Sexta-feira, 15 de Julho de 2011

15- Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

 Eugénio Tavares se deve a tomada de consciência, que, por finais do século XIX, se verificou entre as gentes do arquipélago de Cabo Verde de que havia uma cultura genuinamente autóctone. Descendente de europeus, foi dos primeiros a proclamar que os cabo-verdianos tinham direito a uma cultura diferenciada e a uma identidade própria. Eugénio Tavares, foi também um consciencializador activo da cabo-verdianidade, actuando no plano político e cultural e sofrendo as inevitáveis perseguições por parte do poder colonial, sendo obrigado a exilar-se. Quase desconhecido em Portugal ou redutoramente referenciado como «criador de mornas», Eugénio Tavares foi um escritor, jornalista e polemista de grande valor.

 

Agora que a literatura do arquipélago se afirma como uma das mais pujantes do universo lusófono, com nomes como o do romancista Germano Almeida, como o do grande Daniel Filipe, e o de Arménio Vieira, Prémio Camões de 2009, não devemos esquecer Eugénio Tavares, pioneiro das letras de Cabo Verde.

 

Eugénio Tavares, nasceu na ilha Brava a 18 de Outubro de 1867, onde faleceu em Junho de 1930. Autodidacta, adquiriu grande cultura, transformando-se na figura literária mais importante de Cabo Verde nas primeiras três décadas do século XX. Deixou uma vasta produção, em português e em crioulo – poemas, narrativas, peças de teatro e, sobretudo, artigos jornalísticos. Quando exilado nos Estados Unidos, fundou o jornal «Alvorada» em New Bedford. Com colaboração intensa na «Revista de Cabo Verde» e no jornal «A Voz de Cabo Verde», foi postumamente publicado um volume com as suas «Mornas». Da sua produção poética seleccionámos um poema em português:

 

Exilado

 

Pensa no que há de mais sombrio e triste;

terás, destes meus dias vaga imagem;

 soturnos céus – como tu nunca viste

nunca os doirou o halo de uma miragem.

 

O sol – um sol que só de nome existe

 – envolto na algidez e na brumagem

dum frio como tu nunca sentiste,

do nosso sol parece a morta imagem

 

imerge o retransido pensamento

nas noites mais escuras, mais glaciais,

prenhes de raios e vendavais;

 

verás que anos de dor, esse momento passado,

na saudade e no penar,

longe do sol vital do teu olhar!

 

(Fairhaven, 1900)

 

Ouçamos uma morna com música e letra de Eugénio Tavares, interpretada pela bonita voz de Celina Pereira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 Nota: Esta é a minha última colaboração no Estrolabio. Agradeço a todos os que leram os meus trabalhos a atenção prestada. Um grande abraço, envolvendo colaboradores e leitores.

publicado por Carlos Loures às 11:00
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Quinta-feira, 14 de Julho de 2011

15 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Conclusão)

 

Último acto

 

No dia seguinte ao do jantar em Kuntsevo, no Domingo,  dia 1 de Março de 1953, os seus convidados estranharam que Estaline, ao contrário do sempre fez, não lhes tivesse telefonado para comentar algum assunto ou para os convocar para alguma reunião. Foi  primeira vez em muitos anos que tal não aconteceu. Alarmada, a filha Svetlana, telefonou para a datcha. O oficial de serviço informou-a de que o pai ainda não se tinha levantado. À noite, o mesmo oficial, telefonou para Malenkov, Béria, Bulganine e Kruchtchev informando-os de que Estaline ainda não saíra do quarto, nem tocara a campainha para lhe levarem as refeições, com às vezes fazia. O homem temia que tivesse acontecido alguma coisa, mas não se atrevia a entrar. Imediatamente, dirigiram-se  os quatro a Kuntsevo. Vorochilov e Kaganovitch~foram também avisados. Chamam e, não havendo resposta, arrombam a porta: encontraram Estaline, completamnte vestido, caído sobre um tapete. Estava em coma.

 

Os médicos diagnosticaram hemorragia cerebral provocada pela arteriosclerose e por uma levada tensão arterial. Nos dias que se seguem, abriu por diversas vezes os olhos, mas não recuperou o conhecimento. Porém, no quarto dia teve um momento de lucidez. Uma enfermeira estava a dar-lhe de beber com uma colher, e Estaline apontou uma das muitas fotografias ampliadas que enchiam as paredes do quarto (as que tirou com Nadja num Verão feliz). Numa delas, uma menina alimenta um cordeiro com um biberão. É uma ironia. Em 5 de Março, a agonia recomeçou. Desfigurado, tentava respirar - foi uma terrível batalha contra a morte. Mas a luta iria terminar. Ergueu o braço esquerdo. Svetlana dirá depois que foi um último gesto de ameaça, como se tivesse querido amaldiçoar todos os presentes. Expira.

 

Às primeiras horas da manhã de sexta-feira, 6 de Março de 1953, subitamente, a Rádio Moscovo...

