Domingo, 27 de Março de 2011
Há todas as razões para se poder dar como pacífico que a carga burocrática da avaliação dos professores , mais tarde ou mais cedo teria que ser removida. Há professores que aceitam e consideram a avaliação como fundamental para a classificação de docentes e das próprias escolas,e que também consideram que essa carga burocrática impedia um bom desempenho do processo. Não eram , pois, só os do costume que querem emprego para toda a vida, progressão automática nas carreiras e "o igualitarismo" militante e medíocre.
Mas que dizer de todos aqueles que com muito trabalho deitaram mãos à obra e avançaram com o processo e vêm agora o seu trabalho deitado para o lixo? Seria muito mais avisado que o processo prosseguisse e se torna-se uma experiência para posterior melhoria. O eleitoralismo e o populismo foram mais uma vez vencedores.
E, nas outras áreas onde processos e reformas estão em desenvolvimento? É, claro, que os que gostam da paz dos cemitérios não perderão a oportunidade para reinvindicarem vassourada igual. O facilitismo é um instrumento para o PSD como tem sido para o PS, é assim que o estado é presa de corporações de interesses que não deixam o país progredir.
Estamos perante uma decisão asinina, dando para a sociedade um sinal de fraqueza, um sinal de que vale a pena ser preguiçoso e que aparece sempre quem tire as castanhas do lume.
Os sindicatos esfregam as mãos agora é só mais um bocadinho e vamos voltar ao nivelamento por baixo, todos a chegarem ao topo, todos a esperarem sentados...
Oxalá que esta burrice não impeça que o PSD contribua para uma escola autónoma ,mais responsável e devidamente avaliada.
E com consequências ao nível da remuneração , da progressão nas carreira e na estabilidade profissional.
Terça-feira, 15 de Fevereiro de 2011
Luis Moreira
Numa reunião de dirigentes de escolas onde estiveram 250 dirigentes, foram discutidas importantes questões e que são avanços significativos para se encontrar o caminho certo para a "autonomia das escolas". Uma das questões é que "esta" avaliação é, segundo eles, demasiado burocrática e morosa, pugnando por uma avaliação mais consensual e mais prática. Já não se discute se é ou não possível avaliar os professores, isso é questão aceite.
"Os professores querem ser avaliados mas estamos todos a chegar à conclusão, ao fim de uns meses a experimentar este modelo, de que é impraticável. Gastam-se imensas horas em funções burocráticas em prejuízo do ensino e da escola".
E, outras conclusões notáveis: " A força espontânea e autónoma dos professores que contestaram o modelo anterior foi utilizada pelos sindicatos"
"Os professores foram traídos pelos sindicatos numa noite de negociação com certeza muito animada"
" O modelo é lesivo para a qualidade da escola, prejudicial para contribuir para um ambiente tranquilo e cria profundas divergências entre professores".
Outro dos motivos de crítica é a utilização da "central de compras" que deixa de lado o comércio local e a possibilidade da escola poder comprar livremente, melhor e mais barato . Sempre o centralismo! As compras de grandes quantidades de artigos que abarquem várias escolas a nível regional ou nacional, justificam a utilização da "central de compras" mas não as compras para o dia a dia que exigem proximidade.
Outra questão são "os agrupamentos de escolas" que só deverão avançar desde que a comunidade escolar e a autarquia estejam de acordo e não à revelia destas.
o "centralismo" chega ao ponto de ter um caderno de encargos para os produtos do "buffet" que não autoriza a compra por "marcas" ( é muito complexo, porque não se pode referir marcas).
Outra preocupação é o previsto despedimento de contratados no próximo ano "os mais jovens vão ser prejudicados com a reforma curricular" e que não fazendo parte dos quadros, são os que se mostram mais disponíveis e os maiores dinamizadores no envolvimento das actividades que mais motivam os alunos (onde é que eu já li isto antes...). calcula-se que ficarão no desemprego 25 a 30% dos jovens professores contratados.
Enfim, como todas as organizações as escolas são organismos vivos que se adaptam, que se desenvolvem, que melhoram processos .
Afinal, sempre se move!
PS: (a partir de uma notícia no DN de 13/2)
Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011
No Expresso de hoje dois homens que dedicam a sua vida ao ensino trazem-nos ideias sobre as quais vale a pena reflectir .
Erik Hanushek, investigador da Universidade de Stanford.
Tem dedicado o seu trabalho de investigação a medir o impacto dos professores no sucesso dos alunos.
"É preciso afastar os maus professores da sala de aula"
" Se os pais sentirem que a escola dos filhos não está a fazer um bom trabalho devem poder escolher outro estabelecimento. permitir esta influência traz uma boa pressão sobre as escolas"
"Se, em 20 anos, todos os alunos portugueses chegassem ao nível da Finlândia nos resultados do PISA, o valor do PIB aumentaria 2,9 biliões de dólares. O factor mais importante no crescimento económico é a educação", e defende que a reforma essencial passa por pagar mais aos melhores docentes e afastar da sala de aula os menos eficazes.
"...mas o que sabemos é que há uns que são melhores que outros....vamos definir políticas que ajudem a manter os bons profissionais e afastar os maus professores da sala de aula". Como é que se mede a qualidade de um professor?
"A maneira mais simples é ver se os seus alunos estão a aprender e se os seus resultados melhoram ao longo do ano. Há classes em que muitos aprendem muito, outras em que aprendem pouco. Isto tem a ver com a qualidade dos professores."
Os salários deviam estar directamente ligados ao desempenho?
" Sem dúvida. Numa escola toda a gente sabe quais são os bons e os maus professores". Mas há professores que, por estarem em escolas mais problemáticas, têm um trabalho mais complicado: "A maioria dos estudos que medem o valor acrescentado dos professores tem em conta essas circunstâncias"...por outro lado, nas escolas difíceis, parte daquilo que é ser um bom professor passa por ser capaz de controlar a sala de aula, pegar em miúdos desinteressados e motivá-los"
Em Portugal ou nos EUA, a avaliação dos professores é uma questão muito polémica. Porquê?
