Segunda-feira, 7 de Março de 2011

De Camões i el seu temps. Poesia sense fronteres (per Josep Anton Vidal)

Aquest espai està dedicat a tots els amics d'Estrolabio i, de manera molt especial, als qui segueixen el nostre bloc des de les terres de parla catalana. Aquí parlarem de cultura lusòfona i de cultura catalana, i de les qüestions i els problemes que ens afecten als uns i els altres.

 

 

Tanto do meu estado me acho incerto

 Luis de Camões

 

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto. 1

É tudo quanto sinto, um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando; 2
Numa hora acho mil anos, e é jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora. 3

 

            

 

És tanta la incertesa en què ara em veig

 

És tanta la incertesa en què ara em veig,

que en viva ardor, gelat de fred, tremolo;

sense cap causa, alhora ric i ploro;

e tot lo món abraç e no estrenc res. 1

 

Tot el que sento és un desconcert;

de l'ànima em surt foc, un riu dels ulls;

ara cerco conhort, ara no en vull,

ara desvariejo, ara tinc seny.

 

Fermat en terra, pujo al cel volant; 2

una hora em són mil anys, i és de manera

que ni en mil anys una hora no m'és bona.

 

Si em demanen raó del meu estat,

responc que no ho sé pas; però he de creure

que és sols perquè us he vist, a Vós, Senyora. 3

 

            Luís de Camões

            Trad.: Josep A. Vidal

 

Si el lector ho vol, després de deixar-se seduir per la musicalitat, la sensualitat i la bellesa dels versos de Camões (1524-1580), pot parar esment a aquests versos (1, 2) i entretenir-se breument en alguna precisió erudita per, després, poder fer volar la imaginació i eixamplar la seva mirada cap a espais més oberts que els que es tanquen en l'estretor –física i mental– dels mapes polítics.

 

Coneixia Camões, quan va escriure aquests versos, la "Cançó d'opòsits" del poeta valencià Jordi de Sant Jordi?... Vegem-ne un fragment (http://www.rialc.unina.it/164.17.htm):

 

Tots jorns aprench e desaprench ensemps,
e visch e muyr, e fau d’enuig plaser,
axi mateix fau de l’avol bon temps,
e vey sens ulls e say menys de saber,
e no strench res e tot lo mon abras, 1
vol sobre·l cel e no·m movi de terra,
2
e ço que·m fuig incessantment acas

e·m fuig aço que·m segueix e m’afferra.


Jordi de Sant Jordi, nascut al País Valencià probablement el 1399 o el 1400,  fou cambrer reial en la cort d'Alfons el Magnànim. Fet presoner per les tropes de Francesco Sforza l'any 1423, va escriure el poema "Lo presoner" (que podem sentir cantat per Raimon en una versió de extraordinària musicalitat http://www.goear.com/listen/aae00b3/desert-damics-raimon-jordi-de-sant-jordi), un cant elegíac que constitueix la part més coneguda de la seva obra, en la qual destaca el poema "Estramps" (http://www.escriptors.cat/autors/jdsjordi/poemes.html). Va morir l'any 1424.

 

No hi ha probablement cap document que permeti acreditar que Camões hagués llegit Jordi de Sant Jordi. I naturalment tampoc no n'hi ha que permetin afirmar el contrari. Però, el més probable és que l'un i l'altre haguessin llegit Petrarca, i, pel que fa als versos que comentem del poeta portuguès i del poeta català, el sonet CXXXIV del "Canzoniere" (http://www.liberliber.it/biblioteca/p/petrarca/canzoniere/pdf/canzon_p.pdf):

 

Pace non trovo, et non ò da far guerra;

e temo, et spero; et ardo, et son un ghiaccio;

et volo sopra 'l cielo, et giaccio in terra; 2

et nulla stringo, et tutto 'l mondo abbraccio. 1

 

Tal m'à in pregion, che non m'apre né serra,

né per suo mi riten né scioglie il laccio;

et non m'ancide Amore, et non mi sferra,

né mi vuol vivo, né mi trae d'impaccio.

 

Veggio senza occhi, et non ò lingua et grido;

et bramo di perir, et cheggio aita;

et ò in odio me stesso, et amo altrui.

