Sexta-feira, 15 de Julho de 2011

15- Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

 Eugénio Tavares se deve a tomada de consciência, que, por finais do século XIX, se verificou entre as gentes do arquipélago de Cabo Verde de que havia uma cultura genuinamente autóctone. Descendente de europeus, foi dos primeiros a proclamar que os cabo-verdianos tinham direito a uma cultura diferenciada e a uma identidade própria. Eugénio Tavares, foi também um consciencializador activo da cabo-verdianidade, actuando no plano político e cultural e sofrendo as inevitáveis perseguições por parte do poder colonial, sendo obrigado a exilar-se. Quase desconhecido em Portugal ou redutoramente referenciado como «criador de mornas», Eugénio Tavares foi um escritor, jornalista e polemista de grande valor.

 

Agora que a literatura do arquipélago se afirma como uma das mais pujantes do universo lusófono, com nomes como o do romancista Germano Almeida, como o do grande Daniel Filipe, e o de Arménio Vieira, Prémio Camões de 2009, não devemos esquecer Eugénio Tavares, pioneiro das letras de Cabo Verde.

 

Eugénio Tavares, nasceu na ilha Brava a 18 de Outubro de 1867, onde faleceu em Junho de 1930. Autodidacta, adquiriu grande cultura, transformando-se na figura literária mais importante de Cabo Verde nas primeiras três décadas do século XX. Deixou uma vasta produção, em português e em crioulo – poemas, narrativas, peças de teatro e, sobretudo, artigos jornalísticos. Quando exilado nos Estados Unidos, fundou o jornal «Alvorada» em New Bedford. Com colaboração intensa na «Revista de Cabo Verde» e no jornal «A Voz de Cabo Verde», foi postumamente publicado um volume com as suas «Mornas». Da sua produção poética seleccionámos um poema em português:

 

Exilado

 

Pensa no que há de mais sombrio e triste;

terás, destes meus dias vaga imagem;

 soturnos céus – como tu nunca viste

nunca os doirou o halo de uma miragem.

 

O sol – um sol que só de nome existe

 – envolto na algidez e na brumagem

dum frio como tu nunca sentiste,

do nosso sol parece a morta imagem

 

imerge o retransido pensamento

nas noites mais escuras, mais glaciais,

prenhes de raios e vendavais;

 

verás que anos de dor, esse momento passado,

na saudade e no penar,

longe do sol vital do teu olhar!

 

(Fairhaven, 1900)

 

Ouçamos uma morna com música e letra de Eugénio Tavares, interpretada pela bonita voz de Celina Pereira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 Nota: Esta é a minha última colaboração no Estrolabio. Agradeço a todos os que leram os meus trabalhos a atenção prestada. Um grande abraço, envolvendo colaboradores e leitores.

publicado por Carlos Loures às 11:00
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Sábado, 9 de Julho de 2011

9 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

 

 

Tito Paris, a voz que hoje vem ao Terreiro da lusofonia, é a de um dos mais conhecidos artistas musicais caboverdianos.

 

 

Músico, compositor e cantor, nasceu em 30 de Maio de 1963, na cidade do Mindelo, na Ilha de São Vicente. Vive desde há muitos anos em Lisboa.


Após ter produzido e lançado, em 1987, o seu primeiro álbum em 1987, constituiu o grupo com que iria gravar o álbum "Dança Ma Mi criola". Em 1996, lançou o álbum "Graça de Tchega". "Guilhermina", foi gravado e lançado em 2002.


Tito Paris, excelente cantor e instrumentista, tem divulgado por todo o mundo, através de gravações e de espectáculos ao vivo, os ritmos de Cabo Verde. Voltaremos a ouvi-lo, talvez cantando com Mariza.