 

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 12/07/2011 às 00:47
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Quarta-feira, 13 de Julho de 2011

14 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

Ainda a guerra

 

No dia 6 de Junho de 1944, teve início o desembarque aliado na costa da Normandia. Em Dezembro, Estaline assinou com De Gaulle um pacto de ajuda franco-soviético. Sobre Estaline dirá De Gaulle nas suas Memórias de Guerra (1944): «Unificar os Eslavos, aniquilar os Germânicos, expandir-se pela Ásia: eis os sonhos da pátria, os objectivos do ditador. Eram duas condições as prévias para o conseguir: modernizar o país e transformá-lo numa grande potência, isto é, numa potência industrial, saindo vencedor no caso de uma guerra mundial. A primeira condição estava já cumprida, embora com custos muito elevados em sofrimentos e perda de vidas humanas. Quando o conheci, estava prestes a cumprir a segunda condição, no meio de um cenário de túmulos e ruínas. Para sorte dele, tinha um povo tão cheio de vida e tão paciente, quem nem a mais dura servidão conseguia paralisar; um país tão farto em riquezas do subsolo que nem o mais extremo esbanjamento conseguia esgotar; alguns aliados sem os quais não teria vencido o inimigo, nem eles o teriam feito sem a sua ajuda».

 

Entre  4 e 11 de Fevereiro, realiza-se a Conferência de Ialta, na qual Estaline propõe a divisão da Alemanha. Ainda segundo De Gaulle nas suas Memórias de Guerra, Churchill terá dito sobre a Rússia e sobre Estaline: «No que se refere à Rússia, é um animal desajeitado e faminto desde há tempos. Hoje não o podemos impedir de comer, principalmente se tivermos em conta que é uma das vítimas mais afectadas. O que é preciso é que não coma tudo. Eu esforço-me por conter Estaline que, apesar do seu apetite voraz, não é um homem destituído de realismo».

 

 

Nos últimos anos, Estaline transformou-se num velho ao qual começavam a faltar as forças. Encontrava-se totalmente isolado num oceano de adulação e intriga. Estava prisioneiro do seu terrível e imenso poder. Levava, portanto, uma existência solitária. A sua residência habitual era a datcha de Kuntsevo, perto de Moscovo. Apenas se sentia bem, passeando nos sombrios pinhais e na floresta de abetos prateados que rodeiam Kuntsevo. no Verão gostava de trabalhar no jardim. No Inverno sentava-se a uma secretária junto de uma janela  e ali resolvia os seus assuntos, recebendo membros do Governo, oficiais e funcionários. Ia já muito pouco ao seu gabinete no Kremlin. Às vezes convidava velhos camaradas para jantar. Eram refeições de trabalho em que se discutiam assuntos políticos e se tomavam importantes decisões. Foi assim naquele jantar, em 28 de Fevereiro de 1953. Nesse sábado, Malenkov, Béria, Bulganine e Kruchtchev foram jantar a Kuntsevo. Estaline esteve sempre de bom humor. Depois, parecendo fatigado, despediu-se dos convidados e subiu ao seu quarto.

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 12/07/2011 às 00:42
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13 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

António Campos (Leiria, 29 de Maio de 1922 — Figueira da Foz, 8 de Março de 1999) foi um dos primeiros cineastas em Portugal a dedicar-se à prática do filme documentário, dentro do conceito de antropologia visual. Explorou o filme etnográfico, recorrendo às técnicas do cinema directo. Foi um dos elementos fundadores do movimento do Novo Cinema em Portugal. Foi um caso invulgar no nosso cinema, pela persistência com que, indiferente a êxitos e a inêxitos, prosseguiu na senda que para si mesmo traçou. Começando como Manoel de Oliveira, pelo cinema documental, raramente, ao longo do seu percurso, se afastou dessa via. Nos anos 50, em Leiria, realizava pequenos documentários, por si custeados.

 

Era praticamente desconhecido. Foi-me apresentado pelo Camilo Mourão, um amigo, professor da escola de Leiria, onde Campos trabalhava como funcionário administrativo. Escrevi crónicas sobre ele (publicadas quase todas no Jornal de Notícias) e dei pequenas ajudas, por exemplo, colaborando na elaboração do guião de “A Invenção do Amor” e integrando a equipa que foi a Vilarinho das Furnas fazer um primeiro levantamento, antes de a povoação ficar submergida pelas águas da barragem, Quando pensou realizar «A Invenção do Amor», baseado no poema de Daniel Filipe, pediu-me e ao Guilherme Valente que lhe escrevêssemos um guião.