 

Pascomi di dolor, piangendo rido;

egualmente mi spiace morte et vita:

in questo stato son, donna, per voi. 3

 

                        Francesco Petrarca

 

 

 

publicado por Josep Anton Vidal às 11:00
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Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2011

A música da minha vida - por Manuela Degerine

Esta história começa em 1981. Até ali eu não ouvira falar de Rui Veloso mas o meu irmão comprou Ar de rock. Que, durante meses, fui descobrindo. Seduziram-me os ambientes, as ficções, as palavras de Carlos Tê – e, claro, a maneira como Rui Veloso oferece tudo isto. A música. A voz.

 

Muitos anos e aventuras mais tarde, comecei a dar aulas em França. Os alunos eram quase todos filhos de emigrantes porém, de Portugal, a maioria conhecera apenas a aldeia onde os pais haviam nascido. Busquei o que podia dar-lhes a ouvir. Experimentei José Afonso; riram-se da voz fininha. Experimentei Sérgio Godinho; também não gostaram.

 

Sublinhei um dia que os índios, os indianos, os gregos da antiguidade, cada povo explica, à sua maneira, o aparecimento do primeiro ser humano, pedi-lhes que procurassem o nosso mito da criação e, na aula seguinte, mo contassem. Embora tivessem frequentado a catequese, nunca haviam lido o Antigo Testamento, por conseguinte lançaram, de maneira confusa, Adão, Eva e a maçã. Prevendo isto eu levara as primeiras páginas do Génesis e, a partir daí, estabelecemos as bases: um Criador; a obra à imagem do Criador: primeiro o homem, depois a mulher, criada para o acompanhar; o espaço – o Jardim – onde podiam comer o fruto de todas as árvores, excepto a do conhecimento do bem e do mal; o elemento perturbador: a serpente; a transgressão da mulher; o castigo: expulsão do Jardim; as consequências: o conhecimento e portanto o pecado; a sujeição ao tempo, logo, à vida e à morte, ao sexo e ao amor; a condenação do homem ao trabalho (Hás-de comer o pão com o suor do rosto) e da mulher tanto à maternidade (Terás os filhos com dor) como ao domínio masculino: (Buscarás com paixão a quem ficarás sujeita). Depois disto ouvimos A origem do mal de Carlos Tê e Rui Veloso.

 

Encontrei Adão e Eva no Palácio de Cristal

Ainda o mundo era puro e sem pecado original

Foram ver o Marco Paulo que já andava a cantar

Depois foram de mão dada mas nada de namorar.

 

Fizemos um quadro com as constantes e as inovações desta versão do mito. Debatemos o assunto. E tirámos conclusões. Grande sucesso. Grande surpresa. Então aquela música era portuguesa?!

 

Dali em diante não me privei de levar Carlos Tê e Rui Veloso para as aulas. Mas cumpria dosear com habilidade e escolher o momento propício. São Miguel ( Auto da Pimenta, 1991) serviu de introdução aos Descobrimentos.

 

A oeste de Finisterra ficam as ilhas perdidas

Disse-me um corso galego que um dia as viu e perdeu

As velhas cartografias também o dizem assim

Como ter fortuna de as achar no mar oceano sem fim?

 

A primeira estrofe de Carlos Tê sublinha a falta de referências fiáveis, por serem vagas tanto as velhas cartografias quanto as informações de navegadores: o corso galego, se não fabulava, vira e perdera as ilhas por falta de apetrechos científicos. E, por outro lado, o mar oceano sem fim representava uma pavorosa imensidão. Para a descoberta restava portanto a possibilidade ínfima, à qual o homem do século XV chamaria milagre; no entanto o navegador – talvez Diogo de Silves – não se limita a rezar e, empurrado pela curiosidade, sai da rota habitual. Por isso descobre as ilhas.

 

Dois meses mais tarde, depois de lermos Mar português de Fernando Pessoa, alguns versos de Luís de Camões, vários capítulos de Fernão Mendes Pinto, de ouvirmos uma ou duas canções de Fausto (Por este rio acima), voltámos a Carlos Tê e Rui Veloso com a canção Lançado (Auto da Pimenta).