"Em todo o mundo existem sindicatos fortes que têm tradicionalmente defendido a não distinção entre professores e resistido a qualquer tentativa de despedir os maus profissionais. Tenho dito aos dirigentes dos sindicatos que não é boa política apoiar os piores... estudos mostram que os sistemas que melhor têm progredido arranjaram uma forma de afastar os maus professores da sala aula...orientando-os para outras actividades...é universal o conhecimento que o elemento-chave numa escola é o professor..."
Quem deve avaliar os professores?Os colegas ou uma entidade externa?
"Dentro de uma escola, os professores sabem muito bem quem está a fazer um bom trabalho ou não....tem que haver uma combinação com uma outra avaliação mais uniforme. Dar mais autonomia às escolas para tomar decisões - salários - é uma coisa boa mas acompanhada por uma avaliação externa e de prestação de contas."
Quem deve escolher os professores?
"É errado pensar-se que um governo central possa gerir todas as escolas. A educação é demasiado complicada e a situação é tão diferente de escola para escola, que é de doidos pensar-se que o poder central pode escolher de forma eficaz os professores certos, colocá-los nas escolas mais apropriadas ou decidir a formação que é preciso dar."
E o professor Nuno Crato, intitula: "Os professores e os números"
"Usar números para analisar o ensino é uma raridade que merece ser destacada!" Sublinhar este facto, quando a discussão sobre educação é tão manchada por facciosismo e pela ideologia..." "...as escolas mais exigentes são as que mais favorecem os alunos oriundos das classes mais desfavorecidas. Os factores que mais influenciam o ensino, são o currículo e a qualidade dos professores.
"Vale a pena ouvir o que nos dizem os dados!"
Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2011
Ano após ano o Júri Nacional de Exames alerta para o elevado e oportuno número de atestados médicos apresentados pelos professores nos dias em que são distribuídas as provas para classificação. No relatório apresentado esta semana esta questão é mais uma vez apontada como uma das situações que mais perturba o complexo processo que envolve a realização de meio milhão de testes.
" Após a convocatória para a classificação dos exames, vários classificadores apresentaram atestado médico, não comparecendo às reuniões de aferição de critérios. Alguns apresentaram atestados de apenas um dia, faltando a estas reuniões, quer na 1ª quer na 2ª fase", lê-se no relatório da JNE. As faltas obrigam a uma redistribuição das provas por outros classificadores, o que, "além de não ser justo para estes, implicou uma enorme sobrecarga para os agrupamentos, considerando que têm de refazer todos os procedimentos de distribuição".
A correção das provas de aferição dos 4º e 6º anos também é afetada por este mesmo problema. Após a nomeação dos classificadores surgem "inúmeros pedidos de substituição pelas mais variadas razões (saúde, excesso de cargos, problemas familiares,etc) que as unidades de aferição procuram resolver com muito esforço e transtorno no seu trabalho, lê-se no Expresso. Por outro lado "continua elevado o número de atestados de um dia logo na primeira reunião de supervisão". O JNE diz que a situação provoca a "indignação" dos classificadores, que ficam com mais provas para ver, e revela "falta de responsabilidade e solidariedade entre pares"
Há também docentes que marcam féria intercalares em cima das datas de distribuição e devolução dos exames da 2ª fase (em Julho). "esta situação está a tornar-se frequente e impeditiva de uma distribuição de provas pelos classificadores mais equititiva"
São estas golpadas que os sindicatos dos professores apresentam como "direitos" defendendo os professores fraudulentos em vez de defender quem trabalha e é responsável. É, por esta e por outras, que a corporação de professores não quer a avaliação baseada no mérito, que as falta não tenham qualquer consequência, que todos sejam iguais e cheguem ao topo da carreira.
Também é por isto que a sociedade não os respeita, que os alunos não lhes reconhecem autoridade, que as famílias querem e optam por escolas privadas. Cada atestado destes devia dar origem a um inquérito e, a provar-se a fraude, o professor mentiroso que engana médico, colegas, alunos e escola deveria ir de imediato para a rua. Acabavam os atestados médicos fraudulentos!
Quarta-feira, 5 de Janeiro de 2011
Em tempos idos pensava que o neoliberalismo não avançava tão rapidamente na sociedade portuguesa como o está a fazer actualmente no ensino, mesmo quando o sistema dá sinais evidentes de estar quase defunto. Feita a reforma do ensino superior, dita reforma de Bolonha, pensava eu, ingenuamente, que algum pudor haveria em avançar com mais reformas antes de estabilizar esta e portanto que se passaria primeiro por uma análise em profundidade desta reforma, na óptica de quem a lançou no terreno, neste caso na óptica de Mariano Gago e de quem o acompanha, de quem o defende, de quem o serve ou de quem é obrigado a servi-lo. Mas não, mais uma vez me enganei. O ritmo de reformas avança, e agora é a avaliação dos docentes que avança, é o sentido da classificação, da quantificação da qualidade que se pretende, pretende-se assim o impossível mas como não é crível que intelectuais e técnicos assumidos andem a trabalhar para querer o que toda a gente sabe que é impossível, então o objectivo é outro, para mim é certo de que o que se pretende é garantir, agora ou depois, um certo ritmo da desclassificação, um certo ritmo de redução de custos. De resto, agora nem sequer se fala em promoções. Então avalia-se para quê? Alguém é capaz de me dizer? Penso ter razão e, se assim é, ninguém mente pois nos tempos de crise que se vivem em que todos os cofres estão vazios, promover, significa agora despromover, e é disso que se anda à procura. Evita-se a mentira de o dizer.
publicado por Carlos Loures às 17:00
editado por Luis Moreira às 15:42
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Terça-feira, 4 de Janeiro de 2011
Desta vez é a Professora da Universidade de Coimbra, Helena Freitas, que coloca questões muito pertinentes quanto à qualidade das escolas públicas ( estatais e privadas). (Público 29 /12/2010)
"A situação obriga à ponderação dos valores que nos podem fazer crescer enquanto sociedade".
"Não valerá a pena avaliar e reflectir sobre os modelos de organização e gestão que permitem às escolas privadas um tal sucesso'"?