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 07/07/2011 às 20:47
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Quarta-feira, 6 de Julho de 2011

6 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

Temos neste blogue dedicado atenção quer a Cabo Verde, quer à Galiza, dois países irmãos, duas culturas intimamente ligadas a Portugal – a galega a montante, nos alvores da nossa identidade, a cabo-verdiana a jusante, consequência das nossas navegações e do povoamento que fizemos das terras que achámos. Ligações entre essas duas culturas? Existem e não são poucas. Há uma colónia de cabo-verdianos na Galiza, maioritariamente constituída por homens do mar. Um grupo de doze cabo-verdianas, residentes em Burela (Lugo), ensaia desde há cerca de uma dezena de anos, recuperando ritmos ancestrais como a «Batuka».

 

Vamos falar destas corajosas mulheres que não querem que a memória e a voz da sua cultura se percam. O grupo nasceu durante um jantar em Burela. Uma das actuais componentes do grupo, perguntou: por que não batucamos como as velhas da nossa terra? E a pergunta, floresceu, resultando no «Batuko Tabanka». Diz Antonina de Cangas, a solista do grupo: «As mulheres não podiam falar e, comunicavam, batendo no peito como manifestação de protesto. Depois utilizaram um trapo molhado» e depois, acrescentou, um saco de couro colocado entre as pernas. A «batuka» é uma música de trabalho, como a da «pandereteira» galega ou a das adufeiras portuguesas; está à margem das dolentes mornas que Cesária Évora internacionalizou.

 

Vamos então ouvi-las:

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 05/07/2011 às 18:33
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Segunda-feira, 18 de Outubro de 2010

Terreiro da Lusofonia: Batuko Tabanka

Temos dedicado atenção quer a Cabo Verde, quer à Galiza, dois países irmãos, duas culturas intimamente ligadas a Portugal – a galega a montante, nos alvores da nossa identidade, a cabo-verdiana a jusante, consequência das nossas navegações e do povoamento que fizemos das terras que achámos. Ligações entre essas duas culturas? Existem e não são poucas.

Há uma colónia de cabo-verdianos na Galiza, maioritariamente constituída por homens do mar. Um grupo de doze cabo-verdianas, residentes em Burela (Lugo), ensaia desde há cerca de uma dezena de anos, recuperando ritmos ancestrais como a «Batuka». Vamos falar destas corajosas mulheres que não querem que a memória e a voz da sua cultura se percam. O grupo nasceu durante um jantar em Burela. Uma das actuais componentes do grupo, perguntou: por que não batucamos como as velhas da nossa terra? E a pergunta, floresceu, resultando no «Batuko Tabanka».

Diz Antonina de Cangas, a solista do grupo: «As mulheres não podiam falar e, comunicavam, batendo no peito como manifestação de protesto. Depois utilizaram um trapo molhado» e depois, acrescentou, um saco de couro colocado entre as pernas. A «batuka» é uma música de trabalho, como a da «pandereteira» galega ou a das adufeiras portuguesas; está à margem das dolentes mornas que Cesária Évora internacionalizou. Vamos então ouvi-las:

publicado por Carlos Loures às 01:30
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Quinta-feira, 23 de Setembro de 2010

Terreiro da Lusofonia - Tito Paris


Tito Paris, a voz que hoje o Estrolabio traz até ao Terreiro da lusofonia é a de um dos mais conhecidos artistas musicas caboverdianos. Músico, compositor e cantor, nasceu em 30 de Maio de 1963, na cidade do Mindelo, na Ilha de São Vicente. Vive desde há muitos anos em Lisboa.

Após ter produzido e lançado, em 1987, o seu primeiro álbum em 1987, constituiu o grupo com que iria gravar o álbum "Dança Ma Mi criola". Em 1996, lançou o álbum "Graça de Tchega". "Guilhermina", foi gravado e lançado em 2002.



