Terça-feira, 15 de Junho de 2010

Blogosfera - universo em expansão

Carlos Loures

O que é um blogue? Uma feira de vaidades onde se exibem habilidades ou um espaço plural onde se expõem opiniões, sujeitas depois, a críticas, favoráveis ou desfavoráveis? Será também um meio de aliviar tensões, deitando cá para fora o que nos aflige ou preocupa. A esta função catártica há mesmo quem chame blogoterapia. Um blogue parece ser um pouco de tudo isto. Fonte dinâmica de informação e de entretenimento, os blogues possuem também o tal poder catártico, pois dizem-se coisas que doutro modo ficariam sepultadas e, quem sabe, a remoer dúvidas, a adensar angústias dentro das cabeças dos bloguistas. Aliviando tensões, os blogues terão salvo vidas, evitando suicídios, embora quem viaje um pouco pela blogosfera encontre comentários, disputas, susceptíveis de provocar suicídios. Porque é preciso cuidado com as pulsões que se libertam - podem transformar-se em rottweilers à solta e sem açaimo.

Dizia-me há semanas um amigo que os blogues, mais tarde ou mais cedo, implodem devido às quezílias que se levantam entre os colaboradores. Lutas ideológicas, religiosas, clubísticas, regionalistas, quando não mesmo a luta pelo poder dentro do blogue, vão criando rancores, os comentários azedam e o blogue extingue-se. Porém, neste momento estão a ser criados mais de 80 blogues, pois é o que acontece em cada segundo que passa; cinco mil por minuto, 120 mil por dia... Em todo o mundo, devem existir cerca de 200 milhões. Nesta perspectiva, acabar um blogue, não é grave, pois a blogosfera é um universo em permanente expansão. Agora, vejam esta definição:


“A blogosfera é um saco de gatos que mistura o óptimo com o rasca e acabou por tornar-se um prolongamento do magistério da opinião nos jornais. Num qualquer blogger existe e vegeta um colunista ambicioso ou desempregado ou um mero espírito ocioso e rancoroso. Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, agora publicam-se as ejaculações. Mas, sem querer estar aqui a analisar a blogosfera e as suas implicações, nem a evidente vantagem dessa existência e da qualidade e liberdade que revela por vezes, destituindo do seu posto informativo os jornais e televisões aprisionados em formatos e vícios, o resíduo principal de tudo isto é que os jornais mudaram, e muito, e mudaram muito rapidamente». Clara Ferreira Alves teria supostamente escrito estas linhas no Diário Digital, texto que levantou a ira de muitos bloguistas. Soube-se depois que era apócrifo. Porém, sendo apócrifo, não é totalmente destituído de razão – os blogues transformaram-se em receptáculos de prosas absolutamente impensáveis – a iliteracia, a ignorância, ao fanatismo desbragado (político, religioso, futebolístico…), tudo é acolhido nos blogues.

Há blogues onde se dá vazão aos sentimentos mais primários, à obscenidade sem limites, à mais ordinária incontinência verbal, pois na blogosfera, liberdade é igual a impunidade. Nestas condições, de facto, separar o óptimo do rasca, não é fácil. Embora esse seja um problema que não afecta somente os colaboradores dos blogues, reconhece-se que neste meio ele assume uma maior acuidade. A blogosfera é livre e isso é bom enquanto todos se comportarem de forma civilizada. Oxalá a irresponsabilidade não obrigue a criar regras sem as quais até agora se tem vivido perfeitamente.

No Estrolabio não existe uma linha, uma identidade ideológica ou de qualquer outra natureza. Não havendo ortodoxia não pode haver fugas a qualquer linha. Aqui, cada um defende aquilo em que acredita. Sem lançar anátemas sobre aquilo em que os companheiros acreditam, embora possamos discordar, debater. O blogger não tem de respeitar as ideias dos outros (as ideias fizeram-se para ser debatidas, rebatidas e, se necessário, abatidas); mas deve respeitar sempre quem expende essas ideias com que não concorda.

Porque, na nossa opinião, o código deontológico de quem colabora em blogues permite rebater ideias com que se não concorda, por mais sagradas que sejam para outros. Mas obriga a respeitar sempre os outros, mesmo que sejam os defensores de ideias que nos parecem absurdas. É tão simples, não é?
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Quarta-feira, 26 de Maio de 2010

Carta de Carlos Loures a Carlos Matos Gomes

Carlos Matos Gomes, meu caro amigo:


Muito obrigado pela tua resposta que, embora não sendo aquela que desejava, foi tão amável, esclarecedora e transparente.