Assumindo que frequentou escolas públicas e que optou para a sua filha por uma escola privada, Helena Freitas, reconhece merecimento tanto na sua escola como na escola que a filha frequenta, sendo redutor analisar a questão da qualidade ao facto das escolas serem estatais ou privadas. O que mereceu atenção na opção foram os padrões de exigência, rigor e qualidade de ensino. Há, na discussão pública que se tem desenrolado, um claro estigma em relação à escola privada - porventura mais acentuado se se tratar de escola conotada com a Igreja Católica - como se fosse um usurpador do erário público, subentendendo-se que apenas as escolas estatais têm legitimidade para terem o apoio financeiro do Estado.
Está assim, centrado o debate, não na qualidade do ensino ministrado, mas na dicotomia público versus privado, o que é injusto para ambas as partes. Para além das questões que se observaram quando o estado necessitou da colaboração das escolas privadas para prestar o serviço a que é obrigado, não pode a meio do caminho dar por finda essa colaboração sem atender aos interesses de todos os agentes envolvidos (alunos, professores, famílias...) ou limitar uma colaboração que se revelou de grande eficácia.
Acresce que os números conhecidos são favoráveis à escola privada no que diz respeito ao custo por aluno e os rankings das escolas, ao fim de dez anos comparáveis, mostram a evidência das melhores classificações serem ocupadas, sistematicamente, por escolas privadas. Não parece essencial discutir se efectivamente "haverá maior eficácia na gestão destas escolas privadas? Não valerá a pena avaliar e reflectir sobre os modelos de organização e gestão que permitem a estas escolas um tal sucesso"?"
"Aproveite-se, pois, para reflectir sobre os casos de sucesso do ensino público leccionado nessas escolas de gestão privada, na qualidade do ensino aí leccionado e nos resultados obtidos.Esta informação é do domínio público e reflecte um trabalho notável na promoção da qualidade do ensino público em Portugal, que deve ser tido em conta num processo de avaliação e revisão da colaboração que tem vigorado".
Domingo, 2 de Janeiro de 2011
Júlio Marques Mota
Em tempos idos pensava que o neoliberalismo não avançava tão rapidamente na sociedade portuguesa como o está a fazer actualmente no ensino, mesmo quando o sistema dá sinais evidentes de estar quase defunto. Feita a reforma do ensino superior, dita reforma de Bolonha, pensava eu, ingenuamente, que algum pudor haveria em avançar com mais reformas antes de estabilizar esta e portanto que se passaria primeiro por uma análise em profundidade desta reforma, na óptica de quem a lançou no terreno, neste caso na óptica de Mariano Gago e de quem o acompanha, de quem o defende, de quem o serve ou d equem é obrigado a servi-lo. Mas não, mais uma vez me enganei. O ritmo de reformas avança, e agora é a avaliação dos docentes que avança, é o sentido da classificação, da quantificação da qualidade que se pretende, pretende-se assim o impossível mas como não é crível que intelectuais e técnicos assumidos andem a trabalhar para querer o que toda a gente sabe que é impossível, então o objectivo é outro, para mim é certo de que o que se pretende é garantir, agora ou depois, um certo ritmo da desclassificação, um certo ritmo de redução de custos. De resto, agora nem sequer se fala em promoções. Então avalia-se oara quê? Alguém é capaz de me dizer? Penso ter razão e, se assim é, ninguém mente pois nos tempos de crise que se vivem em que todos os cofres estão vazios, promover, significa agora despromover, e é disso que se anda à procura. Evita-se a mentira de o dizer.Num texto sobre Bolonha afirmámos e passo a citar:
Por se seguir o caminho inverso daquele que a situação exige, inverteu-se a lógica da democracia quanto à função do Estado. Uns obscuros departamentos de trading de alguns poderosos bancos de investimento, uns poderosos e quase que anónimos hedge funds, uns obscuros especuladores, o mercado afinal, determinam num obscuro mercado os valores dos CDS, em que ninguém nos explica como funcionam, como se determinam as suas taxas; questão extraordinariamente importante quando são estas taxas que vêm a determinar o valor das taxas de rentabilidade implícita dos títulos da dívida pública e o peso do serviço da dívida soberana, quando depois é este que determina o volume de impostos a receber e o volume de despesas a cortar, os grandes investimentos públicos para o futuro a desaparecer. Tudo isto em nome das gerações futuras. E assim se determina o sentido das políticas nacionais e se anula a democracia. Quer-se agora sacrificar os próprios Estados, a própria democracia, no altar da soberania absoluta dos mercados financeiros, cada vez mais opacos, comme il faut. O resto é a plêiade de discursos dos nossos políticos e dos nossos intelectuais a glorificar o caminho imposto pelos mercados financeiros, prisioneiros que são, explícita ou implicitamente, do sentido da eficiência que a estes continua ainda a ser atribuída. E tanto é assim que até os traders, ou gerentes desses obscuros agentes, nesses obscuros mercados, com bónus na ordem das muitas dezenas de milhões de dólares por ano, são também eles classificados, avaliados, por empresas também elas internacionais, globais, e também elas sujeitas às agências de notação . Com tanta avaliação, do primeiro ao último elo da cadeia, quem se atreve a pôr em dúvida a eficiência dos mercados? E aqui a analogia com Bolonha é imediata: também a Universidade vai ser submetida à mesma lógica de eficiência, à mesma lógica dos rating, das avaliações, mas com uma grande diferença. Enquanto os rating para os traders marcam o ritmo dos bónus futuros, o ritmo dos milhões de dólares a receber, na Universidade, porque não há dinheiro, não há sequer tostões, Os rating para os professores têm apenas uma função ideológica: cumprir o modelo!Estamos pois a falar de ratings,, e é de ratinhos que se fala com a avaliação dos docentes. Num outro texto sobre o mesmo tema afirmei sobre a modernização do Ensino Superior de que o primeiro Ministro e Mariano Gago se orgulham tanto : Dizem-nos ter “modernizado” o sistema de ensino superiorFlexibilizaram-se os contratos de trabalho, precarizou-se a segurança no trabalho, colocou-se, por essa via, os professores