor

Deustche Bank

 

Aproximadamente um mês depois, verifica-se um acontecimento de crédito e o ABN entrega os títulos de Ford Motor Company ao Deustche Bank em troca recebe os 10 milhões de dólares menos a proporção dos 50 mil dólares que deveria pagar no final do trimestre.

 

Momento T1: Acontecimento de crédito

 

Protecção-Comprador

ABN-AMRO

 

pagamento de 10 milhões de dólares menos a proporção do prémio

 

 


entrega dos títulos depreciados

Protecção-Vendedor

Deustche Bank

 

 

 

 

 

Ao momento T0 do CDS chama-se o braço fixo do CDS enquanto ao momento T1, que se pode verificar ou não, chama-se braço contingente do CDS.

 

Disse-se atrás que pode não haver posse material do objecto de seguro nos CDS, isto é, o comprador de seguro pode, seja sobre que títulos que for e na quantidade que for, pode assim comprar CDS sobre esses mesmos títulos mas ao mesmo tempo pode não ter nenhum, nenhum mesmo desses títulos que está a segurar.

 

No nosso exemplo, por hipótese, os títulos não foram resgatados pela FORD Motor Company na data referida, mas, o ABN tem os títulos, entrega-os ao Deutsche Bank, recebe os 10 milhões de dólares menos a parte do prémio de risco correspondente a um mês, um terço dos 50 mil dólares acima assinalados. Dir-se-á que estamos com uma liquidação do contrato em termos físicos.

 

Admita-se agora que o ABN não tem esses títulos, mas, mesmo assim, comprou a protecção para eles. Havendo um acontecimento de crédito sobre os títulos da Ford Motor Company, este teve efeito sobre os valores dos títulos emitidos, fazendo descer os valores dos mesmos títulos. O seguro exerce-se sobre a diferença, isto é entre os 10 milhões de dólares em títulos, o nocional ou valor de referência, valor virtual diríamos, e o valor de mercado desses mesmos títulos, por hipótese, 5 milhões de dólares. Diz-se que neste caso estamos perante uma liquidação do CDS em cash. Ao exercer o CDS o ABM receberia então 10 milhões de dólares menos os 5 milhões de dólares que é o valor dos títulos no mercado e menos a parte do prémio de risco correspondente a um mês, como já se disse.

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira em 19/01/2011 às 02:13
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Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011

Fiat Lux, a propósito de CDS: apenas uma nota pessoal - 1 – por Júlio Marques Mota

 

Os nossos agradecimentos à colega Manuela Silva, minha antiga professora de tempos idos e nessa qualidade presente em  memórias que a crise não levou  e que o tempo veio seriamente a reconhecer pelo seu trabalho inovador de então,  pela calorosa recepção às duas versões deste texto que previamente lhe foram entregues, expressa no seu blog: http://http://areiadosdias.blogspot.com/

E  aproveito para saudar a iniciativa  de que terá sido um dos promotores, o manifesto Para uma nova economia, Uma tomada de posição pública, presente no mesmo blog, um texto que pessoalmente consideramos de leitura obrigatória.

 

Informamos os visitantes de Estrolabio que  o texto:

 Fiat Lux, a propósito de CDS: apenas uma nota pessoal

foi escrito com a finalidade de servir de apoio a um texto de Henri Sterdyniak  a apresentar ainda esta semana, sobre a crise na Europa.

 

Júlio Marques Mota

 

O que é um CDS, um Credit Default Swap?

 

Um CDS, Credit Default Swap, é um contrato bilateral, um swap, inscrito fora de balanço, entre duas contrapartes: uma, o vendedor (dito também writer ou seller), oferece ou vende à outra parte, o comprador (buyer), a protecção contra o risco de um acontecimento de crédito sobre títulos de crédito de uma terceira parte, a entidade de referência (reference name ou devedor de referência), contra o pagamento de prémio de risco, a que se chama taxa de CDS ou ainda spread. Desta forma o CDS é, portanto, um derivado de crédito pois é um produto financeiro que tem como subjacente um crédito ou um título representativo de um crédito e tem como finalidade a transferência do risco relativo a esse mesmo crédito, o subjacente, do comprador do CDS para o vendedor do CDS, sem a transferência dos activos considerados e sobre os quais se coloca o risco de crédito. O risco de crédito é assim transferido através do CDS da entidade de referência, da entidade de quem se receia um acontecimento de crédito, para o vendedor da segurança contra o risco, o seller, em quem se confia. Este próprio, o fornecedor da segurança, pode entrar em situação de falência e veja-se o caso da AIG. Neste,, o segurado deixou assim de ficar segurado.

