Acabei de ler El Sol de Breda, escrito por Arturo Pérez-Reverte em 1998. A tradução portuguesa é de Helena Pitta, e foi editada pela ASA em 2007. É um livro de 180 e tal páginas, que se inclui na série de aventuras do Capitão Alatriste, personagem que o autor terá idealizado em conjunto com a sua filha Carlota. Pérez-Reverte nasceu em Cartagena em 1951, e foi jornalista e correspondente de guerra na Bósnia. Já publicou numerosas obras de ficção, como El Húsar, El Club Dumas, La Reina del Sur, La Carta Esférica, El Pintor de Batallas. É membro da Real Academia Española desde 2003.
As aventuras do Capitão Alatriste são romances de capa e espada, situados temporalmente no século XVII, no fim da chamada Idade do Ouro espanhola. Pérez-Reverte é obviamente admirador de Alexandre Dumas, mas o Capitão Alatriste é um sucessor em linha directa do Pardaillan, do corso Michel Zévaco (1860-1918), mais do que de D’Artagnan ou dos Três Mosqueteiros. Tanto quanto sei saíram até à data seis aventuras de Diego Alatriste y Tenório.
A acção deste romance passa-se na Flandres, durante o cerco de Breda (hoje uma cidade holandesa), durante as guerras religiosas entre católicos e protestantes, ou se se preferir, entre a Espanha e os Países Baixos. O espantoso quadro de Velásquez, A rendição de Breda (As lanças), foi sem dúvida um elemento de inspiração para o enredo desta aventura, havendo no fim do livro uma engraçadíssima nota de editor que fornece importante informação histórica, entrelaçada com pormenores deliciosos sobre as razões porque não se consegue encontrar o Capitão Alatriste representado no quadro. De resto, no livro cruzam-se os personagens saídos da imaginação do autor com personagens verídicos, desde o general italiano Ambrósio Spínola (1569-1630), chefe máximo das tropas espanholas e personagem central do quadro de Velásquez, até ao grande escritor Dom Francisco de Quevedo y Villegas (1580-1645) que Pérez-Reverte apresenta como amigo pessoal de Alatriste.
No conjunto do romance, são de salientar a força que o autor consegue dar aos seus personagens, mesmo os menos intervenientes, o que julgo que é uma das características que se encontram na sua obra em geral. A preparação técnica também foi excelente, como se pode verificar na descrição das acções militares. O conhecimento da história da época é enorme, transmitindo grande interesse à leitura.
Não consigo deixar de pensar, a propósito, que seria muito interessante fazer um levantamento dos romances históricos em Portugal, ou, talvez melhor dito, dos romances que se passam ao longo da história de Portugal. Temos, é certo, O Memorial do Convento, Eurico o Presbítero, O Alfageme de Santarém, etc., com certeza muitos outros, de qualidade desigual, claro. Alguém se lembra de um romance português de capa e espada? Deve haver, com certeza.