a considerarem a sua carreira como uma espécie de campeonato de futebol onde o importante é marcar pontos contra os outros e impedir que no-los marquem a cada um de nós, onde estão sujeitos a avaliação contínua como se as sucessivas provas públicas deixassem de ter qualquer significado, onde se passa a fazer não o que se deve verdadeiramente fazer mas sim aquilo que o avaliador é capaz de exigir e compreender, de quantificar e, normalmente, trata-se de coisas diferentes. Possivelmente, a partir de agora, cada professor poderá estar mais interessado em compor a montra onde se irão colocar os dados que vão ser quantificados, avaliados, medidos, do que propriamente em preocupar-se com a função para a qual é pago: ensinar. E esta última função passa-se sobretudo na sala de aulas, no que está aquém dela, no que está para além dela mas onde esta é sempre o centro. Aqui, não há métrica que valha mas a lógica neoliberal exige o impossível que é que seja quantificável o que incomensurável e é assim, pela simples razão de que o que lhe interessa não é a qualidade mas a quantidade. Primado absoluto da quantidade sobre a qualidade, primado absoluto da precariedade a que os docentes vão estar submetidos sobre a estabilidade que a estes deveria ser oferecida, primado absoluto, portanto, do número, neste caso das vias que levam à redução dos custos. O que passa a ser preciso é considerar a carreira e a vida como uma escada de acesso a um trapézio muito alto e de onde não se pode cair ou não se deve, já que a queda pode ser mortal. Por essa via, é a profissão que sai minimizada e os estudantes, esses, passam para segundo ou terceiro plano, desejando-se apenas que não nos atrapalhem na subida das escadas da vida de cada um de nós, professores. Adicionalmente, reduz-se a dimensão dos cursos, multiplica-se o número destes, vejam-se só os números de cursos em engenharia espalhados por esse país, multiplicam-se os mestrados e inventa-se a transversalidade para os diversos mestrados, em que um licenciado em direito ou em agronomia ou noutro curso qualquer, onde praticamente não teve economia, pode tirar um mestrado na área de gestão ou de economia e num tempo bem curto.
Em suma, “modernizar” o ensino superior pode vir a poder-se considerar como um custoso processo de autonomização e de conservação da ignorância dos estudantes que, em vez de verem a ignorância por si vencida, esta é a função da Universidade, passam é a ser possuidores de uma ignorância mantida ou acrescida, derivada da erosão do tempo em que não se estuda ou em que se passa por cima de quase tudo o que é estudo, com a velocidade de quem tem medo de perder um outro comboio, o de ir procurar e conseguir emprego antes dos outros, os seus colegas concorrentes. Mas, tudo isto faz parte da “modernidade” de que nos falam até à exaustão os nossos políticos .O modelo subjacente à política do Ensino Superior é o modelo neoliberal na sua versão mais dura, naquilo que leva a que cada um de nós se molde na nossa interioridade aos parâmetros do sistema, de um contra todos, o mesmo se passando quanto à nossa exterioridade. Se queremos sobreviver, terá que ser assim, o trabalho que se faz deve ser feito fundamentalmente para a quantificação. Neste modelo a quantificação é primordial, pois não tem valor tudo o que não se possa medir, aferir, comparar, quantificar: Neste modelo é fundamental o rating, como o é em qualquer Bolsa e, descobrimo-lo agora de forma bem terrível, como o é também assim com o nosso pão de cada dia, porque as nossas vidas, dependem das políticas económicas seguidas e estas dependem, também elas do rating da dívida pública. Condenados, cercados pela lógica do rating, eis pois a condenação do cidadão moderno. Procure-se, por todas as esquinas, por todas as praças de Lisboa, por esse mundo quem nos assegure um pouco de paz, quem nos assegure um rating de qualidade e triplo A que seja!.Boa sorte.Vou-vos reproduzir uma fábula, passada num país qualquer, a que damos o nome de Numerolândia, o país do número, e claramente esse país poderia estar actualmente a ser governado por um qualquer governo da Eurolândia. Qualquer deles ficaría aí muito bem.A fábula, portanto.
A verdade da fábula
Um dia na região onde se desenrola esta fábula, a Agência dos Avaliadores informa o Centro de Investigação Regional de que os seus Peritos viriam da capital para avaliar a investigação, as equipas, e o Instituto na totalidade dos seus serviços, com excepção dos investigadores.Neste país entre os países, os Estatísticos pediram um dia ao governo autorização para incluir informações de ordem étnica nos seus inquéritos. O debate abriu-se. Houve gente “por”, ou gente “contra”, e a controvérsia transcendia, e de longe, a clivagem habitual entre partidos do governo e da oposição.As pessoas que defendiam a inclusão deste tipo de dados , os do “por” explicavam que dado que se podia, a partir de agora, aceder à informação, não tinha sentido privarem-se dela: é a utilização de um saber que se revela boa ou má, não o saber em si- mesmo. E de momento, só se faziam coisas boas, porque somos todos os democratas - não é assim ? - e somos todos bem conscientes das nossas responsabilidades.Os “Contra” sublinhavam que o número étnico, no caso, não traria nenhuma informação suplementar sobre as pessoas, mas abriria a caixa Pandora que ninguém seria capaz de controlar depois. Quem sabem entre que mãos cairiam estes inquéritos e para que fins poderão eles servir, então? Na sua grande sabedoria, o governo transigiu: poder-se-ia incluir dados étnicos nos inquéritos, mas apenas durante um tempo limitado. Dois anos. E nenhuma publicidade é feita em redor dos resultados. Então, este país esqueceu.
Mas, tecnicamente, descobriram-se desvios importantes entre as administrações, entre as administrações e o sector privado, e no interior do sector privado. Inventou-se então um índice que permitisse medir a relação de negros, árabes e judeus, num meio socioprofissional dado , número que se baptizou imediatamente como “o índice NAJ”, porque se gosta de siglas, nesse país. Não se tratava, certamente, de um número bruto de que se deduz simplesmente, no momento do inquérito, o número de Negros, Árabes ou Judeus porque então teria sido impossível proceder a comparações portadoras de significado.