 

A entidade de referência, a terceira parte, a que se refere a transacção pode ser uma empresa, um banco ou um Estado. No caso de ser um Estado, os CDS começaram inicialmente por ser utilizados na cobertura de risco sobre as emissões de títulos da dívida soberana quando emitidos em moeda estrangeira - como exemplo, os títulos da Grécia emitidos em ienes ou dólares e não em Euros, o que deu azo ao famoso swap com a Goldman Sachs -para assim proteger, portanto, o comprador dos títulos do risco da variação cambial. A protecção era portanto essencialmente feita sobre os títulos da dívida pública emitidos em moeda estrangeira mais do que sobre os títulos emitidos em moeda nacional.

 

As duas contrapartes do CDS, vendedor e comprador, são geralmente bancos, companhias de seguros, hedge funds, os chamados fundos especulativos de alto risco, mas podem sê-lo igualmente grandes empresas ou mesmo Estados.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 20:00
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Terça-feira, 10 de Agosto de 2010

Direita e esquerda, continuam a existir?

Carlos Loures

Vem este texto na sequência de outro que aqui publiquei há dias - “Esquerda, precisa-se”. 

Num dos comentários, a querida amiga Carla Romualdo perguntava: «crês que ainda faz sentido falar em "esquerda" e "direita", quando estes conceitos se esvaziaram de tal modo nos últimos anos? Não lanço a pergunta como uma picadela irónica, mas sim como uma honesta interrogação. Será que ainda faz sentido esta divisão?». Escolhi este comentário por me parecer aquele que coloca a questão mais importante e ao responder à Carla tentarei dissipar outras dúvidas, eventualmente suscitadas por não ter sido suficientemente claro.

Direita e esquerda – faz ainda sentido esta divisão?

Sempre ouvi dizer que as designações de "esquerda" e "direita", tiveram origem no facto de nas assembleias políticas anteriores e posteriores à Revolução de 1789, os políticos mais conservadores se sentarem à direita da mesa da presidência e os mais radicais à esquerda.

Na Assembleia Nacional (1789), a expressões «gauche» e «droite» eram aplicadas respectivamente a republicanos e a monárquicos; na Convenção Nacional (1792), o termo usou-se para distinguir jacobinos de girondinos. Os primeiros eram defensores dos chamados sans-cullotes, os deserdados da fortuna; os segundos eram deputados que representavam a burguesia ilustrada, hesitante entre a monarquia constitucional e a república. 
 
De então para cá, o campo semântico dos dois termos foi-se alargando e especializando, incorporando contributos e empréstimos vindos de todas as áreas do conhecimento e, da localização, aleatória de duas facções nos hemiciclos da França de fins do século XVIII, os conceitos de direita e esquerda saltaram para a liça das grandes lutas sociais e políticas. Como disse no texto anterior, para mim a definição ideal de esquerda resulta de uma frase do poeta Jean-Arthur Rimbaud, que disse ser preciso «mudar a vida» e de outra de Karl Marx, que afirmou ser indispensável «transformar o mundo». Mudar a vida e transformar do mundo significa apenas uma coisa – Revolução.

Quanto à direita - e reconheço não ser a pessoa mais indicada e isenta para a analisar) - diria evitando entrar nos consabidos maniqueísmos, que com contributos os mais diversos, vindos também de todos os quadrantes do conhecimento (até mesmo do marxismo), procura conservar o que considera serem valores intemporais – reage mal à mudança da vida e pior a todas as transformações do mundo que não se traduzam na conservação de privilégios.
Existe desde há uns anos a esta parte, eu diria desde que, na prática, PS e PSD se fundiram num só partido, esta tendência para afirmar que os conceitos de esquerda e de direita deixaram de fazer sentido. Outro elemento que contribuiu para a criação desta ideia foi o colapso do chamado «socialismo real».