 

Cometi crime de amor, à morte fui condenado

Mas antes do cadafalso a um capitão fui chamado

Que partia para a Guiné e me prometeu perdão

Se fosse numa galé e aceitasse a missão

De à sorte ser lançado na má terra do gentio

Sozinho e abandonado durante meses a fio.

 

No ano seguinte estudámos A ilha (Guardador de Margens, 1983), poema construído através de uma metáfora recorrente: o espaço urbano onde o navegador circula é o mar no qual descobre uma ilha... uma pequena maravilha. Isto é: uma rapariga tão solitária como ele.

 

Fiz-me ao mar com lua cheia

A esse mar de ruas e cafés

Com vagas de olhos a rolar

Que não me viam no convés

Tão cegas no seu vogar.

 

Este poema mostra que os Descobrimentos perduram no imaginário português contemporâneo. Incluí-o uma ou outra vez na lista de textos que os alunos deviam apresentar na prova oral do último ano do liceu. E muitas alunas obtiveram com ele notas excepcionais. Algumas vezes, quando me escrevem, ainda exclamam: ah, professora, o Rui Veloso!

 

Não há estrelas no céu (Mingos e Samurais, 1990) era outro grande sucesso. Tanto rapazes como raparigas achavam na letra e na voz a expressão do seu mal-estar de adolescentes, levavam o texto para a oral e obtinham excelentes notas. E Porto Sentido (Rui Veloso, 1986) também não obtinha menos êxito em aulas e exames.

 

Depois eu mudei de liceu. E tudo mudou – excepto a recepção do Rui Veloso. Até ali eu escolhera os textos por razões de linguística, de estética e de cultura portuguesa. Porém, na minha nova profissão, com alunos a lançarem-me cadeiras à cabeça, comecei também a proteger-me com Carlos Tê. e Rui Veloso. Trazia sempre na pasta vários cedês (que aliás foram, mais de uma vez, roubados), tal como duas ou três letras... E, se outra actividade não era possível, estudávamos Carlos Tê. e Rui Veloso. Tentávamos aprender (ou rever) a expressão no passado? Punha no aparelho Paixão (Mingos e Samurais) ou Todo o Tempo do Mundo (Avenidas, 1998). Eles ouviam, sublinhavam, com cores distintas, nas letras, os pretéritos perfeitos e imperfeitos. E traduziam o texto. E cantavam em coro. No mínimo, enquanto ouviam e cantavam: sossegavam. Eu caía na cadeira. E o meu ritmo cardíaco acalmava-se. (Que idade tem o Rui Veloso? Inquiriam alunas minhas gentis, apaixonadas por aquela voz.)

 

Devo a Carlos Tê. e Rui Veloso o prodígio de continuar viva.

publicado por Carlos Loures às 11:00
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Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010

Coimbra no cinema - três filmes dos anos 40

Inês de Castro

No cinema português dos anos 40 do século XX, encontram-se pelo menos três filmes em que Coimbra está em foco. O primeiro é "Inês de Castro",realizado por Leitão de Barros em 1944, uma adaptação da obra de Afonso Lopes Vieira,"A Paixão de Pedro, o Cru". Foi a primeira co-produção luso-espanhola. Pensamos que a Coimbra do filme é reproduzida em cenários dos estúdios de Madrid onde o filme foi rodado. Estreado em Portugal, no São Luíz em Maio de 1945, foi exibido comercialmente, além de em Portugal e Espanha, em França e na Alemanha. António Vilar interpretava o papel de Dom Pedro e Alice Palacios o da infortunada Inês. Uma produção protegida pelo Secretariado Nacional da Informação português e pelo falangismo recém-vencedor da Guerra Civil.

Camões

"Camões", também realizado por Leitão de Barros em 1946 e igualmente protagonizado por António Vilar, foi um filme de orçamento relativamente elevado, muito premiado pelo Secretariado Nacional da Informação, dirigido por António Ferro.

O regime falava através do poeta, a Pátria morria ao mesmo tempo que Camões, mas iria renascer. Tal como o Portugal levado ao caos pela República, renascera com o Estado Novo.

Coimbra é o cenário das primeiras imagens do filme que podemos ver no vídeo abaixo.