Não, tomava-se o maior número de Negros, Árabes e Judaicos citados pelos seus colegas durante os cinco anos precedentes, ponderado por uma combinação linear de Negros, Árabes e Judeus efectivamente presentes, depois, dividido por uma per-equação incluindo média nacional, regional, e tendo em conta a classe profissional considerada. É munindo-se de todas as precauções que se pode explicar a precisão, e mesmo, ousamos , a equidade deste índice. O NAJ era diabolicamente interessante.
Alguns meses depois, a Agência dos Avaliadores preveniu o Instituto de Investigação
Regional - porque a região onde se passa esta fábula orgulhava-se de possuir um Instituto de Investigação - que os seus peritos viriam da capital para aplicar as suas funções e avaliar, em boa e devida forma, a investigação, as equipas, o Instituto na sua totalidade mas não os próprios investigadores, porque tal não era o seu mandato. Agitação no Instituto!Publicou bastante?É necessário preparar-se para o melhor como para pior, é necessário reservar o restaurante, mandar limpar as instalações sanitárias, preparar as exposições bem como o nosso balanço dos quatro anos transactos. Publicou bastante? Bastantes contratos com o privado? Bastantes patentes? Como foi o enquadramento dos estagiários? Quanto a responsabilidades internacionais? Ninguém não se interrogou: fez descobertas?
A pergunta pareceu absurda, fora de questão. Mas uma voz elevou-se na sala: “não seria necessário que estudávamos nós o nosso índice NAJ? Evidentemente, não estamos nada de acordo com este índice. Revela uma sociedade em cheia deliquescência, uma sociedade em que só vale o que é contabilizável. Mas, por outro lado, é necessário ter em conta que os nossos avaliadores não se privarão de o calcular e, se não está está conforme, atacar-nos-ão desse ponto de vista. O nosso Instituto passará então do nível A para o nível B e nós perderemos os nossos créditos. Acabam-se os contratos de trabalho de duração determinada para empregar os nossos técnicos, os nossos engenheiros. Acabam-se os postos de investigadores e de professores.Preparar uma argumentação idóneaEnquanto se formos nós a calculá-lo, nós saberemos antecipadamente o que é que temos que enfrentar e podemos assim preparar uma argumentação idónea. É certo, o nosso índice NAJ é mais elevado -ou mais baixo , isto será assim o resultado do estudo - que a média internacional. Mas é necessário ter em conta que se trata de uma herança histórica. Na nossa disciplina , os negros eram naturalmente os primeiros, enquanto que os judeus e os árabes só de longe seguem a média indicial. É por esta razão, dada a nossa preocupação total com a excelência preocupámo-nos em empregar mais negros, ou menos árabes e menos judeus, adaptar-se-á a argumentação, guiados, voltemos a sublinhá-lo por outras palavras, em melhor convencer os nossos respeitados avaliadores e provar também o nosso entusiasmo, unicamente, pela ambição de sermos os melhores num contexto internacional altamente competitivo e de elevar bem alto a bandeira do nosso país”.Os investigadores estavam contentes. Como eles se saíram, uma vez mais brilhantemente, da armadilha estendida pelo Governo! Com uma tal inteligência, eles não arriscaram verdadeiramente nada. Foram os investigadores do outro Centro que tiveram problemas para se desenrascarem, mas não estes. Estes simplesmente iam ganhar velocidade e ultrapassar os Avaliadores que - surpresos e contentes, saciados igualmente porque se lhe tinha reservado um muito bom restaurante - mantiveram a classificação ao nível A. Tinham escapado de boa . As comparações com o sistema são totais. Produz-se um produto NAJ, sem sentido, e é-se avaliado com A, produz-se um produto tóxico qualquer, sem sentido, igualmente, precisa-se de um rating, obtém-se este rating triplo A, pela avaliação externa, a saagências de notação, lança-se na bolsa, e tudo está bem. Viva Numerolândia, viva o rating, vivam os mercados financeiros. Esta é a lógica do neoliberalismo.
Sexta-feira, 31 de Dezembro de 2010
Luís Moreira
O Conselho Nacional de Educação considera que as escolas privadas devem ser também alvo de avaliação externa. Desde 2006 que a Inspecção- Geral da Educação já avaliou 984 agrupamentos e escolas não agrupadas do sector público.
Numa recomendação sobre a avaliação externa o CNE sugere que "seja definida a obrigatoriedade de as escolas apresentarem um plano de melhoria" O CNE lembra que é assim que se faz em muitos outros países, sendo feita depois, no fim do processo, uma monitorização da concretização do plano de melhoria.
Cá no país ainda não foi efectuada nenhuma aferição dos efeitos dos programas e defende que este balanço deve ser feito por uma entidade externa e independente do ME. Este processo é importante e ainda mais porque a classificação das escolas tem consequências para a fixação das quotas para a atribuição aos professores das classificações de Excelente e Muito Bom.
Claro que o CNE também reconhece que ainda não há consenso sobre esta matéria, mas isso já todos esperávamos, pois se a corporação de professores defende a "impossibilidade" de avaliar as escolas e os professores e que todos os professores devem chegar ao topo da carreira...
Mas o que tem que ser pode muito, a avaliação é cada vez mais consensual, as quotas para os níveis mais elevados da carreira como consequência do mérito são já defendidas por muitos professores, e a razão e os processos com provas dadas vão ter vencimento.
Não se pode trocar o mérito pela preguiça, nem a exigência pela irresponsabilidade. É tempo de se avançar no caminho da qualidade e dos resultados.
Por muito que custe aos que esperam sentados.
Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2010
Luis MoreiraImportante Encontro REFORMAS EDUCATIVAS DE SUCESSO dedicado à Avaliação de Escolas e Alunos.
Participação especial de ERIC HANUSHEK, reputado especialista internacional da Universidade de Standford.
Comentários de
Carlos Pinto Ferreira (Director do GEPE) e
Paulo Trigo Pereira (ISEG).
Com a presença do Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Educação,
Alexandre Ventura.
Anote na sua agenda:
6 de Janeiro (manhã)
Votos de Boas Festas da Equipa FLE.
