Carlos LouresUma sondagem, feita há quatro anos pelo Expresso, indicava que 27% de portugueses estavam dispostos a uma união com o estado espanhol. Segundo um estudo de 2009, de uma coisa chamada «Barómetro de Opinião Hispano-Luso (BOHL)», a percentagem subiu para 40%. Neste fim-de-semana o tal barómetro atacou pela segunda vez - leio no Público de ontem, 22 de Maio, que 45,6 por cento dos portugueses, apoiariam a tal união. O estudo foi, tal como o anterior, levado a cabo pela Universidade de Salamanca, com o apoio de um centro de investigação do ISCTE. Porém, na sua edição do mesmo dia, o El País, refere como sendo de 39,9% a percentagem de portugueses apoiantes de tal ideia. Em que ficamos – 45,6% ou 39,9%?
Não me interessa a resposta. Não quero discutir pormenores. O que gostava de saber era – quem está à frente, ou por detrás, deste barómetro? A Universidade de Salamanca é uma instituição respeitável. O ISCTE, sem a secular tradição da velha escola salmantina, tem também os seus pergaminhos. Quem compra esta «credibilidade», pondo-a ao serviço de uma causa tão repugnante como a de vender a nacionalidade?
A notícia do El País comenta, após fornecer as percentagens: «La unión política entre España y Portugal es una idea que divide a los portugueses y causa indiferencia en España». Isto dá a ideia de que aquí o projecto da tal federação é tema de conversas e constitui uma das preocupações dos portugueses. Falo com muita gente, mas nunca ouvi, em parte alguma, discutir este assunto. Esta questão, de modo algum divide os portugueses.
Isto já começou há anos atrás, em 2006, com a tal sondagem do Expresso. Depois, foram as declarações de Saramago, em entrevista ao Diário de Notícias (Julho de 2007): «Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos». Em entrevista concedida à agência Lusa, em Novembro de 2008, Arturo Pérez-Reverte um conhecido escritor espanhol, defendeu a existência de uma Ibéria, um país único, sem fronteiras que separem Espanha e Portugal, porque, na sua opinião, é «um absurdo» que os dois países vivam «tão desconhecidos um do outro». Em 2009, além da confissão de «iberismo» por parte do, então ministro, Mário Lino em Santiago de Compostela, houve a entrevista de Ricardo Salgado, do Banco Espírito Santo ao Público. O líder do Banco Espírito Santo, ao Público, defendeu o TGV «como forma de acelerar a construção da Ibéria». Mas a esperança do homem do BES nada tem a ver com iberismo – acha é que o seu banco teria uma expansão maior se estivéssemos integrados num espaço comum com as regiões ricas de Espanha – Madrid e Catalunha. E houve o 1º barómetro.
No plano da comunicação, vemos envolvidos nesta tentativa de intoxicação da opinião pública portuguesa, além do El País e dos já referidos semanário e diário portugueses, órgãos de informação onde o capital espanhol tem peso significativo, como é o caso da TVI e da Rádio Comercial, ambos da Prisa - Media Capital. A própria RTP, paga com os nossos impostos, dá uma ajuda, com a inenarrável Rosa Veloso, subindo, de
motu proprio, a percentagem dos apoiantes portugueses para 50%, a fazer entrevistas pelas ruas de Madrid.
Estranhamente, os grandes aliados de quem quer preservar a independência nacional portuguesa, são, de acordo com as duas sondagens de Salamanca, confirmadas neste aspecto pelas entrevistas da Veloso, a maioria dos cidadãos do estado vizinho. O que significa que, ainda por cima, teremos de pedir por favor para nos deixarem entrar.
Dias atrás, Carlos Leça da Veiga pedia a independência da Galiza. Com esta tramóia em marcha, oxalá não tenhamos dentro de algum tempo de pedir também (ou de exigir) a independência de Portugal.