Sobre os blogues, digo-te que até há bem pouco tempo não era nem produtor, nem consumidor. Uma experiência anterior, atenuou alguns preconceitos que tinha contra este meio de comunicar e confirmou outros. Continuo céptico em muitos aspectos. Julgo que uma das grandes vantagens que este meio tem sobre qualquer outro – a interactividade, o contacto entre quem escreve e quem lê - é também o seu calcanhar de Aquiles. Lêem-se coisas admiráveis a par de outras de uma total ausência de decoro, de cultura, de consciência cívica. É um meio aberto, como uma empena branca exposta aos grafitistas – a par de pinturas de grande beleza, surgem obscenidades e tags marcando os territórios do narcotráfico. Compartilho muitas das tuas ideias e reservas. E, como dizes, o risco de implosão por quezílias internas existe sempre.

Porém, como também dizes, o « blogue é o que os seus membros querem que seja». Quando o Luís Moreira me desafiou para esta aventura, ficou combinado que queríamos um blogue aberto a todas as ideias, apenas vedado às que neguem a liberdade e a democracia. Sou amigo do Luís há muitos anos, mas, não pensando da mesma forma relativamente a muitas coisas básicas, somos um bom exemplo do convívio democrático e civilizado de ideias diferentes. A coesão ideológica que detectas não é, pois, real. Haverá uma maioria de esquerda, interpretando o termo num sentido lato, pois o que há é um leque de ideias que vai de um quase neo-liberalismo a um quase anarquismo. Não nos estando vedado «conversar» entre nós, o nosso principal objectivo é «falar para fora», para usar a tua expressão. Este blogue não é caixa de ressonância de qualquer ideia política, corporativa ou de qualquer outra natureza.


Cada post tem uma lógica própria e não tem de coincidir nem com o que o antecedeu nem com o se lhe segue. Não enveredámos pela rotina de comentar o que cada um diz, embora não estejamos impedidos de o fazer. O tal debate interno, só ocasionalmente existe, Não, decididamente, o nosso blogue não foi criado para ser uma tertúlia. Cada um de nós fala para o exterior. A metáfora da praça onde cada um monta a sua banca, é a que mais se nos ajusta. No Estrolabio, onde há gente com diversas orientações políticas, apartidários, católicos praticantes, agnósticos e ateus, não se pode esperar que exista coesão ideológica. Poupo o trabalho a um investigador que se preocupe a indagar porque está então uma vintena de pessoas a trabalhar neste projecto – nada de ideológico as une. São meus amigos e fui-os convidando um a um.

Nessa feira, nem todos queremos oferecer o mesmo produto. Por exemplo, o botabaixismo que encontraste em alguns posts não é uma regra, nem obedece a qualquer estratégia - os «estrolábicos» que atacam o Governo e o primeiro-ministro, fazem-no por razões diferentes: uns porque entendem que no actual quadro político-partidário existem alternativas credíveis e outros que o fazem de uma perspectiva de que a mudança (ainda que seja para pior) é sempre preferível à imobilidade. Falando de mim, pois só a mim me represento, dir-te-ei que a minha guerra é com um sistema democrático que, depois de tanta esperança, quando vós, os homens do MFA, nos restituíram a Democracia, me desiludiu ao ficar cristalizado num sistema oligárquico e endogâmico, onde a rotatividade entre os dois partidos do «bloco central» permite perpetuar injustiças, favorecer clientelismos, eternizar a corrupção e a deturpação sistemática do que constitui a pedra angular do ideal democrático – a verdade.

Raramente me ouvirás condenar um primeiro-ministro ou um partido que esteja no poder. Não acredito na teoria do quanto pior melhor e entendo que Sócrates tem os defeitos que tem (não são poucos), mas não contem comigo para lutar pelo seu derrube para o substituir por alguém eventualmente pior. Digamos que estou desinteressado dessa luta. Quanto a mim, faz sentido, sim, atacar o conceito instalado de democracia. Aí não estou de acordo contigo, não aceito esta versão de democracia representativa. Estou com Jean-Jacques Rousseau quando no «Contrato Social» clama: «O povo inglês, crê-se livre e bem se engana; só o é enquanto dura a eleição dos membros do Parlamento; assim que estes são eleitos, é um escravo, não é coisa alguma». Mas estou plenamente de acordo quando dizes que os governos emanam da vontade das maiorias e que não é possível haver um modelo que todos satisfaça, nem seria legítimo que o nosso modelo triunfasse à custa da repressão dos que não pensam como nós. A História demonstra-nos que as «minorias esclarecidas» raramente foram longe.