Tito Paris, excelente cantor e instrumentista, tem divulgado por todo o mundo, atrabés de gravações e de espectáculos ao vivo, os ritmos de Cabo Verde. Ouçam esta lindíssima morna e digam lá se não é uma boa maneira de começar o dia:

publicado por Carlos Loures às 01:00
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Segunda-feira, 2 de Agosto de 2010

Memorial do Paraíso, de Sílvio Castro - 2

12 de março

Olhando o horizonte sem fim me vem dentro do peito uma tristeza que não é pela navegação, disso tenho certeza. Mas não tenho certeza de onde venha minha tristeza. Grande é esse silêncio das águas, ainda que possa perceber quanto alvoroço vai por cada uma dessas naves. O ar fresco e sereno deixa que passeiem tantas vozes indistintas. Os sons inapercebidos se confundem com a intensa luz do mar, fazendo-se azul verde amarelo.

13 de março

Ah! aqui estão de novo as gaivotas! Pero Escolar me diz que estamos perto de terra e eu já vejo, não a que virá, mas a que ficou para trás.

14 de março, sábado

Finalmente terra! Ainda não serão as nove horas desse sábado tranqüilo e nos vemos entre as Canárias. Já os nossos velhos por aqui passaram e pousaram em tamanhos anos de conhecimentos. Esta Grã Canária que nos está diante dos olhos serenados muitas vezes acolheu os nossos em indas e vindas. Hoje nos acolhe, distante e estrangeira, na calmaria doce de seu mar. Grã Canária, Palma, Ferro, Gomera, Tenerife, Forteventura, Lançarote e tantas outras, quantas vezes falastes português? Sente-se um ar familiar, estando aqui. Sente-se que a costa não está longe.


15 de março

Quanto mais a viagem se adianta nos dias, mais dif¡cil se faz para mim compreender o seu sentido profundo. Sei, claro, minha Maria, qual é a missão de Portugal; sei que El-Rei nosso Senhor, em nome da nossa Santa Fé, empenha-se com sabedoria para resgatar das sombras tantos homens e povos. É para isso que navegamos. Porém, quanto mais sinto o burburinho dessa grande gente fremente nas nossas treze naus, mais o meu esp¡rito se turba. Muitas são as vozes aqui, minha Maria, que esperam somente de chegar nessas longes terras para trocar, comerciar, enriquecer, encher as próprias arcas de riquezas. Não terão eles esquecido a verdadeira vontade de nosso Senhor, El-Rei? E esses fogosos soldados que sonham grandes encontros e lutas para a conquista de uma glória qua nada tem a que ver com os caminhos da nossa religião? Até mesmo alguns de nossos capitães deixam transparecer nos gestos o insaciável desejo de conquistas que trazem nos corações. Muitas vezes, minha doce Maria, me retiro na parte mais isolada da nossa nave para não escutar essas vozes. Porque sei que tudo isso, de todos esses desejos, pouca coisa poderá ser preservada.

16 de março

Isolado na proa de meu barco recordo a nossa casa, querida filha, e posso retomar aquele mesmo ar que sempre respirei no chão natal. É tanto mar o que me circunda, mas agora, neste instante, eu me liberto de toda idéia confusa e vejo claramente a nossa pátria familiar. O Porto me está sempre no coração e quanto mais navego mais me sinto ligado às suas ruas, estradas, praças, casas, ao Douro, à nossa gente. O som de suas falas ressoa nos meus ouvidos, vozes de amigos e companheiros. Sinto-me feliz neste recordar. Assim como sempre me senti livre no ar de liberdade de minha cidade, agora me sinto livre neste fresco ar de salsugem. Deixo que o vento salso acaricie meu rosto, os olhos entreabertos, e penso infinitamente em tudo quanto me enche a imaginação.

Estou quieto e inquieto, mas não infeliz.

17 de março, terça-feira

A navegação é sempre tranquila, minha Maria, até mesmo tranquila demais. O mar parece aquela estrada sem pedras, nem obstáculos. Caminha-se sempre; lá adiante, o horizonte que se fecha, mas não completamente jamais: um entreabrir-se constante de luz e calor. Olhando essas águas tranquilas, essas ondas, parece poss¡vel caminhar sobre elas, sem cansaços, longamente, superando prados e bosques, apenas distintos dos prados e dos bosques por esse baloiçar doce como um cantar materno e por esse sal que te traz à boca a sensação de uma mesa interminável, de onde não se levanta nunca. Em meio a esses prados e bosques salados é um jogo comer os frutos que sabem de todos os gostos, até mesmo daqueles mais distantes, vindos de uma infância que eu já julgara definitivamente perdida.