 

Influenciados pelo clima distópico do «1984» , de Orwell, escrevemos um «roteiro» que Campos não seguiu integralmente; umas vezes porque as nossas sugestões implicavam meios de que não dispunha, outras vezes porque não estava habituado a seguir ideias que não fossem as suas. O resultado, tendo em conta as condições em que o trabalho foi feito, não foi mau. O realizador Fernando Lopes descreve como mostrou "A Invenção do Amor” a François Truffaut. "Ele veio a Portugal preparar o 'Peau Douce' e organizei uma sessão com o António Campos. E o Truffaut ficou maravilhado. Mostrei-lhe o primeiro filme do António de Macedo, o meu filme 'As Pedras e o Tempo' e o Truffaut disse: 'Pá, o que eu gosto é do António Campos." Embora em patamares de realização diferentes, usando meios, actores, cenários, de qualidades completamente diferentes, existem similitudes entre a «Invenção» e «Fahrenheit 451» ou «Grau de Destruição», o filme realizado por François Truffaut em 1966, a partir do romance homónimo de Ray Bradbury. Quanto a Vilarinho, fez-me o mesmo pedido. Escrevi um primeiro rascunho desse guião, mas não fiquei com cópia. Ter-se-á perdido entre os papéis de Campos (e não se perdeu grande coisa). Lembro-me que a história da aldeia era narrada através dos olhos de um emigrante que voltava depois de Vilarinho desaparecer, recordando em flashbacks a aldeia como ela era. Mas o realizador optou depois por um documentário puro e simples. Era aquilo que gostava de fazer.

 

A ficção não lhe estava no sangue, embora tivesse capacidade para enveredar por essa via, como provou com «A Invenção». A partir dos anos 70, o escritório da editora onde eu trabalhava ficava num edifício da António Augusto de Aguiar, que deitava também para a Gulbenkian., o belo jardim da Fundação, era a vista das janelas do meu gabinete. Atravessando uma estreita rua estava no Centro de Arte Moderna onde havia um restaurante self-service. Muitas vezes almocei com Campos nesse restaurante. Falávamos de projectos que nunca chegámos a concretizar, porque ele nos deixou em 1999, mas também porque não gostava de trabalhar em equipa. Era um solitário, um bom selvagem, como o classificou Paulo Rocha. Por seu turno, Fernando Lopes disse a seu respeito. "Ele viveu numa época particular em que o neo-realismo tinha muita importância - o Alves Redol, o Soeiro Pereira Gomes... São leituras que ele fez. Fizemos todos. Depois, cada um saiu para o seu lado." António Campos saiu para um lado muito seu, criando um nicho especial dentro do documentário etnográfico, recorrendo à ficção, não como fim, mas como meio de explicar melhor o que pretendia. Não sei se a Cinemateca Nacional tem todos os seus filmes. Perder a obra de António Campos seria perder um elo na cadeia evolucionária do cinema português. Um bom selvagem, de facto. Não fez concessões.

 

 

 Fez filmes.

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 08/07/2011 às 23:40
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Terça-feira, 12 de Julho de 2011

13-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

(Continuação)

 

 

A guerra no horizonte

 

 

 

Entre Julho e Agosto de 1939, travaram-se combates entre forças soviéticas e japonesas na fronteira da República Popular da Mongólia. Entretanto, Hitler mostrou-se favorável a debater com Estaline a assinatura de um Pacto de Não-Agressão. Von Ribbentrop e Molotov negocearam em Mosovo a sua assinatura. entre Setembro e Novembro as tropas soviéticas ocuparam o Leste da Polónia, a Estónia, Letónia e Lituânia. Entre Novembro e Dezembro, o exército soviético ataca a Finlândia, sofrendo umelevado número de baixas.

 

 

Sob os olhares atentos de Von Ribbentrop e de Esialine, Molotov assina,

em 1939, o Tratado germano-soviético.

 

Em Março de 1940, foi assinado um pacto de paz entre a Finlândia e a União Soviética, pondo termo à guerra entre os dois países. Hitler convidou Estaline a avistar-se com ele em Berlim. Em Julho, Churchill propôs a Estaline a criação de «condições harmoniosas e úteis para ambas as partes.» Os estados bálticos foram integrados na União Soviética.

 

Em Abril de 1941, a URSS conclui um tratado de amizade com a Jugoslávia e outro de neutralidade com o Japão. Em 2 de Junho, as tropas alemãs invadiram o território soviético. Em Julho foi constituído o Comité de defesa do Estado do qual Estaline foi nomeado comandante-supremo. Em Setembro, a União Soviética aderiu à Carta Atlântica. Em Dezembro, Estaline ordenou a primeira contr-ofensiva soviética. Em Maio de 1942, foi assinado entre a URSS e a Grã-Bretanha um tratado bilateral de defesa contra a Alemanha e, em Junho, outro convénio com os Estados Unidos sobre a ajuda mútua na guerra contra a agressão alemã. Em Agosto, tem lugar a Conferência de Moscovo, em que participam Estaline, Churchill e Harriman.

 

Em 1943, terminóu  o cerco a Estalinegrado com a capitulação do Sexto Exército alemão sob o comando do marechal von Paulus. Em Março, Estaline é nomeado Comissário da Defesa e promovido ao posto de marechal. Entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro desse ano de 1943, Estaline, Roosevelt e Churchill encontram-se na Conferência de Teerão. Decisões muito importantes são tomadas.