Mal ou bem (eu penso que mal), esse tipo de socialismo era associado à esquerda e, tendo ruído e com ele a dicotomia que justificava os blocos militares, as pessoas, ficando sem uma das suas referências básicas, entenderam que todas essas coisas de que se falou muito depois de 1974, nomeadamente a luta de classes, tinham tido o seu acto final. Tal como num mapa, se não tivermos a indicação de onde se situa o Norte, nunca encontraremos o Sul (e vice-versa). Era, dizia-se, o fim da História e o fim da Política. Saturadas da interminável querela, as pessoas suspiraram de alívio.

A conclusão de que já não faz sentido a dicotomia esquerda/direita, ouvi-a a políticos profissionais, comentadores e analistas políticos, politólogos, gente com responsabilidade. Porque, meus amigos, atenção Carla, o fim do conceito de esquerda e direita, o fim da concepção da luta de classes, a extinção do conceito de classe, são tudo coisas que interessam muito à direita e à falsa esquerda e à direita travestida. Porém todos esses conceitos só deixarão de fazer sentido quando a vida tiver mudado e o mundo se tiver transformado num local onde não existam desigualdades sociais; a fome, a miséria, a doença, todas as chagas sociais, tiverem sido erradicadas O «fim» dos dois conceitos, já era, desde há anos, tema de discussão por essa Europa fora, sobretudo em democracias mais antigas do que a nossa, como a italiana. Vejamos.
Em meados dos anos noventa, saiu em edição portuguesa a obra do italiano Norberto Bobbio, Direita e Esquerda (Destra e Sinistra), com o subtítulo Razões e significados de uma distinção política. Definindo as palavras que constituem o título, diz Bobbio: «Os dois conceitos - «direita» e «esquerda» - não são conceitos absolutos. São conceitos relativos. Não são conceitos substantivos ou ontológicos. Não são qualidades intrínsecas do universo político. São locais do «espaço» político, representam uma determinada topologia política, que nada tem a ver com a ontologia política: Não se é de direita ou de esquerda, no mesmo sentido em que se diz que se é «comunista», «liberal» ou «católico». Por outras palavras, «direita» e «esquerda» não são termos que designam conteúdos definitivamente assentes. Podem designar conteúdos diferentes, de acordo com as épocas e as situações». Isto parece-me correcto – Lembro como a generalidade dos oposicionistas à ditadura do Estado Novo eram considerados «de esquerda», vindo-se a revelar depois da Revolução que uma boa parte deles passou, em função das opções político-partidárias que fez, a ser considerada de «direita». Mais adiante, Bobbio acrescenta: «Convirá também notar que «esquerda» e «direita» são termos que a linguagem política veio utilizando desde o século XIX até aos nossos dias para representar o universo conflitual da política. 

Todavia, esse mesmo universo pode ser representado, e foi-o de facto noutros tempos, por outros pares de opostos, alguns dos quais têm um valor descritivo forte, como «progressistas» e «conservadores», e outros têm um descritivo fraco, como «brancos» e «negros». O par «brancos- negros», também só exprime uma polaridade, isto é, significa apenas que não se pode ser ao mesmo tempo branco e negro, mas não permite de modo algum perceber quais são as tendências políticas de uns e de outros». Como se infere do que nos diz Bobbio, não se é de esquerda ou de direita tout court; é-se de esquerda ou de direita em relação a um determinado referencial, nem que seja apenas relativamente à mesa da presidência. Esta «geometria variável» que acompanha a aplicação dos conceitos de opostos em política é um dado a ter em conta, sempre que falamos de «esquerdas» e de «direitas» e que nos deve levar a ser um pouco mais rigorosos.