18 de março

Esta noite o ar estava muito quente. Certamente vinha da costa que não está distante um vento sutil de caldura que me expulsava da minha cabine para o ar livre da nau-capitânea. O lenho deslisa indolente nas águas, como se sentisse como nós o calor impregnante da noite. São muitas as estrelas neste céu. Com Pero Escolar, delas já muito falamos, reconhecendo cada uma, indagando as muita belezas irradiadas em desenhos luminosos conforme o ondejar das águas, o correr das correntes e o passar das nuvens movidas pelo vento. Indagamos também de seus possíveis benefícios e malefícios. Pero Escolar ama muito as estrelas desses céus e as conhece como as linhas de sua mão. E nelas lê, como tu agora estás lendo, minha querida, o cismar sem método de teu velho pai. Admirando as estrelas, sem desejo algum de desvendá-las, vendo esta noite densa e quente - as naves que projetam aqui e ali sombras vivas - me sinto como se estivesse na capelinha de Santa Maria de Belém e estou sempre partindo. Para uma longa viagem em busca de margens que não conheço e não consigo distinguir.

19 de março, quinta-feira

Viajar, minha doce Maria, é saber quanto desejas o que está adiante e quanto amas o que desejas esquecer pelo novo. Aqui, comigo, mas escondido na lembrança perdida, está este lugar que não mais quero e sempre amo. Sabê-lo, mas ilusoriamente esquecendo-o, é como flutuar num sonho onde tudo se sabe e tudo se esquece. Lá, nas margens distantes e desconhecidas, está o lugar do sonho, para onde quero ir. Para lá vou, inquieto e feliz, com o só repouso das lembranças que procuro esquecer na caminhada para a nova margem desejada. Minha doce Maria, és a minha única lembrança clara neste navegar de sonhos.

20 de março

Aonde estão as gaivotas que desde muito não vejo? Onde estão os calores da terra que elas trazem misteriosamente na pureza do vôo? Este mar é triste e solitário sem os vôos brancos das gaivotas, seus gritos, seus jogos de arabescos na trilha das naves. Olho as velas da nau-capitânea, pançudas de tanto vento benéfico, e elas me parecem gigantescas gaivotas com novas de uma terra já vizinha.

21 de março

Aqui estão de novo as gaivotas! Sabes, querida Maria, vê-las de novo que chegam, primeiro um pequeno grupo, depois mais e mais, vozeantes, alegres, me faz aquele bem que se sente quando se caminha pelas estradas conhecidas à luz de um céu brilhante de estrelas. Parece absurdo, mas diante do desconhecido pequenos conhecimentos, como o vôo dos pássaros, se transformam em certeza de vida e conforto para o coração. Navegamos sempre. As águas são tranqüilas, as naus formam desenhos geométricos na formação que nem vento nem correntes mar¡timas alteram. Brevemente veremos terra, é o que nos dizem as gaivotas.

22 de março, domingo


Terra, terra! Nesta manhã de sol de domingo, mais ou menos pelas dez horas, avistamos as ilhas do Cabo Verde. Estamos diante do grupo de ilhas a ocidente de Barlavento, em verdade diante da ilha de São Nicolau. Festeja-se em todas as naves, se ouve. Pero Escolar me esclarece tudo sobre o arquipélago, mostrando-me as outras ilhas que com São Nicolau compõem a parte ocidental do mesmo: Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, Branco e Raso. A oriente de Barlavento, me informa, estão as ilhas de Sal e Boa Vista; de Sotavento, o terceiro grupo formado por Maio, Santiago, Fogo, Brava e pelos ilhéus Secos.