 

  

 

 

(Continuação)

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 09/07/2011 às 23:49
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12 - Terreiro da lusofonia - por Carlos Loures

Malangatana Valente Ngwenya,

 

um dos maiores pintores do espaço Lusófono, nasceu em Matalana,

Marracuene, província de Maputo, Moçambique, em 6 de Junho de 1936 e faleceu no dia 5 de Janeiro de 2011 numa clínica de Matosinhos, Portugal. 

 

 

Exerceu profissões humildes, de pastor de gado a apanhador de bolas num clube de Lourenço Marques. Foi perseguido pela polícia políitica portuguesa e preso sob a acusação de pertencer à FRELIMO. A partir de 1960, dedicou-se em exclusivo à pintura. Tem quadros nas colecções dos principais museus do mundo. As suas cores fortes e belas enchem hoje o Terreiro da Lusofonia.

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 08/07/2011 às 23:36
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Segunda-feira, 11 de Julho de 2011

12 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

O terror

 

Em 1925 Trotsky demitiu-se de todos os seus cargos. Estaline aliou-se a Bukarine e a Tomsky contra a facção trotquista que, com razão, se reivindicava como herdeira da herança leninista. Porém, Estaline refazia a verdade e combatia os adversários com determinação e vigor -no seu texto Fundamentos do Leninismo denunciou publicamente a oposição criada por Zinoniev e, sobretudo, por Trotsky. Perante o plenário do Comité executivo do Komintern, combateu-a colocando-a sob o estigma da traição, como um germe de um novo partido que iria sabotar a unidade existente no seio do PCUS. Sem dar tempo aos adversários para respirar, denunciou logo depois a plataforma constituída pela oposição. Trotsky e Zinoniev foram expulsos do Partido e em Janeiro de 1928 Trotsky foi deportado para Alma-Alta.

 

 

Leon Trotsky

 

No entanto, até ao extermínio total dos opositores, Estaline não iria parar. Em Dezembro abriu a caça ao grupo de Bukarine. E, Novembro de 1929, Bukarine, Rykov e Trotsky reconhecem publicamente as suas "opiniões erradas. Trotsky foi expulso da União Soviética.

 

Por esta altura, Yacob, um filho de que Estaline nunca gostou, fez uma tentative frustrada de suicídio. O pai terá comentado: "Ora! Bem podia  ter disparado com melhor pontaria!".

 

Em Outubro de 1932, Estaline exigiu a condenação e a execução de um opositor - Ryutin.

 

Em Novembro desse ano, durante o banquete comemorativo do 15º aniversário da Revolução, perante dignitários do Partido, Estaline dirigiu-se com tal rudeza a Nadja que ela, envergonhada, humilhada e deprimida, saiu da sala. Nessa noite, pôs fim à vida com um tiro de revólver. Na análise que Estaline fez a este suicídio, fixou bem patente a sua peculiar (e patológica) maneira de encarar a realidade - nunca estabeleceu uma relação de causa-efeito entre o enxovalho a que submeteu Nadja. Considerava-a a sua "amiga mais íntima e leal" - o que significava que teria de aceitar todas as ofensas como manifestações de interesse - afirmou-o: aquele suicídio afigurava-se-lhe uma traição. Ninguém podia abandonar a cena sem sua autorização. E, agastado, nem sequer foi ao funeral da esposa. Contudo, durante muito tempo iria falar obsessivamente de Nadja, acusando-a sempre de o ter abandonado.

 

Em Abril de 1933, começou uma das mais violentas purgas do período estalinista - a depuração levada a cabo nas altas instãncias do Partido e dos sindicatos. Em Dezembro, Serguei Kirov foi assassinado e desencadeiam-se as purgas de Leninegrado e de Moscovo. Em 1935 desenrolou-se o processo contra Zinoniev, Kamenev e mais 17 "cumplices". Em 1936, nova vaga na depuração, baseada no controlo e "renovação" dos documentos do Partido . Em Agosto, o terror prosseguiu com o "primeiro processo de Moscovo": Zinoniev, Kamenev e os "cúmplices" foram condenados á morte e executados. Tomsky suicidou-se. Em 1937 foi aberto o segundo processo de Moscovo - os alvos eram agora Pyatakov, Radek e outros. Em Fevereiro Ordjonikidze suicidou-se. Em Junho foi a vez de altos cargos do Exército. Grande número de marechais e generais foram fuzilados. Discordar de Estaline era considerado alta-traição. Só um cérebro tinha direito a funcionar entre os mais de 200 milhões de soviéticos- o de José Estaline.

 

Em 1938 foi assinado o famoso Acordo de Munique. Procurando não entrar em rota de colisão com Hitler, as potências europeias, incluindo a União Soviética, abandonam a Checoslováquia à sua sorte, permitindo a sua invasão pelas tropas nazis. Em Março teve início o terceiro processo de Moscovo - os ex-aliados de Estaline, Bukarine e Rykov, entre outros, foram executados sob a acusação de pertencerem ao «bloco direitista e trotsquista». Trotsky viria a ser assassinado  em 1940, no seu exílio no México. A primeira fase da limpeza estava concluída. A velha geração de revolucionários, a incómoda intelligentsia,estavam liquidada. No Partido, nos sindicatos, nas forças armadas, os «percevejos» tinham sido eliminados. Tinham ficado os elementos «absolutamente leais e necessários».