Num outro texto aqui publicado chamava a atenção para o facto de os dirigentes revolucionários provirem sempre da burguesia, quando não mesmo da aristocracia. Falando de Portugal e das últimas décadas,verifica-se que os dirigentes políticos da esquerda e da direita, do CDS ao Bloco de Esquerda, são gente da mesma classe social e que muitos deles se cruzaram na Universidade. O PSD tem diversos militantes que foram de esquerda – Durão Barroso, Pacheco Pereira. Paulo Portas e Miguel Portas, dois irmãos (amigos, e ainda bem) ocupando os dois extremos do leque parlamentar uma parte substancial dos dirigentes do PS veio de partidos mais à esquerda, a começar por Mário Soares. Esta promiscuidade, ajuda a consolidar a ideia de que não faz sentido a divisão.
Mas faz todo o sentido. Mais diploma, menos gravata, continua a haver quem queira mudar a vida e transformar o mundo. E há quem veja os avanços da ciência e da tecnologia, bem como as próprias aquisições do conhecimento filosófico e científico, como instrumentos ao serviço da manutenção do statu quo. Esquerda e direita.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Segunda-feira, 26 de Julho de 2010

Sondagens para que vos quero...

Luís Moreira

Cavaco Silva aproxima-se dos 60% no que diz respeito a quem vai votar e a 80% nos que acreditam que vai ganhar!

Nas presidenciais parece que o assunto está resolvido, com Manuel Alegre a andar perto dos vinte e tal por cento e Fernando Nobre nos doze por cento.

Nas legislativas o PSD aproxima-se doa 40% e o PS dos 34%.PCP com 9% é a terceira força, BE com 8% e o CDS com 5%. Isto quer dizer que a esquerda ainda se mantem maioritária. Apesar da crise enorme e da má situação o PS ainda vai aos 34%, perdendo cerca de 10% para o PSD, bem como o CDS que perde cerca de 5% para o mesmo PSD.

Claro que perante estes números Passos Coelho capitaliza o que pode, como é o caso da revisão constitucional, que agora toca na regionalização (abandonando a obrigação de uma referendo)deixa cair grande parte das mudanças nos poderes presidenciais, insiste no SNS e na Educação,tornando-as pagas para quem pode e, muda, muito, a economia.

Tirar o Estado da economia é uma obrigação sem o que nunca teremos pequenas e médias empresas com prioridade, serão sempre as empresas públicas e do regime a comer a maior fatia.

Não são mais do que tendências, valem o que valem, mas o ínicio de um novo ciclo, agora com sociais democratas e democratas cristãos,um Estado menos gigantesco e uma sociedade civil mais forte, é o que se formula no horizonte.Por mim, não acredito que num país tão desigual e com tantos pobres o Estado Social seja afectado.Outros caminhos, sim !

PS:

O PSD sob a liderança de Pedro Passos Coelho subiu 13 pontos percentuais em apenas dois meses nas sondagens Bareme para TSF e Diário Económico. A mais recente, divulgada ontem, coloca os sociais-democratas à beira da maioria absoluta e muito longe do PS.
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publicado por Luis Moreira às 19:30
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Sexta-feira, 4 de Junho de 2010

Opinião. Cavaco, outro “berdadeiro” independente


Carlos Mesquita


Pronunciei-me sobre Fernando Nobre, hoje toca a vez a Cavaco Silva, o único dos três candidatos (este é oficioso por enquanto) à presidência da República, que foi secretário-geral de um partido, o PSD. Cavaco tem a tarefa de parecer independente facilitada; a campanha que o coloca distanciado do partido a que pertence, tem anos, resmas de artigos de opinião foram escritos com esse fim e são imensos os comentadores e jornalistas que ao longo da carreira política do actual presidente o têm arrumado fora do partido, criaram-lhe essa imagem, é mas não é, apesar de ser não se assume como sendo, está acima, ao lado, ou de costas, para o PSD, conforme as suas conveniências conjunturais. Pode-se duvidar se Cavaco quando líder do PSD era do PSD. No entanto o seu partido, (ou ex-partido) não lhe nega apoios; todas as linhas do PSD, e são mais que as linhas do TGV do tempo de Durão Barroso/Ferreira Leite, concordam em ampará-lo na candidatura ao segundo mandato como presidente. Todas? Não! Como se diria na introdução de mais uma aventura de Astérix. Alguns católicos do PSD juntos com o CDS e a Igreja, e os seus mais leais fiéis, (ou seja, o sector democrata cristão e cristãos pouco democratas) depois da promulgação por Cavaco Silva, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, põem em causa esse apoio. Este novo elemento é decisivo para medir a facilidade de Cavaco em ser ou não reeleito; os cavaquistas desvalorizam a controvérsia, mas o país, diz-se, é maioritariamente católico. Os activistas anti-casamento gay juntaram mais de 200mil assinaturas para pedir um referendo, número semelhante aos dos movimentos anti-aborto.