Nota-se improvisamente um movimento insólito entre as naves. A armada de Álvares Cabral faz movimentos particulares, movimentos de comunicação entre as diversas unidades, como se este atual fosse o ponto central do longo caminhar. Lentamente todas as naus convergem para o ponto onde se encontra a nau-capitânea, uma a uma tomando posição de abordagem. Logo chega a nave de Sancho de Tovar, e o vice-comandante passa a bordo da capitânea. Logo depois o mesmo acontece com Gonçalo Coelho e sucessivamente com Bartolomeu Dias, Simão Miranda, Aires Correa, Diogo Dias, Aires Gomes, Gaspar de Lemos, Nuno Leitão da Cunha, Pero de Ataíde, Luís Pires, Simão de Pina. O último a subir a bordo ‚ Vasco de Ataíde.


Os doze capitães se reúnem com Pedro Álvares Cabral. O Comandante está sentado numa cadeira de braços, à cabeceira da grande mesa retangular que hospeda, seis de cada lado, os capitães. Todos vestidos como para os grandes momentos. Aires Gomes traz atacada à capa uma pedra bazar, cingida por anéis de filigranas de ouro que se entrecruzam. Diante de cada capitão está uma caneca com tampa. O Comandante fala longamente com os seus capitães; estes, ao seu tempo, lhe respondem ou trocam idéias com o companheiro ao lado ou defronte. A assembléia tem a calma que constantemente se vê nos gestos e falas do Comandante. Pressente-se que a partir de hoje a navegação toma um novo rumo, desconhecido mas desejado. É o que se lê de longe nos gestos e movimentos dos treze capitães de Portugal. Para longe se vai. Para onde levam as certezas das vontades que não conhecem limites nem temor.
publicado por Carlos Loures às 16:30
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Sexta-feira, 23 de Julho de 2010

Tito Paris - um som de Cabo Verde no Terreiro da Lusofonia


Tito Paris, a voz que hoje o Estrolabio traz até ao Terreiro da lusofonia e dá, com ela, os bons dias aos seus leitores,  é a de um dos mais conhecidos artistas musicas caboverdianos. Músico, compositor e cantor, nasceu em 30 de Maio de 1963, na cidade do Mindelo, na Ilha de São Vicente. Vive desde há muitos anos em Lisboa.

Após ter produzido e lançado, em 1987, o seu primeiro álbum em 1987, constituiu o grupo com que iria gravar o álbum "Dança Ma Mi criola". Em 1996, lançou o álbum "Graça de Tchega". "Guilhermina", foi gravado e lançado em 2002.



Tito Paris, excelente cantor e instrumentista, tem divulgado por todo o mundo, atrabés de gravações e de espectáculos ao vivo, os ritmos de Cabo Verde. Ouçam esta lindíssima morna e digam lá se não é uma boa maneira de começar o dia:

publicado por Carlos Loures às 08:00
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Quarta-feira, 21 de Julho de 2010

Kiki Lima traz as cores, Nancy Vieira os sons - Cabo Verde no Terreiro da Lusofonia


Kiki LIma (Euclides Eustáquio Lima), nasceu em 1953 na Ponta do Sol, ilha de Santo Antão,Cabo Verde 1983/85 - Tendo frequentado a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, veio a licenciar-se em Design de Comunicação pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Vive em Portugal.

O vídeo, ao som de "Peca Sem Dor", na bonita voz de Nancy Vieira, acompanha uma viagem por algumas das obras de Kiki Lima.

publicado por Carlos Loures às 08:00
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Quarta-feira, 7 de Julho de 2010

Paulino Vieira, uma voz de Cabo Verde, no Terreiro da Lusofonia

Hoje, o Terreiro da Lusofonia vai ser povoado por sons de Cabo Verde – a voz de Paulino Vieira em 'm Cria Ser Poeta, uma morna muito bonita. Não conseguimos obter dados biográficos de Paulino Vieira para além de sabermos que nasceu na Praia Branca, ilha de São Nicolau. Teremos de nos contentar com esta informação. E com a bela voz de Paulino Vieira:

value="http://www.youtube.com/v/cq81wRhqm4c&hl=pt_BR&fs=1">
publicado por Carlos Loures às 08:00
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Sábado, 26 de Junho de 2010