 

 

(Continua)

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 09/07/2011 às 00:41
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11 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

Apresentámos no nosso Terreiro «É doce morrer no mar», interpretado por duas grandes cantoras - a cabo-verdiana Cesária Évora e a brasileira Marisa Monte. Podemos ler toda a letra: É doce morrer no mar, Nas ondas verdes do mar A noite que ele não veio foi, Foi de tristeza pra mim Saveiro voltou sozinho Triste noite foi pra mim É doce... Saveiro partiu de noite, foi Madrugada não voltou O marinheiro bonito Sereia do mar levou. É doce... Nas ondas verdes do mar, meu bem Ele se foi afogar Fez sua cama de noivo No colo de Iemanjá 

 

 

Dorival Caymmi contou que esta maravilhosa canção foi criada, numa reunião de amigos, em casa do coronel João Amado de Faria, pai de Jorge Amado. Num ambiente descontraído, Dorival criou a canção partindo de um tema de "Mar Morto", romance de Jorge sobre os mestres de saveiros: "É doce morrer no mar / nas ondas verdes do mar". Jorge compôs mais alguns versos, completando a canção. Ainda se fez um pequeno concurso entre os amigos presentes (Érico Veríssimo, Clóvis Amorim e outros), mas foram os versos do Jorge que venceram.

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 08/07/2011 às 23:34
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Domingo, 10 de Julho de 2011

11 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

(Continuação)

 

A "guerra" com Trotsky

 

Em paralelo com a guerra civil, Estaline travava a sua primeira grande guerra no interior do partido - duas maneiras diferentes de conceber a luta pelo socialismo e também uma quesília pessoal - quem iria ser o herdeiro, o sucessor de Lenine? Em Janeiro de 1921, Estaline opôs-se ao projecto de Trotsky de tansferir a metodologia, a estrutura, a disciplina militar para os sindicatos  e para a classe operária. Ganhou este primeiro round e, no X Congresso dos Sovietes, foi eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética.

 

Em Janeiro de de 1923, Lenine que havia sofrido já um primeiro ataque de apoplexia, acrescentou algumas notas ao seu testamento político. Os médicos proibiram-no de estar presente no XII Congresso. Nessas notas recomendava a destituição de Estaline, preocupado com a previsível divisão no interior do partido: «O camarada Estaline, ao transformar-se em secretário-geral, concentrou nas suas mãos um poder enorme e não tenho a certeza de que consiga utilizar sempre esse poder com a prudência suficiente...». E dizia noutra nota: «Estaline é demasiado grosseiro e este defeito, perfeitamente tolerável entre nós e nas nossas relações como comunistas, é inaceitável no lugar de secretário-geral. Assim, proponho aos camaradas que encontrem maneira de afastar Estaline do seu cargo e de nomear outro homem que seja em todos os sentidos o oposto de Estaline; isto é, mais tolerante, mais leal, mais educado e mais respeitoso para com os camaradas...». A causa próxima para esta nota terá sido a maneira brusca como Estaline, alguns dias antes, terá repreendido publicamente Krupskaia, esposa de Lenine. Lenine enviara um memorando a Estaline exigindo-lhe que apresente desculpas também públicas a Krupskaia - o que Estaline se apressou a fazer.

 

 

 

 

Assim, quando em 21 de Janeiro de 1924, Lenine morreu, as relações entre ambos eram praticamente de ruptura. No dia 24, Estaline jurou cumprir as determinações do «testamento» político de Lenine, mas desconhecia o seu conteúdo. Quando, perante o plenário do Comité Central o documento foi lido, Estaline, surpreendido, anunciou a sua demissão. Mas os delegados pediram-lhe que permanecesse no seu posto. As recomendções de Lenine foram sendo esquecidas e em Dezembro desse ano, depois de ter rebatido a concepção de Trotsky da "Revolução permanente", defendeu a tese da possibilidade da vitória do socialismo num só país. Foi aprovada  a nova constituição que cria a URSS, o tal texto que Louis Aragon, com exceso de fervor revolucionário, considerou obra literariamente superior à de Shakespeare, Rimbaud...

