De um grande amigo meu, a quem enviei um texto de Mark Twain, recebi este mail:
A propósito do Criador, das doenças e da ciência: circula nos meios noticiosos que vai ser beatificado (ou santificado? pouco importa) João Paulo II, com base na cura de uma freira que, com a "cunha" do papa, conseguiu d'Ele a cura da doença de Parkinson (ou alzheimer - era a mesma doença de que padecia o papa).
É nestas alturas que dá sempre jeito termos por perto os homens da ciência, para ajudarem a refletir os "rescapé" da Arca. A criatura tinha a doença devidamente diagnosticada. Será que os especialistas confundiram uma daquelas doenças arrasadoras com uma benigna doença nervosa, que qualquer abanão psicológico pode, numa noite, fazer desaparecer sem deixar rasto? Tratando-se doença séria, comprovada pela ciência (ou também não devemos dar grande crédito aos especialistas?), como de explica que a senhora nos apareça agora sem qualquer rasto da terrível doença? Tudo manipulado? Não será demasiada gente (aparentemente séria) a ser manipulada? A alguns dá para reflectir; a outros para rir. Certo é que o Criador deu uma cabeça a todos. Como cada um a usa, é isso mesmo, depende de cada um.
Eu respondi:
A mim dá-me para rir, obviamente! A medicina não é propriamente matemática, e tem coisas, por vezes, difíceis de explicar, não obrigando, contudo, a explicações anedóticas, sem ofensa para quem as aceita, que fazem rir.
Claro que o mais provável é que não fosse Doença de Parkinson, propriamente dita, comprovada, com substrato estrutural indiscutível, a qual é uma doença degenerativa, muito dificilmente reversível. Cada caso é um caso particular, como aliás acontece com todas as doenças. Por isso se diz que não há doenças, há doentes.
Mas a sintomatologia parkinsónica pode ser causada e mimetizada por outras doenças, nomeadamente por toxinas, doenças metabólicas ou outras condições neurológicas, as quais, se desaparecerem fazem desaparecer o parkinsonismo. Além disso, há parkinsonismos atípicos, que podem resultar de iatrogenia, isto é, de efeitos colaterais de medicamentos, por exemplo neurolépticos e antipsicóticos, como as fenotiazinas, os tioxantenos, as butirofenonas, as piperazinas e os próprios antidepressivos, não falando dos efeitos, ainda que muitas vezes não descritos, de outras drogas. Desaparecendo a causa desaparece a doença, e pode acontecer da noite para o dia. Há parkinsonismos, como há muitas outras doenças, a que chamamos idiopáticas, isto é, não têm uma causa aparente nem detectável pelos métodos disponíveis.
Daí a pôr João Paulo II como curandeiro, vai uma distância intransponível para milhões de cabeças. E muito mais intransponível se os méritos curadores advierem de uma santidade que faz rir muitos mais milhões de cabeças que conhecem bem os meandros dos crimes do vaticano e não só, em que a sua conivência, colaboração e aval, estão mais próximos do reino do pecado do que da esfera da santidade. Valha-nos deus!
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