Eugénio Tavares no Terreiro da Lusofonia

A Eugénio Tavares se deve a tomada de consciência, que, por finais do século XIX, se verificou entre as gentes do arquipélago de Cabo Verde de que havia uma cultura genuinamente autóctone. Descendente de europeus, foi dos primeiros a proclamar que os cabo-verdianos tinham direito a uma cultura diferenciada e a uma identidade própria. Eugénio Tavares, foi também um consciencializador activo da cabo-verdianidade, actuando no plano político e cultural e sofrendo as inevitáveis perseguições por parte do poder colonial, sendo obrigado a exilar-se.

Quase desconhecido em Portugal ou redutoramente referenciado como «criador de mornas», Eugénio Tavares foi um escritor, jornalista e polemista de grande valor. Agora que a literatura do arquipélago se afirma como uma das mais pujantes do universo lusófono, com nomes como o do romancista Germano Almeida, como o do grande Daniel Filipe, e o de Arménio Vieira, Prémio Camões de 2009, não devemos esquecer Eugénio Tavares, pioneiro das letras de Cabo Verde.

Eugénio Tavares, nasceu na ilha Brava a 18 de Outubro de 1867, onde faleceu em Junho de 1930. Autodidacta, adquiriu grande cultura, transformando-se na figura literária mais importante de Cabo Verde nas primeiras três décadas do século XX. Deixou uma vasta produção, em português e em crioulo – poemas, narrativas, peças de teatro e, sobretudo, artigos jornalísticos. Quando exilado nos Estados Unidos, fundou o jornal «Alvorada» em New Bedford. Com colaboração intensa na «Revista de Cabo Verde» e no jornal «A Voz de Cabo Verde», foi postumamente publicado um volume com as suas «Mornas». Da sua produção poética seleccionámos um poema em português:

Exilado


Pensa no que há de mais sombrio e triste;
terás, destes meus dias vaga imagem;
soturnos céus – como tu nunca viste –
nunca os doirou o halo de uma miragem.
O sol – um sol que só de nome existe –
envolto na algidez e na brumagem
dum frio como tu nunca sentiste,
do nosso sol parece a morta imagem
imerge o retransido pensamento
nas noites mais escuras, mais glaciais,
prenhes de raios e vendavais;
verás que anos de dor, esse momento
passado, na saudade e no penar,
longe do sol vital do teu olhar!


(Fairhaven, 1900)

Ouçamos uma morna com música e letra de Eugénio Tavares.

publicado por Carlos Loures às 08:00
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Sexta-feira, 18 de Junho de 2010

José Luís Tavares , um poeta cabo-verdiano vencedor do Prémio de poesia Cidade de Ourense

O universo da Lusofonia está em movimento: o prémio de lírica Cidade de Ourense foi atribuído na sua edição deste ano ao poeta cabo-verdiano José Luiz Tavares pela sua obra As irrevogáveis trevas de Baldick Lizandro.  Em 2004, fora galardoado com o Prémio Mário António da Fundação Calouste Gubelkian . O júri, ao justificar o seu critério, afirmou que a obra constituía «um discurso bem construído em poemas longos com uma linguagem cuidada onde se combinam o classicismo com imagens inovadoras cheias de riscos eficazmente resolvidos».

Este júri era constituído pelo escritor António Pires Cabral, representante do Grémio Literário de Vila Real, Teresa Devesa, professora de língua e literatura galega, Román Raña , vencedor do Prémio na anterior edição e por (Miguel Anxo Fernán Vello, responsável pela editora Espiral Maior. Cidade do Mais Antigo Nome (2010), foi o primeiro livro de José Luís Tavares.
publicado por Carlos Loures às 13:30
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Sábado, 15 de Maio de 2010