 

(Continua)

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado às 22:40
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10 - Terreiro da Lusofonia - por Sílvio Castro

Numa significativa realidade literária nacional, como é aquela brasileira contemporânea, os nomes dignos de um grande Prêmio pela obra completa são muitos. Se esse Prêmio possui as dimensões internacionais, como acontece com o “Prêmio Camões”, destinado a um escritor de uma das nações componentes da grande Comunidade dos Países Lusófonos, o premiado vem reconhecido como um representante altamente representativo da criatividade artística contemporânea de seu país. Ferreira Gullar possui todas as dimensões que o “Prêmio Camões-2010” lhe reconhece e proclama. Poeta dedicado igualmente à crítica e ao ensaio, bem como autor de obras teatrais, ele demarca com clareza algumas características da modernidade brasileira. Autor que sabe criar a própria expressão a partir do valor essencial da linguagem, ainda que capaz de profunda participação com o mito poético, não o limita aos valores da pura subjetividade lírica. Nele se apresenta igualmente acentuada e assumida participação com a realidade, mais em particular com a realidade civil. Esta, nascida de uma forte integração com os problemas sociais e políticos de seu país, faz derivar naturalmente no poeta uma integração com os problemas próprios de outras realidades nacionais. Ferreira Gullar é naturalmente um poeta empenhado, um poeta político. Assim sendo, ele corresponde a uma já consagrada norma derivada da ação e teoria da história da Modernidade brasileira referente ao conceito de “poeta maior”, conceito nascido de um esclarecimento de um outro grande poeta brasileiro moderno, Manuel Bandeira, que se definia um “poeta menor”, pois, sempre segundo ele próprio, a sua poesia se confinava na dimensão lírica, nunca ousando atingir aquela do empenho social. Para esta, e portanto para a melhor definição do “poeta maior”, Bandeira os encontrava em criadores como Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.

 

Certamente, foi a partir da magnífica conceituação de Manuel Bandeira que Sérgio Buarque de Hollanda, na sua Introdução ao volume de Gullar, Toda Poesia (1980), escrevia sobre o autor: “(… ….) Parece-me a mim, além disso, que, exceção feita de algumas peças de Mário de Andrade e também de Carlos Drummond de Andrade (mormente em Rosa do Povo) é o nosso único poeta maior dos tempos de hoje.“ Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís do Maranhão aos 10 de setembro de 1930. Portanto, o Prêmio que agora lhe vem concedido pode ser integrado nas muitas comemorações e homenagens que o poeta brasileiro já recebe e receberá pelo seu próximo oitantésimo aniversário. Gullar publicou sua primeira coletânea de poemas, Um pouco acima do chão, em 1949, transferindo logo após para o Rio de Janeiro. De 1954 é A luta corporal, livro de poemas que desperta imediatamente grande interesse na crítica literária brasileira e que será um dos pontos de referências para a teoria do Movimento da poesia concreta, de 1956, principalmente derivada da ação de Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. Depois de um período de participação com o movimento concretista, a poesia de Gullar assume novos rumos, indo na direção de um maior empenhol social. Este período, começado em 1962, se acentua a partir de 1964, em oposição ativa contra o regime militar então instaurado no Brasil. Integrado no CPC da União Nacional dos Estudantes, de que era presidente quando do golpe militar, o poeta se integra na divulgação de uma poesia de contestação civil, em especial a partir dos Cadernos do Povo Brasileiro que acolhe os volumes do movimento dos Poemas para a liberdade, da série Violão de Rua. Perseguido político, se exília inicialmente no Chile de Allende e posteriormente na Argentina. No exílio argentino escreve, em 1975, o seu livro de maior repercussão, Poema sujo, publicado em 1976. Ferrera Gullar faz parte da “Geração de ‘56”, segundo os critérios que adoto para a história da literatura brasileira moderna e contemporãnea (em particular nas páginas da minha História da Literatura Brasileira, 3 vv., Lisboa, 1999-2000). A “Geração de -56”, dentro do quadro da moderna poesia brasileira, sucede àquela fundadora do Movimento modernista brasileiro, a de 1922 e à sua complementar, aquela dos poetas de 1930, bem como ao possível movimento revisionista da “Geração de -45“. Desta maneira, a Geração de ‘56 absorve os ideais de liberdade criadora própria dos movimento modernistas fundadores, assim como endossa muitas das revisões formais quanto à linguagem poética, propostas pelos poetas de 1945. Os poetas de ’56 procuram aliar os processos formais mais condizentes ao novo poema da liricidade moderna a uma mais forte politização da poesia. Gullar, nos seus poemas, interpreta bem todo esse complexo percurso. Nele existe uma natural e profunda preocupação para com a liguagem poética. O seu poema se realiza a partir naturalmente de um forte ânimo lírico, sempre porém em consonância com o espaço do real, como convincentemente vem traduzido no poema “Arte poética”: Não quero morrer não quero apodrecer no poema que o cadáver de minhas tardes não venha feder em tua manhã feliz e o lume que tua boca acenda acaso das palavras - ainda que nascido da morte – some-se aos outros fogos do dia aos barulhos da casa e da avenida no presente veloz Nada que se pareça a pássaro empalhado múmia de flor dentro do livro e o que da noite volte volte em chamas ou em chaga vertiginosamente como o jasmim que num lampejo só ilumina a cidade inteira Será justamente de uma tal posição de precisa consciência lírico-formal que Ferreira Gullar saberá dar voz a poemas de acentuado empenho sócio-político, como acontece em “Meu povo, meu poema”:

 

 

 

Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar

No povo meu poema está  maduro
como o sol
na garganta do futuro

Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 08/07/2011 às 23:31
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Sábado, 9 de Julho de 2011

10 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

 

(Continuação)

 

A Revolução

 

Em 25 de Outubro (8 de Novembro) foi criado o primeiro governo soviético. Estaline foi eleito Comissário do Povo para as Nacionalidades. Em 29 de Novembro, Lenine e Estaline assinaram a Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia. Já em 1918, no III Congresso dos Sovietes, Estaline apresentou uma proposta para a organização sob a forma federal das repúblicas russas. Em Maio casou com Nadja Alliluyeva. Participou activamente na redacção da Constituição soviética - o tal texto que Louis Aragon, com excesso de fervor revolucionário, considerou obra literariamente superior à de Shakespeare, Rimbaud... Documento que seria aprovado em Julho.

 

No Verão, eclodiu a guerra civil. Estaline assumiu a responsabilidade de garantir o aprovisionamento de víveres no Sul da Rússia. A experiência da guerra teria um profundo impacto em Estaline, pois ampliou-lhe o conhecimento sobre si mesmo, sobre as suas qualidades e também sobre as suas limitações. Pela primeira vez, enfrentava uma situação em que tinha de tomar decisões no terreno e já não defendê-las nas intermináveis reuniões políticas. As suas responsabilidades são muito elevadas. Descobriu que as enfrentava com frieza e objectividade e que quanto maiores eram mais o estimulavam.

 

O conflito ia envolvendo crescentes graus de brutalidade e de violência - séculos de civilização esfumavam-se. Prevalecia a condição animal - matava-se pela posse de um pão. Este regresso á barbárie, enraízou em Estaline uma inumanidade que iria  caracterizar o seu exercício do poder. Perante a grandeza dos objectivos que se queria atingir, as vidas humanas assumiam aos seus olhos um reduzido valor.

 

Entretanto, uma outra guerra começava para Estaline - a luta com Trotsky. Amanhã falaremos dessa questão. Hoje, deixo-vos com imagens de um filme de Serguei Eisenstein - Outubro. È um filme reaalizado em 1927 - a trilha sonora deste filme mudo é preenchida por andamentos da  Sinfonia nº 7  de Dmitri Chostakovitch.

 

 

(Continuação)
publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 08/07/2011 às 18:04
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9 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

 

 

Tito Paris, a voz que hoje vem ao Terreiro da lusofonia, é a de um dos mais conhecidos artistas musicais caboverdianos.

 

 

Músico, compositor e cantor, nasceu em 30 de Maio de 1963, na cidade do Mindelo, na Ilha de São Vicente. Vive desde há muitos anos em Lisboa.


Após ter produzido e lançado, em 1987, o seu primeiro álbum em 1987, constituiu o grupo com que iria gravar o álbum "Dança Ma Mi criola". Em 1996, lançou o álbum "Graça de Tchega". "Guilhermina", foi gravado e lançado em 2002.


Tito Paris, excelente cantor e instrumentista, tem divulgado por todo o mundo, através de gravações e de espectáculos ao vivo, os ritmos de Cabo Verde. Voltaremos a ouvi-lo, talvez cantando com Mariza.

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 07/07/2011 às 20:47
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Sexta-feira, 8 de Julho de 2011

9-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

(continuação)

 

1917

 

O tempo de exílio chegou finalmente ao fim. Estaline regressou à capital, uma Sampetesburgo onde reinava a confusão e o caos. Na Sibéria estivera longe da realidade da guerra. Mergulhava agora abruptamente nessa realidade. Os desastres na frente de combate aceleravam a degradação do regime imperial.

 

Após a calma forçada do exílio, Estaline voltava à sua actividade febril. Comparece perante a junta médica de recrutamento do Exército que o declarou inapto para o serviço militar devido à deformidade no braço. Assumiu a direcção da Pravda.

 

Em 15 de Março, o czar Nicolau II abdicou e a crise política agudizou-se.  Foi neste conturbado período que reencontrou a jovem Nadja, filha do seu amigo Sergei Alliluya. Nadja nascera em Baku e fora criada no Cáucaso, educada desde o berço no espírito revolucionário. Estaline conhecia-a desde criança, mas viera, após o tempo de exílio, encontrar uma formosa adolescente. Para Nadja, casar com um homem que se habituara a admirar desde a infância foi a concretização de um sonho e pareceu-lhe a forma mais elevada de servir a Revolução. Tinham vinte e dois anos de diferença, mas entre ambos gerou-se uma profunda afeição. Porém, os anos difíceis que se seguiram, como ácido maligno, corroeram esse sentimento levando Nadja ao suicídio.

 

Como se disse, estávamos em 1917. Estaline foi reeleito como membro do Comité Central do Partido Bolchevique. No I Congresso dos Sovietes, foi nomeado membro do Comité Executivo Central. Em Outubro, numa reunião decisiva do Comité Central, Estaline esteve entre os que votaram a favor de uma proposta de Lenine - convocar o levantamento armado.