Como se vê até há reputados especialistas internacionais sobre "As Reformas Educativas de Sucesso" é, pois, dificil de perceber que a avaliação das escolas e dos respectivos professores seja impossível, ou que não tenha credibilidade como defendem os sindicatos do sector e a corporação dos professores. Porque como tambem se lê e está muito explícito estas reformas referem-se à avaliação de escolas e alunos.
Ora, não é possível avaliar escolas sem se avaliar o resultado do trabalho dos professores, e não é possível avaliar os professores sem se saber quais são os objectivos que a escola se propõe atingir, o que por sua vez obriga a fixar metas e objectivos para cada professor. Depois, é mensurar, e pagar conforme o mérito e progredir na carreira conforme os resultados e, não, como acontece agora, esperar sentado que os anos passem para atingir o topo da carreira.
Após dez anos de rankings das escolas com os resultados que se conhecem, muitos dos professores se insurgiram contra o sistema utilizado que, evidentemente, não é perfeito mas que pode ser aperfeiçoado. Aliás, a comparação e análise das escolas que se classificam sistematicamente nos primeiros lugares, é uma prova irrefutável que se trata de boas escolas, embora possam existir escolas onde se trabalhe bem e não se consigam obter resultados, o que é, só por si, uma informação extraordinária e que devia obrigar o ME a dirigir para essas escolas a sua atenção, em vez de andar a fazer circulares a toda a hora.
Uma escola e os seus profissionais podem e devem ser avaliados como qualquer outra organização de prestação de serviços, observando as características próprias do sector e a sua actividade específica. Ao contrário, o que não se percebe é como pode funcionar uma organização se não souber para onde vai e que resultados deseja atingir. Quem dirigiu organizações conhece bem como isto se faz, e como é possível apoiar os bons profissionais, remunerando de acordo com os objectivos negociados.
Quem não quer avaliação, medição do mérito, ser pago segundo os objectivos negociados, progredir na carreira segundo as metas, são os que esperam continuar a não dar satisfações a ninguem sobre o seu trabalho. Isso sim é que é impossível!
Quarta-feira, 8 de Dezembro de 2010
Luis Moreira
Manuel Esperança foi eleito pelos seus colegas para o lugar, é um homem corajoso e um professor interessado, defende soluções há muito banidas pela corporação de professores. Em entrevista ao Expresso defende entre outras coisas:
Assume que há maus professores e que o concurso de colocação não permite fazer a distinção - por isso deviam ser as escolas a escolher, como fazem os privados. Lamenta que a falta de assiduidade não seja mais penalizada e considera as quotas na avaliação imprescindíveis.
"De uma vez por todas, temos de nos habituar a não ter receio de dar aulas de porta aberta.Como sempre fomos donos e senhores da sala de aula, se nos invadem o espaço sentimos que é uma ameaça....as pessoas que avaliam são praticamente as mesmas que foram eleitas pelos professores para desempenhar as funções de coordenadores de disciplina.Sendo assim, não lhes reconhecem competência para avaliar?
...tem que haver quotas porque se não tínhamos só professores excelentes e muito bons..por exemplo a questão das faltas devia ser extremamente penalizadora....o que aconteceu no ciclo de avaliação anterior foi que, apesar de a assiduidade ser um parâmetro, todas as faltas eram consideradas justificadas e equiparadas a serviço lectivo dado...
a burocracia...disso nem falo. Há essa intervenção porque o sistema está construído de cima para baixo. Há muito que ouço falar de autonomia mas acho que não verei isso acontecer...gostava de poder escolher os professores. Essa é a grande diferença entre o ensino público e o privado e iria trazer vantagens. Temos de ser competitivos. E a verdade é que há pessoas que nasceram para dar aulas e outras que, mesmo ajudadas, não fazem nada para isso.O concurso de professores não faz a distinção entre o trigo e o joio."
As palavras serenas mas corajosas de um professor eleito pelos seus colegas que aponta a demagogia de quem defende o igualitarismo e a irresponsabilidade.
Para que conste!
Domingo, 5 de Dezembro de 2010
Luis Moreira
Primeiro quizeram convencer-nos que a avaliação não era possível nas escolas; depois que a avaliação estaria condenada tal era a diversidade do ambiente social e económico das escolas; a seguir era que professores não podiam avaliar professores; depois que os directores das escolas eram nomeados não ofereciam garantias de transparência; os rankings das escolas eram uma falácia, não levam em conta os factores de diferenciação...enfim, tudo o que cheire a avaliação, a mérito e a responsabilidade a corporação dos professores não quer.
Agora fazem um ataque cerrado à escola privada contratualizada, e percebe-se porquê. Acabavam de uma só penada com as comparações de resultados que ano após ano lhes é tão penoso. Deixavam de ficar em últimos. Mas há outros países, onde há muitos anos que se avança nos caminhos da excelẽncia, do mérito e dos resultados.Vem hoje no jornal (i)(1/12).Leiam:
Conclusão do estudo "Como os melhores Sistemas de Ensino continuam a melhorar" divulgado pela empresa McKinsey:eis os 20 modelos estudados:
De fraco para satisfatório: Gana,Minas Gerais,Madhya Pradesh (Índia), Wester Cape (África do Sul)
De satisfatório para bom: Arménia,Chile,Jordânia
De bom para excelente : Aspire (US),Boston (US),Inglaterra,Long Beach (US),Letónia,Lituânia,Eslovénia,Polónia
Excelente: Singapura,Hong Kong,Coreia do Sul,Saxónia (Alemanha)Ontário(Canadá)
"não é a riqueza, o modelo político ou a geografia que contribuem para que estejam hoje entre os que subiram o rendimento escolar a curto prazo"."A formação de professores e de directores escolares foi um passo decisivo que aconteceu em todos os modelos, mas foram os líderes políticos que fizeram a diferença"
Os autores do estudo foram conhecer o que é que os modelos têm em comum e porque é que resultaram:
01 - O que é comum a todos os modelos : a formação dos professores e directores da escola, a avaliação interna e externa dos alunos,...a revisão de normas e currículos ou as recompensas remuneratórias para os bons professores e gestores da escola...( a escaldar...)