Capas Negras


Em 1947, ainda com o SNI dirigido por António Ferro, com estreia no cinema São Luiz, em Lisboa, é apresentado o filme Capas Negras,  realizado por Armando de Miranda. Os principais actores são Amália Rodrigues, Alberto Ribeiro e Artur Agostinho, Vasco Morgado, Barroso Lopes e Humberto Madeira. Com 22 semanas em cartaz, tornou-se no maior sucesso do cinema português até então.

Diz Luís de Pina na sua História do Cinema Português (Lisboa, 1986):"Capas Negras conta, à partida, com duas supervedetas no auge da popularidade, com todas as suas canções na boca do povo. Depois, junta numa mesma acção os mitos nacionais do fado, o fado de Lisboa e o fado de Coimbra, este reforçado por uma piscadela de olho a outro fortíssimo mito, o do estudante de capa e batina, tudo reforçado com um final portuense que traz para as imagens esse outro mito da solidez, do dinheiro, da prosperidade, que é a imagem do Porto em certos cineastas da capital. Em terceiro lugar, o argumento é o melodrama absoluto, com o advogado defendendo no tribunal a mãe solteira do seu filho ilegítimo, um final que, quer se goste ou não, é das sequências mais emocinantes e melhor encenadas do nosso cinema."


Embora, como vemos, a história percorra três principais cidades do País, o nó dramático do entrecho situa-se em Coimbra.

Vejamos como tudo começa:



"Coimbra, eterna!" Esta é a mensagem central do filme . A canção de Raúl Ferrão correrá mundo.



publicado por Carlos Loures às 18:00
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Quarta-feira, 10 de Novembro de 2010

Quatre Barres - Camões em catalão

Errors meus...

Errors meus, infortuni, amor ardent
en la meva ruïna es conjuraren;
l'infortuni i l'error foren escreix,
car, per a mi, amb l'amor només, bastava.

Vaig resistir; però tinc tan present
el gran dolor de tot el que passà,
que la funesta ira m'ensenyà
a no voler mai més ser satisfet.

Tots els meus anys van ser un camí marrat.
Vaig fer que la Fortuna castigués
les meves mal fundades esperances.

D'amor només vaig veure breus enganys.
Qui fos tan poderós, que sadollés
el meu Geni punyent amb la venjança!

(Trad.: Josep A. Vidal)







Ja que els meus ulls...


Ja que els meus ulls no es cansen de plorar
tristeses, que no es cansen de cansar-me;
ja que no es calma el foc, en què abrasar-me
pot qui mai jo no vaig poder aplacar:

de conduir-me el cec Amor no deixi
a lluny indret, d'on no pugui tornar-ne,
i ningú al món no deixi d'escoltar-me
mentre ma feble veu no defalleixi.

I si en cims i muntanyes, rius o valls,
hi viu la pietat, o si hi ha amor
en feres, ocells, plantes, aigües, penyes,

oeixin dels meus mals el llarg relat
i es calmi el seu dolor amb el meu dolor;
que penes grans són bàlsam de les penes.

(Trad.: Josep A. Vidal)


publicado por Carlos Loures às 09:00
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Quarta-feira, 11 de Agosto de 2010

Livros de Saramago



continuação...

Que Farei com este Livro - 1980

Nova peça de teatro centrada na figura de Camões.Decorre entre a chegada de Camões a Lisboa, vindo da Índia e de Moçambique e a publicação da primeira edição de "Os Lusíadas".

Levantado do Chão - 1980

A história de uma família de latifundiários,cruza-se com as dificeis condições de vida dos trabalhadores braçais.Algumas das ideias base do autor são aqui exploradas:o cenário histórico, a importância dos ideais políticos e ideológicos e a luta dos humildes contra a opressão. Prémio cidade de Lisboa, 1980 e Prémio Ennio Flaiano, em 1992.

Viagem a Portugal - 1981

As anotações do viajante que percorre o país de lés a lés durante dois anos, é a génese deste livro, as referências históricas e culturais, as emoções do escritor.

Memorial do Convento - 1982

Romance brilhante, baseado nos amores trágicos de Blimunda e Baltazar, , sobre o pano de fundo da construção do Convento de Mafra por ordem de D.João V. Adapatado ao teatro e à òpera, é um dos mais conhecidos romances de Saramago.
publicado por Luis Moreira às 18:00
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