Responsáveis da Igreja católica e figuras da direita procuram alternativas ao nome do actual presidente, e o CDS já disse que poderia sustentar um nome da sua área como opção a Cavaco Silva. Qualquer que seja a evolução destas iniciativas, a Igreja e também políticos e comentadores conservadores, não deixarão de levar o tema do “casamento gay” para o período da campanha presidencial, não sendo previsível que esses sectores deixem morrer o assunto em nome das contrariedades económicas e financeiras. Cavaco Silva desiludiu quem nele votou, também pelas comodidades oferecidas à governação de Sócrates, e agora para se furtar à discussão vem dizendo que só pensa na crise, em campanha eleitoral vai ter de abandonar esse paleio.


A forma como Portugal vai enfrentar no curto/médio prazo as dificuldades internas e as ameaças exteriores, depende do nível de estabilidade política e da situação social a par da capacidade de aumentar o crescimento. Com governos sem maioria parlamentar e na ausência de acordos partidários consistentes o desempenho do presidente da República será importante, o próximo presidente é fundamental para o rumo da política nacional; de Cavaco já se sabe que se não é presidente que agrade a todos os portugueses, é presidente que encanta os partidos da governação. O que é preciso tentar entender é que Cavaco seria o do segundo mandato, a campanha cavaquista diz que será diferente, os cavaquistas não estão satisfeitos com o desempenho de Cavaco Silva. Há um outro Cavaco? Ou só existe este, inseguro e inconsistente, refugiando-se na posição institucional e nas dificuldades económicas para não ter qualquer papel activo; seria bom nunca vir a saber.

O que é essencial para os portugueses é perceberem porque vão ser sujeitos a medidas severas de austeridade, e que vantagens essa necessidade vai trazer no futuro. De nada serve prometer grandes alterações no panorama político partidário, que não vão acontecer, nem imaginar mudanças radicais na Constituição. Com mais ou menos independência em relação aos partidos políticos o que seria honesto no próximo presidente, é que depois de eleito, a sua actuação não fosse uma surpresa para quem o elegeu. Cavaco Silva parte com a vantagem de agradar a todo o “centrão”, de forma natural ao centro direita e pela prática do actual mandato à direita do PS que governa o partido e o país. Para a direita mais conservadora Cavaco Silva só será seu presidente por inteiro, quando a direita ganhar o parlamento ou houver um governo de iniciativa presidencial.
publicado por Carlos Loures às 09:00
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Quinta-feira, 20 de Maio de 2010

IRS - Imposto Revolucionário Socialista

Luís Moreira

O aumento de 1% nos escalões mais baixos e de 1.5% nos escalões mais altos será aplicado a partir de Junho, diz Sócrates. O secretário de Estado da finanças diz que é desde Janeiro, logo o ano todo. Os fiscalistas vieram a correr dizer que a rectroctividade é proíbida.

Se calhar aplicam o aumento a partir de 1 de Junho e depois, no final das contas, aquando da entrega do imposto, acertam tudo, digo eu que já vi o governo há 9 anos dizer que ía criar 150 000 empregos.

O PSD aproveitou para dizer que não senhor o acordo era só a partir de Junho e, agora, que está a ver que a opinião pública já diz " o governo e o PSD" corrige o tiro, engrossa a voz e exige o adiamento do TGV para 2013 . Tarde piaste !

O PCP, como sabe que não tem hipótese nenhuma em deitar abaixo o governo, vai apresentar uma moção de censura, com os votos favoráveis do BE e a abstenção do PSD e do CDS.

Os banqueiros arrasam o governo, dizendo que não há dinheiro, nem eles, bancos, têm dinheiro, por isso o melhor mesmo é deixar cair os megainvestimentos e aproveitar o pouco crédito que podem conceder para as PMEs. E, quando digo banqueiros, digo Ricardo Espirito Santo, Fernando Ulrich , Santos Ferreira...

O único, qual tontinho, que ainda não viu que está no meio duma tempestade é o "estadista" !
publicado por Luis Moreira às 11:30
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