02 -Centralizar ou responsabilizar: nos sistemas de fraco ou satisfatório desempenho, as práticas são disseminadas para escolas e professores através de um organismo central, mas nos modelos de alto rendimento escolar já não funcionam. Nestes casos o avanço da educação decorre sobretudo da flexibilidade das políticas e da responsabilidade que se atribui aos professores para atingir as metas e cumprir as reformas...um terço das escolas que estão a passar para bom e dois terços para excelente, descentralizaram as funções pedagógicas para as escolas. Há um orgão central para responsabilizar os professores pelo seu próprio desempenho e dos seus colegas.( faz lembrar algum país...? )
03 - Planos de carreira: nos sistemas com bom ou excelente os professores mais habilitados assumem a responsabilidade de ajudar os colegas em ínicio de carreira a atingir as metas de ensino propostas. Há práticas de colaboração entre escolas, todos os professores do mesmo grupo disciplinar reúnem-se para fazer o planeamento semanal das aulas. São obrigatórias também a observação de aulas entre colegas e o ensino em conjunto.O objectivo é melhorar a prática de ensino e tornar os professores responsáveis uns pelos outros.( está muito quente...)
Avaliação, mérito, autonomia,formação permanente,extras remuneratórios aos bons professores ...tudo o que é impossível na escola portuguesa!
Continua ( não é uma ameaça )
Sexta-feira, 29 de Outubro de 2010
Luis Moreira
Eu bem sei que os professores não têm experiência de gestão das organizações e até creio que enquanto professores não terão que saber de gestão, mas às vezes fico perplexo. Agora alguns deles, os mesmos de sempre, estão contra o facto de os Directores das escolas serem avaliados pelas Direcções Regionais do Ministério. Mas então que de outra forma poderia ser?
Os Directores das escolas não dependem das Direcções Regionais? Os Directores Regionais não dependem do membro do Governo e o Governo não é avaliado pelos votantes? É assim em Democracia! Vão ser sujeitos a pressão politica? Pois vão, como seriam sujeitos à pressão dos professores se por eles fossem avaliados.
Ou querem andar em roda livre e em circuito fechado como na Justiça que não depende de ninguem , com os lindos resultados que estão à vista e com 97% de "bons" e "muito bons"? É isso? O Processo de avaliação vai ser regulado pelo Conselho Coordenador da Avaliação. Fazem parte deste Conselho o Director Regional e três Directores escolhidos entre os membros do Conselho das escolas. É sensato.
Um dos argumentos é que o Director Regional nada sabe do que se passa nas escolas. Melhor seria dizer que não sabe de nenhuma mas sabe de todas, que é, precisamente, o que o torna capaz de avaliar. Comparando os objectivos e medidas negociadas , com o que se passa noutras escolas com o mesmo perfil. Será que quem trabalha nas escolas tem uma visão do todo para poder avaliar o director da sua escola? Isso, normalmente, dá no gajo porreiro, mas que não obtem resultados.
Professores há, bem mais avisados e sabedores, que lutam pela clarificação dos critérios que irão presidir à avaliação, quanto mais claros, mensuráveis e negociados melhor para todos, haverá mais justiça e menos discricionaridade por parte de quem avalia. Defender que o Conselho Geral seja incluído no orgão avaliador por ser o orgão que escolhe o Director das escolas, é como meter "a raposa dentro do galinheiro".
Ser ingénuo é acreditar que o orgão Coordenador não vai pressionar o Director da escola ou é acreditar que os professores avaliariam de forma transparente e sem pressões?
O corporativismo cega pessoas inteligentes.Há bem pouco tempo defendiam que a avaliação não era aplicável às escolas e aos professores.
Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010
Luis Moreira
Diz Santana Castilho: "Miguel Sousa Tavares falou mais uma vez dos professores,na SIC. MST não pode fundamentar opinião com afirmações factualmente falsas.É grosseiramente falso que todos os professores passaram a ganhar mais automaticamente. Além disso, como aqui escrevi e MST não poderá desmentir, exceptuando a chaga dos desempregados, são os professores os mais penalisados pelos governos de Sócrates:viram salários congelados,carreiras congeladas e degradadas e tempos de trabalho aumentados; têm a maior carga horária da OCDE e o mais baixo salário..."
A gente lê isto e fica estarrecido. Mas ó prof. ter o mais baixo salário de todos da OCDE não é o que acontece a nós todos? Aos pedreiros, canalisadores, economistas ,arquitectos e todos os que, por ganharem tão pouco, vão lá para fora ganhar mais? E conhece alguma profissão, para além das outras corporações que abocanham o Estado, que os seus elementos tenha lugar fixo no "quadro" ? ter progressão automática? não serem avaliados e progredirem todos haja ou não mérito?
Conhece? É que visto assim, os professores, são uns grandes privilegiados, são das pessoas com melhor nível de vida cá neste país onde, a esmagadora maioria das pessoas não ganha nem metade e não tem emprego fixo para toda a vida! O Prof. quando escreveu este artigo acordou em que país? Na Alemanha, França, Reino Unido, Luxemburgo ...
Quando não há argumentos corre-se o risco de se cair em tentações que não ficam nada bem a um prof. universitário. E já agora, há hipótese de comparar os resultados? Quanto à preparação dos professores, aos conhecimentos adquiridos pelos alunos? Ou isso não interessa nada e não vale a pena comparar? A OCDE para os resultados não serve?
Diz MST que foram todos os professores aumentados, o prof. diz que não foram todos. Quantos é que não foram? Um, dois, 50%? O que o prof. sabe é o mesmo que levou MST a generalisar. Foram 435 milhões deitados para cima dos professores para eles irem para a escola ensinar e não para a frente do ministério gritar. Saberá o Prof. mais do que isto? Claro que não! Isto numa altura em que os mais pobres e os desempregados vivem cada vez pior.
É uma pena que não se bata por uma escola autónoma, assente no mérito, com os melhores a subirem na carreira. Em vez disso, tornou-se num porta voz igual a tantos outros de uma corporação que, como muitas outras, só quer mais mordomias, evitar a avaliação assente no mérito e ganhar mais. É pouco para tanto saber!
