Começámos com palavras de Caetano Veloso num concerto em Santiago de Compostela, em 21 de Julho de 2008 na Praça Quintana dos Mortos. Confirmando a afirmação do grande cantautor brasileiro, Elias Torres, Professor Titular da Universidade de Santiago de Compostela e presidente da Associação Internacional de Lusitanistas, numa entrevista ao Portal Galego da Língua – http://www.pglingua.org/ – usava como metáfora uma situação de um conto de Álvaro Cunqueiro: «a Galiza está sentada sobre um tesouro e nom o sabe». Esse tesouro a que o Professor se refere é, obviamente. a língua galego-portuguesa, um idioma falado por cerca de 240 milhões de pessoas, ultrapassando línguas de grande prestígio, como o francês, o alemão e o italiano. A nossa língua comum é a terceira mais falada nos continentes africano e europeu e, segundo projecções baseadas na evolução demográfica dos oito Estados e nove nações (com a Galiza) que têm o idioma como língua oficial, deverão totalizar 350 milhões de habitantes em 2050.
Como Elias Torres salienta e podereis escutar no vídeo abaixo, a Galiza, não tendo contenciosos históricos nem com Portugal nem com nenhum dos outros países integrantes do espaço lusófono, poderá constituir um «magnífico ponto de encontro». Ademais, acrescentamos nós, a Galiza é o berço do idioma, embora tenha sido no Sul, em Portugal, que ele se tornou autónomo da matriz neolatina e, furtando-se à aculturação castelhana, se transformou na língua universal que hoje é - com Fernão Lopes, com Gil Vicente, Camões, António Vieira... Mas ouçamos um excerto dessa entrevista:
Outra importante entrevista foi a que Carlos Quiroga, professor titular de literaturas lusófonas na Universidade de Santiago e Director do Conselho de Redacção da Revista Agália, deu também ao mesmo blogue. Esta entrevista, tal como a primeira, incidiu sobre a comemoração do centenário de Ricardo Carvalho Calero, acontecimento que Estrolabio irá seguir com atenção e à qual iremos dedicar vários posts.
Estrolabio irá publicar textos sobre a obra de Ricardo Carvalho Calero, neste ano do seu centenário. Por outro lado, a partir de amanhã, incluiremos um espaço lusófono que, não sendo diário, será frequente. Chama-se “Terreiro da Lusofonia”, sendo dedicado aos sons, às palavras e às cores do países onde se fala a nossa língua, por onde irão passando escritores, músicos, pintores...Sempre que possível, mostraremos exemplos de colaboração entre artistas de nacionalidades diferentes. Como exemplo, deixo-vos com Uxia Senlle, a grande cantautora galega, cantando “Verdes são os campos”, um poema de Luís Vaz de Camões, musicado por José Afonso. O nosso Zeca, aquele que um dia disse: “A Galiza é a minha segunda pátria!”.
Comemora-se este ano o centenário do nascimento de Ricardo Carvalho Calero. (Ferrol, 1910 — Compostela, 1990). Figura cimeira da intelectualidade galega do século XX, escritor, filólogo e primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas. Foi o principal teórico da corrente reintegracionista, ou seja, dos que defendem que o galego e o português se devem voltar a unir, pois são duas formas dialectais do mesmo idioma, como defenderam Carolina Michaëlis e Manuel Rodrigues Lapa, entre outros. Porém, apesar da grande importância que a sua obra assumiu, sobretudo na última fase dos seus trabalhos, Carvalho Calero não teve nem tem em Portugal a ampla divulgação que se justificava pela transcendência da sua obra. Estrolabio, depois de ter dedicado a sua edição de 17 de Maio ao Dia das Letras Galegas, vai consagrar a esta grande figura do universo cultural da lusofonia uma série de textos de divulgação da sua obra em prol de um galego genuíno e liberto dos constrangimentos que o sufocam e pretendem reduzir à condição de dialecto do castelhano. E a edição de 30 de Outubro, dia do centenário, será inteiramente dedicada à língua e à literatura galegas, particularmente à figura e à obra do Professor Ricardo Carvalho Calero. Entretanto, num dos próximos dias, comentaremos importantes declarações do Professor Elias Torres e de Carlos Quiroga, da Associação Galega da Língua.