Boat people de hoje
Daniel Rondeau
Nomeado embaixador de França em Malta em 2008, Daniel Rondeau viu-se rapidamente confrontado com o afluxo dos imigrantes que chegam aos milhares a esta ilha, porta da Europa. O diplomata sobrevoa as suas embarcações de acaso, informa-se sobre as razões e as condições da sua viagem. É o escritor que nos dá aqui esta “crónica quase diária do sofrimento e do exílio”.
Figurinos com a dimensão humana foram instalados em meados de Novembro em face do monumento às mortes de La Valette. Estas estátuas representam os Reis Magos e anunciam o Advento. O negro, com o turbante é Baltazar. A primeira vez que o vi, imediatamente pensei que este Baltazar maltês devia às vezes sentir-se um pouco sozinho. Há poucos africanos nas ruas de Malta, mesmo se me acontece cruzar uma ou duas vezes, à noite, na alta da vila de Floriana, com fantasmas em jeans ou fatos coloridos, escondendo a sua miséria sob risos e com grandes passos.
No entanto, durante a bela estação, várias vezes por semana, os diários malteses relatam em primeira página a chegada de embarcações de imigrantes. O dia em que assumi as minhas funções em La Valette, numa Quarta-feira, 23 de Julho de 2008, o Malta Today contava que um barco carregado com 28 homens e 2 mulheres tinha sido interceptado a 6 milhas náuticas da costa de Marsaxlokk e escoltado até um cais próximo do Freeport e que os imigrantes ilegais tinham sido entregues às autoridades policiais.
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Acabo de ler no jornal The Guardian que um barco que tentava chegar a Lampedusa foi deixado à deriva no mar Mediterraneo durante por 16 dias, apesar do alarme que foi lançado.( Le Monde)
Há aqui abdicação de responsabilidades que levaram à morte de 60 pessoas , incluindo crianças. Isto constitui um crime que não pode ficar de modo nenhum por punir só porque as vítimas são migrantes africanos e não turistas de uma linha de cruzeiros de luxo, diz-nos o padre Moses Zerai, em Roma.
O neoliberalismo continua a fazer das suas vítimas, pelas múltiplas áreas em que actua. Este é mais um exemplo, apenas mais um.
Aos visitantes de estrolábio recomendo a leitura de um texto publicado há um ano no âmbito do Ciclo de Cinema da Faculdade de Economia de Coimbra (FEUC), organização de que faço parte e façamos da sua leitura uma homenagem aos que agora morreram, texto escrito por Embaixador de França em Malta, Daniel Rondeau , em onde se lê:
“A História continua apaixonante e terrífica. Mas hoje, a única promessa
cumprida, e demasiado frequentemente, é o túmulo. Ulisses é negro e morre no
mar, no silêncio das ondas, depois de meses de espera, de aflição.”
Para os mais interessados sobre o tema sugerimos os cadernos de textos de apoio que ao tema o Ciclo de Cinema na altura e na FEUC publicou, disponível em http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/2009_2010.htm
Amanhã (16 h) texto escrito pelo Embaixador de França em Malta, Daniel Rondeau .
Luis Moreira
Na minha juventude passava as férias em Aveiro onde tenho duas irmãs e respectivas famílias. Sou do tempo em que se vivia ao ritmo das marés - ria cheia, ria baixa - aproveitando a saída e a entrada da água para a pesca em sítos estratégicos, e para os mergulhos de cima das pontes, seguindo o exemplo dos meus amigos filhos dos pescadores e dos "moliceiros" que nascem com "barbatanas". A Avenida Dr. Lourenço Peixinho era e é, mas agora menos só, o local das lojas e dos cafés da moda e também onde se encontra o Cinema famoso por ali se terem realizado alguns dos encontros mais emblemáticos da oposição política. Os antifascistas saiam do cinema à força de porrada da polícia e entravam directamente no café da frentre, que pertence a um primo meu, que não é para brincadeiras e deixava entrar os fugitivos e fechava a porta na cara à polícia.
A ria espraiava-se por campos desertos aqui e ali tratados mas logo à saida da cidade, onde hoje se encontra a Universidade de Aveiro, ainda a ria era selvagem e, para o outro lado, eram rainhas as salinas, a perder de vista , brancas como a neve e os homens e as mulheres a fazerem autênticos prodígios com os cestos cheios de sal à cabeça. Mais a seguir as secas de bacalhau com o "fiel amigo" a secar ao sol, esticado em cercas de arame a perder de vista e, mais adiante, os bacalhoeiros a aprontarem-se para nova demanda na Gronelândia, com os estaleiros de S. Jacinto a borbulharem de trabalho. Logo ali, as praias dos meus sonhos, cheias de francesinhas e belgas, namoradinhas que trcavam de namorado todos os dias. A água fria e as ondas alterosas não eram caso para desistencias embora por duas vezes me visse muito atrapalhado para de lá sair.
Universidade de Aveiro
A cidade deu um salto fantástico de modernidade com a Universidade de Aveiro uma das mais prestigiadas, onde nasceu o motor de busca "o SAPO" e o controlo de passagem da "Via Verde", produtos utilisados em todo o mundo, bem como foi ali inventado o "cartão pré-pago" dos telemóveis. Além disso faz o controlo e a monitorização da fauna píscicola e flora aquática da ria, bem como a monitorização da qualidade das águas de todo aquele belo e magnífico estuário. O Mosteiro de Santa Joana Princesa tem um belo acervo de obras e o próprio mosteiro é digno de se ver. O seu Jardim Central cheio de água a correr, com o velho campo de futebol Mário Duarte, agora substituído por um dos novos estádios à roda do qual se desenvolveu uma urbanização moderna. Aveiro com a sua neblina noturna, o pavimento perigoso por escorregadio, o cheiro característico da "ria baixa", o som "feérico" das rádios em ligação com os homens que andavam alto mar à pesca, fazem parte da minha vida. De uma juventude muito feliz da minha vida!
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