Breve nota sobre a literatura cabo-verdiana

Carlos Loures

No quadro de um projecto institucional de erradicação dos bairros de lata, no período pós-25 de Abril, tive ocasião de contactar núcleos de cabo-verdianos que viviam em bairros da então chamada «cintura industrial de Lisboa» - particularmente na Pedreira dos Húngaros (Algés), nas Marianas (Parede) e no Bairro do Fim do Mundo (Cascais). Fiz muitos amigos e pude constatar, por um lado o apego que aqueles imigrantes mantinham à sua terra e, por outro, a quase total ausência de instrumentos culturais que alimentassem esse amor. Com o escritor Manuel Ferreira, do qual fui amigo desde1964, pois conhecemo-nos durante o II Encontro da Imprensa Cultural, realizado em Cascais, por diversas vezes comentámos essa circunstância que na altura era gritante e que hoje em dia está relativamente superada ou, pelo menos, mitigada.

No decurso de um projecto editorial em que ambos estávamos envolvidos, falámos por diversas vezes em Cabo-Verde e na sua cultura. Foi incentivado por estas trocas de impressões que visitei pela primeira vez o arquipélago e pude confirmar, não só a ideia com que ficara pelo contacto directo com os imigrantes, como também o que Manuel Ferreira me dizia sobre a singularidade das gentes cabo-verdianas e do valor ímpar da sua cultura. Com vista a um trabalho que talvez consiga realizar - uma história concisa da literatura cabo-verdiana, tenho algumas notas tomadas, entre elas a que hoje aqui transcrevo. Eis a primeira.

Durante o período colonial, só no século XX a literatura cabo-verdiana surge com a expressão de uma identidade própria, em ruptura explícita com os modelos europeus até então seguidos, nomeadamente os de matriz portuguesa. Sobretudo com a obra e com a acção de Eugénio Tavares, as temáticas, quer as da poesia, quer as da novelística, passam a relacionar-se com a vivência cabo-verdiana – a insularidade, a seca, a fome e a consequente emigração, para a metrópole ou para outros países. Eugénio de Paula Tavares (Brava, 1867-1930), foi, na realidade, o grande impulsionador da cultura autóctone - a publicação de jornais e revistas por sua iniciativa ou com colaboração sua, foram decisivos na criação de uma consciência cultural cabo-verdiana. Desde o Alvorada, editado nos Estados Unidos entre 1900 e 1917 até ao A Voz de Cabo Verde, publicado na Praia entre 1911 e 1916, houve mais de uma dezena de publicações que editou ou em que colaborou assiduamente. O papel das revistas no despertar da consciência cultural do País, foi enorme. Foi o caso das revistas Claridade (1936-1960) e Certeza (1944). Em 1958 começa a publicar-se o Suplemento Cultural; em 1977 saem o suplemento Sèló e a revista Raízes.

Claridade destaca-se das demais. Os principais autores revelados nesta revista são, entre outros: Jorge Barbosa, António Pedro, Osvaldo Alcântara (Baltasar Lopes da Silva), Manuel Lopes. O cariz neo-realista da Certeza – Guilherme Rocheteau, Tomaz Martins, Nuno Miranda, Arnaldo França, António Nunes, Aguinaldo Fonseca. O papel desempenhado por Claridade no despertar da cultura nacional, transcende em muito as fronteiras da literatura. Pode dizer-se que há um «antes» e um «depois» da Claridade,

O Suplemento Cultural também acrescenta ao acordar da consciência de uma identidade cultural, algo de muito importante – o conceito de nação substituindo o de região ou província ultramarina – Gabriel Mariano, Onésimo Silveira, Ovídio Martins, Terêncio Anahory, Yolanda Morazzo. Não pode ser ignorado o papel da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, como ponto de encontro de muitos dos futuros intelectuais (e dirigentes políticos) dos PALOPs e, consequentemente, como motor de criação de movimentos independentistas e crisol do despertar de correntes literárias autónomas e libertas da matriz cultural portuguesa. Foram muitos e importantes os intelectuais cabo-verdianos que passaram pela Casa dos Estudantes do Império.

Irei, em pequenas doses, transcrevendo notas sobre este tema que tanto me apaixona, o da literatura cabo-verdiana.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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