A conversa de que os professores são as vítimas do regime não colhe, estão muito acima, no que às condições de trabalho diz respeito, da maioria dos trabalhadores portugueses, e o que sabemos, e isto é de fonte segura, é que os nossos jovens saem da escola muito mal preparados. Convinha não esquecer o mérito dos resultados, é que quem não apresenta resultados ganha sempre demais.
PS: Para que não restem dúvidas tenho familiares professores e muitos amigos e amigas professores. Não é dos professores que se trata, é da corporação sentada à mesa do orçamento como muitas outras.
Terça-feira, 21 de Setembro de 2010
Luis Moreira
O ímpossivel sempre se cumpre como, aliás, em todas as organizações. As escolas e os professores vão ser avaliados. Esperemos que sejam avaliados segundo o mérito, que trás resultados, diferenciação entre os que obtêm resultados e os que apenas esperam sentados.
Os professores que querem obter "bom" e "muito bom" têm que solicitar, segundo os escalões definidos, a observação de aulas, bem como apresentar os objectivos individuais. Quem não entrar nas percentagens mesmo assim terá uma majoração de 0.5 pontos por ano o que dará uma progressão ao fim de 3 anos. Nada mau!
Os sindicatos reclamam "um sarilho enorme" diz o Mário Nogueira, agora mais calmo perante a evidência, prevê que milhares de professores vão pedir para as suas aulas serem observadas - para quem dizia que a maioria estava contra, não está mal - o que aperta o prazo para coordenadores e relatores trabalharem as instruções. Mas o dirigente sindical insiste " a avaliação tem uma forte carga burocrática" o que já é um grande passo em frente, é sempre possível melhorar e aperfeiçoar. Contra quem está de cabeça enterrada na areia é que é mais dificil.
Para haver avaliação segundo o mérito é necessário saber a que se propõe a escola, definir objectivos globais, prazos , programas, medidas e, a partir daí, fixar os objectivos por matérias e, a seguir, definir objectivos individuais. É uma hipótese. Há outras, são conhecidas, estão implementadas é só aprender e andar em frente. E é preciso que os objectivos sejam mensuráveis, há muito que se faz em todas as organizações que querem progredir e não tenham medo do mérito.
Claro que é controverso trocar a direcção democrática por uma direcção única de uma pessoa nomeada, mas tambem é possível equilibrar os poderes com os outros orgãos da escola. É tudo uma questão de bom senso e remarem todos para o mesmo lado fixado e aceite por todos. Sem objectivos conhecidos e aceites por todos é que é muito dificil obter resultados.
Repito, havendo boa vontade e profissionalismo é um bom começo, não perfeito, vai ser necessário introduzir factores de aperfeiçoamento, índices mais significaticos, ponderar melhor o peso relativo, mas o processo vai encarregar-se de mostrar o caminho.É um bom começo.
Escolas de excelência
Em Bragança, um caso de sucesso invulgar, uma escola secundária pôs dez alunos no curso de Medicina, em simultâneo. Entre os 60 alunos que terminaram o 12º ano, duas alunas, as melhores da escola com 19,8 e 19,7 entraram nas opções preferidas e, os restantes, tiveram médias acima de 18,5 o que não lhes garantiu a colocação nas Faculdades indicadas em primeiro lugar. A faculdade de Medicina e o Instituto Abel Salazar. Estes dez alunos frequentaram a escola desde o 7º ano.
Uma escola de Viseu, conseguiu colocar vinte alunos nos cursos de medicina, o que, lembre-se, exige notas superiores a 18,5 valores .Toda uma sala de aula, não deve ter sido um fenómeno da natureza co-existirem tantos alunos excepcionais é, concerteza, o resultado de muito trabalho de alunos e de professores, dos pais, de toda a escola.
Mostra bem que as escolas não são iguais, nem os professores têm o mesmo mérito.
É bom haver diferenças que trás o reconhecimento do mérito de quem trabalha e apresenta resultados!
Domingo, 12 de Setembro de 2010
Alexandra Pinheiro, dirigente do Fórum para a Liberdade de Educação diz que Portugal é dos países europeus onde o ensino mais reproduz desigualdades sociais.
"Em Portugal houve uma perversão do Estado social no domínio da Educação, responsável pela perpetuação de um sistema educativo sem qualidade e gerador de grande injustiça social....não obstante o sacríficio dos contribuintes e o crescimento substancial do orçamento do Ministério da Educação, os resultados internacionais espelham a fraca qualidade do ensino em Portugal e indicam que somos um dos países europeus em que o sistema de ensino reproduz...em que tendo um pai licenciado ainda é a mellhor garantia de ter acesso à Universidade."
""...Portugal está no grupo...em que ao lado de uma má educação se acentuam as disparidades sociais. As elevadas taxas de abandono escolar precoce e de chumbos consecutivos envergonhariam qualquer outro país europeu....Noutros países europeus, a vitalidade das sociedades democráticas, associada ao declinar dos seus resultados educativos, exigiu reformas que alteraram a forma de intervenção pública na educação para modelos consentâneos com o direito fundamental de escolha pelos pais do projeto educativo para os seus filhos. Hoje, é assim na Suécia, Holanda, Bélgica, e Reino Unido, só para citar alguns" .
Cabe ao estado assegurar uma rede de ensino gratuito e garantir que as escolas estão a prestar um serviço de qualidade.dessa rede fazem parte escolas estatais e privadas, o que permite aos cidadãos, ricos ou pobres, escolherem livremente o projeto educativo que pretendem para cada um dos seus filhos. Todas estas escolas são "públicas" e não podem fazer seleção de alunos!
A escola estatal não é a mesma coisa de escola "pública", esta redução permite ao Ministério da Educação gerir as suas escolas da forma que bem entende ( como vimos em: professores - há cada vez mais quem veja) consolidando uma estrutura cada vez mais centralizada.
A outra face desta moeda são os sindicatos que nunca reinvidicam melhorias pedagógicas, ou a coesão do quadro de professores,factores decisivos nos resultados. Os burocratas de ambos os lados precisam uns dos outros e precisam de uma obediente, amorfa e medíocre escola, com professores acomodados à carreira, às progressões automáticas e a não serem avaliados.
E a terem uma colocação na escola lá do bairro!