Manuela DegerineCapítulo XIIEtapa 4: De Santarém a Azóia de Baixo
A saída de Santarém é demorada, justapõe arquitectura tradicional, urbanizações recentes, quintais, garagens, armazéns, pequenas empresas, num conjunto heteróclito, porém as ruas estão limpas, cuidadas – e há passeios na maior parte do trajecto. Nota-se algum respeito pelo habitante.
Passo Casais da Besteira. Começo a sentir-me no campo. Hortas. Oliveiras. Prados verdes. Cheira a terra molhada. Chego a Azóia de Baixo, uma terra calma e limpa, casas com barras coloridas, o luxo de alguns bancos públicos. Um luxo?... Estranhará o leitor. Eu explico: se compararmos com tantos lugares por onde passei. Converso com uma habitante, inquiro como é a Azóia. Já foi melhor, diz ela, noutros tempos havia sempre gente a passar, agora os novos trabalham longe, os velhos vêem televisão; não se encontra ninguém. Ela tem uma dor ciática e uma filha na Amadora. Sente-se desamparada.
Caminhei oito quilómetros. O céu continua azul com, aqui e além, nuvens de algodão. Sinto já calor. Bebi uma garrafa de água, compro outra, devoro uma sanduíche com carne de javali assada, o que para mim representa o cúmulo do exotismo: hei-de contar esta aos meus amigos gauleses.
E prossigo.
Na saída de Azóia sinto dúvidas quanto ao caminho a seguir. Devo virar à direita, viro na primeira estrada, desço uma encosta muito íngreme, subo outra igualmente inclinada, caminho um bom quilómetro, chego a um hotel rural, toco à campainha, vem uma rapariga à porta.
Só sabe que por ali vou enganada.
Retrocedo, portanto. Desço, subo e, pouco depois, vejo a direcção indicada por um marco: caminho de Fátima.