Não tive a preocupação de te responder ponto por ponto. Muito do que dizes coincide com o que penso. Por outro lado, onde queria chegar é aqui - a tua voz não destoaria entre nós, pois não somos um coro afinado – cada um canta um melodia diferente. A tua visão serena e clara, mesmo quando não estivéssemos de acordo, seria uma mais-valia para o nosso blogue. Pode ser que um dia te convenças de que não estarás deslocado nem virás perturbar uma harmonia que não existe porque não queremos que venha a existir.

«A minha amizade e estima só morre pelas faltas de carácter, pelas traições, pelas indignidades». Esta, sim, é uma frase lapidar que subscrevo inteiramente. Que todos subscrevemos, estou certo.

Recebe um grande e fraterno abraço, Carlos Matos Gomes.

Carlos Loures (24-05-2010)
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Domingo, 9 de Maio de 2010

A Comunicação Social e a Democracia

João Machado

É comum ouvirmos dizer que hoje em dia existe liberdade de expressão. Contudo essa afirmação não resiste a uma observação mais aprofundada. A maior parte dos cidadãos dificilmente consegue transmitir qualquer opinião mais significativa através da chamada comunicação social, mesmo quando disso sente necessidade. Muitas forças políticas e sociais também encontram muitos obstáculos para conseguirem fazer chegar ao público uma mensagem mais elaborada. Quando tentam fazê-lo vêem frequentemente deturpadas as imagens e ideias que pretendem dar a conhecer.

Também se ouve com frequência gabar a sociedade em que vivemos e o nosso sistema político por permitirem o convívio de diferentes ideias e de modos de vida. Novamente, temos que constatar que esta segunda afirmação não contém muito de verdade. Existem, é verdade, diferentes maneiras de ser e de pensar, mas os valores dominantes colocam-nas numa escala pré-determinada, que influencia decisivamente a opinião da maioria.

A comunicação social é controlada pelo Estado e pelos grandes grupos económicos. Os pequenos jornais, as rádios locais têm públicos restritos e debatem-se com cruéis limitações que dificilmente ultrapassam, apesar do enorme valor de muitos dos seus responsáveis.

O escritor e activista britânico George Monbiot escreveu a semana passada, na coluna que mantém no Guardian, que a mentira mais perniciosa em política é que a imprensa é uma força democratizante. Alguns afirmarão que constituirá uma incongruência escrever esta frase num jornal de grande tiragem. Pessoalmente, penso que Monbiot dificilmente conseguiria publicar a sua coluna noutro jornal que não o Guardian, e nunca na maioria dos países do mundo. Mas também penso que culpar a imprensa e a comunicação social em geral pelas limitações à democracia é um pouco como matar o mensageiro que nos traz uma má notícia (o problema muitas vezes é que nem consegue transmiti-la). O problema está obviamente nas pressões e limitações que incidem sobre toda a comunicação social. No chamado mundo ocidental são sobretudo (não só) de carácter económico. As indignas manipulações que se constatam são um reflexo deste facto. Foi outro britânico, Lord Acton, que disse abertamente aquilo que todos instintivamente sabemos, que o poder corrompe. Não é preciso contar o Citizen Kane para concluirmos que o poder da comunicação social não é excepção.

O movimento dos blogues tem constituído uma maneira de contornar aquelas pressões e limitações. Em muitos lados do mundo é uma maneira razoavelmente eficaz de fazer conhecer factos e ideias, em alternativa à comunicação social tradicional. O seu alcance depende obviamente de muitos factores, como por exemplo a disseminação da internet. Mas o fundamental é contribuir para contrariar o crescimento do pensamento único, cada vez mais forte nas últimas décadas, à sombra de pretensas políticas realistas, de apregoados apaziguamentos ideológicos, que apenas servem para camuflar pretensões de afirmação e de eternização do poder que nada têm de democráticos, nem têm a ver com as liberdades ou os direitos fundamentais.
publicado por Carlos Loures às 07:48
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