 

No dia 25 de Outubro de 1917 (pelo calendário juliano; pelo calendário gregoriano seguido na maioria dos países, era o dia 7 de Novembro) eclodiu a Grande Revolução.

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado às 01:39
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8 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

O nosso plano para esta rubrica é trazer gente de todas as áreas da cultura - a melhor gente, entenda-se. Flora Gomes é um grande realizador cinematográfico. É um dos tais vultos da lusofonia que nos fazem ter orgulho no universo que em torno da língua portuguesa se criou. Hoje o nosso espaço é consagrado a Flora Gomes.

Flora Gomes nasceu em Cadique (Guiné-Bissau) em 1949 e é um dos mais reputados cineastas africanos. Durante a Guerra Colonial, admirador de Amílcar  Cabral, esteve exilado. Estudou cinema em Cuba e no Senegal onde trabalhou com Paulino Vieira e com Sérgio Pina.

 

De regresso à Guiné, após a independência em 24 de Setembro de 1974, rabalha como operador de câmara colaborando com o Ministério da Informação, realizando documentários históricos.  A sua primeira longa-metragem data de 1987: Mortu Nega, sobre a luta da independência. O filme é bem recebido pela crítica internacional. Participa em festivais como o de Veneza e o de Cannes.

A sua filmografia principal é a seguinte: O Regresso de Cabral (1976); A Reconstrução (1977 - co-realização com Sérgio Pina); Anos no Oça Luta (1978 - co-realização com Sérgio Pina); Os olhos azuis de Yonta (1982); A máscara (1994); Po di Sangui (1996); Nha Fala (2002); As duas faces da guerra (2007). Mostramos cenas de Os olhos azuis de Yonta.


 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 07/07/2011 às 20:44
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Quinta-feira, 7 de Julho de 2011

8-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

O derradeiro exílio -II

 

Quando chegou à colónia de exilados de Monastrikroe, esperava-o uma surpresa: para aqueles prisioneiros, mergulhados na cinzenta rotina de dias sempre iguais, a chegada de um membro do Comité Central era um acontecimento muito importante. mesmo excitante. Os exilados, com sacrifício, tinham-lhe arranjado boas provisões de comida poupadas das suas pobres refeições. Em vez da camarata, para ele conseguiram arranjar um quarto individual onde o camarada dirigente pudesse ler, escrever e tomar as importantes decisões. Porém o Koba entusiasta estava a dar lugar a um Estaline mais reflexivo, mais calculista. E amargurado. Não correspondeu às expectativas dos companheiros de exílio. Quando mais o cercavam de atenções e tentavam quebrar o seu isolamento e solidão, mais ele se fechava em si mesmo. Não mostrava interesse de falar com os outros. Uma desilusão.

 

Segundo sua filha Svetlana contou, "amava a Sibéria e sempre teve saudades do seu tempo de exílio, como se só tivesse caçado, pescado e passeado pela taiga". Não foi por desprezo que não correspondeu às atenções dos companheiros exilados. Por um lado, as relações afectivas não constituám uma parte dominante do seu carácter; na sua hierarquia de valores, os objectivos políticos estavam primeiro do que tudo; depois, precisava de solidão para reflectir sobre o futuro. Pressentia que estava sobre o limiar de uma nova época - na sua vida, na história da Rússia e na história do mundo. O futuro vinha aí...

 

Em Agosto de 1914, a Alemanha declarou guerra à Rússia. O povo uniu-se numa onda de fervor patriótico, diminuindo as tensões sociais e políticas. O apoio popular aos bolcheviques diminuiu e a Okrana, a polícia política do czar, aproveitou para desencadear uma vaga de prisões entre os activistas, privando o Partido de órgãos de liderança e provocando-lhe disfunções na estrutura funcional, com a cadeia clandestina de contactos quebrada em vário pontos.

No exílio, afastado dos terríveis acontecimentos da guerra, mas recebendo as notícias dos sucessivos desastres na frente de combate e da agitação social que volta a flagelar as cidades, Estaline sentia-se profundamente amargurado por estar longe do centro da acção, numa altura em que a sua presença era tão necessária.

 

A sua vida em Yenisei-Turjansk foi entrando na normalidade. Aos poucos foi fazendo amizades - com uma característica - com as pessoas que, como ele, provinham de famílias humildes, é afável e educado. Com os intelectuais que, perante a sua cultura autodidáctica e cheia de lacunas, o tratavam com paternalismo é agressivo, duro, intransigente. Menos culto, mas com uma intuição aguda e crítica, depressa se apercebia das fragilidades e pontos fortes de cada um: feita essa análise, atacava a fundo, humilhando, espezinhando, usando as debilidades e não hesitando em fazer valer a sua posição de membro do Comité Central. Um bom treino para o exercício do poder.

 

E chegamos ao ano de 1917.

 

 (Continua)

 

publicado por Carlos Loures às 21:00
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